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terça-feira, 22 de novembro de 2016

GRANDE CONCERTO EM HOMENAGEM AO DIA DA MÚSICA


Algazarra Coral no lendário Teatro Paiol em Curitiba

O Algazarra Coral vai realizar um de seus concertos tradicionais no próximo dia 23 de novembro, desta vez em comemoração o dia da música. A data é dedicada à Santa Cecília, uma moça que gostava de cantar, se recusou firmemente a abandonar a fé cristã e por isto foi martirizada pelo imperador romano Marco Aurélio em meados do século II. Padroeira dos músicos, a história de Cecília Metelo guarda um paralelo interessante com a condição dos jovens que querem abraçar a profissão, porque são aconselhados (quando não obrigados) pela família a “professar alguma outra fé”.

O Instituto Todos os Cantos é o responsável pelo projeto do Algazarra Coral, um grupo criado em 2011 que recentemente esteve levando seu talento à cidade de Curitiba com uma performance que deixou surpresa a comunidade do sul do país. Um dos pontos mais elogiados do Algazarra Coral é o repertório, considerado ousado para cantores jovens não profissionais; outro ponto é o visível comprometimento e a alegria dos integrantes, numa faixa etária adolescente que dificilmente  se dispõe a abraçar a rotina exigente de dois a três ensaios semanais e apresentações.

O repertório vai do clássico ao popular com obras de Haydn, Gabriel Fauré e Mendellsohn e algumas exclusividades como o arranjo para a canção Na Sua Estante de Pitty, a estreia de uma canção autoral da integrante do coro Taynara Mendonça (16 anos), um poema da também corista Ana Clara e outras surpresas. O concerto tem direção musical e regência da maestrina Alice Nascimento e participação dos músicos Juca Magalhães (piano e violão), Vinícius Finco (Violino), Monalista Toledo (Violoncelo) Rodrigo Casoto (percussão) e Thamyris Finco (Violino).

GRANDE CONCERTO ALGAZARRA CORAL
Dia: 23 de novembro de 2016
Clube Ítalo Brasileiro, Ilha do Boi.
Horário: 20 horas

ENTRADA FRANCA
Maiores informações: 27 9 9942 9087



sábado, 21 de maio de 2016

CARTA ABERTA À MILITÂNCIA ESQUERDISTA

Eu nunca tive nada contra a pessoa Dilma Rousseff não, sabe? Fora seu catastrófico governo, coisa que até alguns de seus defensores passaram a admitir depois dela ser afastada, vide declarações de Gregório Duviver e Tico Santa Cruz. Mas pra mim a gota d’água foi ver o Gabeira detonando Lula, Dilma e companhia. Disse, entre outras, que os intelectuais têm culpa no que aconteceu, porque quando o Lula dizia uma das suas besteiras iam lá defender e deu no que deu.

Como militante bissexto do preconceito contra a mulher - bandeira que abracei por causa do assassinato de minha mãe - é para mim inadmissível chamarem uma mulher de vaca ou mandarem-na em coro tomar naquele lugar. Então, me pareceu haver um bocado de misoginia nos ataques à primeira mulher a ocupar o cargo de presidente do Brasil. O preconceito de gênero, especialmente de radicais de direita machos pra caceta, grassou na certeza de fazer Dilma a primeira e também a última.

Fora essa questão de gênero, há que se entender a revolta de boa parcela do povo brasileiro. Quem mora no Brasil não tem como achar que a economia estava indo bem - a não ser na propaganda do governo - e torceu para ver esse inferno acabar mesmo que na mão do Temer ou do Tiririca que fosse... Ainda assim, muitos defensores da presidente evocaram teorias de conspiração, de empresários que propositadamente faliram o Brasil para tomar o poder. Enquanto isso o Gabeira afirmava: “repare que naqueles cartazes eles nunca disseram: nós não roubamos”.

Ora, ou a presidente cometeu crime e por isso foi afastada ou é uma pessoa séria, inocente coração valente, deposta por um golpe de estado da direita esperta. Os dois não dá...

Ainda assim, no auge da bagunça eu nunca bati panela, não fui pra rua, nem demonizei os integrantes do Petê. Portanto, fiquei ofendido quando fui chamado de coxinha - agora estou começando a achar que é elogio - por gente que não faz trabalho social, não conhece a realidade da própria cidade que vive e que, pior de tudo, não enxerga o quanto de pretensão tem em querer discutir a política do país. Repetem afirmações que ouviram e se identificaram, como é o caso da teoria golpista à qual tenho reservas, embora alguns bons advogados que conheço apontem indícios consistentes.


Agora as pessoas estão pelo Facebook agindo como fanáticos religiosos. Absortos por uma paixão que não precisa de razão, sentido ou explicação. Provocam embates em que buscam uma vitória mesmo que imaginária. Não percebem que nessa história todos saímos derrotados como povo e como nação. Deveríamos nos unir e não destratar todo mundo a torto e a direita como estão fazendo - especialmente no meu caso que nem falo de política - os “militantes da esquerda”. Com isso, a única coisa que estão conseguindo fazer é aumentar a sensação de que o que aconteceu foi o melhor para o país e levando a ser contra até quem estava quieto no seu canto.

sábado, 7 de maio de 2016

MARIA NILCE MAGALHÃES POR MARCOS TAVARES

Para lembrar o Dia das Mães, com carinho e saudades.
Texto publicado em “capítulos” no Facebook no início de maio de 2016.

“A vida se perpetua
mesmo nos putrefatos restos
quando o ser se anula.
Entre odores e microorganismos,
noutra forma de existir,
a vida se reorganiza”.

(in Gemagem, pg.52. Datado de 17-01-1978)

Nona filha de Tertuliano Tauribio dos Santos e Ana Cleta dos Santos, nasce na fazenda Fundão dos Índios, no Distrito de Timbuí (Fundão, ES), em 23 de Julho de 1941.

Então moça simples, mas bela sempre, aí a conhece o já renomado jornalista [ Djalma Juarez Magalhães ], com quem casa em 1961, logo indo para Vitória(ES), berço dos filhos Fernanda, Milla, “Juca” e Paloma.

Nomeia-se apenas “Maria”. Em 1967, precursora, no jornal A Tribuna passa a redigir coluna social intitulada MSM.

Sua forte personalidade exerce magnetismo, fascínio, admiração, até em ícones da então vigente inteligentsia: Amylton de Almeida, Rogério Medeiros, Glecy Coutinho, Carmélia M. de Souza, Xerxes Gusmão, Mariângela Pellerano, Fernando Tatagiba, Marien Calixte, Marcos Alencar, Milson Henriques.

Muitos desses são revistos na peça teatral Inven7ário – o fim de uma época, que, realizada por alunos do Curso de Teatro (FAFI, 2014), traz à cena a efervescente década de 70. Maria Nilce é, assim, com justeza, encarnada pela atriz Lilian Casotti.

Mesmo avessa a churrasco e cerveja, é bem sucedida em filantropia: festas beneficentes quebram marasmo da então pacata Ilha, fosse almoço para guardas de trânsito, fosse para arrecadar fundos a asilo ou orfanato.

Também detestando futebol, vai a estádios, a ginásios esportivos, ocasiões de festival de música, plateia de pé a gritar o seu nome, empunhando faixas, a jogar confetes.

Promove desfile de modas e deles participa como jurada (até de concurso de Miss Espírito Santo). Em evento no Ginásio do SESC (Parque Moscoso), multidão entoou-lhe o clássico “Ave Maria”. Apoteose já em vida.

Versátil, na TV Vitória produz e apresenta o programa “Coisas e Gente Muito Importantes”. Primeira jornalista a surgir, em nível nacional, na “telinha”, integra júri do “Hora da Buzina” (TV Globo) apresentado por “Chacrinha”.

Feminista em boa dose, Dia Internacional da Mulher jamais lhe passa em branco: para mulheres pobres promove suculento almoço.

Rebelando-se contra um colunismo só bajulador das elites, em sua coluna inicia Maria Nilce uma espécie de vertente “informativa”, propositiva até, na qual a seguem outros notáveis quais Jorginho Santos, Nirlan Coelho, Tao Mendes, Carlos Vaccari, Geraldo Bulau, Cesar Viola.

Espírito irônico, irreverente, é endeusada e, também, satanizada. Atrai leitores ávidos em saber vícios, virtudes e vicissitudes das personalidades capixabas de maior relevância.

Em 1986, crianças de Dores do Rio Preto (ES) remetem-lhe um abaixo-assinado contra matança de cães e gatos, por misterioso envenenador, e sua coluna [ no Jornal da Cidade ], com nota solidária, brada indignação.

Com predicativos para ser mais uma “dondoca” colunável, renuncia às facilidades e futilidades cotidianas e, por crença quase cega, idealista, opta pelo mais difícil trajeto, em que tanto espinhos quanto rosas colhe.

Assim encerra sua vida terrena: tomba atingida por cinco projéteis plúmbeos. Pistoleiros cumprem empreitada de gente poderosa e influente, alvo de sérias denúncias: de escusos negócios, de contrabando até.

Fato deu-se na manhã de 5 de Julho de 1989. Reafirma relatório da Polícia Federal a CPI do Narcotráfico, que aponta autores e mandantes.

No Newseum, memorial nova-iorquino a jornalistas que, mortos por retaliação ao ofício de noticiar, acabaram por virar triste notícia, nome de Maria Nilce consta.

Marcos Tavares é um capixaba da gema do ovo. Teimoso como muitos destes ilhéus, insiste (felizmente) em escrever contos e poemas que vêm sendo publicados desde 1987. Segundo “justificativa” de seu livro Gemagem “a preocupação com a linguagem formal é uma de suas características, é considerado um dos mais representativos poetas capixabas a despontar nos anos 1980”.´

Marcos Tavares (na ponta esquerda) com Elpídio Sant'anna e Juca Magalhães

quarta-feira, 4 de maio de 2016

XII ANIVERSÁRIO DO PARQUE BOTÂNICO VALE RECEBE O ESPETÁCULO RUSSO POÉTICO

ADVERTÊNCIA: Este texto nasceu de cócoras. Então, no final tudo (quase tudo) vai se explicar...

Foi há tanto tempo que nem me lembro mais... que a Elisa apareceu, estreou, sei-lá, na minha vida. Veio indicada pelo José Benedito, flautista de ouro e ébano, diamante no pano da noite. Indicação do amigo “Bené” porque, como a Legião Urbana, eram todos de Brasília; terra do nunca e do lago Paranoá. Fui lembrado por causa de meu trabalho com o Manuel Bandeira que nunca me dei ao trabalho de apresentar. Um dia, quem sabe? No meu caso tinha o piano e a poesia, o Bené lembrou de mim e a Elisa apareceu... Isso faz uns dez anos, ou mais.

Nem lembro a primeira vez que apresentamos o Russo Poético, talvez 2004. A Odara, filha da Elisa, era pequenininha e hoje é já mocinha. Logo eu que hoje vivo pesquisando e reconstruindo trajetórias, santo de casa e do pau oco. O primeiro a ocupar o posto de violonista foi Cello Alves, depois vieram outros como o Léo Carvalho, João Paulo, o violão virou coringa. Cada um com uma pegada diferente, mais rock, mais MPB e até clássica. Mas o importante sempre foi a voz de Elisa Alves, sua emoção, seu timbre, seu tempo. Agora chegou a vez do mestre Fabio Calazans, professor da Faculdade de Música, trazer sua pegada jazzística que era o que faltava.

O show é assim: um trio formado por uma base de teclado e violão dando suporte a voz da cantora Elisa Alvez que declama poemas e interpreta canções da Legião Urbana e de momentos solo de Renato Russo. O clima é intimista e despojado, é uma abordagem bastante alternativa - e talvez por isso mesmo - sedutora dessa música. O detalhe dos poemas catalisa de forma inusitada uma poética que geralmente é dissociada do musical, sobretudo pela maneira como Elisa Alves declama. Só depois de muito tempo fui ver Elisa solo num encontro de poetas e quase cai para trás.    

Ficamos muito tempo sem apresentar o Russo Poético, vários anos. - Não estou dizendo? A Odara cresceu e eu nem vi. - Agora você que ficou curioso e está a fim de um programa Classe A, convido formalmente a curtir a programação comemorativa do XII aniversário do Parque Botânico Vale. Vai ter o espetáculo Russo Poético com Elisa Alves, acompanhada por Juca Magalhães e Fabio Calazans, interpretando canções da Legião e do Renato Russo e declamando poemas de Cecília Meireles, Mario Quintana, Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa.

Além do deleite para alma, olhos e ouvidos; vai ter também um encontro de FoodTrucks com algumas opções gastronômicas para atender ao nosso paladar. Porque, honey, ninguém é de ferro e ainda ocorre que "todo descuido pode ser fatal"...

Russo Poético
Elisa Alves – Voz
Juca Magalhães – Piano
Fábio Calazans – Violão

Parque Botânico Vale
Sexta-feira, 6/5/2016
20:00 Horas
Entrada Franca!!!

sábado, 9 de abril de 2016

E NÃO É QUE TEM GOLPE?

Fazia um tempo que a conta de meu celular andava encarecendo, fiquei encafifado e aborrecido, afinal, os tempos andam financeiramente bicudos. Inicialmente numa onda de inércia e preocupações da vida não dei muita atenção para o fato, talvez porque estamos numa espécie de revivial perverso dos anos 1990: tudo subindo de preço, lojas do Shopping fechando e amigos debandando pras gringas.

Comecei a desconfiar que tinha “truta” (sarava Didi Mocó!) porque um dia recebi um SMS dizendo que a assinatura de-sei-lá-o-quê tinha sido renovada. Ora carambolas, eu não havia assinado nada. Que diabo seria aquilo, um capeta renovado? Mas corre daqui, pega de lá, não lembrei de ligar pra operadora pra reclamar. Enquanto isso o tempo foi passando e a conta, diferente da pipa do vovô, tá que sobe.

Foi só no início deste mês que lembrei de conferir a fatura do celular e descobri lá embaixo um negócio assim: Serviços de Terceiros Telefônica Data (Ex. SMS e Loja de Serviços Vivo). Só esses eram trinta e sete paus e uns centavos. Fui reclamar e descobri o seguinte: a Vivo tem um “serviço” chamado “mensagem de interatividade” que, sem você pedir, começa a encher seu telefone de bobagem: dicas de beleza, resultado de futebol e até sexo sei-lá-do-quê.

Como faço na minha caixa de entrada do email, eu via que tinha chegado uma mensagem com título idiota (Spam) e nem lia, imediatamente apagava. Afinal, o perigo do vírus existe também para no universo dos smartphones. Acontece que – foi o que logo descobri – todo mundo que não reclamou e cancelou o tal do “serviço” teve uma cobrança embutida que, no meu caso, andou passando batida. Simples e inacreditavelmente assim.

Fiquei tão surpreso e desnorteado que balbuciei para a moça que me atendeu como se falasse aos companheiros do governo: eu não acredito que vocês podem ser tão desonestos assim! Ela manteve a tranquilidade e me perguntou: o senhor não se lembra de ter pedido esse serviço? Respondi escalafobético: Eu tenho absoluta certeza de que nunca pedi para receber SMS nenhum! Daí explicou como o golpe funciona:

O cliente vê que chegou uma mensagem no telefone dizendo Vivo Beleza, por exemplo, então deleta e não pensa mais no assunto. Porém, no corpo daquela mensagem tinha uma pergunta do tipo “você quer continuar recebendo esse SMS? Se não, mande um SMS cancelando”. Como eu não mandei, aliás, nem havia lido, começaram a me cobrar “pelo serviço”. Cara: é o equivalente a você pagar por toda porcaria que recebe na caixa de entrada do seu email! Já pensou?

E sabe qual é a maior raiva que dá, além da sensação horrível de ser feito de babaca? É o tempo que a gente perde do trabalho e da vida pra se livrar dessas jogadas de gente esperta que insiste em lesar o nosso bolso! Liga e espera, espera e depois espera mais um bocadinho... Lembrei até do meu amigo Marcos Dessaune, advogado defensor do consumidor que sacou essa onda do chamado desvio produtivo.

Depois que eu chamei todo mundo de “bunito”, a moça cancelou os serviços que eu não tinha contratado e que ainda nem sei quanto paguei por eles nos meses passados, mas vou descobrir. Peguei o número do protocolo de atendimento para entrar em contato com a Anatel a fim de denunciar essa “pequena malandragem” perpetrada por quem? Uma empresa enorme que está aí liderando (sei lá) o mercado e, pelo que eu entendi depois do que me aconteceu, dando golpe no país inteiro.  

Será que aqui no Brasil quanto mais você reza, mais ladrão aparece? Há suspeitas!

domingo, 3 de abril de 2016

SACIANDO A LARICA JUVENIL

É difícil falar de um filme sem estragar o prazer de quem ainda não viu e confesso que tenho dificuldade de segurar essa onda, porque me encaixo num pequeno grupo que não liga pra esse tipo de coisa. Quer dizer, eu ligo, mas não vou deixar de ver um filme que tô a fim porque me contaram o final. Então se você ainda não viu o recém-lançado Batman Versus Superman, vou logo avisando: esse texto tem spoilers!


Como todo eterno fã maluco por gibis, quando apareceu o “Superman: O Filme” eu dei a doida. Estudava de tarde e disse que não ia à escola porque queria assistir à primeira sessão, naquela época nem sei se havia estreia de filme. Foi um catupê dos diabos! Tomei uns cascudos, fiquei de castigo e me acabei de berrar. A confa infernizou a soneca que mamãe costumava dar depois do almoço. Lá pelas tantas arrumaram alguém para me levar “naquela porcaria”.

Depois disso não me emendei mais, toda vez que aparece alguma coisa sobre o homem de aço eu fico logo de orelhas em pé. E eis que agora estreia o tão esperado e marqueteado Batman Versus Superman. Então fui lá assistir, ora se não. Exclusive, fiquei impressionado com a velocidade da modernidade, as lojas do Shopping já exibiam um monte de produtos do filme: camisetas, bonecos, máscaras, siri recheado e o cacete.


Quantos anos será que eu tinha, na época do velho Superman? Resolvi pesquisar e um nome me veio à mente: Hans Donner! Joguei no Google impressionado com minha memória de elefante, pois não é que me apareceu o marido da Globeleza? Sai fora capeta! O nome certo do diretor do filme era Richard Donner! Morri de sunga branca, mas descobri o ano do lançamento oficial da película: 1977. Só não sei quando chegou aqui, mais precisamente no saudoso (pero no mucho) Cine Paz.

Lembro no final de 1976 quando o Cid Moreira chamou a reportagem do Fantástico: “Um ano com dois setes: veja o que dizem os especialistas”... Ora, pois, pois... Se hoje nem os meteorologistas acertam uma previsão, imagina naquela época. Se bem que tinha o matemático Oswald de Souza... E também aquela ridícula zebrinha da loteca (loteca?). Putz! Depois dizem que a televisão piorou...

Senão vejamos: eu havia completado dez anos em 1975, então só faria doze anos no finalzinho de 77. Era, portanto, quase um pré-aborrescente. Tá achando que eu era veio pra dar piti por causa de super-herói? Fique sabendo que lá no “Suvaco da Perua” bem que tinha um cara que de vez em quando saia correndo pela Avenida Rio Branco vestido de Super-Homem com capa vermelha, siri recheado e o cacete (bisei!).


Ah, sei lá, mil coisas... Não gostei muito desse filme novo não. É escuro, o roteiro é confuso e me parece redundância dizer que o melhor é a Mulher Maravilha. Aliás, a atriz se chama Gal Gadot, uma modelo judia, israelense, sei-lá-das-quantas, mas o nome Gal é bacana, a Bahia é um barato. Na contra mão, achei chato e caricato o Lex Luthor de Jesse Eisenberg, por sinal, outro judeu... Já estava vendo a hora em que alguém ia circuncidar o bilau do super-homem com kriptonita.

A impressão que o filme dá é aquela quando a gente tá com muita fome e pede um sanduba-super-monstro (hoje chamam sanduba de lanche) daqueles que o Dionízio fazia no trailer do Dionicão (essa semana circulou a triste notícia de seu falecimento, aos 59 anos) e depois não consegue nem mastigar direito. O Bacon, saca? Pra quê o bacon, cara? Então, acho que foi excesso desse tipo de coisa.


E olha que eu nem falei ainda do Batman Afleck, porque o mais esquisito foi ver aquele cara do filme M-Buterfly (como é o nome dele?) no papel do Alfred! Vou te contar... Os cegos já não podem ver! Enfim, por ser um fã de carteirinha acho que acabei relevando algumas bolas fora do filme, mas com reservas Até porque o Super-homem morre no final pra ressuscitar no ano que vem. Se é que vão dar conta de lançar o próximo filme em um ano, duvi-dê-ô-dó.

Santa mancada, Batman! Contei o final!


Descanse em paz mestre-cuca Dionízio. Imagino o céu se enchendo do cheiro juvenil de seus Brandenburgues, saciando a larica noturna dos eternos adolescentes... 

sábado, 12 de março de 2016

AUDÁCIA DA PILOMBETA!

Dia de chuva parece que a gente nem consegue pensar direito, embaça a mente, sei lá. Hoje tive ideia de contestar algumas pessoas, mas a oportunidade já tinha passado, aquele negócio de depois você pensar: “Poxa eu poderia ter dito tal coisa”.
Estava almoçando no restaurante de Marcos Ortiz - quando ainda funcionava próximo à Gruta da Onça - e fui ao banheiro que havia ao lado da porta que dá acesso à cozinha. Antes mesmo de chegar perto uma moça de touquinha branca na cabeça me barrou dizendo que o bicho estava ocupado. Esperei e logo entendi a razão dela estar ali cercando a homarada...
De dentro do banheiro me sai uma moça bonita, alta, de cabelos encaracolados que, meio sem graça e divertida, falou.
- Você sabia que banheiro de homem é bem mais limpinho que de mulher? Pensei com meus botões: “Pode até ser mais limpinho, mas não é tão bem frequentado”.
Depois do almoço caminhei pelo centro da cidade de marquise em marquise, na verdade sem muito me importar em ficar encharcado, até chegar ao banco. Precisava sacar algum dinheiro e antes de voltar pra casa ainda tinha que achar um lugar pra comprar um novo estojo para minhas lentes de contato.
E a chuva não cedia.
Peguei a grana e saí tentando acessar o GPS mental na esperança de lembrar qual a ótica mais próxima de onde eu estava. O sinal estava fechado. Esquadrinhei o outro lado da rua e vi a antiga fachada para a qual eu nunca havia prestado atenção: Magazine e “Óticas” Primo. Não me recordo de já ter comprado alguma coisa naquele lugar, mas era o mais próximo, então dane-se o gambá!
Fui atendido por um rapaz que me vendeu o estojinho das lentes por cinco reais e escreveu o pedido num grande bloco de notas, daqueles de três vias. Eu ri da situação, enquanto o cara constrangido comentava que estava gastando mais papel do que o valor da minha compra.
- Mentalidade gerencial das antigas. - Comentei solidário e diplomático.
Depois de pagar, a moça do caixa devolveu minha minúscula compra numa sacola de plástico azul escuro, duzentas vezes maior do que o produto, ainda tinha dentro um daqueles calendários démodés. Preparei para reencarar a chuva com a sensação engraçada de ter passeado no túnel do tempo.
Na saída um senhorzinho de terno e gravata me jogou essa:
- Rapaz bonito não paga! - Me perguntei se ele realmente tinha dito aquilo pra mim. Estou pra te dizer que o cara me chamar de “rapaz” foi bem mais elogioso do que de “bonito”, afinal, tem velho bonito, enterro bonito, agora rapaz... Senti um bafo de juventude, era quase uma vítima de pedofilia.
Por outro lado, imagine só que situação constrangedora: um homem barbado e pançudo que nem eu, do alto de quatro décadas de roquenrous bem administrados, ser abordado por um biba geriátrica, duas da tarde, como se fosse algum fedelho cagão, filho de pai assustado!
Fui parar do outro lado da rua matutando uma resposta à altura, ainda que tardia. Escondido embaixo da marquise de madeira da obra de reforma do antigo Cinema Glória, pensei que poderia ter dito com ingenuidade e elegância:
Agora saquei porque é que chamam isso aqui de “O Magazine Alegre da Cidade”...

sábado, 5 de março de 2016

MARIA NILCE SUBSTANTIVO MULHER

Polêmica é um substantivo feminino, mas está longe de ser exclusividade do universo das mulheres como muitos marmanjos gostam de acreditar. A cidade de Vitória conheceu uma jornalista que viveu cercada de polêmicas, “barracos” que não eram a principal característica de seu trabalho, mas foram importantes porque fomentaram a lenda da mulher guerreira e geravam um interesse enorme por tudo que aquele furacão fazia na sociedade dos capixabas. Essa mulher se chamava Maria Nilce Magalhães e Maria Nilce era a minha mãe.

A maior parte das pessoas vive entediada e encalacrada, presas a empregos, casamentos e eterna insatisfação. Por isso precisam de tragédia como entretenimento, ficam muito excitadas ao saber que de repente alguém “deu a doida”, xingou o padre, largou o marido, roubou a empresa ou saltou da terceira ponte. A mente dessas pessoas é pequena, não porque querem, mas porque é assim que são. Apesar disso, ou por causa disso mesmo, uma parcela desse conjunto resolveu ser grande e outras, reconhecidas como “elite” ou “alta sociedade”, não viram com bons olhos a ascensão de nanicos, porque ser grande toma espaço e não se pode dividir o que é muito, pois sempre o consideram muito pouco.

No tempo de Maria Nilce (1941-1989) quando se apontava os “grandes” de Vitória estava se falando exclusivamente de homens, as mulheres eram educadas nas prendas do lar, preparadas para obedecer ao marido, cuidar da casa e dos filhos. Nos anos 1970 Maria Nilce foi uma daquelas que diversas vezes “deu a doida”, bateu de frente com um governador da ditadura e colocou no chinelo muitos “homens da imprensa”. Em dado momento atingiu o status de celebridade e como estas foi perseguida e difamada, mas devolvia os insultos e ridicularizava os desafetos em sua coluna. Sua presença incomodava, não é exagero afirmar que algo da polêmica que a cercava vinha do preconceito com sua condição de mulher.

A colunista do Jornal da Cidade pode não ter sido a primeira, nem a maior, mas de sua geração foi quem melhor conseguiu captar a imagem de “self made woman” e se transformou no símbolo da mulher capixaba bem sucedida. Além de colunista social de apelo junto ao público, era também uma empresária competitiva e inteligente, sabia vender e valorizar seu produto, uma de suas frases preferidas era: “quem trabalha não conhece fracasso”. Não foi à toa que escolheu o dia internacional da mulher para congregar as empresárias “da terra” em um evento que celebrava a independência de seu gênero.
 
A empresária do setor automotivo e cafeeiro Zuca Coser, falecida em 2009, com a colunista Maria Nilce 
No final da década de 1980, Maria Nilce consolidara posição no jornalismo e sua popularidade seguia em escala ascendente. Planejava construir uma sede moderna para o Jornal da Cidade, andava badalada na sociedade carioca, viajava pelo mundo e acirrava as críticas contra uma parcela perigosa da elite capixaba. O almoço que a jornalista promoveu em comemoração ao dia internacional da mulher no ano de sua morte reuniu quatrocentas mulheres, donas de grandes empresas, profissionais liberais e até representantes da política nacional como as deputadas federais Sandra Cavalcanti e Rita Camata.
 
Sandra Cavalcanti, deputada federal carioca discursa durante as comemorações do Dia Internacional da Mulher.
No dia 14 de março de 1989, Maria Nilce publicou em sua coluna um texto relatando o clima pesado que cercou o “Almoço da Mulher” naquele ano e classificou as ameaças de seus desafetos como “terrorismo”. Era um prenúncio do que aconteceria poucos meses depois: o assassinato covarde que pôs fim a uma disputa velada pelo direito de uma jornalista se expressar contra a necessidade de calar essa pessoa. Um crime de mando contra uma mulher indefesa, que posteriormente foi culpabilizada pela própria morte, na revista Manchete foi dito que ela “falava demais” e a mídia sempre a reduziu às tais “polêmicas”.
 
Almoço de Comemoração ao Dia Internacional da Mulher em 1989

No dia oito de março não é comum evocar a lembrança da jornalista Maria Nilce Magalhães e suas ações pioneiras em prol da valorização do empreendedorismo feminino capixaba. Deu trabalho calar a fera, mais trabalho ainda tem a elite para apagar sua presença da memória do povo. Mas, sabe minha mãe? Eu, que nunca me dirigi à senhora sua pessoa assim publicamente, estou ainda por aqui pra lembrar com saudade e com carinho da sua genialidade e de suas birutices – a Milla que virou gringa diz que você era gifted - e sei que tem um montão de gente bacana por aqui que se lembra de você assim também.

Quando comemoramos mais um Dia Internacional da Mulher, primeiro de tudo devemos orar, rezar ou meditar pela presença invisível ou mesmo a ausência de tantas e tantas mulheres impunemente espancadas, violentadas e assassinadas.  Em seguida peço ao menos um pouco de respeito à vida e à memória dessas vítimas, quase sempre perseguidas e difamadas, simplesmente por representarem a fragilidade nessa cadeia. E desejo que todas as mulheres tenham, sempre, o verdadeiro direito à liberdade de expressão e dignidade para viver e ser o que quiser e fazer de seu corpo e da sua história o que melhor lhe aprouver!

Segue o texto escrito por Maria Nilce:

No Dia Internacional da Mulher, quando esta cronista realizava um almoço para mais de quatrocentas mulheres, no salão do Alice Hotel, seu proprietário, Toninho Neffa, avisado anteriormente por telefonemas anônimos de que alguns gays iam até lá acabar com a festa, assustou-se com a presença de dois indivíduos estranhos que entraram no hotel sem camisa e pensando ser os travestis telefonou para a polícia e pediu reforço.

Soubemos depois que o autor dos telefonemas foi o comerciante Jadyr Primo, que também ensaiou a molecagem de mandar travestis para a porta do hotel para jogar pó de mico nas senhoras. Ali dentro do Alice estavam senhoras do maior respeito, todas dignas da maior admiração. Sobretudo, senhoras de idade como dona Josefina Hilal, como a mãe de Lourdinha Raizer, entre outras que não mereciam passar pelo susto que passaram.

Eu espero que as mulheres que estiveram naquele almoço não esqueçam do mal que ele me fez, pois desde as nove horas da manhã que este indivíduo passa trotes para minha casa, fazendo terrorismo e eu, apesar de saber de tudo, estive à frente do almoço, sorteando brindes, homenageando as aniversariantes, cuidando para que nada estragasse o brilho daquele dia que era só nosso e para que todas mulheres ali presentes não fossem perturbadas em nada. Se entrasse alguém para estragar a nossa festa, eu me jogaria na frente para defender as mulheres que ali estavam convidadas por mim.

Eu morreria por elas...
 
Último registro de Maria Nilce com seu filho Juca Magalhães:
foto de Heitor Bonino
Maria Nilce Magalhaes foi morta a tiros no dia cinco de julho de 1989, o julgamento de alguns dos envolvidos no assassinato levou quase vinte e cinco anos, as investigações não apontaram os principais mandantes do crime.
A investigação do crime contra Maria Nilce foi marcada por afirmações preconceituosas à mulher e propositadamente abagunçada, vide a manchete de A Gazeta


Início da desrespeitosa reportagem da Revista Manchete
Jornal do Brasil


domingo, 28 de fevereiro de 2016

ONDE ABUNDAM REDUNDÂNCIAS

Os elevadores estão em reforma - acho que por isso - outro dia lembrei coisas que havia esquecido. Obras e paredes nuas fazem isso comigo. Não me recordo de ter sentido medo de elevador quando criança, nem mesmo de ter algum estranhamento. Muito menos lembro quando foi a primeira vez que andei em um. Quando terá sido? Em algum edifício do centro da cidade talvez, foi onde conheci os primeiros prédios. Edifício Aldebaran, por exemplo, que nome bacana.

Lembro velhos elevadores no Rio de Janeiro onde visitávamos a família de papai. Minha avó morava num prédio em Botafogo, Rua e Edifício Real Grandeza. Nós moramos sempre em casas e sobrados e no Rio tinha uns elevadores antigos daqueles com “ascensorista” e porta “pantográfica”. Disso eu lembro o estranhamento, do nome e do aviso. Hoje poderia até fazer uma ligação direta com sacanagem - porta “pornográfica”? - mas no mundo já abundam dessas redundâncias.


O Rio de Janeiro daquela época era um lugar pra lá de bacana, avenidas muito largas, engarrafamentos e zilhões de edifícios. Da janela da sala dava pra ver o Corcovado, o Cristo envolto pela noite, iluminado pela lua. Eu achava muito legal o sotaque dos cariocas a perguntar o endereço de vovó: “é perto da Voluntáriox da Pátria?” Gozado, papai nunca teve o menor sotaque botafoguense, quem àx vezex puxava o “s” era mamãe - que nasceu e cresceu em Timbuí – isso por que... Eu-sei-lá-por-quê.

Lembro crianças que estranharam o elevador na primeira vez que o viram, porque entravam num lugar e saíam em outro completamente diferente. Vivi essa sensação de magia dentro de um armário antigo no qual brincava de viajar com minha irmã caçula, fantasia parecida com as Crônicas de Nárnia que na época nem suspeitávamos existir. Os armários de hoje não caberiam nem os “Ricardões”, não é só porque a coisa apertou, ouvi dizer que os amantes engordaram e usam carruagens vermelhas.



Os elevadores seguem em reforma e a vida continua: subindo à cobertura tríplex e descendo ao fosso da corrupção, o Brasil e suas enormes variações de dinâmica. Eu vejo buracos nas paredes, tijolos e argamassa por baixo do reboco. Lembro que também tenho algumas obras em andamento e me pergunto como ou quando isso vai terminar. Incomoda um pouco suspeitar a falta de significância, mas não é por isso que tenho de falar: é que por dentro tem essa questão que sobe e desce e sobe e...

sábado, 20 de fevereiro de 2016

SOME DAQUI VERÃO!

Tia Naná estranhou os cervejeiros usarem uma garota propaganda mezzo-fake, mezzo-calabresa e ainda impingirem-na (tohéin!) o hipocorístico de Verão (tohéin! De novo). Pode ser que Naná tenha razão, lembro verões melhores do que aquela. Exclusive, a referida Aline “entende do riscado” talvez seja a figura certa para ilustrar propaganda de cerveja, afinal: quem se atreve a consumir tem que ser macho para aguentar a dor de cabeça.
Tilin!
Calor é outro substantivo masculino que se descobrimos (sic) contraditório: o Tina Tironi me disse que era assim que chamava a colunista Maria Nilce, porque esta o apelidara de “menino do Rio”. Daí respondia atrevi-tímido: “e você é o calor que provoca arrepio”. Outro dia quis me mostrar um vídeo onde mamãe aparecia e ficou se perguntando “Cadê o Calor? Cadê o Calor?” Eu já distraído, estranhei: porra bicho, você quer mais?

Se pensarmos que estamos ainda no verão não há nada errado no calor africano da caatinga que está fazendo, o estranho é que esse infeliz chegou em setembro e não dá sinais de ir embora, já até coloquei vassoura atrás da porta...
E a sutiliza, ela existe...
Na internet alguém postou: “Que sol lindo! Como é que desliga?” E pensar que há uns dois anos aqueles modelos de ar-refrigerado “sprinter” custavam uma baba, agora as Lojas Americanas inventam promoções pela metade do preço sem ser Black Friday nem nada.

Pulando do fogo pra frigideira: lembra que o Governo passou boa parte do ano passado divulgando que haveria desabastecimento de água, que as reservas estavam no fim, que se não chovesse corríamos o perigo de uma hecatombe hídrica? Curiosamente, quando entrou novembro deu aquele Chabú da Samarco, mataram o Rio Doce e não se falou mais em seca.

... E por acaso choveu? Muito pelo contrário. Além do mar de lama, do rio que virou lama, da lama que desaguou no mar, que diabos aconteceu? Milagre? Nem em Guarapari faltou água. Quer dizer, faltou, mas também não foi tanto quanto esperavam os mais catastróficos.

Quando a coisa aperta a culpa é sempre da população, que - segundo ouvi dizer - não tem consciência ambiental, não economiza água e vive lavando calçada. Isso mesmo depois de eu-sei-lá-quem ter divulgado que os maiores consumidores de nossas reservas hídricas são as grandes indústrias.

Sabe o que mais? O melhor era o governo passar a gestão do abastecimento de água para a iniciativa privada. Sim, como foi feito com a energia elétrica. Seria essa uma hipótese muito absurda? Então veja o que afirma a seguinte matéria no site do Século Diário:


Enfim, a única notícia quente que podemos comemorar é que hoje acaba o horário do Verão! Vai que nessa o calor (nesse caso me refiro a esse bafo dos diabos) também toma gastura das terras capixabas e resolva deixar a gente esfriar a cabeça...
Só pra arrematar, essa veio do: http://www.bluebus.com.br

sábado, 13 de fevereiro de 2016

EITA MAU COSTUME DOS DIABOS!

Sempre achei que era um cara muito bom em ouvir críticas, presto atenção e procuro melhorar, mas de uns tempos para cá sinto que um monte de coisas que eu achava a meu respeito caducaram. Por exemplo: sempre acreditei que me dava super bem com os gays e outras “diferenças”. De uns tempos para cá comecei a perceber que, apesar disso, ainda tenho preconceito sim e que não os respeitava realmente, integralmente, como deve ser. Os homoafetivos são pessoas comuns e não tem nada de extraordinário em uma pessoa ser o que ela é. O problema é que corrigir algumas facetas desse nosso “jeito de ser” é tão difícil quanto arrancar um dente sozinho.

Vou dar um exemplo besta que vai levar essa conversa para outro lado (respirem aliviados seus preconceituosos):

Estava apresentando a inauguração de uma Academia Popular e minha chefa chamou atenção para o fato de que eu falava “acadimia”. Foi uma crítica que na hora estranhei, pensei mesmo assim: “Qual o problema?” Depois entendi: ora, o problema é que não é assim que se pronuncia a palavra. Simples assim. Toca a aprender a falar direito “minino”! O pior é que havia umas quarenta “Acadimias” pra inaugurar e foi um baita exercício mental manter aquele “e” no lugar certo. Toda vez que ia falar era preciso repassar o “e” na cabeça, aí vinha alguém, me distraía, e quando eu ia ver tinha falado “acadimia” de novo.

Fiquei encafifado com aquilo: de onde será que saiu esse mau costume no meu jeito de falar? Será que é coisa da pronúncia do capixaba? Fiquei reparando e vi que a maioria das pessoas falava certo, menos eu, que me julgava tão lido e escrevinhado. Comentei a Zika com minha esposa que, muito condescendente e solidária, opinou que devia ser “coisa de velho”. Possibilidade que bem que podia me ter passado “dispercebida”. Passei a notar que eu falava muitas outras coisas com aquele mesmo “sutaque”, praticamente tudo. Falávamos nisso e na televisão passou uma cena antiga com Paulo Autran que mandou um sonoro “dipois”. Virei pra ela e falei: olha lá! E a rebatida veio certeira: “Num falei que era coisa de velho”...

Fiquei amuado feito um fedelho diante de um prato de buchada, mas “dipois isqueci” o assunto.

No final do ano, no auge da confusão dos playboys contra o Chico Buarque fiz uma singela declaração a seu favor no Facebook e teve gente que achou ruim eu “defender bandido”. “Que saco! – Pensei – A gente não pode mais nem ter opinião!” Só de vingança baixei a discografia todo do filho do “Doutor Progresso”. Um dia, indo pro trabalho, o “player” do celular tocou aleatoriamente a canção Olhos nos Olhos. Qual não foi a minha surpresa quando lá pelas tantas o Chico mandou um sonoro “bem mais e “milhor” que você”. Com a mesma acentuação da palavra milho. Pensei: Pô, mas o Chico pode...

E o problema é justamente descobrir que hoje em dia nem o Chico Buarque pode mais... Quanto mais eu.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

DESAGRAVO AOS ANIMAIS

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas. Mateus 23:23

Como até a Tia Naná já sabe, o carnaval tem o significado de “adeus à carne”. É o período que antecede a quaresma, a partir do qual – segundo a tradição cristã - deveríamos jejuar e nos abster de comer a carne dos animais, sem falar em outros prazeres “da carne”. É a hora adequada para pensar na vida, inclusive a dos outros e até dos bichinhos, mas num estilo “despedida de solteiro”, o feriado virou sinônimo de festa, alegria e ... muita porralouquice. Portanto, curtamos nossa farra, mas tomemos cuidado. Pois já dizia sei-lá-quem: depois de todo oba-oba vem sempre um epa-epa!

Na quarta-passada o Prefeito de Vitória prestou contas aos vereadores capixabas na Câmara do município e - talvez pela proximidade com o carnaval - alguns dos “nobres edis” prepararam-se para uma carnificina, mas acabaram colhendo resultado bastante diferente. Porém, não há nada de estranho nessa intenção de embate, tanto politicamente falando – e estamos no ano eleitoral – quanto pelo próprio papel que desempenham os representantes do povo, a prestação de contas é um momento que os vereadores fazem suas reivindicações, críticas e cobranças ao Prefeito.

Falou-se bastante na mídia sobre o evento porque foi um pouco mais acalorado, digamos assim, do que os anteriores. No dia seguinte, o ponto comum entre os comentaristas políticos foi a maneira firme com que o atual prefeito da capital respondeu os questionamentos, mesmo porque alguns foram equivocados e um, em especial, ainda não vi ser mencionado por ninguém.


O vereador Wanderson Marinho, na contramão de um movimento bastante premente em defesa dos direitos dos animais, criticou a criação de uma praça para cães em Jardim Camburi, enquanto em sua região - a Grande São Pedro - existem reivindicações não atendidas. Se tivesse um pouco mais de cultura inútil aventaria a velha máxima “salvem as baleias e os humanos que se danem”, mas seguiu no raciocínio de que “as gentes” devem ter precedência em relação aos bichos.

Para amplificar o inusitado havia um pequeno grupo que, para incentivar o vereador, danou a latir, uivar e mugir, emprestando um tom de deboche a um assunto que é sério. Fato: a Praça Nilze Mendes em Jardim Camburi foi adaptada para o uso de cães, dando qualidade de vida para os bichinhos. Fato também: a comunidade da Grande São Pedro merece toda atenção da Prefeitura. Mas será que uma coisa é mais importante ou excluiu a outra?


Existe um sentimento de respeito e compaixão pela vida dos animais que vem crescendo e se difundindo através de adoções e ações como o vegetarianismo, veganismo e outras folhas e legumes. Há séculos a humanidade abusa cruelmente da bicharada, transformamos sangue e carne em indústria e sequer percebemos que as vidas consumidas, as dores que causamos, o ódio que digerimos podem ser causa dos tormentos que nos adoecem.

É preciso olhar para a sociedade com a perspectiva do tempo, porque os costumes mudam. Por exemplo, hoje é absurdo pensar que um dia já foi comum escravizar legalmente pessoas - ilegalmente ainda rola. Quem sabe um dia o massacre diário de milhões de animais para consumo humano não seja visto como absurdo também? Algo próximo do nojo bíblico que temos pelo canibalismo. Quem sabe?


Ao tampar a cabeça não podemos descobrir os pés: devemos cuidar de nossos irmãos, dos animais e de todo o resto que for possível. Porque, no fundo, as pessoas que não têm respeito pelos “bichos” muito comumente estão pouco se lixando para o resto da humanidade. O Vereador Wanderson Marinho é um bom rapaz, eu o conheço pessoalmente, tenho certeza que seus argumentos tiveram boas intenções, o problema é que destas o inferno está cheio.