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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

DEBATES DA CULTURA: OLHANDO PRO PRÓPRIO RABO

Segue um texto do Diretor Teatral, Ator, Jornalista, entre outras coisas, Alvarito Mendes Filho. É um desabafo enviado como comentário ao texto que fiz de minha viagem à Belo Horizonte. Pensei em me aprofundar nessa questão que ele aborda, mas achei que o texto ia ficar grande demais e guardei para outra oportunidade, melhor que esse representante legítimo de nossa cultura tomou a frente.



DESPRESTÍGIO!

É lastimoso constatar o desprestígio do artista capixaba junto a alguns dos veículos de comunicação do nosso Estado. Uma situação que vem se agravando com o passar dos anos. Eu, que já estou na lida há mais de três décadas, sei bem o que estou afirmando. E não é por falta de informação que não se noticia boa parte da produção artística e cultural local.
Eu sou jornalista e trabalhei durante quase dez anos para o caderno de cultura de um dos grandes jornais do nosso Estado. Eu (da mesma forma que vários outros artistas capixabas) tenho por hábito preparar um release sobre os espetáculos do meu grupo, juntar a este algumas fotos (ou imagens de vídeo) e levar pessoalmente às redações das rádios, dos jornais impressos e dos telejornais. E mesmo assim, não raro, essas informações não são publicadas.
Pior! Já aconteceu de estamparem a foto de ator do nosso grupo, morto dois anos antes. E para não deixar dúvida, o jornalista ainda sapecou a seguinte legenda: “a peça tal, com fulano de tal, em cartaz hoje e amanhã”. O que se espera do jornalista é que pelo menos informe corretamente. Mas esse tipo de erro volta a acontecer agora.
Eu e o meu grupo, a Cia. Caras & Bocas, estreamos, no dia 17, a peça EDIPO REI, um texto clássico, escrito há dois mil e quinhentos anos atrás por Sófocles, o maior dramaturgo da Grécia antiga.
A montagem de um texto assim é um grande desafio para qualquer grupo e, acreditávamos nós, mereceria por parte dos nossos veículos de comunicação todo esmero e atenção. Até porque a produção desse espetáculo conta com um elenco grande, de doze atores, dirigidos por Renato Saudino, que é um dos mais conceituados diretores teatrais no Espírito Santo.
E mais. Junto com a estréia desse espetáculo, nós inauguramos um novo espaço cultural, uma empreitada quase sobre humana, considerando-se as imensas dificuldades que nós, artistas locais, enfrentamos para conseguir recursos para esse tipo de iniciativa.
Mas, apesar de tudo isso, apesar de todo o empenho demonstrado pelo meu grupo, pelo diretor Renato Saudino e por mim, alguns veículos simplesmente ignoraram a estréia de ÉDIPO REI e a abertura do novo espaço cultural. Ou deram apenas um textinho de serviço, burocrático, como se tratasse de mais uma iniciativa sem a menor importância. Talvez, para esses veículos, se trate de fato de uma iniciativa assim.
Mas houve também um erro grotesco informação. Certa emissora noticiou que a peça está em cartaz em Viana. Em todo o nosso material de divulgação consta que ÉDIPO REI está em cartaz, nas sextas e sábados, 20 horas, no Espaço Cultural ALVARITO MENDES FILHO, Avenida Brasil, 215, Jardim América, próximo ao estádio da Desportiva. Ou seja, em Cariacica; não em Viana.
Às emissoras de rádio e tevê e aos jornais que noticiaram corretamente o evento, nós agradecemos e pedimos que continuem a noticiar, pois só assim o público ficará sabendo do nosso espetáculo e do novo espaço cultural.
Quando aos demais veículos, eu só tenho a reiterar o que disse lá no início desse texto. É lastimoso constatar o desprestígio do artista capixaba junto a alguns veículos de comunicação aqui do nosso Estado. Pelo menos, até que nos provem o contrário.

ALVARITO MENDES FILHO
Vila Velha, 29 de setembro de 2010

***
Outra discussão com relação à cultura que ganhou força ontem na página do Facebook de Edu Louzada foi esse gráfico com o demonstativo da gigantesca disparidade de investimentos em cultura nos quatro estados da Região Sudeste. O gráfico não diz a fonte dos invenstimentos, mas suspeito que sejam  de estados e municípios: é duro mudar essa realidade, mas conhecê-la é já um grande passo. Clique na imagem para aumentar:
 

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

DEU NA COLUNA DO ANCELMO GOES


Violino de bamba

De Lula, a um grupo de cariocas adeptos de samba, na apresentação, no Municipal do Rio, de uma orquestra de crianças de uma comunidade popular.

— As crianças das favelas não querem mais saber de cuíca, surdo e tamborim. Querem somente violino, viola e violoncelo.

***

Para surpresa de alguns o estudo da música clássica vem ganhando importância junto ao chamado “povão” e se distanciando daquele primeiro momento pós-romântico da elite brasileira ao qual a música de concerto ficou atrelada por um bom tempo. Ópera, balé e música clássica eram desprezados pelos populistas e vistos como coisa de “gente rica”, os investimentos públicos iam para escolas de samba e times de futebol certamente para garantir votos da maneira mais óbvia possível. Essa é uma visão hoje ultrapassada, mas nem todos ainda se deram conta, especialmente os administradores públicos.

Elite o meu pé! Hoje em dia vale perguntar: quantos dos filhos de seus amigos ou dos “poderosos” que vocês conhecem estão estudando violino, violoncelo, canto ou piano? A maioria dos pais não incentiva, têm até medo que os filhos enveredem por esse caminho. Aquela coisa de estudar piano e ter música em casa ficou rococó. Acontece que alguém tem que fazer música doutor (e não falo aqui de música popular) e esse é um mercado que tem suas oportunidades como outro qualquer.

A ignorância grassa, mas os jovens estão ávidos por conhecimento. Já fiz palestras em vários “projetos sociais” que ensinam música e a molecada sempre me surpreende. Uma vez eu substituía o meu compadre Bené que estava em Brasília e fui falar de música para meninos e meninas pré-adolescentes em “condição de risco social”, terminologia que eles obviamente detestam. Uma vez foi divulgado um panfleto do projeto com esses dizeres e uma menina falou desconsolada: “Tio, tão chamando a gente de pobre!”

Achando que estava abafando, mostrei para a molecada algumas coisas bem básicas da música de concerto tipo sinfonia de Beethoven e concerto de Tchaikovsky e lá pelas tantas um me pediu para tocar Villa-Lobos que eles tanto ouviam falar e queiram muito conhecer. Elite o meu pé! A elite da música hoje são esses meninos! De vez em quando encontro algum deles hoje crescidinhos tocando com a Camerata do Sesi ou na Banda da PM, se continuassem alijados da cultura o que seria de seus destinos?

Vocês podem imaginar a alegria e o orgulho de uma criança dessas quando pega em casa o violino, uma flauta transversa ou um baixo para estudar? A auto estima vai ao espaço, sua vida muda e junto vai tudo ao seu redor, porque onde floresce o saber vem dignidade e alegria. Para mim essa constatação do Lula não foi surpresa, mas o presidente é apenas uma parte de um processo. E o resto do Brasil? Já falei antes, mas vou me repetir: não pode haver desenvolvimento intelectual sem estudo, ou pode?

terça-feira, 28 de setembro de 2010

REMINISCÊNCIAS E CONSIDERAÇÕES CULTURAIS

O Veríssimo tem um texto muito legal sobre uns amigos que tinham viajado numa excursão para a Europa e a madame contava animada que a viagem tinha sido ótima, cantaram pagode e samba o tempo todo naquele estilão estridente do patropi na estrada. O único que não tinha aproveitado nada da viagem era o bobo do marido dela que ficou o tempo todo enfiado em museus, concertos e galerias de arte.


Viajei para Belo Horizonte com o Coral da ArcelorMittal Tubarão que participou da oitava edição do Festival Internacional de Corais, um evento de grande porte que reuniu em torno de 150 grupos de vários lugares do Brasil e do mundo. Ao invés de alegria me bateu uma sensação triste em me ver imerso em tanta cultura, fiquei me perguntando do porque de nossa terrinha não ser assim também, pelo menos um pouquinho mais.  

Na portaria do hotel peguei o principal jornal local, era uma sexta feira então vinha um caderno de cultura que, incrível, tinha realmente eventos que podiam ser classificados no gênero. Uma página inteira anunciava um recital para piano de Schumann com intérpretes locais, fosse aqui se conseguissem uma notinha seria uma vitória. As grandes atrações – e tinha várias - não eram tratadas como notícia de mídia espontânea e sim anunciadas de forma comercial o que é muito mais lógico.

O primeiro compromisso do Coral foi na cidade de Sabará, mais precisamente no centro histórico - do qual eu em minha infinita ignorância nunca tinha sequer ouvido falar – e que tem uma lindíssima Casa de Ópera construída por volta de 1770 (!) O imóvel foi restaurado no início dos anos setenta do século passado e surpreende pelas dimensões, pela beleza e pelo cuidado na conservação. Imagine assistir lá alguma ópera, especialmente do barroco ou do classissimo.


Outro local em que o coral se apresentou foi o Museu Abílio Barreto onde em priscas eras funcionava uma fazenda, era um sábado a tarde e estava fervilhando de gente. A história de Belo Horizonte estava lá toda contada em grandes textos, vídeos e utensílios de época. Lembrei do Veríssimo e fui falando para o pessoal curtir a exposição enquanto esperava a vez de se apresentar, muitos não tinham se dado conta ainda de onde estavam.


De noite teve um show retrô com Kleiton e Kleidir e a banda 14 Bis, nem lembrava mais desses gaúchos tão famosos em minha adolescência, foi a primeira vez que os vi ao vivo. Canções tão importantes se perderam em minha memória, aquela alegria dos pampas, o sotaque, gostei muito mais deles do que dos anfitriões mineiros que, deixando o rock progressivo de lado, hoje parecem acomodados a ser uma espécie de Roupa Nova das alterosas.

Nas horas de folga o pessoal dispersou e eu me enfiei atrás de sebos, achei a Casa de Cultura, mas preferi conhecer o famoso Edifício Malleta que fica bem em frente e em seu segundo andar de lojas tem um porrilhão de sebos, brechós e uma deliciosa casa de aeromodelismo. Ah! Aqueles aviões, navios e outros breguetes que tanto gostava de montar até o fim da adolescência! Minha mãe me censurava, dizia que eu ainda brincava com aviõezinhos. Ô Dona Maria, só não o faço ainda hoje por falta de tempo, tenho outros hobbies.

No final do Festival rolou um grande encontro com a presença de Milton Nascimento o homenageado daquela edição. De uma grande distância diplomática o cantor aparentava não estar muito que ligando pra coisa. Previsto para ser apoteótico o grand finale aconteceu na Praça da Liberdade que estava lotada por pessoas ávidas por ouvir um tostão daquela voz tão intimamente ligada à cultura das Minas Gerais, mas “Bituca”, frustrando os presentes, não deu pelota limitando-se a acenar como um estadista da música. 


Chegando em casa o mundo me caiu pela cabeça. Ilhados outra vez, eu e Alice começamos a tocar ao piano uma sonatina a quatro mãos de Mozart, foi a maneira que ela achou de me consolar. Pensei em não escrever nada, pensei até em não escrever mais, mas sinto que pelo menos a Letra Elektrônica não pode parar. No museu de Beagá achei um lindo quadro de Homero Massena, lembrei que seu corpo jaz enterrado num pequenino cemitério no centro de Vila Velha, onde, segundo ouvi dizer, sua tumba anda mal cuidada. 

Precisamos cuidar de nossos artistas e da nossa memória, nós precisamos de muito mais, não só de ações, mas de uma nova mentalidade. Evito comentar a respeito das eleições que estão chegando, tenho meus candidatos de fé, amigos de coração e sei que vocês talvez também tenham os seus. Então, por favor, considerem votar nas pessoas íntegras que têm intenção de velar pela educação, por nossa história e nossa cultura.

Quando estava pra lançar o Livro do Pó fiquei procurando um trecho da bíblia que falava do Pó ao Pó e, pensando que era de Eclesiastes não encontrei, por acaso hoje topei com ele através de outro que é mais significativo:

“No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás.” Genesis, 3-19.

Vamos tentar fazer alguma coisa por nosso mundinho enquanto ainda estamos por aqui, só nós temos o poder de mudar essa situação em que nos achamos. Ou vocês pensam que vai ser o Tiririca?

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

DICAS DE COMPORTAMENTO PARA OTÁRIOS


Fui pegar um café e tinha um sujeito parado bem em frente à grande cafeteira prateada. O cara se servia em um tempo todo próprio, colocava açúcar no copinho de plástico em lentas colheradas e misturava o líquido distraído como se morasse na outra face da lua. Eu estava bem atrás esperando para me servir, de sua parte não houve o menor esboço de reação como costuma acontecer no mundo normal. A maneira como ele me ignorava começou a me incomodar, alguns hoje o chamariam de “sonso”, termo que não gosto e também não sei por que.

Já que estava invisível resolvi contornar o “problema”, dei a volta e peguei um dos copinhos no qual coloquei três gotas de adoçante esperando daí ser percebido. Ainda como se eu fosse invisível, após terminar de dar umas cinqüenta voltas no copinho, o cara finalmente saiu de frente da cafeteira. Nessa altura eu já estava considerando a possibilidade dele tomar o café ali mesmo. Quando fui me servir é que descobri a razão de sua tranqüilidade bovina: não tinha mais café!

Acho louco encontrar pessoas que deliberadamente colocam de lado toda cortesia, educação e consideração com estranhos. Custava o cara ter me dito que o café tinha acabado? Será que a minha infinitamente pequena decepção fora razão premeditada de divertimento para o sujeito? Foi o que pareceu.

No restaurante self-service estava lá eu na fila como todo mundo, me servindo de saladas e outros alimentos vegetarianos. Logo atrás tinha uma senhorinha apressada (estabanada?) que de vez em quando esbarrava em minhas costas com o prato ou o corpo. Pode até não ser, mas sua mensagem subliminar era: “Anda logo seu sonso que eu estou com pressa!” Depois da terceira ou quarta futucada me voltei sorrindo que nem um galã e falei com voz macia:

- Por favor senhora, pode passar na minha frente. – O mais engraçado é que a vi ficar quase sem graça, o que não a impediu de passar e começar a esbarrar o próximo da fila à sua frente, mas aí o problema não era mais meu.

Há muito tempo em nosso mundo a gentileza e a educação foram sendo substituídas pela competição desenfreada. Ser educado, dar a vez, oferecer a outra face, virou atitude suspeita, sinônimo de otário; é preciso sair na frente, ser o primeiro em tudo, mesmo que o respeito e a consideração sejam deixados de lado. Vemos muito disso especialmente no trânsito. Por que será que tantos correm, fecham a passagem e se comportam como formiguinhas desembestadas?

Um dia eu estava manobrando o carro aqui perto de casa, uma rua tranqüila de Bento Ferreira. Do nada apareceu uma mulher à mil por hora, freou bruscamente a ponto de quase bater e enfiou a mão na buzina. Tomei um susto danado e reagi sem pensar: deixei o carro parado onde estava, abri a porta e rosnei pra ela:

- O quê que foi dona? – Ela se encolheu, mas gritou de volta:

- Você não deu seta! – Pois é: a culpa era minha Mané, eu estava errado. Sua corrida desembestada naquela ruazinha tranquila, sua atitude agressiva eram causadas pela minha “barbeiragem”. Voltei e terminei de estacionar pensando: “era só ela ter desviado um pouco”. Pelo menos aquele pequeno susto eu devolvi.

Tem gente que não leva em consideração o risco envolvido na grosseria gratuita. E se eu, ao invés de um otário, fosse um pistoleiro sanguinolento, bandido armado desses que andam soltos por aí atrás de confusão? Pra quê dar chance ao azar? São essas pessoas que chegam em casa reclamando da violência, sem nem sequer imaginar o quanto estão contribuindo para piorar esse mundo do qual tanto se queixam e que também são as mais resistentes na hora de aceitar aquelas mudanças necessárias que começam dentro de cada um. 

Não sei como terminar esse texto de forma estrambótica, mas o quis compartilhar com vocês. Vamos tentar nos comportar bem, na melhor das hipóteses vocês correm o risco de virar  assunto na Letra Elektrônica e isso pode não ser legal para a lataria do senhor ninguém... Mister Nobody (sic).

terça-feira, 21 de setembro de 2010

TODO MUNDO DIZ QUE GOSTA DE MÚSICA

Estou para “dar um pulo” em Belo Horizonte, cidade que visitei em algumas ocasiões sui generis da vida: campeonato de paraquedismo no cucuruto de um bairro chamado Carlos Prates, show do Kiss no Mineirão (1983), aliás, a única vez que entrei em um grande estádio de futebol. Acabei lembrando de um amigo daquelas terras, um pouco também por causa de meu texto passado. Como estarei viajando nos próximos dias, vou adiantar a crônica de domingo, se bem que estou numa fase escrivinhatória daquelas, não duvidem se mais vier antes disso:


Frederico foi meu professor de harmonia, sim, o tão detestado estudo da “gramática” musical. Tocar um instrumento pressupõe diversão, em outras línguas o termo é equivalente a brincar ou jogar, a maioria dos estudantes detesta encarar a fundo a teoria do som. O cara do texto passado me disse sem o menor escrúpulo que fora pesquisar na internet sobre livros de harmonia, talvez tenha pensado que eu também não fizesse idéia de que catzo fosse. E eu que uma vez comecei a traduzir o tratado de Rameau? Parei por falta de tempo e porque o Bohumil Med disse que tinha que ser direto do original em francês senão pagava royalties, que nem a Petrobrás...


Meu professor de harmonia, o Frederico, era um cara totalmente diferente do restante da humanidade que eu conhecia: tinha uns trinta anos, só que postura de cento e cinquenta e atitude de nove para certas coisas do mundo. Deu pra entender? Tem muita gente assim. Usava óculos e uma sonora barba, fazia o estilo intelectual do século dezenove. Até na hora de rir ele era professoral, parecia um Papai Noel: hou, hou, hou! Às vezes eu falava sobre música popular e me admirava porque ele afirmava não conhecer absolutamente nada.


- Mestre, você nunca foi a uma discoteca? Não teve adolescência não? - Cofiando a barba e sorrindo como um velho sábio retrucava com uma pontinha de orgulho:


- Minha adolescência eu passei debruçado sobre as sinfonias de Beethoven. - Gostava de contar da vez, quando tinha dez anos, em que conheceu o maestro Guerra Peixe e sapecou pra cima deste: - Beethoven foi o maior sinfonista de todos os tempos! - Depois explicava que esse compositor hoje tão esquecido fora educado e lhe falara das sinfonias de Mahler, Brahms, Bruckner, entre outros. Beethoven era imenso, mas não era o único. Nos anos futuros a paixão de meu mestre na música seria Edgard Varése, não por acaso, o mais inescrutável entre os incompreensíveis.


Frederico morria de rir com os termos que eu usava em meus escritos, ditos escrotos, uma vez teimou comigo que o termo “patropi” não existia e queria saber se era um neologismo que eu tinha inventado. Falava sério... Ora, a palavra não constava mesmo do Aurélio e o mestre não se sentia nem um pouco obrigado a conhecer Jorge Ben e muito menos Wilson Simonal.


Uma vez era sábado a tarde e estávamos estudando na sala, se não me engano, a partitura de Ein Heldenleben de Strauss e rolava lá no morro Jesus de Nazaré uma puta batucada, funk, pagode, algo assim bem “popular”. Sem conseguir me concentrar, lá pelas tantas falei que “aquela música” estava enchendo o saco e imediatamente fui repreendido pelo professor:


- Não, não, não diga isso... - Pensei que ele fosse começar um dos seus discursos sobre a importância da diversidade cultural e a liberdade das manifestações populares que influenciaram a criação dos grandes gênios e a definição da estética no raio que os parta. Daí perguntei:


- Não o quê mestre?


- Não chama isso de música não maluco!

domingo, 19 de setembro de 2010

"OXIGÊNIO" - A GENEALOGIA DOS BABACAS

Tem coisas que a gente escuta por aí que nos tiram o fôlego e a presença de espírito: ficamos sem nem saber o que dizer. Eu estava num lugar muito bem longe daqui e fui apresentado a um senhor sorridente e falador, daqueles que se envolvem com a coisa pública porque estão convencidos de que o mundo realmente precisa muito de sua ajuda. Conheci várias pessoas assim em minha passagem por empresas públicas e privadas: presunçosos, arrogantes, egomaníacos, sem a mínima percepção do que realmente são e do quanto são mal vistos e criticados.

Conversava sobre os babacas com minha mulher, dizia que os sujeitos ricos e inescrupulosos eram uns babacas, ela aparteou lembrando que estes pelo menos faziam alguma coisa e ganhavam mais dinheiro do que muita gente boa inteligente. Babacas mesmo são esses caras que, apesar de tão brilhantes, não conseguem equalizar a vida financeira. Retirei uma tréplica da manga. “Babe: tem sujeitos que são babacas porque não fazem nada da vida e isso é certo. Têm outros que seria muito melhor que não fizessem, mas eles teimam em fazer e por isso mesmo serão sempre lembrados como uns babacas.”

Voltando ao tal senhorzinho daquela terra distante do primeiro parágrafo, fui apresentado como escritor e comentei que estava com um projeto para fazer uma segunda edição do meu livro sobre a OFES, atualmente esgotado e que tinha o inscrito em uma determinada Lei de Incentivo. Imediatamente tomei um balde de água fria:

- Ah, mas num vai passar não.

- Porque não?

- Ora, uma das principais regras para edição de livros nessa Lei é que seja inédito. Seu livro é inédito? – Eu tinha acabado de dizer que era uma segunda edição, mesmo assim balancei a cabeça negativamente. O sujeito prosseguiu falante e de certa maneira satisfeito por ter percebido em meu rosto aquele lampejo de decepção. Sua capacidade de causar esse sentimento nas pessoas lhe conferia uma sensação de poder da qual só babacas experientes têm capacidade de desfrutar. Pior foi o exemplo que ele me deu:

- Você veja só: eu fiz parte da comissão que selecionava esses livros não faz muito tempo, teve uma vez que me apareceu por lá um tal dum “livro de harmonia”. Sabe o que eu fiz? Fui pesquisar na Internet, descobri um monte de outros livros de harmonia e desclassifiquei o espertinho! - Minha surpresa foi tanta que fiquei mudo, aliás, o que dizer perante essa mega ignorância? Quais são os caminhos que levam à comissão de literatura uma pessoa que não sabe distinguir uma obra de um gênero? É esse o tipo de babaca que deveria ficar dentro de casa, o babaca que nem sabe que é babaca e que ainda exibe desserviço com orgulho.

- Contei a história para um amigo, dizendo de minha estupefação, afinal seria o mesmo que dizer que não se deve escrever um romance policial porque já tem um monte de outros.

- E o que você falou pra ele?

- Eu não falei nada, eu nem soube o que dizer. – Daí ele emendou solidário:

- A gente fica sem ar!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

PAUL RECEBE O CANTO EM TODOS OS CANTOS

O Coral ArcelorMittal Tubarão está de malas prontas para participar do Festival Internacional de Corais – FIC que acontece de 17 a 26 de setembro em Belo Horizonte e algumas outras cidades das Minas Gerais. Esta é a oitava edição do FIC que neste ano homenageia Milton Nascimento. Vários corais importantes de todo o Brasil tomam parte na programação, além de grupos de países como Venezuela, Equador etc.


Dentro da programação do Coral ArcelorMittal Tubarão no FIC estão previstas três participações individuais:

· 24 de setembro: Teatro Municipal de Sabará, 20horas

25 de setembro: Feira de Alimentação Tom Jobim, a tarde.

· 26 de setembro: Basílica de Lourdes, 10:30 da manhã.



No próximo domingo tem mais uma edição do projeto Canto em Todos os Cantos que estreou com sucesso na Igreja do Rosário no último dia 12 de setembro (foto acima). Desta vez o concerto do Coral ArcelorMittal Tubarão segue para a Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus em Paul, Vila Velha. A apresentação será dia 19 de setembro (domingo que vem) e terá início antes da celebração, às 18 horas e 30 minutos com entrada franca.


O repertório vai do sacro ao popular com peças de Schubert, Smetana e até sambas e congos numa roupagem muito característica que o público poucas vezes tem a oportunidade de escutar. Um dos atrativos dessa apresentação é que os templos religiosos são acusticamente apropriados para as apresentações corais que, por sinal, tiveram início no seio da própria igreja. O canto nestes templos tem uma reverberação muito especial e grandiosa inimitável e, portanto, imperdível.


Em outubro o projeto Canto em Todos os Cantos, segue para o município de Serra onde já tem agendados dois concertos do Coral ArcelorMittal Tubarão. Segue a programação:


· 17 de outubro: Projeto “Canto em Todos os Cantos” na Igreja São Francisco de Assis, Laranjeiras, Serra. 20 horas.

· 24 de outubro: Projeto “Canto em Todos os Cantos” na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, na Serra. 20 horas.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

DUAS ESTRÉIAS IMPERDÍVEIS!

Essa semana tem duas estréias imperdíveis que eu, curiosamente, acabei acompanhando mais ou menos de perto desde o início. A primeira que comento é a ópera Suor Angélia de Pucini, uma peça que originalmente faz parte um set de três óperas, o chamado Tríptico. É encenado por um elenco só de cantoras e que tem a minha caríssima esposa Alice Nascimento como uma das solistas, por isso, desde que Alice entrou pro grupo eu já baixei duas versões filmadas e um disco e já a ouvi em diversas situações.

Felizmente, desde a recente ploriferação dos incentivos culturais as encenações do gênero são cada vez mais frequentes na cidade. Tivemos A Viúva Alegre no ano passado e um pouco antes La Serva Padrona, não lembro bem quando, sei que fui ver e adorei. O público certamente também vai se deliciar, serão três representações com ingressos a preços mais que populares, clique no banner abaixo para ler as informações:


A estréia da peça Édipo Rei, justamente no intervalo de sexta da ópera Suor Angélica, de quebra ainda inaugura o novo espaço cultural Alvarito Mendes Filho no bairro Jardim América. Desde o início da preparação desta iniciativa Alvarito tem nos provido de informações e expectativas à respeito, é mais uma porta que se abre para o teatro e outras iniciativas artísticas, numa região ainda inexplorada e carente desse tipo de atividade.

Faz pouto tempo vimos com tristeza a demolição do Teatro Edith Bulhões, também conhecido como SCAV. Houve protestos e reclamações da classe mas não teve jeito, hoje no local restam apenas os escombros do passado. Minha sugestão positiva é, como na arte, imitarmos a vida e aceitarmos sua transitoriedade, afinal todos vamos partir um dia. Precisamos lembrar de cuidar com carinho das coisas novas que surgem para que vinguem e que nos tragam o futuro que nossa cultura merece.

A atual versão desta tragédia de Sófocles foi feita por Alvarito Mendes Filho e Renato Saudino, - também diretor da peça - tendo por base a tradução inglesa de Sir. Richard Jebb e algumas adaptações e/ou traduções brasileiras e portuguesas. A peça ÉDIPO REI estreia na próxima sexta-feira, às 20 horas, na Av Brasil, 215, Jardim América, Cariacica. Próximo ao estádio da Desportiva. Os ingressos custam R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia e antecipado). Segue abaixo a foto do elenco:


sexta-feira, 10 de setembro de 2010

QUERIA TER ACEITADO AS PESSOAS COMO ELAS SÃO...

Todo mundo reclama do mau atendimento em Vitória, isso é coisa tão antiga que já virou característica de nossa cultura como a panela de barro e a moqueca. Bons funcionários custam caro, com os impostos até os maus custam, e os empresários não querem ou preferem não investir nesses detalhes. Um dia desses vi um grupo de pessoas no Facebook falando mal do Cinemark, cujo atendimento já até valeu post inteiro na Lektra: para evitar aborrecimentos como filas e defeitos constantes raramente vou lá, apesar de adorar cinema e este ser o mais próximo de minha casa.


Minha referência de bom atendimento era São Paulo capital, sempre que ia lá ficava impressionado com o nível cultural dos atendentes, a polidez, a presteza, tudo muito bacana e diferente daqui. Passei a acalentar o sonho de um dia ver Vitória chegar naquele padrão de excelência e para minha decepção, na última vez em que estive na “terra da garoa” pude constatar que é bem mais comum importar deficiência do que exportar qualidade. Depois de tantos textos sobre essa característica capixaba (Zé da Pizza, O caso das bisnagas etc.) tenho uma nova história pra contar aos amigos...


Ontem apresentei a colação de grau de uma turma que dei aula no semestre passado, os formandos em Biblioteconomia 2006/1. No final da cerimônia estava previsto a aluna Ester cantar a música Epitáfio e ela me pediu para a acompanhar, levei meu violão e mais algumas tralhas na manga porque sei que na maioria dos lugares não têm extensão, cabos e outros equipamentos lógicos de se ter já que o evento estava acontecendo no “Teatro” da UFES. Chegando lá foi batata, procurei o pessoal do som do teatro e no palco encontrei um rapaz, literalmente, olhando pro teto.


- Ôpa amigo, tudo beleza? Você cuida do som aqui do teatro? – Sem retribuir minha saudação ele confirmou me olhando de menesgueio: era como se eu fosse mais um pentelho dos que teimam em aborrecer sua gloriosa existência. Daí emendei: - Eu trouxe um violão para usar e queria... – Ele nem me deixou terminar a frase.


- Você trouxe cabo? – Claro que eu trouxera, mas a maneira como ele falou me deixou grilado. Não conhecia o cara, nem me lembro de ter elogiado sua mãe. Tava sendo grosseiro por causa de quê? Além do mais havia uma espécie de expectativa baixo astral em sua fala, me deu a impressão, que agora é certeza, de que se eu não tivesse levado o cabo de alguma maneira isso ia lhe ter feito um bem danado.


Enquanto escrevo toca o celular, tive que parar, era da Vivo oferecendo cartão de crédito. Cara: detesto quando me ligam sem eu saber quem é me chamando de seu Djalma. Tem vezes que esqueço meu nome de batismo e quase não respondo por pirraça ou preguiça. Falei que não queria cartão coisa nenhuma e o cara desembestou a argumentar que nem uma metralhadora – se é que isso argumenta -, o jeito foi bater o telefone na cara do infeliz. Lembrei que no início da conversa ele falou que a ligação estava sendo gravada... Não sei pra quê.


Aliás, não tinha saído uma Lei que proibia esse negócio de telemarketing? É como essa coisa das propagandas políticas e a poluição sonora: não tinha sido proibido? Parece que as Leis só pegam quando visam restringir nossa liberdade auto-destrutiva ou encarecer e dificultar a vida, como esta última da cadeirinha para crianças que custa uma nota... Deste susto eu não morro, mas voltando ao Teatro da UFES:


Mostrei o cabo pro rapaz do som e ele, sem se mexer de onde estava, apontou para uma caixa lá na parede da coxia com umas trinta entradas.


- Não tem mais perto do palco não? Meu cabo não vai chegar tão longe.


- Não. – Pensei em perguntar então se no Teatro não teria um cabo maior pra emprestar, mas do jeito que a coisa ia achei melhor fiquei quieto.


- Então em qual entrada eu ligo?


- 20 e 21.


- Tem certeza? Meu cabo é banana e não estou vendo nenhuma entrada assim ali. – Estava escuro na coxia, o simpático repetiu entre os dentes o que já dissera e foi saindo de perto antes que eu, o que seria lógico, pedisse para ele me ajudar.


Fui olhar a caixa de perto e achei as entradas, pluguei minha viola na 21 e me preparei para a apresentação que foi um sucesso, mas não graças à equipe do Teatro colocada à disposição dos formandos. Sabe qual é o detalhe? O aluguel daquele espaço não é barato e, sim, aquela má vontade toda era remunerada capitão! O que, aliás, não pode fazer diferença, porque no final das contas todo serviço é remunerado. A gratidão mesmo é uma forma de pagamento que me apraz, assim como costumo retribuir grosserias com textos pela Internet. Além de ser divertido dá um resultado...


Bom, vou parar de novo porque agora apareceu um rapaz do IBGE, hoje pareço estar condenado a dar atenção às pessoas que não conheço. Fico mal humorado como o cara do teatro, a diferença é que não estou prestando serviço, nem pedi que me procurassem. Encontro na portaria um garoto usando um grande colete azul empunhando um breguéti eletrônico da mesma cor, que quando me viu disparou à queima roupa: - O Senhor se considera pardo ou branco? - Pensei em responder que me considerava amarelo, mas para quê estragar meu happy hour?