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domingo, 19 de setembro de 2010

"OXIGÊNIO" - A GENEALOGIA DOS BABACAS

Tem coisas que a gente escuta por aí que nos tiram o fôlego e a presença de espírito: ficamos sem nem saber o que dizer. Eu estava num lugar muito bem longe daqui e fui apresentado a um senhor sorridente e falador, daqueles que se envolvem com a coisa pública porque estão convencidos de que o mundo realmente precisa muito de sua ajuda. Conheci várias pessoas assim em minha passagem por empresas públicas e privadas: presunçosos, arrogantes, egomaníacos, sem a mínima percepção do que realmente são e do quanto são mal vistos e criticados.

Conversava sobre os babacas com minha mulher, dizia que os sujeitos ricos e inescrupulosos eram uns babacas, ela aparteou lembrando que estes pelo menos faziam alguma coisa e ganhavam mais dinheiro do que muita gente boa inteligente. Babacas mesmo são esses caras que, apesar de tão brilhantes, não conseguem equalizar a vida financeira. Retirei uma tréplica da manga. “Babe: tem sujeitos que são babacas porque não fazem nada da vida e isso é certo. Têm outros que seria muito melhor que não fizessem, mas eles teimam em fazer e por isso mesmo serão sempre lembrados como uns babacas.”

Voltando ao tal senhorzinho daquela terra distante do primeiro parágrafo, fui apresentado como escritor e comentei que estava com um projeto para fazer uma segunda edição do meu livro sobre a OFES, atualmente esgotado e que tinha o inscrito em uma determinada Lei de Incentivo. Imediatamente tomei um balde de água fria:

- Ah, mas num vai passar não.

- Porque não?

- Ora, uma das principais regras para edição de livros nessa Lei é que seja inédito. Seu livro é inédito? – Eu tinha acabado de dizer que era uma segunda edição, mesmo assim balancei a cabeça negativamente. O sujeito prosseguiu falante e de certa maneira satisfeito por ter percebido em meu rosto aquele lampejo de decepção. Sua capacidade de causar esse sentimento nas pessoas lhe conferia uma sensação de poder da qual só babacas experientes têm capacidade de desfrutar. Pior foi o exemplo que ele me deu:

- Você veja só: eu fiz parte da comissão que selecionava esses livros não faz muito tempo, teve uma vez que me apareceu por lá um tal dum “livro de harmonia”. Sabe o que eu fiz? Fui pesquisar na Internet, descobri um monte de outros livros de harmonia e desclassifiquei o espertinho! - Minha surpresa foi tanta que fiquei mudo, aliás, o que dizer perante essa mega ignorância? Quais são os caminhos que levam à comissão de literatura uma pessoa que não sabe distinguir uma obra de um gênero? É esse o tipo de babaca que deveria ficar dentro de casa, o babaca que nem sabe que é babaca e que ainda exibe desserviço com orgulho.

- Contei a história para um amigo, dizendo de minha estupefação, afinal seria o mesmo que dizer que não se deve escrever um romance policial porque já tem um monte de outros.

- E o que você falou pra ele?

- Eu não falei nada, eu nem soube o que dizer. – Daí ele emendou solidário:

- A gente fica sem ar!

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