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sábado, 13 de julho de 2013

JOGO PERIGOSO



Outro dia li uma entrevista de um cara que dizia não gostar da Presidente DilmA e, ao mesmo tempo em que a criticava, defendia seu governo. Disse até que o povo não tinha motivos para ir às ruas. Ora, tudo bem que o surto de manifestações que varreu o país pegou meio mundo de calças curtas e que daqui pra frente tudo vai ser diferente (ou não) e é evidente que muita gente ainda não entendeu a onda do “gigante que acordou”. Motivos para revolta popular há de sobra e a relação entre o Estado e a mídia de informação e propaganda teve um papel importante nesse processo.

As grandes redes de comunicação dizem ser independentes e prestar um serviço de qualidade à população, baseado na “isenção” e no “politicamente correto”. Isso é verdade somente em parte, afinal, a “informação” é um negócio como outro qualquer, tem custo elevado e no Espírito Santo sempre se dependeu financeiramente (alguns exclusivamente) da verba Estatal. Essa dependência, aliás, se estende a diversas áreas de atuação e é bastante notada por pessoas que vêm de fora. Um palestrante carioca me contou a título de piada que tinha perguntado a alguém da produção de um evento se o organizador era amigo do Governador e o rapaz respondeu: “muuuito!”

Falando especificamente de propaganda e não de jornalismo, o mais irônico nessa história toda é que os marketeiros políticos no afã de mostrar “as grandes realizações” de seu cliente, ao contrário, acabaram por ajudar a desgastar sua imagem. Isso ficou evidente em governos anteriores que produziram propagandas cada vez mais triunfantes, enquanto a realidade que vivia a população era muitas vezes oposta. Não é um desrespeito alardear grandiosas conquistas na saúde, por exemplo, quando o que a população recebe de verdade é mau atendimento e a visão de seus entes queridos morrendo ou passando grande sofrimento nos corredores dos hospitais?

Alguns exemplos da aliança entre Estado e mídia são sutis, mas outros nem tanto. Desde o ano passado que já ficara “telegrafada” essa coisa de jornalista “noticiar” - sem emitir juízo, sempre em nome da isenção - novas regras do Estado e que este estava claramente dando as costas às necessidades da população. De vingança o povo começou a postar nas “mídias sociais” que político deveria ser obrigado a frequentar o SUS. Outra crítica comum é a da notória eficiência do Imposto de Renda, conhecido por ser o único órgão federal que realmente funciona. Não seria muito bom se, por exemplo, as investigações contra a corrupção funcionassem como a famosa “malha fina”? E por que diabos não funcionam?

A maneira como a Lei Seca foi implantada e, aliás, muito bem recebida por grande parte das pessoas, foi uma dessas situações. De repente começaram a pipocar na televisão os casos mais escabrosos de motoristas embriagados em todo o país e os legisladores foram subindo o tom do discurso, endurecendo pra cima da população com blitzes rigorosas, multas mais caras e prisões. Por outro lado, foi pintando a sensação de que a polícia estava mais preparada e apta para prender o cidadão de bem do que para combater a violência – fora do trânsito - que continua crescendo em níveis de guerra civil, a ponto de acontecer dois linchamentos em maio passado dado o grau de sensação de abandono à impunidade.

Outro episódio que deu muito errado aconteceu no Espírito Santo e em alguns outros Estados quando, no ano passado, um acordo entre o Governo Estadual e os Supermercadistas decretou o fim das sacolas plásticas. A imprensa fez direitinho seu dever de casa explicando que acondicionar as compras em sacolas de plástico não era ecologicamente correto e que as pessoas que tinham “consciência ambiental” deveriam passar a usar as versões biodegradáveis pagas. Do dia pra noite os supermercados viraram praças de guerra, lembro de ter visto pessoas enfezadas a ponto de um ataque dos nervos, enquanto isso os jornais publicavam pesquisas dizendo que a maioria aprovava a medida. A afirmação era tão distante da realidade que parecia ter alguém maluco: ou no povo, ou no jornal.

O desgaste se arrastou por meses, no final os Deputados Estaduais aprovaram uma Lei proibindo a cobrança das “sacolas biodegradáveis”. Foi uma história em que todo mundo saiu perdendo, especialmente a ecologia, porque muita gente tomou ódio do assunto. Quando viu a guerra perdida, numa reportagem da CBN o Presidente da Associação de Supermercados afirmou que o custo das sacolas "não vai sair de graça aos consumidores”. Talvez por acaso, a volta da inflação aconteceu alguns meses após os supermercados herdarem o ônus dessa lambança. Quando começou todo mundo a gritar pela alta dos preços, as explicações foram inúmeras, mas não se falou naquilo que todo mundo suspeitava, mesmo porque, não se pode comprovar que a inflação é resultado da conta repassada para, novamente, o povo pagar.

Vivemos um tempo repressor e muito careta, as pessoas vivem sob uma pressão e controle os quais não me lembro de ter experimentado antes, era de se imaginar que uma hora a coisa fosse pipocar. Ao invés de ter acesso a pão e circo, o povo, que foi tratado cada vez mais com a seriedade e o rigor da Lei, de repente – ok, não foi de repente, nem é por vinte centavos - cansou e resolveu cobrar de volta a mesma seriedade dos “representantes” que elegeram. Descobriram o que já desconfiavam, o jogo só é “na vera” pra quem está fora do poder. Derrubados os tapumes, o que havia atrás da construção? Outra construção e mais outra e mais outra. Postas as cartas na mesa do que é e do que não é, vamos ver o que acontece, mas te digo só uma última coisa: esse é um jogo que nunca foi tão perigoso de jogar...

domingo, 7 de julho de 2013

DE CABEÇA DE BAGRE A CABEÇA DE BACALHAU



Minha avó sempre dizia, que nem um velho empreiteiro da ilha de Vitória, por sinal, muito conhecido, ainda que informalmente, como “mafioso”:

“Na política o bom não é ser Rei. O bom é ser Amigo do Rei”.

É sempre melhor ser amigo daquele que reina e prosseguir manipulando os invisíveis fios, longe da responsabilidade dos que gerenciam orçamento e cofres de um Município, Estado ou Nação. Isso mostra que esses são bem mais espertos que os Inimigos do Estado, muitas vezes até se valem destes últimos em suas jogadas. Depois, quando o teto desaba, para eles tudo continua como d’antes... Vai guardando.

Comentei no Facebook que é curiosa a maneira “impessoal” da mídia tratar a “concessionária” Rodosol. O Governo tem um líder facilmente apontado por todos, mas outras instâncias são “cabeça de bacalhau”. Não é por acaso que as reivindicações populares acabaram se concentrando no alto valor do preço do pedágio e depois em sua própria existência, ele é cobrado desde a inauguração da ponte em julho ou agosto de 1989. Muita gente pensa e repetiu em altos brados a frase:

“Essa ponte já está paga a muito tempo!”

Da mesma maneira é curioso o gosto que o capixaba tem por ver aquela ponte parada, virou mexeu e alguém resolve ir lá pra escapar da vida, desiste (ou não) e instaura um protesto pessoal, geralmente por crise de relacionamento, se fosse em Goiás ou no Mato Grosso montava uma dupla caipira. Também não é por acaso que até agora ninguém da referida RouboSol (Ops!) se deu ao trabalho de vir a público defender seu patrimônio, qualquer “Amigo do Rei” sabe que não é assim que as coisas vão se resolver...

Em tempos oitocentistas os integrantes da força vigilante interplanetária conhecida como “The Maus Elemento” (sic’s), voltavam doidarassos da casa do Barriga em Vila Velha e ao passar pelo pedágio da ponte estranharam o valor. Berry, que imitava direitinho a voz de Alf o Eteimoso, falou espantado para a mocinha na cabine:

- Tlêzens ê tlinta? - Era o preço da viagem em Cruzados Novos, mais o peso do bagulho, descontado evidentemente o combustível e outras despesas.

Naquela época nasciam os jovens que hoje “vão para a rua” protestar e, como aqueles outros, tentam se livrar inutilmente dos gritos de João Podre: No Future! Querem ter futuro sim e, sem dúvida, a onda de protestos foi a melhor maneira de demonstrar. O perigo que ronda, sempre e novamente, é dos tais “Amigos do Rei”. Essa turma é gulosa, rapaz. Teve um que escondeu tanto dinheiro de corrupção no rebaixamento de gesso do apartamento que um belo dia tudo simplesmente desabou no chão da sala. Desse jeito mesmo: a empregada varria o chão e, não-mais-que-de-repente: Bruuuummm! Gesso e pacotes de grana caíram pra tudo quanto era lado! - É o tipo de história dos “poderosos”, contada geralmente no infinitivo, dificilmente veremos uma nota assim publicada pela mídia tirada a engraçadinha e antenada...

O que faz você pensar que hoje as coisas são assim tão diferentes?