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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

EMBALOS DE UM PASSADO DISTANTE


Cara, galera, okay, falou, tá legal. Comecei a escrever a tal da história do Midas de nossas bandas, mas fiquei tão enojado com o rumo que a coisa estava tomando que tive que parar, pelo menos por enquanto. Além do mais, eu nem tinha realmente começado a abordar o assunto pra tentar entrar no tema e já tinha dado uma página. Ou seja, Narceja – bate palminha vai – ESQUILO!


Pois é, a história estava triste, sorumbática, como é, aliás, a vida dessas pessoas que se consomem dentro de suas próprias desventuras. Vou ter que parar para escrever com calma, nem que seja para um dia mostrar para meus sobrinhos-netos, um dia, quem sabe... Retomo então um assunto que agrada a turminha saudosista e falar mais sobre os primórdios da onda disco-dance aqui na cidade de Vitória.


Lembra aquele verão desgramado - aliás, como o atual só que ao contrário - em que choveu sem parar durante três meses? Foi uma calamidade pública para os capixabas, o Rio Doce transbordou alagando o norte todo: Linhares, Muquirana e Mucurici. Circulava o boato de que uma represa estava prestes a rebentar por aquelas bandas e que nossa cidade ia ficar embaixo d’água, para sempre. Era a Tsunami, o final dos tempos... E eu me lembro claramente de ter ficado triste somente e exclusivamente pela decepcionante perspectiva de não mais haver domingueira da Boite Mario’s pra gente ir.


Eu era um pré-adolecente botocudo, minhas irmãs mais velhas é que tinham os discos da moda, especialmente a trilha sonora do filme “Os Embalos de Sábado a Noite”, uma película muito badalada que espalhou pelo mundo a onda “Disco”. Enquanto os Sex Pistols amargavam a goela dos ingleses e a cena british bombava, nós aqui tentávamos aprender a requebrar que nem o John Travolta. Isso e mais todo o pacote Rede Globo, Sonia Braga, novela “Dancing Days” e as adoráveis Frenéticas do Nelson Ned, quer dizer, Nelson Rubens, Ops! Enfim, Nelson alguma coisa (Mota?).


A gente ensaiava os passinhos em casa, é verdade! Eu e minha irmã Milla que tinha um gênio dos diabos e me arrastava pra tudo quanto é roubada que ela inventava. Depois vinha a domingueira do Mario’s, a chamada matinê. Começava de tarde e não passava das nove da noite, mas cidade inteira daquela faixa etária pré-aborrescente e de outras se aglomerava lá. Lembro que no fundo de um corredor tinha um painel com espelho dentro de vários espelhos, cheios de luzes que ia se aprofundando que nem mágica.


O auge da domingueira era o aparecimento da figura, figuríssima de uma cara chamado Ney, que foi sumariamente apelidado, rebatizado, sei lá ,de “Ney Travolta”. Era só tocar o tema principal dos Bee Gees que o Travolta local ganhava a pista acompanhado de uma loira e disparava o repertório rebolativo de Saturday Night Fever, ainda que fosse domingo. O próprio público reconhecia sua superioridade dançarinheira e abria uma roda no centro da pista de dança, onde o casal mostrava sua habilidade em emular a habilidade de outrem.


Logo o Ney Travolta virou lenda e comentários diversos surgiram sobre a sua pessoa. Diziam que ele havia assistido ao filme dezesseis vezes no Cine Glória - ou Juparanã, nem lembro mais – para poder aprender os passos do ídolo. É difícil até imaginar hoje, mas é bom explicar que naquela época ainda não havia por aqui vídeo cassete, muito menos DVD, ou ia ao cinema ou não aprendia a parada. Sem falar que a tal da censura era o cão chupando manga e o filme era proibido pra maiores de dezesseis anos, eu até tentei, mas não consegui entrar. Muitos anos depois é que fui é que fui assistir à película em video e acabei achando uma merda.


Só para ilustrar o texto publico abaixo uma fotografia inédita que vem da coleção particular de minha família e que foi tirada durante o lançamento do livro de Maria Nilce “Crônicas de Uma Ilha Muito Doida”, no dia 22 de setembro de 1977. Nessa foto vemos a pista de dança do Mario’s completamente tomada, o cara de costeletas em primeiro plano é o já falecido pai do Max, um grande amigo. Vemos bem acima também o tradicional globo feito de espelhinhos, esse troço deve ter um nome certo não é? Dá só um beiço na expressão de felicidade daquele tiozinho bigodudo, com o copo lá no alto, como se brindasse à alegria.



Não passaria muito tempo e o Mario – a melhor lazanha verde da cidade – fecharia sua discoteca, certamente a primeira daqui. Na Reta da Penha seria inaugurada a Papagaio’s, depois a Black Horse, sei lá mais quantas e a cidade seguiria essa tendência disco ainda por um bom tempo. Nós bem que tentamos contrabalancear com bandas de Heavy Metal e Pop Rock, mas viríamos a descobrir que o gosto musical do capixaba sempre esteve muito mais pra Praça do Pelourinho do que pra Piccadilly Circus.


Não faço a menor idéia de que fim levou o Ney Travolta, lembro que em meados dos anos oitenta ele tentou a carreira de cantor, infelizmente sem despertar tanto interesse e comentários maldosos quanto em sua fase disco-dancer... Uma das fofocas mais inocentes que circulavam é que, por ser baixinho e muito vaidoso, o dançarino colocava uma almofada no banco do carro para parecer mais alto quando dirigia. Provavelmente intriga da oposição não é? Para vocês verem como é antigo esse costume de falar mal da vida dos famosos...


Depois de um tempão o Mario acabou mudando seu point na Praia do Suá pra Praia do Canto, perto da Igreja Santa Rita, uma região que antigamente era chamada de Praia Comprida - ou seja: Narceja! - era ali a nossa Long Beach. A tradicional cozinha “trentina”, acho que estou correto em dizer assim, ainda pode ser experimentada nesse novo restaurante batizado de “Cantina Fiorentina do Mario”, desculpem a minha ignorância completa dos costumes italianos, afinal não tenho com estes nenhuma forma de parentesco.


Mandem para a Letra Elektrônica suas fotos e suas histórias, quem sabe não conseguimos retomar um pouquinho da trajetória de nossos ilhéus, antes que o Rio Doce transborde outra vez e leve nossas lembranças de volta pra casa do chapéu...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

CADA FAXINA É UM "FRÉSH"!



Este é um video que apareceu no meu email e não resisti à tentação de compartilhar com os amigos da Lektra. Conheçam a desenvoltada (sic) Laila Dominique-ique-ique! Esses nomes são tão estrambóticos. Ah esses nomes!

LENDAS E FÁBULAS NA BOTOCULÂNDIA Op 1


Alguém por aí ainda se lembra do lendário Rei Midas? Por favor, não me olhem com cara de paisagem... Midas, minha gente, era Rei na antiga Frigia, hoje Turquia, e certa vez entrou numas de ajudar o Sileno – mestre de criação (art designer?) de Baco (a famigerada divindade do vinho) - que andara se metendo numas mega-cachaçadas - como, aliás, reza o código de ética de sua profissão - e perdeu feio o rumo do monte Olimpo. Depois de tomar todas com Sileno, Midas resolveu devolver aquela esponja criativosa na casa de seu patrão, afinal, a ressaca: ela existe.


Baco - também conhecido pela alcunha Dionisíaca, especialmente depois da meia noite – ficou muito agradecido com o reaparecimento de Sileno e pra recompensar a ajuda de “el rei” disse que concederia a Midas o desejo que lhe desse na telha. O cara era turco, não esqueçamos deste pequeno detalhe, e pediu ao deus do vinho o poder de transformar tudo o que tocasse em ouro. O deus ficou com pena do cara, mas fazer o quê né? O médico pediu para não contrariar. Então sapecou o poder pra cima de Midas que saiu de lá “Feliz, feliz” como diriam os meninos da Banda Solana...


No início é assim, depois piora. Pois bem, Midas começou a pegar numas paradas e, ante seus olhos deslumbrados, viu que elas realmente se transformavam no vil metal. Foi só quando chegou em casa a pé, porque seu camelo tinha virado uma estátua dourada, que o cara começou a desconfiar que aquele seu desejo não tinha sido uma escolha muito boa não. Mas aí já era tarde cumpádi, sua filha virou ouro, logo depois sua mulher e também sua amante, ou seja: cerveja, pois o infeliz não conseguia mais comer nada nem ninguém, tudo o que tocava imediatamente se transformava em decoração de motel. Prestes a morrer de fome o monarca resolveu pedir arrego a Baco que acabou dando um jeito de retirar a urucubaca de cima dele.


Qual a moral da história? Ué véi, ela pode ser vista por aí todos os dias. Porém, justamente do ponto de vista moralista das pessoas e não sob o ângulo que é mais acertado a meu ver. Qual seja, cerveja: o mais condenável no fácil (fácil?) enriquecimento ilícito não é simplesmente a grana (ou o ouro) em si, mas o efeito que a opulência tem nas pessoas e as conseqüências irreparáveis que daí advém.


Peguemos por exemplo o caso espalhafatoso e tão falado da dita “Operação Naufrágio” e seus envolvidos dos altos escalões do poder judiciário. Digamos que os magistrados tenham realmente cometido a série de crimes de que são acusados, venderam sentenças, pintaram e bordaram para transformar tudo em ouro e quebraram a cara. Sabe na minha opinião qual é realmente o problema? É que as pessoas prejudicadas por suas ações impensadas jamais serão ressarcidas de seu prejuízo, nunca vão poder contestar uma decisão que pode ter alterado injustamente o rumo de suas vidas. Esse rumo que se altera, ele não tem preço, porque não se recupera, não se remenda calça velha com tecido novo...


Eu tenho uma pequena história pra contar, que é exatamente como a lenda do Rei Midas. E ela aconteceu aqui mesmo em nossa “sociedade” botocuda. É sobre um cara que nada de mais foi para o mundo, mas que viveu de maneira intensamente voraz e merece ocasionalmente ser lembrado, nem que seja apenas pra lamentarmos sua insensatez. Mas como este texto está ficando grande demais, vou lascar o famoso “concluímos na próxima edição” pra cima de vocês... E quem quiser que conte outra.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

CANÇÃO NO MUNDO DAS ILUSÕES PERDIDAS


Existe em algum lugar uma canção de Buda que li faz tempo e na hora que entrei numas de usar neste texto não consegui mais achar em nenhum dos livros suspeitos. Era um diálogo do mestre indiano com um comerciante, enquanto um cantava as alegrias do ter o outro rebatia com a liberdade de não possuir. Faz pouco tempo recebi um texto que exaltava a superioridade do pensamento dos “ricos” como se estes fossem grandes filósofos, era uma sugestão bem intencionada que defendia mudanças em nossa vida para nos tornarmos mais abastados também. Na hora lembrei daquela passagem budista, me deu vontade de desconstruir o texto ingênuo recebido, fazer paralelos sarcásticos ofensivos, mas desisti por respeito àquela pessoa ou talvez por não me achar mesmo à altura da tarefa.


A trajetória e a companhia das pessoas simples sempre me agradaram e interessaram mais do que a de pessoas poderosas. Sei lá, me parecem mais dignas de admiração, além do mais não existe esse negócio de pessoa simples. Apesar de dividirmos o mundo entre os que têm grana ou não, valorizando os primeiros, mais tarde descobrimos que esse “ter” dinheiro pode ser relativo... Lembram do Homem Aranha que apareceu por aqui faz coisa de uns dez anos? Era um cara descolado e antenado que nem o Chapolim Colorado, estreou nos principais points da cidade a bordo de um carrão importado, pagou generosamente birita pra uns e outros - o dinheiro não era dele mesmo - logo estava muito bem relacionado com a rapaziada bem de vida da cidade. Ao que parece não foram muitos os que questionaram o que aquele completo estranho fazia para ostentar um padrão de vida milionário.


Ganhando a confiança de uns e outras o Homem Aranha foi se tornando uma figura popular, passou o rodo numa gatinha conhecida minha que até o levou em casa pra conhecer a futura sogra. Não demorou e estava sendo convidado para freqüentar casas e apartamentos dos endinheirados da cidade que - mal sabiam eles, ou melhor, depois descobriu-se - nada mais eram do que visitas profissionais de reconhecimento. Passado um tempo o gatuno voltava nas casas que o interessaram escalando as paredes dos prédios, às vezes grandes alturas, coberturas. Foi aí que ganhou a alcunha de Homem Aranha. Minha amiga só descobriu a verdadeira ocupação de seu amado quando o infeliz apareceu em todas as televisões locais, não mais nos chiquérrimos eventos sociais, mas sim na cobertura policial, aquela mesma seguida da cotação do café.


O problema de valorizar as aparências, óbvio ululante, é que elas nos enganam. Quando coloco um terno algumas pessoas me tratam como se fosse um deputado, tudo quanto é mendigo vem me pedir esmola. Daí uma amiga sacana falou: “Isso é porque eles não viram o seu carro Juca!” Tenho um amigo que - apesar do perfil certinho - foi muito malucão quando jovem, fez todo o tipo de besteiras. À medida que amadurecia, foi abandonando os vícios mais nefastos, levando uma vida mais responsável, mas adotando - como se pra compensar - um visual cada vez mais maluco. Fez mil tatuagens, deixou cabelo e barba crescer. Hoje pessoas vêm comentar comigo o quanto nosso amigo ficou doido sem saber que na verdade se deu justamente o contrário...


Enquanto isso, com um bom papo e o visual certo os bandidos continuam a abrir portas e destruir vidas sem o necessário questionamento. Você mesmo já parou para se perguntar de onde é que veio a fortuna de algumas pessoas ditas “ricas”? Pode ser até alguém próximo de você que endinheirou de forma meio sem sentido ou outro que posa de rico faz tempo e não se sabe de onde o dinheiro vem, sempre tem alguma explicação que ninguém vai se dar ao trabalho de verificar, mesmo porque a festa em torno da opulência simplesmente abafa o questionamento... É aí que a bandidagem deita e rola! Imagine, ser um sociopata extremamente perigoso e ao mesmo tempo adorado e respeitado por todos! E o pior é que isso acontece, todos temos nossas histórias pra contar...


Amigos, não me entendam mal, não estou dizendo que é feio ser rico ou que a pobreza pode ser uma espécie de virtude (tá doido!), gostaria muito que a riqueza banalizasse para todos e que pudéssemos morar com conforto, andar de carrão, ter assistência médica, viajar para Europa todo ano - ou para onde nos desse na telha - e ter a liberdade de só fazer o que estivesse a fim, sem as preocupações do trabalho e do dia a dia. Talvez, se isso ocorresse, passaríamos a valorizar o caráter e a decência das pessoas, e - como acontece com os sábios - cultuar as mentes que criam coisas belas e úteis e as coisas simples da vida que são a chave da plenitude e a prova real de nossa humanidade.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Em Terra de Cego Quem Tem Olho é o Forévis.


Comentário ao texto anterior, sobre pessoas que - no caso - olham para o próprio rabo:

"Também tem gente que adora ver o rabo dos outros, Juca!
Dá uma olhada nisso!



É mole?!"

Contribuição de meu cunhado Léo Batalha - o importante é ganhar a guerra - provando que "só no forévis" pode-se realmente desvendar os segredos e os detalhes tão pequenos do corpo humano...

Como diria o Zé Simão, meu amigo Batalha: é mole mas sobe! Aliás, dependendo do problema da pessoa a ser - digamos assim: consultada - a coisa pode se tornar assaz problemática. Máscaras de gás exclusive (sic)!

Aqui no Brasil isso ia ser uma festa não é não? Imagine você - que não é um cara descolado e antenado como o Chapolim Colorado - ou mesmo eu - que não sou mão boba nem nada - se não ia montar logo uma tenda de consultas gratuitas ali na Praia da Bacutia. Eita diabo!

Post scriptum: esse é o tipo de profissão em que "malandro que é malandro" escolhe a clientela a dedo... Ou, como diria Bolão, "Há bares que vêm pra bem".

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

TEM GENTE QUE NÃO OLHA PARA O PRÓPRIO RABO


Ontem estava lembrando da moda dos patins que assolou Vitória no início dos anos oitenta. Ou será que ainda era finalzinho da década de setenta? Acho que foi início dos anos oitenta mesmo, porque me vêm músicas à lembrança como Hollyday com Madona e Girsl Just Wanna Have Fun com Cindy Lauper. Eita! Enfim, não importa. Acho que lembrei disso porque segunda passada vi uns conhecidos daquela época fazendo compras no supermercado. Falando nisso o Carone está promovendo um sorteio de automóvel. Ora, do jeito que aquele lugar vive lotado eles deveriam sortear uma vaga de garagem, que falta de criatividade, de carros a cidade já está engarrafada.


Mas então, tinha uma sorveteria chamada “Bem Bolado” que ficava ali depois da curva do posto Monza, bem em frente ao Edifício Marechal Rondon na Avenida Cezar Hilal. Foi nessa parada que a moda dos patins se consolidou, tinha lá uma pista de patinação e o lugar virou a coqueluche da cidade. Os primeiros destes aparatos rolatórios que vi por aqui eram da marca Bandeirantes, toscos como eles sós, de ferro e pesados, com rodas de plástico pretas, tinham uns parafusos embaixo para aumentar ou diminuir o tamanho conforme o pé do patinador. Daí que nessa época começaram a aparecer patins com rodinhas coloridas - um tal de poliuretano - e botas bacanas, virou moda entre a molecada, especialmente as meninas.


Uma memória puxa a outra, o passado livremente associado. Agora lembrei do Paintball do meu amigo Sérgio Borgo e mais uns sócios. Descobri que uma garota daquela época está com um blog sobre moda: nada contra, nada a favor, apenas lembrei de um outro amigo o Maurício “Cocozinho” Ferreira. Uma das figuras mais engraçadas que conheci. Uma vez o pessoal saiu pra rua com uma garrafa de uísque e um balde de gelo, como Cocozinho estava sem copo resolveu meter o uísque no balde e - como tinha acabado de voltar dos Estados Unidos – gastava o inglês com todo mundo: “I’m fucking drinking a balde”.


Íamos tocar no Paintball com a banda Deuses Sem Nome, isso era já início dos anos noventa, nessa época eu estava prestes a abandonar a militância no roquenrou. Minha mãe havia sido assassinada, eu precisava me reinventar ou descobrir qual era a do mundo real, não sei mais. Fizemos a checagem do som no final da tarde e no início da noite Cocozinho apareceu me intimando a tomar uma cerveja, de repente a tal garota emergiu das sombras e se dirigiu para o balcão do bar. Linda, esquia, o nariz empinado das estrelas que polarizam olhares por onde passam. Nós estávamos um pouco afastados, na penumbra do início da noite, Cocozinho me cutucou e falou:


- Olha só Juquinha, olha lá. Mas ela é muito metida mesmo... – Olhei na direção da garota, lembrei que estivera em sua casa uns dias atrás – era amiga de uma namorada minha – ela dizia, antenada e descolada, que só um dos cremes que passava no rosto custava mais de trezentos dólares, que não era mulher para qualquer um não, que sua manutenção era muito cara. Sim, uma comparação perfeita, é como um automóvel de luxo, “top de linha” como disse aquela policial no BBB10. Essas são referências do que passei a chamar de consumo de convívio, pessoas que se tornam consumistas de pessoas e outras das outras. Cocozinho segurou meu braço e disparou com sarcasmo:


- Olha só, agora ela vai olhar pra bunda, fica vendo. – Achei a afirmação tão biruta que comecei a imaginar o quanto o cara já andara fumando ou bebendo, mas, porém, contudo, entretanto! Logo em seguida a garota sacudiu a longa cabeleira e, virando o rosto num gesto estudado e fútil, deu uma boa olhada para a própria buzanfa que estava enfiada em um jeans tão apertado, mas tão justinho, que pra tirar só cortando com tesoura ou rasgando com volúpia o que não era de todo uma má idéia.


Por que será que a garota fazia aquilo? O fato do cara saber desse hábito estranho, tanto que cantou a pedra antes de acontecer, faz concluir que a referida devia viver fiscalizando a própria retaguarda. A pergunta que me ocorre é: por quê? Alguém poderia argumentar que se eu tivesse uma bunda bonita também viveria olhando para ela, mas não sei se é esse o caso. Bom, nunca vou saber, a não ser que algum de vocês me esclareça. Uma coisa é certa: não podemos dizer que se tratava de uma pessoa que não olhava para o próprio rabo...


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Guerra ao Preconceito é o Avatar do Oscar 2010


A Academia cinematográfica de Hollywood divulgou ontem os concorrentes ao Oscar 2010, da lista que comentei num post passado tem vários na disputa pelo prêmio de melhor filme. Alguns eu nem tinha falado, porque ficaram pro meio do ano como o belíssimo Up – Altas Aventuras, filme em 3D que já valeu uma resenha inteira aqui na Lektra e Bastardos Inglórios, a ótima fantasia biruta da segunda guerra que Quentim Tarantino dirigiu com sua verve impagável e aquele fantástico diálogo – praticamente um monólogo - de abertura que deve valer a Christoph Waltz a estatueta de melhor ator coadjuvante.


Fiquei um pouco surpreso com a dimensão que alcançou o filme "Guerra ao Terror" (The Hurt Locker) da diretora Kathryn Bigelow - por sinal ex-mulher de James Cameron de Avatar - simplesmente não entendi. Certamente o problema é meu, porque não consegui ver nada de mais nesse “Iraq Movie” – a parada já virou até um sub-gênero. Claro que não é um filme ruim e a produção já vinha sendo muito comentada, o que tem de bom mesmo é o elenco super engajado, especialmente Jeremy Renner, até então sem grande destaque no cinema, que foi indicado ao Oscar de melhor ator.


Avatar segue como a grande sensação do momento, espocando a sibilina das bilheterias ao redor do planeta, já era esperado todo esse fuzuê ao seu redor. Hollywood é uma indústria e um blockbuster como esse mantém a máquina funcionando. Todo dia alguém vem me convidar pra ir ver ou comenta que foi, é uma verdadeira febre. Me ocorre agora e arrisco a dizer que James Cameron preencheu a lacuna deixada por Spielberg que durante anos dominou as bilheterias com produções grandiosas e de incrível popularidade. Avatar nada mais é que o E.T dos tempos atuais...


Distrito 9 conseguiu várias indicações ao Oscar, inclusive uma muito merecida a melhor filme, é uma ficção muito bem contada, sur-real-lista, atual e trata de preconceito como – vale ressaltar – quase todos os indicados. De uma forma ou de outra, o respeito às diferenças e os choques culturais, étnicos, raciais e o escambau, são tema em quase todos os concorrentes: Avatar é assim, Altas Aventuras é uma reviravolta na visão que temos do idoso, Preciosa tem um pouco de tudo, mas o destaque talvez fique pela obesidade mórbida; Por falar nisso, o ótimo Invicto acabou ficando de fora da disputa por melhor filme, concorre apenas com Morgan Freedman como melhor ator.


Amor Sem Escalas (Up In The Air) e Educação (An Education) são, talvez, as opções caretinhas, no sentido de tradicionais, desse páreo e, além de melhor filme estão concorrendo em várias categorias. Confesso que ainda não vi a nova produção dos irmãos Cohen “A Serious Man” (Um Homem Sério?), mas estes nunca são caretas, e Um Sonho Possível (The Blind Side) que tem Sandra Bullock como destaque - o que não é lá uma referência muito boa - mas que parece tratar de preconceito também. Por falar nisso, é atroz ver George Clooney indicado ao Oscar de melhor ator (Eita!).


Um filme que passou batido pelos membros da Academia, mas que é muito interessante, é “A Estrada” – um drama sobre os tempos após o final dos tempos - com Viggo Mortensen em ótima atuação, certamente mais merecedora de uma indicação que a do galã Clooney. Curiosamente está sendo lançado agora o filme O Livro de Eli com Denzel Washington, ambientado exatamente como o anterior. Nas duas histórias a Terra sofreu um hecatombe qualquer não explicado, os sobreviventes ficam malucos, doentes e descambam para o canibalismo. É, curiosamente, tudo muito parecido. Tem momentos em que parece que os dois filmes vão se cruzar e compartilhar suas histórias. Ambos lembram Mad Max, especialmente o segundo. A Estrada é mais robusto em drama e sentimento, O Livro de Eli em aventura e caricatice, sobretudo de Gary Oldman no papel do vilão e do próprio Denzel que parece ter sido chamado na última hora para substituir Wesley Snipes. Confere lá e depois me fala.


Outra produção grandiosa ignorada pelo Oscar 2010 é “Amélia” com Hilary Swank, Ewan MaCcgreagor e Richard Gere. O filme conta a história da aviadora americana Amélia Earhart, a primeira mulher a cruzar o atlântico de avião e uma verdadeira celebridade na primeira metade do século vinte. Só pra arrematar, acabei de pegar o filme novo de Terry Gilliam, talvez o meu diretor predileto, chama-se o “O Imaginário do Dr. Parnassus” que concorre com uma indicação em Direção de Arte. Gilliam, para quem não lembra, foi membro do Monty Phyton e tem uma carreira bastante à parte do cotidiano Hollywoodiano. Seus filmes mais populares são 12 Macacos e O Pescador de Ilusões.


A entrega do Oscar será no dia sete de março e, embora não vá mudar nada em nossa vida, é uma festa bacana que sempre mexe com o coração da galera que gosta de cinema. Acho muito legal e importante que a mais popular expressão artística de nossos tempos seja finalmente usada como veículo para combater - ou pelo menos tentar questionar - o racismo, o preconceito e as demais mazelas que infligimos a nós mesmos no dia a dia. Precisamos dar esse passo adiante como seres humanos e o cinema é certamente uma forma muito convincente de enxergarmos e aceitarmos nossas limitações.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

PASSO A PASSO DO CAOS...

Vamos dar início a uma nova série de foto reportagens, porque ultimamente ando com o obturador disparado. Peguei a mania de levar a máquina comigo pra tudo quanto é canto e não me "acontento" (como diria o filósofo Dunda da Seleção) em deixar de registrar a dura realidade dos capixabas nesse verão em que o calor não dá a menor trégua: Avenida Nossa Senhora da Penha (!), também conhecida pela infeliz alcunha de "Reta da Penha" na quinta passada, ó lá:


Daí que eu não quero aqui ficar dando uma de enjoado e mau humorado, afinal nossa bucólica cidade está crescendo e as obras têm que ser feitas, de mais a mais, se a meta é chegar ao caos de São Paulo - o que, segundo afirmam especialistas, não é de todo impossível - temos que nos esforçar e usar um pouco da criatividade, não fora assim como explicar a realização do evento que registramos abaixo:


Bacana a parada né? "Você na rua, os cabelos ao vento, gente jovem reunida". Tá reconhecendo o point carnavalesco? Não é o Pelourinho na Bahia não meu rei (sic), por mais incrível e curioso que isso possa parecer, essa aí é a Aveninda Beria Mar, ontem (domingo) à tarde, na altura do Instituto Braille. Um luxo total não é não? Música baiana a toda altura, dois trios elétricos de estremecer o chão, momento ideal para dar aquela dormidinha após o almoço... Não, e olha só o trânsito a belezura (siiic) que ficou:


E ainda tem gente que fica reclamando que nós não temos cultura não é? Francamente...

Seria Cômico se Não Fosse Trágico...


O que dizer deste caixão? Veludinho e alças douradas, néam? Um luxo! Não entendi a razão do referido artefacto ser todo acolchoado, mas me ocorre cada piada de humor negro... Enfim, esse caixão é "temndêneencia", nem que seja para servir de sofá em filmes de vampiros do estilo "Matadores de Vampiras Lésbicas", por sinal uma película carente de verve e comicidade, apesar do evidente esforço de todos envolvidos. Como diriam os profissionais do ramo: "Fazer rir é muito difícil". Basta perder alguns minutos da sua noite de sábado vendo o Zorra Total pra constatar o fato, mas nada como a vida - ou a morte - para comprovar que dura realidade pode ser muito mais contundente do que a mais tresloucada ficção...