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sábado, 29 de janeiro de 2011

TEOREMA FUNDAMENTAL DA SEMELHANÇA ENTRE TRIÂNGULOS


“Dizemos que dois triângulos são semelhantes se, e somente se, os ângulos no mesmo posicionamento forem iguais e os lados correspondentes, proporcionais.”

As pessoas de minha geração adoram histórias de caras cabeludos e irresponsáveis. Roupas de couro, tachinhas e atitude Rock ‘n’ Roll traduzida para o dialeto botocudo. Os tais heróis que morreram de overdose, infelizmente, nem todos. Esse último comentário não é porque penso que os doidões deveriam morrer intoxicados com a própria piração e não ir para o céu como Emilly acredita, mas porque alguns morreram de outras maneiras.

Com o tempo e a “evolução” repetitiva da eterna diferença a estética do “bad boy” englobou novas drogas, piercings e tatuagens. No início dos anos oitenta não era tão comum essa decoração temática do próprio corpo, confesso nunca ter gostado, tenho certa dificuldade em lidar com idéias materiais que são para a vida inteira. Mas isso é um comentário que não tem importância para essa história, talvez no futuro...

Então a minha personagem escolhida para hoje vem daquela época. Na verdade são três, a saber, uma loira ligeiramente metaleira, um metaleiro ligeiramente loiro e um doidão daqueles que seriam capazes de virar herói do Cazuza. Um triângulo eqüilátero à sua maneira, nem me atreveria a dizer que era amoroso. Sexual talvez, um trilátero casual. 

- O cara morreu varado de pipoco dos traficantes, na porta da boca de fumo, quá quá quá! – Uma amiga me contou essa história, sem se importar com a morte de uma pessoa que eu conhecera, não muito bem, mas que era tão maluco que virara um ser mitológico. Dele diziam um tudo: que uma época se apaixonara por um dos maiores amigos e que este o surrava com freqüência para desencorajar a tara desenvolvendo assim o vício em apanhar. Testemunhas oculares dizem que viram os dois à beira de uma dessas crises e que o maluco gritava histérico e excitado:

- Você não vai me bater não! – Mas ele já desenvolvera um certo gosto pela coisa, esperava ardendo pela coisa, assim como gostava de bater nas namoradas também. Uma vez enxulapou uma com tanta violência que a garota teve que dizer em casa que tinha sido atropelada. O pior é que no dia seguinte não lembrava da surra que dera na amada e queria saber quem era o filho da puta que fizera aquilo com ela.

- Dizem que o cara chegou estarrando na boca de fumo e os traficantes meteram pipoco nele, tá em tudo quanto é jornal. Huhauhauha! – Eu não achei a menor graça naquela história baixo astral, como poderia? Ponderei, isso sim, que aquela louca trajetória tinha durado mais até do que o esperado.

A loira metaleira namorava o doidão numa época em que não era lá muito comum – e nem de bom tom - manter uma relação estável. O metaleiro quase loiro, coisa também incomum nessas terras morenas, acabou resolvendo “atender a demanda” proposta pela loira e se jogaram às práticas ancestrais de acasalamento. Como todo bom marginal, o “caso sério” da loira tinha o costume de adentrar seu quarto pela janela e foi aí que rolou o flagrante da traição.

- Sai pra lá cabeludo que o meu papo é com essa loira vagabunda! – Um cara de roupa, outro sem e uma garota enrolada no lençol. Teorema fundamental dos triângulos, qualquer semem-lhança é megera coincidência. A metaleira foi pega pelos cabelos enquanto seu amante – valente lugar tenente das hostes endiabradas - pulava a movimentada janela com as roupas catadas ao acaso. Quando se vestia em um canto escuro encontrou uma calcinha preta, guardou como recordação e prova incontestável da aventura.

- Eu te amo porra! – A frase virou bordão durante uma época, acho que foi no início dos anos noventa. Dizem que um tal de Tomate anda a cantando hoje, se eu fosse ele faria um disco intitulado “Agrotóxico”... E morreria envenenado. A loira repetiu a frase até amansar o corno, até se dar conta de que não era aquilo o que queria. Nem um, nem outro. Triângulo desfeito, mais uma “dose dupla” de qualquer coisa e a vida que segue. Por sinal nem sempre, não para todos. Até um dia...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

NESSE MUNDO NÃO HÁ NADA QUE VENHA DE GRAÇA


Eu adoro crianças, bom depende da criança é claro, lembro de algumas que... Enfim. Mas geralmente gosto de tê-las por perto. Antigamente eu tinha um sangue doce danado pra fedelhos, mas nunca fui muito de ficar paparicando, quando via a gurizada estava sambando na minha cabeça. Hoje essa atração parece ter diminuído, deve ser a idade e o costume de deixar a barba crescer, me parece que apesar de todo avanço tecnológico a maioria delas ainda têm medo do lobo mau.

Infelizmente - e digo isso com uma ponta de tristeza – até hoje o bom destino não me reservou filhos, não que eu saiba. Talvez o fato de nunca ter me tornado um homem rico nem famoso ou os dois, me impediu de ser surpreendido por alguma paternidade lá dos “anos difíceis”, citando Hermann Hesse pra dar uma de quê. Bem sei o quanto fui irresponsável durante aquela sacudida vida sexual que me aconteceu. Curiosamente minha geração também não foi muito pródiga no quesito reprodução.

Aliás, existem outras curiosidades sobre os meus contemporâneos, suas mentes brilhantes e suas vidas perdidas, desperdiçadas e sem rumo. Contraditoriamente os mais chatos (porque gostavam de estudar), nos pareciam menos inteligentes e eram menos admirados. Justamente – vejam só – eles acabaram mais bem sucedidos financeiramente na vida que se seguiu. Sempre me pergunto do por que disso, mas não quero dar exemplos. Isso não é uma tese, é apenas um fato curioso.

Talvez seja como a beleza inata. Descobri que as mais belas criaturas foram das mais infelizes em suas vidas sentimentais. Para um rosto bem talhado e um corpo perfeito as coisas vêm mais fáceis, não precisam lutar, nem descobrir estratégias. Remam facilmente, contra ou ao sabor da maré. O indivíduo classificado como feio rapidamente descobre que precisa encontrar maneiras de competir por afeição, torna-se mais hábil e determinado... E determinação é tudo.

Minha mulher tem irmãos evangélicos que colocaram no mundo um divertido casal de pirralhos, eles volta e meia vêm nos visitar. Com o tempo nossos abismos culturais e a desconfiança das crianças para comigo  foram diminuindo. Outro dia eu conversava com Emilly de quase sete anos, após muita farra com o Mateus de três que, de tanto eu o perturbar, ficou muito bravo comigo. Disse até que ia me matar. E a Emilly ainda emendou em tom de reprovação:

- É Tio você vai morrer e não vai pro céu!

- Mas por que não Emilly?

- Ué Tio, porque você bebe e você toca roque.

- Ora Emilly. Quer dizer que no céu não tem birita nem Rock ‘n’ Roll?

- Claro que não né Tio!

- Ah Emilly, então eu não quero ir pra lá não...

Entenderam o que eu tô falando?

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

AS PEQUENAS LEMBRANÇAS


Muita gente me diz que eu tenho boa memória, dizem que eu lembro muitas coisas, coisas que ninguém mais lembra. Não sei. Acho que não é bem verdade. O gatilho de nossas lembranças dispara quando estamos receptivos para a experiência, quando queremos lembrar coisas.

Quando pequeno, no início da infância, lembro da “venda do Zé Pretinho”. Muitos se lembram dela também, se começamos a conversar sobre as coisas que tinham lá é provável que até a sua memória vá se expandindo. Não existem mais vendas como aquela nos dias de hoje, não aqui na cidade, talvez no interior. Talvez.

Seu Zé tinha uma voz rachada como bambu, estridente. Era pequeno, mas eu também era. Ele se escondia atrás dos balcões. Eu também. A sua venda tinha coisas de papelaria, canivetes, aqueles espelhinhos com moldura laranja, perfumes caseiros em frascos de plástico colorido supostamente românticos, pentes redondos de encaixar na palma da mão, chapéus de palha e de vaqueiro, pipas, peões e bolas de gude. Eu ia lá mais por causa dos doces e do refrigerante.

Tinha cocada branca e escura, pé de moleque, Maria mole e uns sorvetes que pareciam isopor. Chicletes, balas de todos os tipos e aqueles doces estranhos em forma de coração com sabor de abóbora e outras coisas que hoje parecem bizarras. Do lado da venda do Zé Pretinho tinha uma costureira. Indo em direção a nossa casa ficava o barraquinho do sapateiro.

O Zé Pretinho vendia coisas proibidas para os guris, por isso mesmo comprá-las era parte da diversão. Especialmente as bombinhas. Tinham as irritantes pimentinhas que vinham numa caixinha de papelão, as bombinhas pequenas com um fósforo para riscar que a gente chamava de “peido de velha” e as grandes apelidadas de “cabeça de nego”. Bom, lá também tinha rapé.

Foi a primeira droga que eu experimentei, afinal, o rapé é tabaco para inalar. Eu não fazia idéia que aquilo era droga, também não lembro como a moda se difundiu entre a garotada. Achava o máximo cheirar aquele pozinho escuro e apimentado e depois ficar espirrando. As vezes o rapé descia para a garganta e o gosto não era ruim. Duas coisas me fizeram lembrar do rapé e é assim que nossa memória distante funciona.

Na quinta passada encontrei com o Toninho, velho amigo daqueles tempos. E no sábado fui na Vila Rubim com um amigo que parou para comprar folhas de chá e lá vendia rapé também. Peguei a latinha redonda de metal, as memórias se fundiram. Toninho me falou do falecimento de Glorinha, sua mãe e foi ela, dentre os adultos, quem primeiro se deu conta de nossa traquinagem. Tomamos um brigueiro daqueles, rolou até a ameaça de proibir o filho de andar comigo.

Lembro de ter ficado chateado com sua reação, para mim, exagerada, meus pais não costumavam me chamar a atenção daquela maneira. Talvez fosse melhor se o tivessem feito, talvez para um outro futuro. Talvez. Nunca tive chance de a agradecer, ela era uma pessoa que queria o nosso bem. Mas é assim que as coisas são. Em seu momento as pessoas se vão e nós ficamos aqui, nós e as nossas pequenas lembranças.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

ZÉ PEQUENO NADA. MEU NOME É EXECUTIVO, LEGISLATIVO E JUDICIÁRIO!


Meu pai tinha um velho livro de citações que eu gostava muito, era uma daquelas compilações de frases famosas reunidas e separadas por assunto: economia, amor, educação, religião, política etc. Ainda o tenho aqui em algum lugar, por conta de uma reforma de verão ainda não consigo encontrar as coisas por dentro de casa. Acho que nesse livro tem uma frase de Lincoln que uso como piadinha infame em conversas informais, é mais ou menos assim:

“Um homem sem educação pode até assaltar um trem. Dê educação a esse homem e ele vai roubar toda estrada de ferro.”

Não faço idéia de que ponto o Presidente queria defender, mas o pensamento básico é: não adianta dar somente educação. E nisso muita gente bate o pé ou a cabeça, especialmente em nosso país onde a maioria não tem acesso ao básico e o governo, frequentemente contaminado, quando não comandado pelas tais pessoas “educadas”, ao invés de tornar nossa vida mais fácil tem por costume difíicultar as coisas. Daí que entro no assunto que realmente quero abordar...

Eu não gostei do filme Tropa de Elite, só assisti à famosa versão pirata porque foi uma espécie de moda divertida na época. Na festa de aniversário do Cello, dias depois disso, bati boca com uma dondoca do judiciário que sem nenhum pudor afirmava que “bandido (ou pobre) tem mais é que morrer”!  Fiquei  muito puto e fiz coro com o Jabor, chamei os caras de facistas pra baixo! O filme escancarava a ideologia de que para resolver o problema do piolho era preciso cortar cabeças e parecia concordar, aliás, vinha daí parte de sua popularidade.

Quando saiu a continuação eu nem quis saber, pra mim o Wagner Moura não era o ator mais adequado para o papel e que dificilmente uma seqüela do que é ruim poderia me agradar, enquanto isso várias pessoas me recomendavam dizendo que o filme era bom. Na semana passada, no meio da tal da reforma, ilhados em nossa própria cidade, fomos nos abrigar no cinema (Kinoplex que fique bem claro) e Tropa de Elite 2 era a única opção entre bobagens mis e outras películas já vistas.

Daí o meu queixo caiu...

Tive duas impressões imediatas: que o filme vinha me responder - a mim mesmo - todas as críticas feitas até então e outra parada ainda melhor que me lembrava a trajetória dos Beatles. O quarteto de Liverpool conquistou o mundo com “bobas canções de amor”, passaram metade dos anos sessenta falando em pegar na mão e beijar na boca. A segunda metade, depois que o mundo já arriara nos quatro pneus, foi só de sexo, drogas e paz e amor. O Padilha fez algo parecido, e isso velho, se é que ele realmente teve a intenção: ficou muito bom!

Quando o filme estreou correu meio mundo ao cinema achando que iam ver mais  traficante tomando tiro e deram de cara com aquela dura realidade que ninguém ainda tivera culhão de mostrar: que a violência e a miséria não se originam com bandidinho fodido (sic) da favela. E que toda essa pobreza interessa a um grupo de homens bem “educados”, sem nenhum escrúpulo, que manipulam a imprensa, difamam, perseguem e matam qualquer um idealista besta que se meter em seu caminho e que para se manter no poder são capazes de tudo e, principalmente, estão pouco se lixando para todo o resto.

O filme é uma porrada, mas dessa vez na cabeça certa! Jamais pensei que outra produção nacional pudesse me impressionar tanto quanto Cidade de Deus, mas aconteceu. E o que me deixa mais feliz é saber que essa continuação fez mais sucesso que o primeiro filme, sendo hoje a maior bilheteria do cinema nacional. Tropa de Elite 2 tem algo de Cidade de Deus só que o Zé Pequeno é o sistema corrompido, portanto um Zé grande demais, a mensagem é: todos somos constantemente manipulados e nosso voto é o bem mais precioso para virar essa baiúca.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

CANTO SOLIDÁRIO II - A MISSÃO


Não vem doido não véi!

Na semana que vem os caros leitores da Letra Elektrônica terão a oportunidade de ver outra vez o editor chefe dessa bagaça pagando mico no Theatro Carlos Gomes. Amigos, levem em consideração que - citando outro Juca, o Chaves - na minha idade não é fácil bisar, mas vou bisar...

Depois do show vai rolar ainda uma confraternização no espaço Casa Aberta, point boêmio ali da Rua Sete, como direito a canja dos artistas e participantes da entourage (Eita!). A entrada é franca e o rock - intitulado "uma noite exagerada" ou algo que o valha - vai dar o que falar no dia seguinte...

Segue o flyer com as informações:


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

CORRESPONDÊNCIA ELEKTRÔNICA: VITÓRIA ILHA DO ROCK!


Com relação ao meu último texto, rolou um comentário muito legal do Marcos Valério que me despertou a lembrança e então quero compartilhar com todos...

“Rapaz,

Você falando de roqueiros e tal, e eu abro sua mensagem justo na hora em que o drive do computador roda um cd do Rory Gallagher....

...Beleza de texto (Há Muitos Cabelos Atrás) e daqueles tempos também. Não sou tão antigo, mas ouvi falar muito e de vez em quando rodo uns disquinhos... Rárárá....

...Mas conte mais histórias de roqueiros. Acho que vale um filme, com os antigos roqueiros antigos falando, dedilhando guitarras, colocando discos, um papo no Golias, um luau, um encontro de canjas de vários músicos e "músicos", cenas de praias, garotas, muitas garotas...

Vamos preparar um projeto para as leis de incentivo? Acho que esse assunto merece um filminho dos bons, se é que já não cometeram algum. Saudosista, quero dizer. Sei que tem uns sobre bandas atuais, cenas atuais, mas um que junte você e o Sergio Bonaventura (É assim o nome dele?) (Benevenuto, talvez?) e outros roqueiros e essas histórias... Podemos fazer um encontro naquela boate que você lançou o Livro do Pó (Teatcher’s Pub) etc...

... Viajei ...................

Abraços

Marcos Valério”

....

Caro Marcos Valério,

Lembro de ter dado entrevista sobre rock para um vídeo/documentário que fizeram faz muito tempo, uns quinze anos. Lembro também de ter ido assistir à primeira exibição da coisa no Cine Metrópolis, salvo engano, com medo de passar vergonha com algum comentário babaca da platéia e nada disso rolou, passei batido, cinco ou dez anos depois do “estrelato” ninguém nem lembrava mais de mim. Não achei ruim, mas me deu um estranhamento por dentro. Na verdade, a única hora em que a platéia fez bagunça e vaiou, foi quando o Edu Henning falou. Talvez vítima da exposição, na época, de seu programa diário na tevê. Como era mesmo o nome dessa porra de video? Catzo, ainda vou lembrar, antes de chegar ao final eu lembro.

O Zé Roberto Santos Neves está trabalhando um texto sobre o rock daquelas épocas, acho que ele vai escrever mais sobre o movimento heavy daqui, que foi interessante e até hoje ribomba nos ouvidos dos mais desavisados. Perguntei pro Zé se ele já tinha ouvido falar de um sabá de bruxas que rolou na UFES, lá nas grimpas dos anos oitenta e que envolveu a nata e a fina flor do metalerismo da época... Nunca soube se essa história era verdadeira, eu já não comungava mais das roupas de couro nem das tachinhas, então não fui testemunha dos negros fatos de arrepiar.

Curioso pensar que isso tudo está intimamente interligado com a Vila Rubim, aliás reduto de boemia e samba e não do heavy metal. Mas falando, pensando e escrevendo sobre magia, esoterismo e aliando isso às lojas de couros e tachinhas acabamos chegando lá. Não tem jeito, nossa "linha espiritual" de feitiçaria e magia negra não está ligada à tradição nem ao imaginário do vodoo, nem de Aleister Crowley, ou coisa que o valha. No final das contas a coisa acaba em samba, terreiro, candomblé e por aí vai.

Não lembrei o nome do filme ainda... Mas vou lembrar, ou então ligar pra Paulinha Portella que eu sei que ela lembra.

Mas então - não sei se você reparou, mas isso já virou um novo texto pra Letra Eletrônica - a lenda diz o seguinte: Em uma terra distante, num lugar muito bem perto da Rua da Lama, os metaleiros ficaram sabendo que ia haver um legítimo "sabath de bruxas" na UFES. Convenhamos, um lugar assaz inesperado para esse tipo de celebração. Porém, talvez pensando que a idéia partira da cabeça de algum irresponsável do curso de artes, a rapaziada do metal, black metal, dark pra caralho à beça, resolveram ir lá mostrar e comprovar que eles sim é que eram os fiéis e legítimos representantes da estética do demo por essas bandas. Ou como diria Macunaíma: falaram mal, preparar o pau!

Fábio Boi, o papa do heavy aqui, chegou mais embriagado que a banda Alcoolhólica inteira, acompanhado de um modesto séqüito de bebuns que incluía figuras como o temível Esmaga Ossos, Churrasco, Batatinha e sei lá mais quem. Logo reivindicou para si a direção dos trabalhos e para provar sua primazia berrou uma música do Black Sabath, deixando boquiabertas as bruxas negras, em nome de Ozzy deu por aberta a sessão. Rapaz... Bem, pra começar as figuras eram feiticeiras do mal mesmo e estavam acompanhadas de noviços rebeldes e musculosos, responsáveis pela segurança do perímetro mágico e obviamente muito úteis também na hora do intróito penetrativo da celebração maligna, se é que vocês vão me entendendo... 

Acho que o nome do vídeo era “Vitória Ilha do Rock”, deve até ter no Youtube... (Não achei, acabei de pesquisar, se alguém tiver compartilhe)...

Dizem os mais bem lembrados que a coisa descambou em porradaria com a mesma facilidade de um passe de mágica, no caso um feitiço maligno, com desvantagem numérica, física e alcoólica por parte dos metaleiros locais que, pegos pelo elemento surpresa, levaram uma esfrega daqueles evadindo-se do local em estrepita debandada inglória. Lembro de alguém ter me contado essa história no Adega às gargalhadas – mesmo porque se for verdade é realmente engraçado – só que suspeito que o pessoal da época vá negar o ocorrido ou então dizer que não foi bem assim. Sei que esse foi um texto meio Chacrinha, confunde mais do que esclarece, mas acho que estou numa semana de lembranças e divagações. Talvez o prazer de escrever seja disso: Soltar o dedo e ver o tempo passar.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

HÁ MUITOS CABELOS ATRÁS


O telefone toca, é uma amiga que não vejo faz tempo, ela está morando na terra das queens.

- Juca, quanto tempo! Tô querendo comprar teu Livro do Pó, na sexta eu volto pra Londres.

- Beleza. - E combinamos de nos encontrar amanhã, tenho consulta com meu quiropraxista. O cara não só acabou com um torcicolo que ganhei no natal, o que prova que Papai Noel também tem senso de humor, como reativou minha coluna. Agora estou me sentindo um Robocop lubrificado!

No almoço contei pra Alice que uma amiga tinha ligado, que havia até sido padrinho de seu casamento, daqueles de igreja e tudo, e que logicamente foi uma piração total. Preparando uma salada ela comentou, usurpando minha prerrogativa roqueira de fazer piadinhas:

- Pois é, seus amigos são tão pirados que alguns até casaram na igreja, hein?. Imagina só...

Não sou católico, ortodoxo, nem romano. Sou capixaba da Praia do Canto e, como a maioria, nasci em família teoricamente religiosa. Meus pais eram daqueles que só iam a igreja em casamentos, batizados e missas de sétimo dia. E o padre que casou meus amigos era ... Como direi? ... Que nem uma madame à beira de um ataque dos nervos.  Não posso fazer nada. O cara era assim.

Todos os padrinhos eram músicos, roqueiros de longas cabeleiras, maiores até que a de algumas madrinhas. O padre falava e esperava uma resposta... Nenhum de nós imaginava do que se tratava. O que será tínhamos que dizer? “Ele está no meio de nós?” Percebendo nossa ignorância o pároco agia como se estivesse tratando com o pior da ralé espiritual... O que musicalmente era uma inverdade.

Sua santidade farfalhava as vestes e desferia olhares enfezados em nossa direção. Eu fiz que não era comigo, talvez porque fosse o mais próximo de um visualzinho social - cabelos semi curtos, bainho tomado, até de blazer eu estava - e talvez também por ainda estar “normal”, se é que vocês vão me entendendo. Por isso, quando o padre pediu a colaboração de um dos padrinhos fui escolhido pra pagar de coadjuvante.

Na benção dos familiares os pais da noiva pediram “que Deus desse muito juízo”, já Muralha#, irmão do noivo, lascou um sonoro “Paz e Amor bicho”. Dali fomos para a festa onde faltou luz e o Grilo Falante repetia aos quatro cantos que aquilo era mau presságio. O marido da dona do Buffet era o mais alcoolizado e tomou esporro histérico na frente de todo mundo. Catei uma garota e fui embora mais cedo, um pouco antes que começasse a grossa pancadaria.

Parece que foi por conta da Gabi e seu namorado metaleiro, porque um convidado brigão entrou numas de pegar a moça, daí resolveu bater naquele viadinho cabeludo que estava atrapalhando sua paquera. Ora. Quando conseguiram apartar a confusão o gordo imbecil exibia um tufo de cabelo que arrancara ao escalpo do oponente. Eu não vi a cena, nem a santa biba nervosa, mas suspeito que muito seria de seu agrado.

Obviamente aquele casamento não vingou, como a maioria das coisas daquela época em que éramos cabeludos. Aliás, insistindo na questão capilar, encontrei com Fabio Boi, hoje um careca convicto. Já eu barbudo e coisado. O velho roqueiro, usando sua prerrogativa de fazer piadinhas, falou que eu  estava parecendo um arqueólogo. Pode até ser, vivo recuperando coisas antigas, mas por via das dúvidas raspei a barba.

Fabio disse que está fazendo um curso intensivo de guitarra, toca dez minutos a cada três dias! Quando penso que não, me chega um pré-convite para a festa de aniversário do arqui-famigerado Abimir, aka Ab-Gillan. Vai ser em algum lugar de Manguinhos no mês que vem com direito a som e canja da galera precursora do movimento heavy no Espírito Santo. Quando a hora chegar estaremos lá... E tu?

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

MENSAGEM DE ANO NOVO UM POUCO DIFERENTE


Cara, dei uma baita enjoada da Internet nas últimas semanas, cansei de perambular pelas infovias, praticamente esqueci da existência do universo cibernético. Passei a dedicar atenção às pessoas que convivo no mundo real – não que isso seja raro – e vivenciar as três grandes festas que encerram o ano. Elas estão muito pertinho umas das outras: meu aniversário, natal e ano novo.

Só hoje, ano novo consumado e Dilma empossada, é que despertei da letargia do mundo real, porque a televisão me deu receitas para recuperar a forma e curar a ressaca. Descobri que um montão de gente tinha deixado recados carinhosos para mim no Orkut e no Facebook e só hoje os li. Fico imaginando se pudesse reunir todos os amigos numa festa, juntar na boa assim mais de mil, que onda legal não ia ser.

Quero então retribuir o carinho de todos, desejar que esse ano engrene bacana e que a vida não nos seja tão mais pra lá do que pra cá. Eu nem sei o que eu quero falar. Essas mensagens de virada são tão clichê, não acham? É repetição do óbvio, afinal, é claro que queremos o melhor para os nossos amigos. Ninguém vai dar uma de criativo e inventar uma mensagem de teatro do ano novo: quebre a perna! Ou então: Merda!

Eu queria fazer uma mensagem de ano novo que fosse diferente, um pouco mais sincera. Tipo assim:

“Meu amigo, minha amiga. Recebi sua mensagem e sei que a intenção dela é legal, periga ser, porém, muito ‘Maria vai com as outras’, porque suspeito que lá no fundo você se lembre mais de minha pessoa pelos defeitos do que pelas qualidades. Calma, isso é o mais comum. É até o que dizem sobre o amor, sabia? Que amamos o outro justamente pelos defeitos. É o ‘creio porque é absurdo’ que o Tertuliano falou. Por isso desejo que você continue sendo o que é, só que para melhor, porque eu estarei tentando fazer o mesmo, ou pior. Uma hora quem sabe descobrimos porque todo ano repetimos o mesmo ritual. Valeu? Então já é!