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terça-feira, 27 de abril de 2010

25 COMÉDIAS PARA VER E MORRER DE RIR...

A comédia é um dos gêneros mais difíceis do cinema. Sempre admirei a alegria e a vontade de fazer rir dos comediantes, desde Chaplin até os atuais, ainda que ultimamente a safra não seja das melhores. Sempre quis fazer uma lista com as minhas comédias favoritas, comecei pensando em dez, mas pressinto que essa lista pode seguir indefinidamente.

Antes de entrar no assunto é bom explicar que não sou crítico de cinema, muito menos quero opinar sobre importância histórica de um gênero, falo apenas de filmes que me marcaram para sempre e que gosto de rever de tempos em tempos. Além do mais vejo circulando tantas listas dos piores filmes disso e daquilo que acho que poderíamos falar dos que são bons para tentar contrabalançar. Começo então com dois nacionais:

Macunaíma - 1969. Existem frases que falo de brincadeira faz tanto tempo que até esqueci que as tirei desse filme, só me dei conta após o rever recentemente. A atuação de Grande Otelo é de justificar o prenome, o mesmo vale para o resto do elenco, sobretudo Paulo José. A bagunça total impera – coisa tão comum ao povo brasileiro – e faz desse filme uma pérola da maluquice tropicalista. Pode até nem ser considerado comédia por alguns, mas para mim estará sempre no topo da lista.

Os Trapalhões Nas Minas do Rei Salomão - 1977. É anterior à entrada de Zacarias, mas traz Didi, Dedé e Muçum antes do sucesso os soterrar e a exposição na Glogo desgastar a fórmula. Nesse filme o grupo aparece à vontade como num picadeiro de circo, ninguém ainda sabia do que Os Trapalhões seriam capazes então eles dão o melhor. Aqui em Vitória essa comédia foi exibida no Cine Paz, no domingo a fila dava voltas no quarteirão. O roteiro é plenamente amalucado o que, ao invés de estragar, ajuda; afinal trata-se de uma grande brincadeira. É nonsense puro “de fatis”.

Tempos Modernos – Modern Times. 1936. Talvez seja a comédia mais importante de todos os tempos. Charles Chaplin no auge de seus poderes criativos compõe uma obra prima do humor com direito a corrosivas críticas sociais e sua peculiar expressividade. Obrigatório para qualquer pessoa que se interesse por cinema, aliás, todos do Chaplin são...

O Meninão - You're Never Too Young. 1955. Passei boa parte da infância vendo e revendo o comediante americano Jerry Lewis em intermináveis Festivais de Comédia promovidos pela Globo, mas esse filme me marcou porque o vi numa matinê do Cine Glória ainda quando criança. Lendo a autobiografia de Sydney Sheldon, descobri ter sido ele o autor do roteiro que serve, na verdade, para as inúmeras caretas e danças amalucadas do protagonista, a cena dele comandando um batalhão de garotas e regendo coral são pontos altos do humor em todos os tempos.

Deu A Louca No Mundo - It's a Mad, Mad, Mad, Mad World. 1963. Um tour de force que reuniu a maior parte dos principais comediantes americanos dos anos sessenta numa corrida maluca atrás de uma fortuna enterrada embaixo de um grande W. É pastelão do início ao fim. Houve uma refilmagem dessa história faz uns dez anos com vários bons comediantes e atores conhecidos mas, infelizmente, não tem um décimo da anárquica alegria desse original.

A Dança dos Vampiros – The Fearless Vampire Killers. 1967. Uma das poucas investidas de Roman Polansky no gênero da comédia, estrelada pelo impagável Jack MacGowran, pelo próprio diretor ainda bem jovem e com participação de sua belíssima esposa Sharon Tate, que seria assassinada pelo maluco James Mason. Uma grande brincadeira com o universo dos filmes de terror, com direito à provocações homofóbicas e muito humor negro. A fotografia é belíssima e a trilha sonora de um mau gosto hilariante. É um clássico do gênero. Sempre me perguntei que fim teria levado o velho Professor Abrosius do filme e descobri que ele morreria poucos anos depois durante as filmagens de O Exorcista, esse sim um dos mais emblemáticos clássicos do Terror no cinema.


Primavera Para Hitler - The Producers. 1969.
Oscar de melhor roteiro para Mel Brooks, num enredo plausível e por isso mesmo hilariante, ajudado por atuações impagáveis de Gene Wilder e Zero Mostel. É uma história que eu queria esquecer para ter o prazer de ver outra vez. Talvez algumas citações não soem tão engraçadas hoje para quem não sabe do que se está falando, como na referência ao movimento “Flower Power” e à banda The Doors, mas o resultado final é imperdível.

Tudo Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo Mas Tinha Medo de Perguntar - Everything You Always Wanted to Know About Sex (But Were Afraid to Ask). 1972. O título mesmo é já uma piada, mas nesse filme vamos encontrar Woody Allen no auge criativo e anárquico de sua fase humorística, vários quadros trazem uma sucessão de situações absurdas de fetiche sexual, da impotência e muito mais. Sua safra dos anos setenta é toda muito boa, mas esse filme e “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” - que é, por sinal, muito mais celebrado - são obrigatórios.

Monty Python em Busca do Cálice Sagrado – Monty Phyton and The Holly Grail - 1975. Nonsense do início ao fim num filme do grupo humorístico mais popular da Inglaterra. Não dá nem para descrever a quantidade de situações bizarras, cavaleiros cavalgando sem cavalos, diálogos excêntricos e plena gozação da vetusta história da Inglaterra. É uma obra prima da anarquia, uma orgia de alegria.

A Gaiola Das Loucas - La cage aux folles. 1978. Trata-se aqui do original franco-italiano, a refilmagem com Robin Williams, entre outros, é uma das piores coisas já feitas no cinema. Esse verdadeiro é uma das mais engraçadas e populares histórias sobre gays que já se produziu e que até hoje faz sucesso com inúmeras montagens teatrais, uma inclusive em cartaz agora no Rio. O ponto alto são as atuações histriônicas, escandalosas e a crítica à hipocrisia com relação ao preconceito homossexual. Esse é pra rever e rever e rever...

Muito Além do Jardim – Being There. 1979. Ponto final da carreira do grande comediante Peter Sellers, talvez o maior da Inglaterra, mundialmente famoso por seu inspetor Clouseau, da série A Pantera Cor de Rosa. Uma história que se utiliza da simplicidade e da inocência para satirizar a política norte-americana e suas lideranças obtusas. Não é bem uma comédia, o filme em si tem um aspecto outonal, é como a despedida desse grande astro do humor. Qualquer um que goste do gênero tem que ver alguns outros filmes de Sellers, mas esse é obrigatório.

Apertem os Cintos o Piloto Sumiu – Airplane! 1980. Foi a primeira ou segunda comédia parodiando diretamente filmes que vi, coisa que se tornaria padrão ao longo dos tempos. Nos anos setenta eram comuns as grandes produções de cinema catástrofe na aviação, a chamada série Aeroporto. Nessa comédia aparece Leslie Nielsen e outros canastrões que posariam futuramente de comediantes. Fica muito mais engraçado quando se conhece o que eles estão fazendo brincadeira, mas de qualquer maneira as situações bizarras são de tirar qualquer um do sério.


S.O.B. - 1981. As iniciais remetem mesmo ao palavrão geralmente traduzido por aqui como “filho da mãe”. É uma espécie de vingança que Blake Edwards quis fazer com Wollywood, mostrando a canalhice dos investidores e a podridão do meio cinematográfico. Até a eterna freirinha Julie Andrews, então sua esposa, mostra os seios nesse filme com o propósito de dar mais bilheteria e provar que a baixaria é pop, uma brincadeira que se for levada à sério nada tem de engraçado. Tem uma cena em que "o médico da família" reclama porque acabou a vodka, daí alguém responde: "Meu Deus, mas eu acabei de abrir a quinta garrafa!" E ele fala tranquilamente: "Então nada mais justo que eu abra a próxima".

Os Caça-Fantasmas – Ghostbusters. 1984. É uma produção vitoriosa daquela primeira geração do programa Saturday Night Live: Bill Murray, Dan Aykroyd, etc. É uma comédia bem leve, despretensiosa e flagrantemente novaiorquina. Sigourney Weaver encarna o principal papel feminino de maneira sexy e exuberante, como raras vezes foi vista no cinema. É uma produção em que tudo deu certo, a franquia virou desenho animado, revista, bonecos e segue como uma das comédias mais admiradas em todos os tempos. O filme começa como uma questão para os bibliotecários, a primeira aparição de fantasmas acontece justamente na bilbioteca pública de Nova York.

Um Peixe Chamado Wanda - A Fish Called Wanda. 1988. Não sei se ainda é, mas esse filme ocupou a maior bilheteria da história da Inglaterra durante um bom tempo. Oscar de melhor ator para Kevin Kline, numa atuação realmente impagável. Traz alguns elementos do Monty Python numa produção elegante e tiradas pra lá de inteligentes, criticam o jeito polido e sisudo do inglês, o formalismo engessado britânico contraposto ao jeito despachado dos americanos. Reza a lenda que um médico dinamarquês, literalmente, morreu de rir – enfartou, empacotou - ao assistir essa história.


Os Fantasmas Se Divertem – Betlejuice. 1988. Tim Burton ainda não tinha adotado Johnny Depp quando fez esse filme que traz um elenco fantástico com destaque para Winona Ryder ainda adolescente toda garotinha dark que era moda na época. A boa surpresa do filme é o fantasma do título "Betlejuice" (numa tradução rasteira seria algo como "suco de besouro") interpretado de maneira hilariante por Michael Keaton que rouba todas as cenas em que aparece. A má surpresa para mim é que nem todos gostaram dessa película,quando de seu lançamento dando luz a frases do tipo: “os fantasmas se divertem muito mais do que a gente”. Eu o acho imperdível.

Os Visitantes – Les Visiteurs. 1993.
Nem sei por onde começar. É uma história tão inusitada, criativa e engraçada que fica até difícil descrever com palavras. Acreditem ou não mas esse é um filme francês sem Gerad Depardieu, nesse temos o impagável Christian Clavier em uma interpretação de dois papéis diferentes tão bem elaborados que em certos momentos não dá pra dizer que se trata do mesmo ator, aliás, tem muito coleguinha brasileiro estrelando novela da Globo atualmente que precisava beber dessa água. O contraste entre os costumes dos cidadãos brutos da idade média e dos atuais é o elemento chave para inúmeras situações engraçadas.

O Quinto Elemento. The Fith Element. 1997.
Não sei se a intenção do diretor Luc Besson era realmente fazer comédia, afinal os efeitos especiais da abertura são de fazer inveja a qualquer George Lucas. Ao longo da história plenamente amalucada são revelados alguns personagens caricatos, inclusive Bruce Willis numa impagável auto-paródia de seus heróis do passado. Quem rouba a cena é o comediante Chris Tucker interpretando um radialista amalucadamente escandaloso como fosse um protótipo do que se conhece como "bicha louca". O personagem de Willis é Dallas Corben, pra variar, é um militar invencível aposentado que dirige um taxi e acaba salvando o mundo. O clima de esculhambação fica explícito quando um dos atores o chama de "Sr. Willis" e ele, fazendo seu sorriso sarcástico número dois corrige: Dallas. Se até isso passou na edição final, imagine o resto...


O Mentiroso – Liar Liar. 1997. Pode parecer heresia querer incluir Jim Carrey numa lista com representantes tão seletos, ocorre que esse filme consegue unir o famoso comediante exagerado e careteiro em sua melhor fase com um roteiro muito criativo que em todo momento faz uso de piadas surpreendentes. O título em inglês vem de uma brincadeira intraduzível entre a semelhança de pronúncia das palavras advogado e mentiroso. O advogado ambicioso e sem escrúpulos é uma figura bastante ingrata na terra gringa e esse filme se vinga deles com bastante categoria.

O Grande Lebowski – The Big Lebowski. 1988. Nem sempre os “Irmãos Cohen” conseguem soar engraçados, mesmo quando essa é a intenção. Às vezes fica difícil entender o que é que eles estão tentando transformar em piada, mas O Grande Lebowski é um caso a parte. Alavancado por uma interpretação preguiçosa e balofa de Jeff Bridges a história vai de situação biruta em situação biruta quase sem resolução inteligível, é nonsense puro da melhor qualidade.

Medo e Delírio – Fear And Loathing in Las Vegas. 1998.
A história se baseia em um livro do jornalista Hunter S. Thompson, também conhecido como Dr Gonzo, uma figura de proporções mitológicas na América dos anos setenta. Se o adjetivo “porra louca realmente assumido mesmo" pode ser usado para designar uma pessoa, esse seria o cara. As interpretações de Johnny Depp e Benício Del Toro - totalmente irreconhecíveis - são de matar de rir, os personagens abusam de todo o tipo de drogas o tempo todo e a criatividade cinematográfica do diretor Terry Gilliam proporciona o acabamento adequado. Veja, morra de rir e acorde de ressaca. Thompson morreu faz pouco tempo (2005) e um de seus desejos póstumos era espalhar suas cinzas usando um pequeno foguete, como faltou grana o ator Johnny Depp bancou a homenagem.


Quero Ser John Malkovich – Being John Malkovich. 1999.
Foi quando caiu a ficha do mundo para o talento do roteirista Charlie Kaufman que faria o insondável e genial Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Os diálogos são pérolas do nonsense, provocando o riso pelo estranhamento, coisa rara e não tão fácil de se conseguir. O elenco é estelar e quase sempre irreconhecível, vide a bela Cameron Diaz que passa o filme inteiro completamente desgrenhada e meio pateta. Outra coisa que faz esse filme ser tão especial são os detalhes inusitados do roteiro, aquele improvável andar sete e meio onde todos andam curvados, simplesmente ridículo. Reparem como Malkovich altera a própria voz quando possuído como se realmente se transformasse em outra pessoa. É uma fábula soturna sobre marionetes e a possibilidade de manipular pessoas. É comédia sim, ma non troppo, é preciso, antes de mais nada, entender o espírito da coisa.

Terça Insana. 2004.
Logo na abertura o mestre de cerimônias avisa que estava ligado o "ventilador de alegria". Não vi os outros DVDs do grupo, mas acho muito difícil alguma coisa na área de comédia suplantar o que se vê aqui. São quadros gozadíssimos com um grupo de comediantes que acabariam se consolidando no telão e na telinha, comandados pela nariguda Grace Gianoukas, especialmente o impagável Luís Miranda hoje ator de cinema sério em filmes como Meu Nome Não é Johnny e Jean Charles. Os personagens se sucedem vertiginosamente: Betina Botox, o protótipo da "bichinha", Seu Merda, Irmã Selma, enfim: é de rachar o bico.

Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso Cazaquistão Viaja À América. Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan. 2006. É filme no melhor estilo ame ou odeie. O ator Sacha Baron Cohen aparece em pegadinhas infames muito bem elaboradas expondo situações ridículas do americano típico, seu preconceito, suas babaquices. Tive que parar várias vezes o filme no DVD para limpar os olhos com medo de perder minhas lentes de contato de tanto que chorei de rir ao ver Borat pela primeira vez. Sacha é a melhor surpresa do humor nos últimos tempos.

terça-feira, 20 de abril de 2010

SABE MAIS QUEM SABE QUE NÃO SABE, SABE?

Pessoas que pensam que sabem, não sabem e ainda pensam que o ignaro é você, é uma situação que rola. Essa questão chegou chegando pela via da lembrança e não da lambança. Estudei piano com um amigo querido e já falecido faz tempo, chamava-se Josué Louzada. Meu professor sempre tentava baixar a minha inflamada bola pianeira lembrando uma frase que até hoje não sei de quem é e que era mais ou menos assim:


“O mau aluno é aquele que pensa que já sabe tudo, se bobear vai querer ensinar ao professor aquilo que ele mesmo desconhece. Esse não vai dar em lugar nenhum, porque em sua arrogância fechou as portas ao conhecimento. Já o bom aluno é aquele que tem consciência que não sabe e por isso mesmo está em busca do conhecimento, esse está aberto a aprender e poderá seguir em frente. Existe também o aluno excepcional, o dito gênio, este sabe e nem sabe que sabe.”


Lembrei de algumas situações engraçadas que passei com pessoas que teimavam estarem certas e que depois de muito brigar chegavam a conclusão de que o “burro” era eu. Tive uma estagiária que teimou comigo – ela da geração Internet – que o verso de um envelope é o lugar onde se escreve o nome do remetente e que a frente seria aquele lugar onde se abre e fecha, por exemplo, uma carta. Nem se Jesus voltasse – a menina era evangélica – teria a convencido do contrário. Eu bem que tentei, mesmo porque estava sendo preparada uma correspondência para enviar e se as etiquetas com nomes de remetente e destinatário ficassem invertidas seria uma baita confusão. No final deixei ela resmungando minha burrice e colando as etiquetas no lugar certo ainda que ela o denominasse errado.



Outra situação comum é a pessoa entrar numa de que você não sabe nada sobre um determinado assunto o qual você domina e o infeliz, supondo ignorância, resolve te testar. Trabalhei em um evento em que apareceu um bebum chato pra cacete – desculpe a redundância – que após tomar uns patrázes resolveu testar meu conhecimento perguntando quantas sinfonias Beethoven tinha composto. Pensando estar conversando com algum musicólogo querendo me aprontar uma pegadinha, disse que se levarmos em consideração a décima que ele havia deixado esboços, inclusive com uma gravação muito comentada... Fui interrompido pelo chato, agora feliz da vida:



- Rá! Num falei que você num sabia de nada! Beethoven só compôs nove sinfonias. Ruárarara! – Que situação bacana, o cara tinha me pegado na contra-mão do conhecimento. Claro que Beethoven compôs nove sinfonias, saber que existem gravações da décima, feita a partir de esboços e querer a incluir no ciclo "oficial" seria um preciosismo que me desqualificaria, por exemplo, em algum teste escrito. O chato foi pensar que estava conversando com alguém que entendia da coisa e no final passar por ignorante, afinal, saber que Beethoven escreveu nove sinfonias é mole, queria ver me responder quantas escreveu Chopin ou Villa Lobos...


Quando esse tipo de situação ou discussão chega no campo da espiritualidade é que a vaca vai mesmo pro brejo. Não são poucos, especialmente os recém-convertidos, plenamente convencidos de suas crenças e que se vêem no dever de as disseminar pelo mundo, supondo antecipadamente que o outro, qualquer outro, é um ignorante e que precisa de sua pregação para se redimir. Pior é quando você dá uma de filósofo elegante para se esquivar do chato e fala “Amigo, eu só sei que nada sei”. Pronto. Bastou admitir sua ignorância e aquele que pensa que sabe – muito provavelmente desconhecendo Sócrates – se vê no direito bíblico de salvar sua alma.


Só a título de “coda”, encontrei hoje uma frase em uma agenda antiga que resume para mim essa questão da espiritualidade, porque estou longe de saber alguma coisa – fora esse negócio das sinfonias de Beethoven - eu continuo sem saber e buscando...


“Os pecados cometidos pelo homem não são uma grande culpa, pois a tentação é poderosa e suas forças irrisórias; a grande culpa do homem é que a cada momento ele pode seguir o caminho de retorno e não o faz” “Quellenangabe”

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Rapidinhas Culturais: Bora dar umas rapidinhas?


Termina hoje (16 de abril) o 1° Encontro de Escritoras Capixabas, uma iniciativa da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras. O Encontro vem acontecendo desde terça-feira passada oferecendo ao público várias oficinas e palestras com o objetivo de divulgar a produção artística e literária da mulher capixaba.


No encerramento hoje a noite (19:30h) vai haver exposição de livros com lançamento da antologia da AFESL – 2009 – Múltiplas Vozes; rola também uma performance com recital: Vivo Porque Escrevo e – não menos importante – um coquetel de confraternização. O encontro está acontecendo na Assembléia Legislativa, A Letra Elektrônica recomenda e – se São Pedro Permitir - estará por lá...

Começa Hoje - e vai até o dia 2 de maio – a décima edição do Festival do Teatro Brasileiro, com uma grande programação teatral e diversas oficinas. Para informações completas sobre tudo o que vai rolar acesse o site: www. alecrim.art.br.


Segue abaixo o banner da parada:



E para arrematar, repasso convite de Caê Guimarães, Marco Vianna e Leo Grijó que estarão apresentando uma mostra de seu trabalho com poesia, artes gráficas e música eletrônica no “Casa Aberta”, dia 17 de abril, próximo sábado, a partir das 18 horas, na Rua Sete, centro de Vitória. Também vai rolar música ao vivo com Fernando Balarini e Cíntia Romano, gastronomia com o chef Ronaldo Mattos, exposição de Caio Perim, desfile outono/inverno da Titã Maria, e design de interiores com Vinícius A. de Moraes.



terça-feira, 13 de abril de 2010

A LETRA ELEKTRÔNICA RECEBE ANTONIO CARLOS BRAGA


A Livraria Don Quixote na Praia do Canto era ponto de encontro de intelectuais e também daqueles que queriam dar uma de quê. Claro que isso rolava, deve rolar ainda até hoje, embora eu não faça a menor idéia de qual seja o lugar a se frequentar para dar uma de culto e sabe-tudo das coisas.


Freqüentei muito essa livraria que era de um cara chamado Antonio Carlos, um barbudão gente fina que ficava lá ouvindo música de concerto e jazz. Foi lá que comprei minhas edições “Urtext” das sonatas para piano de Mozart e do Cravo Bem Temperado de Bach. Nas grandes livrarias de Sampa ainda se encontram partituras para venda, por aqui desconheço qualquer uma que se aventure.


Falando nisso lembrei da tradicionalíssima Loja Calmon de instrumentos musicais, nos anos oitenta era um dos poucos lugares daqui onde os músicos podiam se abastecer de encordoamentos, paletas e outros breguétes musicais. Tinha um senhorzinho que trabalhava lá chamado “Seu Bira” – Anginha, onde ele anda? - que virou lenda porque tudo o que a gente pedia ele dizia que tinha:


- Seu Bira, vocês têm aqui aquelas cordas Fender para violão de aço?

- Temos sim.


- Opa, e quanto é? Eu vou querer levar...


- É, mas tem que vir de São Paulo... – Hehehehe. Virou bordão na época esse: “tem, mas tem que vir de São Paulo”. Acho que muita gente ainda o utiliza por aí em outras situações. Um carro zero mesmo, o tempo de espera é de quarenta e tantos dias... Foi na Calmon que fiquei sabendo o que estava acabando com o mercado de partituras: as malditas máquinas reprográficas! Nenhum estudante precisava mais comprar um livro inteiro de sonatas, era só “xerocar” a que ia estudar e pronto.


Mas a Livraria Don Quixote fez fama em uma época que deixou saudades e estou falando dela porque na próxima quinta-feira estarei recebendo o Antonio Carlos Braga na matéria de editoração da UFES, para falar sobre suas experiências no mercado livreiro capixaba. Se alguém mais quiser comparecer ao encontro será no EDII, sala 202 – CCJE. A partir das 18 horas. Não paga pra entrar, nem reza pra sair, mas se bobear leva quarenta e cinco dias pra vir de São Paulo...

sexta-feira, 9 de abril de 2010

EU TENHO QUE VOMITAR MEU CÉREBRO!

Semaninha cultural agitada aqui nas redondezas dos capixabas. Mas o convite que segue é imperdível, afinal não é todo o dia que se assiste ao lançamento de um disco de título tão singelo, a saber: Eu tenho que vomitar meu cérebro.

O Lordose surgiu no início dos anos oitenta como uma das bandas mais criativas e promissoras do rock botocudo, sempre fizeram questão de esnobar uma certa fatia do "mercado musical" local e parece que a recíproca foi verdadeira, mas eles não desitem, insistem... Tanto que vão lançar seu disco na Barra do Jucu.

Aliás, mencionei em sala outro dia a célebre frase: "O Espírito Santo é o Brasil do Brasil" e uma aluna imediatamente disse que tinha acabado de a ler no livro Kitty 22 de Reinaldo Santos Neves, o que me surpreendeu um pouco. Então só para espezinhar resolvi divulgar a frase em sua inteiridade, dentro da sustentabilidade do óbvio ululante:

"O Brasil não é para principiantes (Tom Jobim) e o Espírito Santo é o Brasil do Brasil (Reinaldo Santos Neves), Vila Velha é o Espírito Santo do Brasil (Anônimo) e a Barra do Jucu teria a honra de ser o "meu pequeno Cachoeiro" do Espírito Santo. Em suma: a capital secreta do universo? Não: a capital secreta do congo mané!

Bora lá galera. A Letra Elektrônica recomenda!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

CORAL ARCELORMITTAL NA QUARTA CLÁSSICA!


A Orquestra Filarmônica do Espírito Santo (Ofes), sob a regência de um maestro convidado, Guilherme Mannis, realiza uma nova apresentação da série Quarta Clássica nesta quarta-feira (07), às 20 horas, no Teatro Marista, em Vila Velha. A entrada é franca.


O concerto conta também com as participações do Coral ArcelorMittal Tubarão, dirigido pelo maestro Adolfo Alves, com preparação vocal de Alice Nascimento e em torno de cinqüenta integrantes. O grupo é um dos mais tradicionais do estado, completa 25 anos de sucesso no ano que vem.


O solista Dilson Florêncio formou-se em saxofone na UNB, é mestre pelo Conservatoire National Supérieur de Musique de Paris e foi o primeiro e único sul americano a obter nesta mesma escola o 1° Prêmio de Saxofone. Atualmente é professor assistente da Universidade Federal de Minas Gerais.


O regente convidado Guilherme Mannis, natural de São Paulo, é bacharel e mestre em música pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Atua como diretor artístico e regente titular da Orquestra Sinfônica de Sergipe desde 2006.


Programa


O "Te Deum" é uma obra sacra para coro e orquestra do compositor austríaco Joseph Haydn (1732-1809), será apresentado com participação do Coral ArcelorMittal Tubarão. Diferente de missas e outras obras sacras do compositor o Te Deum não possuiu seções instrumentais solísticas, é como um concerto para coral e orquestra.


Na sequência, serão apresentadas duas obras que privilegiam o talento do solista instrumental da noite: o "Concerto para saxofone e orquestra", do compositor sueco Larsson e a "Fantasia para sax soprano e orquestra", do brasileiro Heitor Villa-Lobos, escrita em 1948.


Encerrando o programa, será apresentada a "Suíte Pulcinella", originada de um ballet composto por Igor Stravinsky em 1920, a partir de um personagem da Commedia Dell’arte do século XVIII. A obra é considerada a primeira peça da fase neo-clássica do compositor russo, sobre ela Stravinsky teria dito: “foi minha descoberta do passado, uma epifania através da qual todo meu trabalho posterior se tornou possível.”


Resumo do Concerto:

Quarta Clássica - com o regente Guilherme Mannis, Coral ArcelorMittal e o solista Dilson Florêncio.

Dia: quarta-feira (07)

Horário: 20 horas

Local: Teatro Marista, Rua Antônio Ataíde, 879 - Vila Velha

Os ingressos podem ser retirados no Colégio Marista, de acordo com o seguinte cronograma:

1º lote: até o dia 06, das 08 às 18 horas

2º lote: no dia 07, a partir das 19 horas

Telefone: 4009-4200.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

RODA, RODA, RODA E ANVISA! DOIS MINUTOS PARA O COMERCIAL ELEITORAL


Porque, se em lenho verde fazem isto, que será no lenho seco?

Lucas 31


O sonho de menina dela era comprar um carro pra chamar de seu, o chamado carro zero. Juntou dinheiro, trabalhou duro, mas ainda faltava um bocado de bufunfa pra chegar onde queria. Fuçando daqui e de lá foi aconselhada pelos economistas de plantão a fazer um consórcio e com aquela grana amealhada dar o lance. Eis aí a ponte entre o sonho e a realidade. Na primeira assembléia um maluco deu um lance maior que o seu, na segunda empatou com outro cara e perdeu no sorteio, coisas da vida.


Aquela semana começou infernal, o calor inclusive: era novamente deadline de entrega de projetos, mais o trabalho regular como professor, fora os bicos que me obrigavam a trajar terno o dia inteiro. Não fora a estufa, nada de mais: peguei um trampo que ia de segunda a quarta o dia inteiro e tinha ainda as aulas de noite. Na segunda-feira o negócio demorou, era para ter acabado 18 horas. Quando já era sete da noite fui conversar com meu contratante, não podia ficar nem mais um minuto sequer. Saí de lá que nem um doido. Precisava pegar o carro e vazar para começar a queimar o óleo da meia-noite, veio a notícia pelo celular:


- O carro quebrou! Eu pelejei com ele o dia inteiro e agora ele nem liga. – O fato dela dizer que havia “pelejado com o carro” me deixou preocupado, mas não quis entrar no mérito da discussão sem constatar a real situação do infeliz... Bateria arriada, mistério configurado: fazer o quê àquela hora da noite? Saí que nem um doido de terno e gravata mesmo atrás de um buzão, quando cheguei na universidade faltavam dez minutos para minha aula começar, peguei o finalzinho da festa de recepção aos calouros...


No dia seguinte a maratona seguia impávida, procurei a garantia da bateria e o telefone do cara que me vendeu e consegui usar a hora do almoço para levar o carro ao conserto, passei a sobreviver às custas de coffe-break. A ventoinha tinha dado um tilt e o cebolão não era sopa. De antemão falei que precisaria sair no horário previamente combinado, felizmente a oficina mecânica ficava três quadras de onde estávamos. O mistério continuava, nada de solução para a ventoinha desembestada. Seis da tarde vazo para a universidade com minha mulher de carona e orientações para retirar um fusível e voltar com o carro no dia seguinte: toca o celular dela:


- Como assim advogado? O que é que está acontecendo? – A Agência Nacional da Vigilância Sanitária - Anvisa tinha baixado com a Polícia Federal e a imprensa à tiracolo na lojinha de produtos naturais do cunhadão e estava apreendendo todas as mercadorias, todo o trabalho suado dos últimos anos, mas o pior ainda estava por vir: levaram todo mundo preso! Demoramos um tempo a entender a real dimensão dessa confusão, mesmo porquê parecia que tínhamos entrado num filme de Felini com roteiro de Kafka.


No dia seguinte vimos incrédulos a confa toda na televisão, uma cobertura até respeitosa feita logo cedo pela Rede Gazeta. Só que o delegado - somente a titulo de curiosidade Feliniana e não mórbida: um anão - havia decretado a prisão de marido, esposa e um colega, sem direito a fiança, crime hediondo. Hô yeah! Boris ... E o carro ainda estava com a ventoinha disparada. Não conseguíamos acreditar em tamanho absurdo. De todos meus cunhados, aquele é o mais careta, evangélico, não bebe, não fuma e nem come carne. Como é que pode estar preso no DPJ de Vila Velha, onde cabem trinta pessoas e tem cento e cinqüenta?


Mas o delegado decretou a prisão em flagrante, passaram aquela noite algemados, humilhados e foram por fim encarcerados sem direito a fiança com todo o tipo de bandidos. Pessoas de bem que dedicaram a vida inteira à religião e não ofereciam risco nenhuma à sociedade, acusados de crime hediondo por conta de alguns produtos naturais que eram vendidos com aqueles dizeres: bom pra isso, bom pra aquilo. Gente eu não estou mentindo não, isso aconteceu. E sabe o que é pior? A maior parte da mídia embarcou sem nem ouvir o outro lado, aquele dentuço mesmo do programa Balanço Geral ficou lá gritando: cadeia neles! Bom, cada sociedade tem seus Ratinhos e Datenas que merecem.


O deadline do projeto era na sexta e a quinta-feira foi de total correria para tentar libertar aquela família, sabe-se lá o que poderia acontecer com eles dentro da cadeia. Some-se a isso que seus filhinhos, uma menina de seis anos e um menino de dois vieram ficar conosco. As crianças estavam apavoradas com o súbito desaparecimento dos pais, vigiavam uma a outra como se tivessem medo de mais alguém desaparecer do nada. E procure-se advogados para o caso, teve um que pediu setenta mil, outros ponderaram que um mais efetivo custaria por volta de vinte e cinco. Era como um seqüestro, resgate estipulado para a liberdade!


Não sei exatamente em que dia da confusão veio a notícia: o sujeito do lance empatado tinha furado. Ela havia sido contemplada! O carro zero era um sonho que se materializava no meio daquele furacão e foi enfiado no décimo oitavo escaninho até segunda ordem. Eu tinha duas palestras para apresentar naquela quinta-feira, sendo que uma eu nem havia ainda organizado nada. Passei a manhã inteira escrevendo e montando um data show, enquanto os amigos e familiares corriam entre cartórios e fóruns de cinco cidades atrás de certidões que comprovam a idoneidade do que para nós era o óbvio ululante.


E a Anvisa? Ficou bem na fita não é? Defendeu os frascos e os comprimidos com sua operação “Erva Daninha”. Apareceram na televisão, deram entrevistas, mostraram serviço. Nas costas sabem de quem? Sim, do cidadão idôneo, daquele trabalhador indefeso que não oferece perigo nem resistência, que está ali pagando impostos e lutando pelo pão de cada dia. Esses são bons de se achacar! Cadeia neles! O que será que os vizinhos e amigos não tão chegados estariam pensado de toda essa confusão? Ora, pensamos o pior porque tememos o pior também. Julgamos mal para nos sentirmos melhor.


O projeto foi entregue no apagar das luzes, sabe-se-lá como, mas foi. Meus cunhados só ganharam a liberdade na terça de noite, exatamente uma semana depois da confusão começar. E a Anvisa? Continuou sua turnê por aqui fechando farmácias, drogarias e laboratórios como se fossem bocas-de-fumo. Baixou até na Vila Rubim, curiosamente ali não prendeu ninguém e olha que tem erva por lá que até Deus duvida.


No final me deu uma puta revolta e até medo de ser brasileiro, de constatar assustado que a hipocrisia de meia dúzia pode solapar impunemente a liberdade e a dignidade de gente do bem como eu e como você. Se queriam fazer demagogia em ano de eleição - O QUE SUSPEITAMOS - deram um tiro de canhão no pé. Nesta situação que está aí eu não voto nem para síndico da Casa do Chapéu. Aliás, eles é que deveriam ir presos. Cadeia neles! Cadeia Neles!!!


Amigos se alguém por aí tiver o email do presidente Lula, da Dilma, do Ministro da Saúde e do rapaz do Balanço Geral, façam o favor de reenviar essa mensagem para eles. Ou melhor ainda: reenviem para todo mundo do mundo. Não é nada, não é nada, mas uma hora a gente vai sanar essa injustiça!