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quinta-feira, 29 de julho de 2010

PODE EXISTIR SABEDORIA NA BAIXARIA?

Então ela começou a beijar meu peito timidamente dando a entender com um discreto ou tímido gesto de mão que aquele era o momento em que eu deveria me livrar das calças, nem acreditei quando a vi descer em direção ao bifurcamento de minhas pernas. Era a primeira vez que a gente saía, não imaginava que fosse rolar nada além de alguns amassos. Pois ali, e só por lá, fomos felizes até o final. Curiosamente nunca passamos daquele ponto inicialmente estabelecido, o sexo oral era o limite. Visitei sua cidade algumas vezes e aquela meia transa tornou-se um programa obrigatório, uma espécie de turismo sexual, no bom sentido, se é que isso existe...


Nos conhecemos dentro de uma sapataria que era passagem de um restaurante onde eu tinha almoçado, quando a vi pensei que já a conhecia de algum lugar, curioso como a maioria das paixões acontece assim, como se já esperássemos o aparecimento daquela pessoa estranha que em pouco tempo deixaria de o ser. A surpresa e a certeza apenas em um mero olhar. Tem quem enxergue isso de maneira mais prática, Renato Gaúcho, o meu filósofo do sexo favorito, costumava dizer: “Você sabe quando uma mulher quer te dar, só pela maneira como ela te olha”. Pode existir sabedoria na baixaria? Paquerei uma garota míope que tinha vergonha de usar óculos e isso atrasou o início de uma relação que também não haveria de durar.


A surpresa é sempre lembrada como uma das coisas básicas na arte: valorizamos aquilo que nos surpreende, como um presente desejado e inesperado, quando menos achamos quê temos em nossas mãos – ou coisa que o valha – nosso obscuro objeto do desejo.


Vivemos nessa gangorra: desejo irreal e busca por sua satisfação que quando acontece nos pega de surpresa e, quando a temos como certa e não rola, nos decepciona, às vezes, profundamente.


Vaidades das vaidades: possuir algo reconhecidamente belo em seu meio e só através desse objeto poder se tornar alguém e se valorizar. A necessidade de consumo de convívio, alguns começam coleções: eu já peguei aquela e aquela, aquela ali também...


Depois a reencontrei, muitos anos depois, uma jovem mulher madura, casada e feliz. Disse na lata que eu estava diferente e, ora, muito diferente ela estava também! O tempo não para no porto, não apita na curva, não espera ninguém.


Lembrei de uma famosa atriz que costumava ser fotografada pelo mesmo profissional. Já bem mais para lá do que para cá, verificando o resultado de suas tradicionais sessões ela comentou: nossa fulano - não lembro o nome dos dois - por que é que você não tira mais fotografias minhas como antigamente? Daí ele sábio e muito elegante, mas muito mesmo, respondeu: deve ser porque eu estou ficando velho e já não fotografo mais como antigamente...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

AO INVÉS DA SOUZA-CRUZ: CRUZ E SOUZA!

Minha irmã Milla me escreveu lá do Texas dizendo que “não se clorofórmis" (Saravá Mussum!) com o avantajado da minha calvície, daí lembrei aquela musiquinha do Chacrinha: “Nós, nós os carecas entre as mulheres somos maiorais (...) é dos carecas que elas gostam mais!”


Ninguém precisa de um punhado de cabelos a mais para se realizar na vida, é como os meus óculos e a barriguinha saliente... Eu quero é seguir vivendo desse jeito relaxado e hedonista que escolhi, pois é, preferi ser um mau exemplo.


Aliás, só pra me contradizer, estou para lançar uma campanha anti-tabagista de cunho simbolista. Embora seja um tanto quanto intelectual, acho que pode pegar:


Ao invés de você investir na Souza-Cruz, (fabricante de cigarros)

por que não conhecer o Cruz e Souza? (célebre poeta simbolista) Segue um de seus poemas:


***


Há certas almas vãs, galvanizadas

De emoção, de pureza, de bondade,

Que como toda a azul imensidade

Chegam a ser de súbito estreladas.


E ficam como que transfiguradas

Por momentos, na vaga suavidade

De quem se eleva com serenidade

Às risonhas, celestes madrugadas.


Mas nada às vezes nelas corresponde

Ao sonho e ninguém sabe mais por onde

Anda essa falsa e fugitiva chama...


É que no fundo, na secreta essência,

Essas almas de triste decadência

São lama sempre e sempre serão lama.


***


Eita! Viu só que coisa mais “cena local” no poema do cara? Fala da (Rua da) Lama e da triste decadência, dá até vontade de parar de fumar mesmo, aliás, eu oficialmente nem sou fumante.


Ontem recebi aqui em casa a repórter Déborah Sathler da TVE - Programa Espaço2, e fizemos uma longa entrevista sobre O Livro do Pó. Estou dando início a uma série de palestras de divulgação às quais dei o nome de "Por Dentro do Livro do Pó". Vou fazer a primeira na outra sexta (dia 06 de agosto), 19 horas, na Biblioteca Pública Estadual – Levy Cúrcio da Rocha. É uma boa oportunidade para vocês que querem saber mais sobre o BRock anos 80 e como fiz para trazer esse Livro às prateleiras do mundo.


Já engatando aqui uma segunda: estou aceitando convites de outras instituições públicas ou privadas para levar gratuitamente esta palestra a quantos possa interessar. É só me chamar que eu vou, violãozinho embaixo do braço e um monte de histórias bacanas pra contar. Apesar de toda doideira O Livro do Pó tem um cunho muito pé no chão e pode ser uma boa oportunidade de se discutir, especialmente com os mais jovens, problemas como consumismo, as ilusões do mundo dos famosos, o uso das drogas e por aí vai. Peço aos amigos que me ajudem a divulgar. Não é desconstruindo o mundo que vamos ajudar a o melhorar: é, talvez, falando no assunto:


RESUMO ELEKTRÔNICO:

Por Dentro do Livro do Pó

Dia 06 de agosto de2010 – 19 horas

Biblioteca Pública Estadual Levy Cúrcio da Rocha.

Avenida João Batista Parra, 165 – Praia do Suá – Vitória – ES

Tel.: (27) 3137-9351 / (27) 3137-9349

Juca Magalhães: 27 9942 9087 & 32250848

domingo, 25 de julho de 2010

RAPIDINHAS CULTURAIS: O SABER E O SABOR

Hoje é domingão, dia de parar para ler os emails e recados dos amigos. Daí que mando-lhes pela testa mais uma edição das rapidinhas culturais da Letra Elektrônica, esse vibrante órgão (?) de comunicação botocuda...


Pra começar: vem aí uma representação do Édipo Rei, adaptada e preparada para a cena por Alvarito Mendes Filho e Renato Saudino e encenado pela Cia, Caras e Bocas. Os dois primeiros dispensam apresentações e o texto de Sófocles menos ainda. Vai ser num espaço que o Alvarito está para inaugurar em Jardim América, uma casa adaptada para as necessidades teatrais e que vai funcionar também como pólo difusor de cultura daquele pedaçinho de chão que me é tão querido e que fica espremido entre Vitória e Vila Velha, mas pertence oficialmente a Cariacica. Segue o Cartaz:



Uma das coisas que acho irritante em produções rasteiras são as trilhas sonoras banais que repetem as mesmas músicas, nas novelas – que não são minha opção favorita de diversão - dificilmente aparece uma canção que não é regravada ou de um passado recente. Até perguntei ao Tim Rescala – que faz trilhas pra Globo – porque isso era assim, se tinha alguma coisa a ver com o fim da comercialização dos discos (qual será a importância da Som Livre dentro da empresa hoje?), ou era uma questão de direitos autorais, mas ele escorregou sem me responder nada.


Agora compadre, vai ver um filme do Tarantino! O desgramado sempre aparece com alguma canção que pega a gente com as calças arriadas. Já foi assim, especialmente em Kill Bill e Pulp Fiction e não é diferente nesse novo Death Proof (À Prova de Morte). A sequência da dança (Lap Dance) é simplesmente um desbunde: edição, música e, obviamente, a linda dançarina Butterfly.


À Prova de Morte é um filme cheio de carrões que vai agradar os meninos, mas as garotas são selvagens e arruaceiras, um exercício de voyerismo psycho e tara por pés separado em duas partes, cortadas por um clímax avassalador daqueles de fazer a gente cair da cadeira do cinema. É o melhor de Tarantino? Não, mas é muito superior à maioria dos filmecos lugar comum que rolam por aí.




Outra pérola que apareceu recentemente é o filme O Pequeno Nicolas de Laurent Tirard. Baseado nas revistas em quadrinhos de Goscinny (Criador, entre outros, de Asterix) e Sempé. O filme aborda o universo infantil de maneira classuda e sutil, sua degustação tem o saber e o sabor de uma refinada refeição francesa o que lhe confere um ar “Cult” mesmo que não seja essa a intenção.


É muito legal porque nos recorda as encanações da infância, quando acreditávamos em coisas impossíveis e criávamos universos totalmente paralelos à realidade, alguns de nós seguem assim até a adolescência, outros jamais deixarão as nóias de lado. Refletir sobre essas encanações nos faz descobrir quem somos e como nos tornamos aquilo. O Pequeno Nicolas é um filme delicioso e imperdível não só porque é ingênuo e pueril, o que é raro hoje em dia, mas porque é verdadeiro.