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sexta-feira, 30 de março de 2012

NOTÍCIA ESCABROSA DO PASSADO

Pesquisando as eleições de 1988 na Biblioteca estadual Levy Curcio, aliás, tio avô do Peewee, acabei me deparando com a bombástica machete na página policial de A Gazeta:



A Pergunta é: Como esse atentado seria noticiado nos 
tempos politicamente corretos atuais?

a) A Gazeta: Provavelmente empurraria a "cobertura jornalística" para o Notícia Agora, porque tem mais a ver...

b) A Tribuna: Lady Gaga passou por aqui? Ou Jutin Bieber, talvez? Madonna?

c) Balanço Geral: Agente (sic) sabia (sic) que ia dar Me.píiii...

d) Século Diário: Fórum da Serra: a verdade revelada!

quarta-feira, 28 de março de 2012

ABERTURA DA TEMPORADA 2012 DA OFES TEM CONCERTO DE ARREPIAR

Amanhã a Orquestra Filarmônica do Espírito Santo abre a temporada 2012. Elogiada pela Revista Concerto a tradicional temporada da OFES completa 35 anos de militância musical entre os filhos do Espírito Santo. Quem também comemora 20 anos à frente do grupo é o maestro Helder Trefzger. Após a saída abrupta de Leonardo Bruno em 1991, o sul matogrossense, então radicado em Belo Horizonte, começou a colaborar inicialmente como convidado ao longo de 1992, sendo nomeado regente titular no ano seguinte.

A OFES sob comando de Mario Cezar Candiani, por volta de 1985

O Concerto de Abertura da Temporada 2012 terá regência de Leonardo Davi, maestro adjunto da OFES e titular da Camerata Sesi. Leonardo é o primeiro regente nascido em terras capixabas a comandar nossa orquestra - não que seja uma obrigatoriedade, aliás, isso quase nunca acontece - é só pra ressaltar que o concerto vai contar com talentos musicais nascidos e desenvolvidos nessa terra notoriamente ingrata para os artistas e que aqueles que chegam lá são desbravadores e além do talento acima da média, possuem ainda um bocado de determinação.

É o caso do solista da noite Aleyson Escopel, um concertista que está brilhando em palcos internacionais e que há pouco tempo assistia concertos junto com a gente na platéia do Carlos Gomes – era conhecido (talvez aluno, não lembro) de meu professor Josué Louzada -. Aleyson estudou com mestres como Miguel Proença e Celia Ottoni, a grande dama do piano capixaba nas últimas décadas. E nessa noite vai encarar o terceiro concerto para piano e orquestra de Prokoffiev, considerado um Everest do repertório pianístico. Simplesmente imperdível.

ORQUESTRA FILARMÔNICA DO ESPÍRITO SANTO
CONCERTO DE ABERTURA DA TEMPORADA 2012
SOLISTA ALEYSON ESCOPEL
Dia: 29/03/2012. Oito da noite
Theatro Carlos Gomes
Praça Costa Pereira – Centro - Vitória-ES

terça-feira, 27 de março de 2012

ENQUANTO SE PENSAR ASSIM, ASSIM VAI SER...

No último fim de semana (23 a 25 de março) aconteceu no Sesc Praia Formosa – Aracruz, o Primeiro Encontro dos Povos e Comunidades Tradicionais do Espírito Santo. O evento foi promovido pelo Instituto Sincades e realizado pela Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo com apoio do Arquivo Público Estadual. Foram seis comunidades reunidas com o objetivo de promover a elaboração de uma carta contendo, entre outras coisas as reivindicações específicas de cada grupo.

Um dos efeitos mais significativos e imediatos da realização do encontro foi a diminuição do estranhamento que era visível na fala de todos representantes entre estes: ciganos, quilombolas, pomeranos, pescadores artesanais, indígenas e comunidades de terreiro. Brasil de vários Brasis, gentes e costumes muito diferentes, etnocentrismo, preconceito, tudo foi visto, revisto e debatido entre os grupos e dentro destes também.   

A idéia de reunir essas vertentes em um mesmo ambiente provou ser mais do que interessante: demorou. Entre o grupo dos pomeranos, havia uma pessoa - apresentada como um estudioso - que mencionou e condenou o “estereótipo” criado em torno de sua cultura. Não nomeou, mas é fácil identificar a questão da língua, a religião, o casamento etc. É óbvio que “os pomeranos” são hoje muito mais do que isso, mas talvez não o seja para a mídia e até para um grupo muito grande deles mesmos.

Em Santa Maria de Jetibá – o município mais pomerano do Brasil -, fala-se muito em “produção cultural pomerana”. É interessante descobrir que alguns estudiosos, dentre os próprios descendentes, se incomodam com a maneira esteriotipada como são vistos. Talvez, porque existe uma diferença entre produção cultural e preservação de traços de uma cultura. Ambas são importantes, porém, dentro de uma idéia de produção cultural pressupõe-se “criação” de algo novo, é como a moda que é reflexa de seu tempo. Na abertura do segundo capítulo do livro “Fuga de Canaã” de Renato Pacheco, há a seguinte epígrafe:

“Não há (no Espírito Santo) comunidades aldeãs, e sim sítios isolados meia hora uns dos outros. Proprietários rurais, na maioria, e portadores de um patrimônio cultural relativamente pobre, os pomeranos se ajustaram a condições que sugeriam uma aproximação da organização econômica cabocla, pelo menos no que se refere às técnicas agrícolas.

Não é, portanto, a cultura pomerana que encontramos atualmente no Espírito Santo, mas apenas traços dessa cultura, quer dizer, aqueles que, por uma série de razões, resistiram ao processo de mudança cultural”.

(Emílio Willems, A aculturação dos alemães no Brasil, São Paulo, 1946, p.74,94 e 159).    

 Será que o pomerano vive de Schapps e Concertina em casamentos com trajes típicos e Casas Enxaimel?

É preciso entender que não existe, por exemplo, uma moda pomerana. Existem reproduções esmeradas de trajes típicos usados pelos antepassados e assim é com a música e tudo o mais. Esse grupo tem que considerar que o poder público ajudou a criar - junto com a mídia e outros - uma imagem de orgulho em torno da “cultura pomerana” que, apesar de importante, não valoriza, e por isso não busca instrumentos para o desenvolvimento e o surgimento de novos bens culturais, mas apenas a reprodução de um passado que as pessoas de hoje imaginam e acham que com isso estão cumprindo sua missão. A questão é: Será?

quarta-feira, 21 de março de 2012

HISTÓRIAS VERDADEIRAS E JURÍDICAS DE TRIBUNAL...

Conheço histórias publicadas tão inacreditáveis que durante uma época eu as recortava e colecionava dentro de uma caixa de sapatos. Minha intenção era fazer um filme e dar o nome de “Histórias Verdadeiras”. Que tal? Nada melhor que começar contando mentira pra prender atenção. Nunca guardei nada, tenho uma pasta em algum arquivo perdido entre meus mil e duzentos discos e filmes e nada mais. Lá tem a reportagem sobre uma mulher que soltou um “peido” dentro de um avião Russo e quase derrubou o bicho. Dizem que o piloto alertou o aeroporto mais próximo que estava com problemas na aeronave e pousou desesperado com o futum...

Mas de todas essas histórias bizarras, a que mais me recordo e que frequentemente conto em rodas de amigos a título de piada é a de um crime que aconteceu em Iconha. Não lembro quando foi exatamente, mas acho que nos anos noventa. Um agricultor morreu e a esposa foi acusada, talvez pela família dele, de tê-lo assassinado colocando veneno, tipo um produto agrotóxico, um pouquinho todo dia em sua comida até que o pobre morreu.

O caso causou (pois é) comoção na pequena cidade de nome que rima com bagulho, quero dizer, com a parada, o produto, enfim, a coisa. Deu foi gente no dia do julgamento para ver que bicho que ia dar e: advogado criminal tu já viu, né? Gosta mesmo de aparecer quanto tem um barraco, me desculpem os rábulas e propedêuticos da área, mas é a impressão que as pessoas comuns têm. E eu sou, historiograficamente falando, um cara comum.

A tese defendida pelo advogado de defesa foi simples, interativa e, até assim diria, histriônica no sentido de enfática. Levou para o tribunal uma lata com o tal do produto e no auge de sua preleção discursiva enfiou os dedos na substância maligna e passou na própria língua, dizendo: “Isso aqui não é veneno! Isso aqui não mata ninguém!!” Um grande “Oh!” de surpresa percorreu todo o júri e a plenária, todos estavam espantados com a locomotiva ação internocrática do desavisado que algo talvez soubesse de direito, mas bem pouco das coisas e tratos da vida no campo.

Consta dos jornais da época que o julgamento prosseguiu moroso e cheio de nove horas - como sempre é - e o valente e lugar tenente advocatóide da defesa, danou a transpirar como um chafariz (se é que isso transpira). De repente o cara estava se apoiando naquela muretinha de madeira que separa as partes em litígio do povão, feito mesmo um curral, até que finalmente arriou na cadeira resfolegando que nem boi cansado. O juiz era um cara propedêutico também, usava brasões hagiográficos e falava adevoguês até quando tomava umas periquitas no boteco do Danilo...

- Traz leite presse infeliz que ele vai morrer! – Ninguém achou o Dodão, mesmo porque essa é uma piada interna, só vai a entender uma meia dúzia de pessoas que não vão ler esse texto. Melhor cortar. O importante é a gente saber que o advogado sobreviveu a si próprio, mas sua cliente foi parar no xilindró, coitada, condenada que nem ela só. Ora...  

Anúncio imperdível dos anos setenta e poucos, quando os publicitários já sabiam que, com a propaganda certa, podiam induzir até as formigas a sofrer de depressão...

domingo, 18 de março de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO: PRECONCEITO FUNCIONAL

Depois que fiz o texto sobre o documentário Os Pomeranos - postei em dois blogs, fiz uma chamada no Facebook, no Twitter e enviei por email para mais de mil e duzentos contatos - fui abordado por um sujeito irado (não no sentido de “muito legal” hoje usado pelos jovens) o cara estava indignado...

- Meu amigo como é que você publica um texto preconceituoso desses no seu blog? Sabia que você é muito lido? Tem que ter responsabilidade com o que escreve!

- Errr... – Fiquei sem ação, né? Por essa eu não esperava. - Não tive intenção de ofender ninguém amigo, muito menos os Pomeranos, povo que eu admiro.

- Quê pomeranos o quê? Eu to falando é do preconceito com os negros, aquela coisa de cabelo pixaim que você colocou lá!

- Ah tá... Pô, você quase me assustou. Aquilo é uma citação, você não viu as aspas?

- Citação o quê rapaz? Chamou de negro, de lábios grossos, só faltou falar que o cara era mascote do Framengo!

- O que eu quero dizer é que não fui eu que escrevi e, além do mais, o texto foi escrito em outra época. Reclama com a Gazeta, eles até ganharam um prêmio nacional...

- É o quê?

- Olha cara – Agora de saco cheio e a fim de dispensar o chato - não faço idéia de quem você seja, nem tenho culpa se você é analfabeto funcional.

- Você tá me chamando de analfabeto? – Indignado, muito indignado! Dava pra ver os miolos do cara fritando do outro lado da linha...

- Claro que não, mas evidentemente você não consegue interpretar o que lê. É curioso, antigamente você seria apenas classificado como burro, mas hoje, com essa coisa de politicamente correto, o mais adequado é analfabeto funcional mesmo...

- Você tá me chamando de burro, seu merdinha? Eu vou partir sua cara!

- Evidentemente, o argumento dos ignorantes é sempre esse o de partir pra porrada.

O misterioso heterônimo desligou furioso na mesma balada em que eu liguei o dane-se, pra não dizer outra coisa. Fiquei pensando como os tempos mudam e aquele jeitão preconceituoso “normal” de outras épocas hoje é tão mal visto. É um problema quando abrimos mão do humor negro (e isso é também preconceito). Ficamos menos bobocas, mas também bem menos gostosos, não é verdade? Bom domingo a todos...

sexta-feira, 16 de março de 2012

OS POMERANOS QUE VIERAM DE AVIÃO...

“Alguns anos atrás uma pomerana capixaba, loira de olhos azuis como todos de sua raça, conheceu um negro de cabelos pixaim, lábios grossos, pele e olhos negros. Meses depois ela entrou em pânico porque estava grávida. O menino nasceu mulato de olhos pretos e cabelo pixaim. Quando o marido chegou para conhecer o filho ela contou essa história: estava andando pela mata de repente encontrou um toco de árvore queimada, com o susto ficou grávida.”

Com apresentação de Maura Miranda e texto de Amylton de Almeida, assim começa o documentário que colocou em evidência para o Brasil os Pomeranos de Santa Maria de Jetibá, então um distrito do município de Santa Leopoldina. Parece estranho começar com uma piada, mas encontrar brasileiros que mal falam o português vivendo há mais de um século dentro do Espírito Santo, desperta espanto, uma óbvia curiosidade e alguma gozação. Uma história parecida já circulou pela Internet: um soldado Americano que passara um ano no Iraque reencontrou a esposa com um barrigão de seis meses. A moça explicou que engravidara ao assistir um filme pornô em 3D...

A então recém criada TV Gazeta empreendeu o documentário de 42 minutos que venceria o primeiro lugar no 1° Festival de Verão da Rede Globo. Filmado em 1977 e veiculado para todo Brasil no dia 2 de janeiro de 1978, Os Pomeranos é um raro registro de Santa Maria de Jetibá, cidade que se desenvolveu velozmente após terem chegado estradas asfaltadas, energia elétrica, e telefone. É até difícil acreditar, mas quando o documentário foi feito nada disso ainda havia por lá.

A equipe vencedora, que desbancou todas as outras retransmissoras da Rede Globo, recebeu um prêmio de 100 mil cruzeiros e quatro passagens para Nova Iorque. A direção geral ficou a cargo de Vladimir Godoy e a coordenação de Marcos Alencar, entre outros profissionais da época bastante conhecidos até hoje.

A Equipe realizadora de Os Pomeranos, né por nada não, mas o Marcos Alencar ficou a cara da Marly.
 O documentário abordou - e provavelmente - catalisou alguns ícones da cultura Pomerana como a cerimônia de casamento, a música de concertina e bandas de metais, a questão da língua, o aspecto religioso luterano e a dedicação do povo às lavouras que ainda fazem da região o principal fornecedor de hortigranjeiros para a Grande Vitória. Alguns registros valiosos estão eternizados como os depoimentos de figuras chave da região como Francisco Schwarz e Dalmácio Espíndula e até momentos pitorescos quando da entrevista de um colono com o seguinte diálogo:

- Ô Argeu você se lembra quando a sua família veio da Pomerânia pra cá?

- Não me alembro não.

- Mas nem de longe assim, você não tem recordação?

- De longe um pouco de recordação eu tenho, mas não muita. É pouca coisa.

- Você não sabe, ninguém nunca te informou nada quando é que eles vieram, alguma coisa?

- É... Isso eu sêo, de reformação como que eles vinham e tudo isso eu sêo sim.

- Como é que eles vieram pra cá?

- Eles vieram pra cá de avião.

- De avião é? – Nesse momento dá pra ver que o repórter (provavelmente Vladimir Godoy) está segurando o riso.

- De avião. – O pior é que o tal Argeo respondeu com toda segurança e peculiar simplicidade. Nesse momento não fica claro se a intenção era mostrar o isolamento do indivíduo ou, de novo, fazer piada com a ignorância do pomerano. Porém, esse tom desafinado com nossos tempos politicamente corretos, deve ter sido um gancho interessante para captar a audiência da época. Os Pomeranos é um documentário, por tudo isso, que deveria ser reapresentado nos dias atuais e até revisitado, comparando lugares e a trajetória das pessoas mostradas. Afinal, por mais que a região tenha mudado, as pessoas ainda estão por lá e, senão elas, estão seus filhos e netos que ficariam muito felizes de conhecer essas preciosas imagens.

domingo, 11 de março de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO: INCLUSÃO X PIRATARIA

Um dos assuntos que motivou o surgimento do blog da Letra Elektrônica foi, há coisa de três anos, o debate entre locadoras de vídeo e camelôs. Os primeiros exigiam ações para coibir a concorrência desleal, os segundos se defendiam afirmando que tinham família e precisavam fazer alguma coisa pra sobreviver. Alguns representantes da Associação de videolocadoras, nem lembro se era isso, ficaram danados comigo porque fiz um texto em que dizia que o foco era equivocado e que o maior perigo para o mercado deles era a Internet e nos últimos anos a tendência se consolidou.

Para colocar mais lenha na fogueira, há poucos dias um juiz do Rio Grande do Sul considerou improcedente uma ação do Ministério Público contra um homem flagrado vendendo DVDs piratas. Segundo o site www.jusbrasil.com.br o magistrado ponderou que “a conduta perpetrada pelo agente é flagrantemente aceita pela sociedade e, por tal motivo, impassível de coerção pela gravosa imposição de reprimenda criminal.”    

Tenho amigos cinéfilos que ainda utilizam os serviços das videolocadoras ou quando querem assistir um filme preferem, correta e politicamente, comprar pela Internet. Não concordam com o que entendem ser pirataria enquanto, ao mesmo tempo, reclamam da dificuldade de encontrar alguns filmes, especialmente os ditos “de arte”, o cinemão alternativo que cresceu a ponto de hoje ter o evento Sundance Film Festival como referência até para Hollywood.  
Baixar filmes da internet se tornou uma coisa tão trivial - embora a maioria das pessoas que conheço ainda não saibam como fazer com relação a legendas e outras mumunhas – que na última cerimônia do Oscar o comentarista de óculos coloridos que ainda pensa que é o Jack Nicholson ao sul do Equador, José Wilker, afirmou trivialmente com relação a um dos concorrentes que não conhecia ainda porque tinha tentado baixar e não conseguiu. Ora se com o Wilker é assim...

Alguns filmes que só agora estão entrando em cartaz, já estavam disponíveis para download gratuito na Internet em meados do ano passado. É o caso do ótimo Drive, considerado o maior injustiçado por não ter nenhuma indicação às concorridas estatuetas. Mas alguns outros jamais serão vistos nas locadoras, muito menos nos cinemas locais, pródigos em exibir somente o supra-sumo do que se convencionou chamar de “cinema pipoca” - Com as devidas ressalvas para os cines Jardins e Metrópolis. Fora isso...

A questão ainda passa pelo delicado processo de inclusão cultural. Em 2010 os franceses fizeram um filme sobre a irmã de Mozart da qual pouca gente ouviu falar, aliás, tanto de uma coisa quanto de outra. Maria Anna Mozart, conhecida pelo apelido de Nannerl, foi uma criança prodígio como o irmão e a história contada na película dos franceses defende a idéia de que a menina não conquistou alguma fama porque o pai a proibiu de compor. 


 O filme tem sido criticado por falta de cuidado justamente com a caracterização de período da trilha sonora, os figurinos são deslumbrantes, mas o roteiro se concentra no preconceito contra as mulheres da época. Com todas as ressalvas, a “A Irmã de Mozart” é uma história bastante interessante – obrigatória? - para exibição em escolas de música, por exemplo. Porém, vai saber quando - e se - será lançado no Brasil. Até agora não encontrei nenhuma referência ao assunto na Internet...

quarta-feira, 7 de março de 2012

ABERTURA DA TEMPORADA CAMERATA SESI

Com direção artística do maestro Leonardo Davi tem início no próximo sábado a temporada 2012 da Orquestra Camerata SESI. O grupo é formado por jovens músicos e vem amadurecendo tanto em seu repertório, quanto musicalmente. A Letra Elektrônica vai estar lá...

domingo, 4 de março de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO: ETNOCENTRISMO


ETNOCENTRISMO NA VOLTA DOS QUE NÃO FORAM

No capítulo anterior, em Santa Leopoldina um cara me recomendou fazer as curvas da estrada que não era de Santos, ainda assim digo que fiquei feliz em fazer a sua diversão insólita naquele momento glorioso de nossas existências. E, sim, como tinha curvas pra frente de onde estávamos! Quando cheguei em Santa Maria de Jetibá e comentei o assunto – eu sei-lá-quem – me disse que em certos pontos da estrada faz-se tantas voltas que até dá pra ver a placa traseira do próprio carro.

Mas não vamos subir as montanhas ainda, não por esse caminho reto e cheio de curvas, porque Deus escreve por linhas tortas. Vamos tomar aquele da direita que me deixara em dúvida e que valeu outra gozação dos habitantes de Santa Leopoldina há quase trinta anos. Dizem os historiadores que essa estrada foi uma das causadoras da derrocada econômica da região, porque, entre outras coisas, o “Porto de Cachoeiro” perdeu sua utilidade única de transporte das mercadorias para a capital...

Era casamento de Carlão Gazeta, conhecido assim por gostar de contar lorotas e ser portador de novidades. Falando nisso o Carlão tinha dois irmãos que eram bastante conhecidos na Praia do Canto: o Zé Peão e o Caed, mas não vejo nenhum dos três há séculos. Carlão ia casar com uma “filha” de Santa Leopoldina e, obviamente, ninguém cogitou a possibilidade de ir à cerimônia na igreja, mas na festa...

Fomos em dois carros: eu dirigindo um Escort branco e Danny Boy num Gol cinza que era da Copa do Mundo de 86 ou 82, sei lá. O problema é que, sem Internet, nem Google Maps - era meados da década de oitenta – ao invés de passar por Cariacica, fomos lá em cima de Santa Tereza e descemos pela tal estrada da perdição: uns trinta quilômetros de terra esburacada passando pelo cucuruto de três montanhas, várias cachoeiras maravilhosas e uma cidade chamada Itapocu... Vai guardando.

Conseguimos chegar bastante atrasados, como reza a praxe, e os carros aos pedaços. A festa estava meia coisada, mas perfeitamente assistível até que um cara descobriu que o povo bobo da cidade (nós), ao invés de passar pela estrada asfaltada e fazer o percurso em trinta minutos, tinha descido pela estrada velha, estragado o carro todo e levado mais de duas horas! A satisfa daquele sujeito me deixa prenhe de curiosidade até hoje: ele saracoteou nossa patetice em altos brados por todos cantos da festa, ria e apontava em nossa direção sem a menor preocupação com o meio ambiente. Não contente, foi à rua chamar o resto do povo da cidade, que não devia ser tantos assim, para não perderem a oportunidade de rir da gente também.

Muitos anos depois me contaram que os moradores de Itapocu – que significa minissaia em tupi guarani – acabaram fazendo um movimento para mudar o nome da cidade. A insatisfação era geral, entre outras coisas, sentiam-se muito constrangidos quando tinham que dizer o nome do lugar onde moravam. Veio então um plebiscito para definir um novo nome para o lugar e sabe qual ganhou?

- Destapocu! – Que traduzido do tupi quer dizer: tira a calça jeans, bota o fio dental...

P.S.
Okay people, parte dessa estória – dane-se a nova gramática – foi inventada por razões, digamos assim, literárias. Itapocu é da língua tupi mesmo e tem várias possíveis traduções, uma delas é Ita = pedra e poku = comprida. O tal vilarejo existiu com esse nome durante muito tempo e acabou sendo alterado para Colina Verde na administração do então prefeito de Santa Leopoldina Argeo João Uliana que foi quem me contou essa história.

Quem hoje imaginaria que em outros tempos o Governador do Estado fazia discurso pitando um cigarrinho? Na ponta esquerda vemos o deputado Francisco Schwarz, à direita de Eurico Rezende está o casal Argeo e Sabina Uliana e, entre outras personalidades, o ex-prefeito de Vitória Carlito Von Schilgen.

quinta-feira, 1 de março de 2012

FALTA DE SINALIZAÇÃO PROVOCA BULLING NO TURISMO!

Minha relação com o pessoal de Santa Leopoldina começou com uma escolha errada que me valeu uma baita gozação e depois com uma piada que eu juro que foi verdade, aliás: “nóis temu testemunha”. Pensei que aquela coisa inamistosa fosse um sinal de desprezo, de repúdio ao “pessoal bobo da cidade”. Agora não sei mais, talvez o buraco seja mais embaixo. O problema da vida é que a gente repensa as coisas de tempos em tempos. Por exemplo: há uns dez anos eu detestava ter que ir a supermercado fazer compras, hoje não faz mais tanta diferença, apesar de conviver com a absurda realidade dos próprios não fornecerem embalagens para os produtos que vendem.

A cidade que falo hoje conheceu um veloz desenvolvimento sob a alcunha de Cachoeiro de Santa Leopoldina, - segundo eu sei-lá-quem - chegou até a causar o sobrenome da capital secreta do universo que precisou explicitar ser “do Itapemirim” a título de desambiguação. Tinha lá o famoso Porto do Cachoeiro que escoava a produção agrícola da região serrana para a capital e o café estava bombando, logo se tornou a base da economia capixaba. O pior é que isso daria origem à famosa “cotação do café” que até hoje é insistentemente apresentada nos televisivos locais, apesar da maioria da força de trabalho do Estado estar no setor público.

Uma incrível versão hídrica da cegonha no rio Santa Maria.
 Como se isso tudo não bastasse, Santa Leopoldina foi palco do livro “Canaã” de Graça Aranha, provavelmente a mais importante obra literária que tem o solo do Espírito Santo como cenário e de quebra ainda teve uma ótema (sic) versão cinematográfica dirigida e interpretada em 1973 pelo saudoso (?) Jece Valadão. Por isso tudo e algo mais era de se imaginar que o Leopoldinense se achasse, mais ou menos, como hoje o pessoal da Barra do Jucu. Não deve ter sido fácil para seus habitantes conviver com as histórias de grandeza e da posterior derrocada da economia; de toda aquela opulência e riqueza os nascidos em meados do século passado em diante apenas ouviram falar.

O que talvez explique aquilo que nos aconteceu...

Foi no feriadão de sete de setembro no ano passado, estávamos indo visitar meu amigo/irmão Danny Boy em Santa Maria de Jetibá, cidade que eu mal conhecia até então. Íamos por Cariacica, atravessamos Santa Leopoldina até chegar no que eu suponho que fosse o final da cidade. De lá podíamos seguir reto, mas tinha também uma quebrada à direita com ponte e algo mais, o que não tinha mesmo era a porcaria da sinalização. Como não éramos obrigados a saber que rumo certo tomar, resolvemos parar para perguntar a dois caras que estavam em pé conversando na esquina:

- Bom dia amigos. Pra gente ir pra Santa Maria é só seguir reto? - O cara, meio alemão/mezzo maracachonga, respondeu num tom que oscilava entre a chacota e a reprovação pela bobagem que eu estava dizendo:

- Não é não seu moço: tem que fazer as curvas né!?