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quarta-feira, 6 de abril de 2011

MOMENTO DE SANSÃO – SAMSON FEELINGS



"Saber que entraremos pelo cano satisfaz"
Gilberto Gil - Punk da Periferia

Tenho em mim uma certa herança “geração hippie”, tropicália, anos setenta, que de vez em quando me faz sentir vontade de deixar a barba crescer, esquecer de escovar os dentes ou não ter mais vontade de cortar os cabelos. Um dos problemas é que os anos passam e os cabelos começam a ir pros lados, muito mais do que pra cima.

Protelei o meu “momento de Sansão” o mais que pude, no fundo me divertia com a expressão curiosa de algumas pessoas que discretamente pareciam dizer para si “o Juca precisa cortar esse cabelo”. Mas como ninguém falou diretamente nada - guardaram a crítica, a estética, engoliram o sapo - segui no meu passo calveludo.

Esses cuidados com o que é aparente me são muito desinteressantes: comprar roupas, sapatos e outros apetrechos é coisa também que me aborrece. Mas como cortar o cabelo sem ir ao - hoje praticamente extinto - “barbeiro”, ou ao cabeleireiro? Denominação, por sinal, escrota. Mesmo porque, muita gente engole esse primeiro “i”, eu mesmo levei um tempão para assimilar oficialmente a sua existência. 

Desde o fim da adolescência que parei de me importar com quem ia cortar meu cabelo, coisa que era antes meio crucial numa certa idéia de “visual” ou construção de personagem. Portanto, como a pessoa que o vai cortar geralmente o faz pela primeira vez, é natural perguntar: “como o senhor vai querer o corte?” Como disse: é uma pergunta legítima, mas não sei por que ela me incomoda. Então respondi com outra pergunta:

- Qual é a sugestão da casa? – Dando voltas à minha volta, colocando um pano azul sobre meu corpo ela respondeu o que já era óbvio... Para ela.

- O senhor corta social? – Quase respondi: - qualquer coisa menos “de serviço” - mas continuei na implicância:

- Não sendo “social” querida, tem mais o quê? – Ela respondeu de bate pronto, já empunhando tesouras:

- Tem corte de surfista! – O engraçado é que em salão de beleza a mulherada se mete em tudo quanto é conversa, uma do lado logo emendou mal (contrário de bem) criada: - É, tem de moicano também. – A fim de apaziguar os ânimos resolvi optar pelo social mesmo, aliás, tudo pelo social.

Resolvida a questão principal, a moça pegou um tufão de cabelo em minha cabeça e constatou o óbvio ululante do porque de eu estar ali: - Seu cabelo tá grande hein moço? – Sorri sem dizer nada, aliás, dizer o quê? Daí ela emendou: - É como o outro diz - citando “o outro” - cabeleireiro tem que comer também!

3 comentários:

Anônimo disse...

Rsrsrsrs....gostei muito Juca.....

Olha só, também detesto ir as compras e meu cabelo quem cortava éra
tia Ruth....Depois que ela morreu fiquei meio perdido e só depois de
muito tempo (O cabelo cresceu pra caralho.....rsrsrsr) é que me
identifiquei com um carinha muito bom...Se te interesar passo o
contato.....

Abs Mario.

Anônimo disse...

__ Há, tem outro detalhe, sempre que fico abalado (principalmente com
os amores que a vida nos trás e também nos leva) começo a deixar a
barba crescer....etc....etc....rsrsrs

Abs Mario.

Juca disse...

Eu já senti necessidade de deixar a barba crescer nos meus momentos de luto, sobretudo familiar mesmo, de sangue. Fiquei curioso, fui pesquisar e descobri que os antigos egípcios tinham esse costume. Agora como surgiu é outra estória...

Abração Véio