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sábado, 20 de dezembro de 2008

QATRO ANOS VELOZES E CURIOSOS

Ontem era a tarde de primeiro de janeiro, a cidade estava em polvorosa. Tinha muitas razões para aquele vuco-vuco, além, obviamente, da festa de passagem do ano. Que horas será que eu acordei? Não sei, nem faço idéia. Fato é que estava no lugar certo, na hora em que tinha que estar. De terno e gravata, embrulhado pra presente de grego, pelo menos não usava colete à prova de balas, acreditem, teve quem precisasse.

Teve também quem nem imaginava de precisar, mas tombou baleado, antes de assumir seu cargo como vereador. Não sei se por causa das flores, mas sempre achei atmosfera de velório uma coisa sufocante, talvez eu tenha ido a muitos enterros de gente conhecida... Bem fazia calor naquele final de tarde e isso conta muito também, quando falamos em clima sufocante me vêm à memória lembranças daquele dia.

A viúva aparentava tranqüilidade e auto-controle, o que gerou comentários maldosos, nessas horas as multidões querem ver familiares se desgrenhando desesperados, gritos de revolta, crises de choro, interpretaram seu torpor como torpeza. A pessoa não tem nem o direito de ficar chocada e no final das contas: não reagir é também uma forma de reação. No livro O Estrangeiro, Camus coloca o personagem principal numa situação dessas, testemunhas da tranqüilidade perante a morte de sua mãe interpretam-no como um homem sem sentimentos.

Coisa parecida acontece com a música e com as artes em geral, o povo adora istrionismos e exibições esgueladas de trincar cristal, quem já foi num encontro de seresteiros amadores sabe bem do que estou falando. Até no teatro, quem exagera aparece mais e o pessoal acha mais fera. Nossa sociedade hedonista valoriza a grandiloqüência e a histeria em detrimento da naturalidade e muitas vezes da realidade também, é como a “Paz do Senhor” dos assembleianos sobre a qual já até escrevi.

A posse dos novos vereadores transformou-se num tumulto, não bastasse a solenidade em si ainda havia a comoção popular. Não, é claro que aquele assassinato não iria dar em nada nunca, esse tipo de coisa já se tornou uma rotina no Espírito Santo. Como o ambiente da Câmara Municipal onde acontecia a posse dos vereadores e do prefeito era muito pequeno, armou-se um grande palco do lado de fora para o discurso das principais autoridades.

Acreditem ou não, depois de toda a confusão acontecida até aquele momento, na hora de começar o evento principal acabou, sumiu, faltou energia elétrica! Não, não foi sabotagem de algum mau perdedor, foi um baita de um blecaute, um apagão que deixou a região sudeste inteira sem luz. De cima do palco de uns dois metros e meio de altura resolveu-se fazer a cerimônia no gogó mesmo, lá embaixo espremiam-se umas duas centenas de pessoas que só aquietaram para poder ouvir os discursos.

Não lembro quase nada do que se falou naquele início de noite sufocantemente quente, discurso é recitação de um repertório, se você assistir sua banda favorita tocar cinco vezes toda semana, depois da terceira vez já não vai escutar mais nada. Mas teve a gafe cometida pelo Vice-Prefeito que, vindo de um mandato na câmara municipal, na hora de falar se enrolou e disse que tomava posse como “Vice-Vereador”. Maurício Gorza era useiro e vezeiro dessas emboladas, o povo de Vila Velha tem o apelido de Canela Verde e em uma de suas falas ele ainda se dirigiria ao povo o chamando de Canela-velha.

Foram quatro anos velozes e curiosos, parecia tão distante esse 2009 e agora está ali na outra esquina. Imagine desenvolver um trabalho por tantos e tantos meses, montar uma equipe, aprender com erros e acertos, seus e de outras pessoas e quando está tudo azeitado e funcionando perfeitamente o seu tempo acaba! É de deixar qualquer um doido. Sem falar que lugar de trabalho é uma coisa que encroa na gente, você se apega às pessoas, à sua mesa que não é sua, o computador que é muito menos e tem que aceitar e entender numa boa que o prazo de validade é esse mesmo.

Quantos eventos foram feitos ao longo desses anos? Os que acusavam Max Filho de não trabalhar – como o curioso personagem Jardel dos Idosos – só falavam isso porque não trabalhavam com ele. Lembrando dessa figura esquizóide da política Canela Verde, de cara me vem à mente a ocasião em que ele invadiu o evento de entrega das obras de reforma da Rodovia Darly Santos a fim de “protestar”. Lembro bem do momento em que a música do trio elétrico foi se aproximando e atrapalhando a cerimônia, então o vi sentado na carona já de microfone em punho lançando ameaçadores olhares de "fera ferida" a todos.

Por ser um evento do Governo Estadual eu não estava envolvido diretamente na cerimônia, mas os responsáveis pela organização – meus queridos amigos Lucia Nascimento, Eduardo Santos e outros - me pediram para ajudar a reconhecer as autoridades locais, então fiquei bem na cena do crime. Tenho uma foto em que aparece o pau quebrando embaixo logo à frente da mesa, alguns dos principais políticos do estado com expressões espantadas e eu, lá atrás, rachando o bico. Na época até tive medo de ser advertido por minha “falta de decoro” perante tamanha fuzarca.

Mas Jardel conseguiu chamar atenção, nessa arte ele é um mestre. Com essas suas extravagâncias conseguiu até se eleger deputado, é o que eu já falava mais acima, nesse culto ao escândalo ao invés de se queimar o cara cresce. Quando cheguei em casa sua figura debutava nos principais canais de televisão, dizendo que tinha apanhado até de mulher. Devo acrescentar que muitas delas estavam bem acima dos sessenta anos, o que foi uma espécie de forra dos idosos, uma coisa kármica. O mais engraçado de tudo é que, caído no chão tomando bordoada de tudo quanto era lado, o cara xingava suas agressoras de “viadas” (Suas viadas, suas viadas!) Isso lá é xingamento que se faça? É como querer ofender um cara qualquer chamando de “sapatão” (?) Ou não, enfim, nem sei.

Mas então, o tempo passou, a barriga de Isabel cresceu... Rarararara! Queria poder dizer tudo, mas como resumir tantos anos em poucos parágrafos? Sei que o Brasileiro é mais esperto do que Nietzche, quando cunhou a expressão: o que não mata engorda. Sim, porque aquilo que não nos mata nos torna mais fortes. Com essa minha experiência no serviço público aprendi que o mais importante permanece sendo a fidelidade e os laços afetivos. Estranhei muito o jeito de condução das coisas, tão diferente do mercado em que eu atuava antes. Na política muitos têm a tendência a dizer sim, mas esse sinal verde tem a força de um amarelo. Interpretar essas variantes entre solo firme ou areia movediça é uma arte também, mas quem disse que no resto do universo existencial não é diferente?

Tome por exemplo as estéreis lutas de poder dentro de insignificantes grupos religiosos, muitas vezes são brigas infernais apenas pra mostrar quem é que manda, não têm nada de real valor em jogo. O mundo é político. Outra coisa que aprendi é que se não aceitarmos a responsabilidade pela gestão de nossos interesses, abriremos espaço para os que têm muito interesse em decidir as coisas por nós. Confesso, entrementes, que ainda não consegui me tornar politicamente responsável, estou até trabalhando isso com minha analista, a Dona Bohemia – aqui me tens de regresso - mas ainda não consegui tomar parte nem das reuniões do condomínio onde moro.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

"NOITE FELIZ" AUTO DE NATAL


Tô aqui lembrando como é que eu comecei a sentar o dedo na Letra Elektrônica, foi há uns seis meses atrás, naquele dia dos namorados. Fomos jantar no tal do Zé da Pizza e o cara tava fazendo uma "promoção", cobrando cinqüenta “real” o cabeção, porque antes do crack da bolsa podia-se tomar dessas liberdades. Neste último domingo estivemos também numa abominável, porque estrambótica, Estância no Vale do Moxuara que me fez lembrar aborrecimentos passados, mas prometi não escrever a respeito até as mordidas (picadas?) de borrachudo pararem de coçar.

O Zé da Pizza proíbe criança de entrar em seu estabelecimento e agora me ocorre que, ao invés de ter me espanado de lá, aquele barbudo mal humorado devia ter era me barrado, afinal, não tenho a menor mentalidade. Por falar nisso, já dizia São Manuel Bandeira: Deus conserve as minhas criancices! Mas das coisas ruins podemos tirar boas experiências, pensando nisso: será que alguém já montou um blog com o nome de Síndrome da Pollyana? Digo isso porque depois de não comer a pizza que o Zé amassou, fiz um texto esculhambante e enviei para todos meus amigos, não demorou e alguns começaram a me intimar a escrever com regularidade, então aqui estou de novo e a culpa é de vocês.

Mas desta vez tô chegando em cima da hora pra fazer um convite à essa juventude semi-nova de retina descolada, esses filhotes da década perdida e seus rebentos, demais familiares e amigos. Na despedida de 2008 e também de oito anos de administração do Prefeito Max Filho teremos muitos eventos acontecendo na cidade de Vila Velha, destes quero destacar a apresentação do Auto de Natal intitulado “Noite Feliz”. A peça tem texto e direção de Alvarito Mendes Filho, Secretário Municipal de Cultura e, como o nome já diz, é uma adaptação da tradicional história do nascimento de Cristo.

O elenco do Auto de Natal é praticamente composto por servidores da Prefeitura de Vila Velha, eu mesmo participo como São José, Dona Sirlene Juffo faz o papel de Isabel, entre outros atores amadores e profissionais que voluntariamente colaboram para a realização desta singela encenação natalina. O Auto é uma adaptação livre, coloquial e atual da história que está na bíblia: tem o presépio com José, Maria e Jesus no Estábulo, os Reis Magos, Herodes e até uma linda árvore de natal humana, culminando com a chegada do Papai Noel. Há coisa de uns três anos atrás (vide foto) foi encenado na mesma Praça Duque de Caxias com enorme sucesso.

Confesso que, todas as vezes em que participo do Auto de Natal, tenho uma enorme vontade de transformar essa história em comédia, fico sempre imaginando uma situação engraçada, ou uma maneira de surpreender o público com alguma tirada de non sense. Felizmente, nenhuma das minhas idéias iconoclastas (blasfemas diriam alguns) foi aceita pelo diretor. Quem sabe algum dia eu não peço autorização a Alvarito e monto uma versão cômica da peça? Pena que os católicos geralmente não vejam com tanto bom humor as piadas feitas em relação às coisas consideradas santas e espiritualizadas. Eu sempre achei que ter espírito e ser engraçado eram coisas semelhantes. Mas quem sou eu pra achar alguma coisa? Então vamos lá prestigiar o trabalho desse seu amigo e seus coleguinhas, é um programa muito bacana pra se levar especialmente aquela criança feliz que quebrou o nariz, foi pro hospital tomar Sonrisal...

“NOITE FELIZ” AUTO DE NATAL
Texto e Direção de Alvarito Mendes Filho

Onde: Praça Duque de Caxias
Centro de Vila Velha-ES
Datas: 19 e 20 de dezembro
Horário: Sempre às 20 horas
Entrada Franca.

Elenco: Vanussa Andrade, Juca Magalhães, Marcelo Zan, Ilma Capaz, Carina Tonassi, Mayara Bacelar, Hingridy Fassarela, Wellington Suisso e Sirlene Juffo (servidores da prefeitura de Vila Velha), Mariana Veiga, Jocleiton Oliveira, Claudia Gomes, Alexandre Toster, Thiago Mothé Guimarães e Edwaldo Almeida.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O INFERNO SÃO OS OUTROS!

Mudança de nome e de visual no blog, já é a enésima vez que a poeira me incomoda, a cultura rocker passa por algo do gênero, vai ver a blogger também. Por essas e por outras escolhi uma fotinha semi-nova pra ilustrar a cabeça da parada, ocasião em que me reuni a alguns renomados músicos botocudos para realizar uma espécie de pelada de verão, ali na tenda da cultura, limite entre as praias de Itapoã e Itaparica.

Ofereço-lhos então, dentro dessa nova fase, uma pequena história que me foi contada inocentemente durante uma viagem... Bem, não é só o tédio o que motiva as pessoas a contar suas experiências de vida não é? É preciso um ouvinte interessado e isso eu sei ser. Mas segue a parada que tem como título: O Inferno São os Outros. Uma referência à Sartre, mas que não tem nada de existencialismo. Não tem nada de nada...

Ela sofria com aquilo, como se diz por aí, o cara tinha pulado a porra da cerca...

Meses, os meninos nasceram com poucos meses de diferença!

Mesmo pai, mães diferentes... Muito embaraçoso aquilo.

A coisa aconteceu durante a gravidez da “matriz”, quando uma antiga “filial” mandou uma saraivada de ofertas irrecusáveis e o cara não resistiu à tentação de fazer o negócio. Muitas foram as justificativas, mas a reclamação mais recorrente era que a gravidez da matriz despachara o tesão para o quinto dos infernos. A mulher vivia enjoada e incomodada, não via sentido em abrir pedido pra mercadoria já encomendada.

Mas não foi só isso, claro que não foi. Pouca gente sabia, mas o patrão já tentara firmar negócio naquela filial em tempos remotos, quando de uma despretensiosa visita a uma dessas casas noturnas da periferia. A princípio a parceria se deu com rapidez e inconseqüência, mais ainda viria a falência do empreendimento. Tomou um tremendo pé na bunda, quando a amada resolveu se desligar do compromisso anteriormente firmado para tentar a sorte sob a administração de um próspero investidor oriental.

O pior é que esse revés, ao invés de calejar e dar estofo, fez o babaca ficar choramingando derrotas e amores impossíveis pelos cantos por um tempão. Só foi se curar de vez quando montou na Aletéia, aquela que viria a constituir definitivamente a sólida matriz de seus negócios. Moça séria, determinada, trabalhadeira, um pouco conversadeira; mas a seca é o afrodisíaco dos pobres... Outra aventura empreendida no calor do negócio com uma simples conseqüência: logo pintaria a gravidez impregnante.

Novamente a recessão, mercado do sexo em retração... Ô seca miserável!

Nesse meio tempo o telefone não parava de tocar com a antiga filial derramanado todo tipo de propostas irrecusáveis. Eita! A marvada andava tentando recuperar antigos parceiros, porque, apesar de toda opulência inicial, o negócio do empresário oriental simplesmente não crescia! Obrigada a vender contrabando de produtos de terceira e pirataria de tênis importado sua equipe caiu na desmotivação, daí a abrir as pernas pra concorrência foi um pulo.

Aletéia deu a luz a um menino, estava em dúvida se o chamava de Eduardo, Wescley, ou Ravenclever, que ela achava mais chique. Esses nomes estrambóticos têm, aliás, origem na idéia peculiar que as pessoas simples fazem da criatividade e na necessidade de ter algo sofisticado em suas vidas, uma coisa que não fosse comum e que ninguém mais tivesse.

Foi um cú de boi quando toda a verdade foi revelada... Pra se dizer o mínimo. Como dói a tal da traição! Todo mundo sabia menos ela, grávida, enjoando, trabalhando e levando chifre! Ah rapaz, Aletéia ficou muito puta da vida. Mas no final, como muitas vezes acontece, perdoou. Contentou-se em jogar o episódio na cara do patrão pro resto da vida, mesmo porque a vergonha tinha nome, sobrenome e era igualzinho à puta que o pariu!

Mas sabe mesmo nisso tudo o que era pior? As pessoas. “O inferno são os outros”. De vez em quando Aletéia acabava indo pra rua com os meninos, irmãozinhos, muito parecidos. Como é comum acontecer, toda vez que encontrava algum conhecido rolavam aquelas inevitáveis perguntas: É seu filho é? Como é o nome dele? Quantos anos ele tem? Somando dois mais dois entre os pirralhos a vaca ia pro brejo desembestada... A moça, coitada, morria de vergonha da situação, mas um dia ousou se vingar...

Foi num churrasco da empresa, o maridão resolveu juntar toda equipe do trabalho e suas respectivas famílias. Lá pelas tantas, um dos funcionários mais chatos resolveu puxar conversa com o casal anfitrião perguntando: esses meninos são da mesma idade não é? Tão parecidos... São gêmeos? Aletéia, que já tinha tomado umas três tequilas arrumadas, disparou:

- É nada. Aquele só é que é nosso. O outro eu tive por fora com outro hômi! – O patrão estava lívido de vergonha, mas nem adiantava reclamar com a mulher.

- Não sei por que só eu que posso levar a fama de chifruda...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O VELHINHO SEMPRE VEM?

Maldita televisão, maldito Drácula! Rodo os canais a esmo tecendo comentários sarcásticos e fazendo troça de tudo o que aparece. Tem um cara com chafarizes nas axilas, dá vontade de pedir para ele esperar um pouquinho e jogar umas moedas, quem sabe não dá sorte. E eu que já não simpatizava com aquela marca de desodorante...

Mas falando nisso, o natal está chegando, olha só que bacana. Os telejornais logo voltam suas baterias para os consumidores e as expectativas dos comerciantes. Vejo entrevista com uma mocinha dizendo que o natal é uma época boa pro comércio, porque as pessoas se sentem "compelidas" a consumir. Ou seja: ela gosta porque não tem escapatória pra ninguém. E eu que detesto um eufemismo...

Muita gente se endivida no natal, conseguem exatamente o contrário do que desejaram inicialmente. Não pode haver tranqüilidade familiar sem o devido equilíbrio financeiro, em pouco tempo estarão todos se descabelando por conta de bobagens quebradiças e efêmeras sujeitas a modismos ultra passageiros. Faz tempo que penso em escrever sobre isso.

Lembro bem da época em que todo mundo saía de noite pra encher a cara, entre outras coisas - aliás, o veio Gagá dizia que isso é que era bom - e dirigia de volta pra casa impunemente, bem, quase todos voltavam, mas nem cinto de segurança era obrigado usar. Na televisão passava direto propaganda de cigarro, tinha uma muito palha do Camel, com um cara de roupa de safári ou os maiores sucessos de Arena Rock com as esportivas propagandas do cigarro Hollywood, o sucesso.

Tudo isso mudou não é? Salvo em festinhas de embalo - baladas? - hoje quando vemos uma pessoa fumando é como se ela estivesse sofrendo algum mal, soltando fumaça como um motor prestes a bater biela. Imagino que vai chegar o dia em que o apelo escandaloso pelo consumo puro e simples também será visto como algo prejudicial à saúde da sociedade.

Sim, porque tem muita propaganda informativa legal, as do Jadir Primo, por exemplo, eu acho inofensivas, mas tem gente que apela. Morro de rir, pra não chorar, quando vejo, por exemplo, carro anunciado por "apenas" sessenta e tantos mil reais! Num país como o Brasil, com toda essa desigualdade social, é preciso ter muita cara de pau pra fazer uma afirmação dessas num canal aberto de tv.

Somos "compelidos" a consumir o ano inteiro, poucos têm como escapar do dia dos pais, das mães, dos namorados, das crianças, fora que as pessoas comemoram todo ano seus próprios aniversários e datas especiais! Mas o que me incomoda mesmo é essa chantagem de consumo descarada associada justamente ao nascimento de um cara que transgrediu dessa sociedade autofágica que, por sinal, o engoliu, triturou e transformou suas idéias em coisa muito diferente.

Cante comigo então, bem feliz, felizão, a canção mais hipócrita e perversa desse ideal consumista do repertório natalino: Mas por que é que Papai Noel, não se esquece de ninguém? Seja rico, seja pobre o velinho sempre vem...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

SÓ QUERO SABER DO QUE PODE DAR CERTO!

O pai de um amigo meu era um cara muito ranzinza e reclamão, sentava para conversar com as visitas perto da televisão e o tempo inteiro ficava esculachando tudo o que passava dizendo: eu odeio isso, eu odeio aquilo. Uma vez tava ele lá falando mal de uma cantora aparecida, quando falei: pôxa seu Fudilson, qual é então a cantora que o senhor gosta? A pergunta pareceu o surpreender.

- Ora... Eu gosto de várias cantoras... – Parando pra pensar: - Eu gosto da Fafá de Belém... – não conseguindo lembrar de mais nenhuma retomou seu hobby predileto - Agora a Elba Ramalho eu odeio! A Amelinha eu odeio! O Sidney Magal eu odeio!... E seguiu por aí odiando. Tecnicamente falando o Magal não seria uma cantora, mas achei melhor não contrariar.

A pergunta que não quer calar é: por que é que as pessoas são assim? Eu sei lá. A crítica é certamente uma forma de auto-afirmação, quem detona parece mais poderoso, reafirma suas crenças. As pessoas ditas “de opinião” são respeitadas e até mais facilmente ouvidas em nossa sociedade do que as conciliadoras. Vai ver essa coisa faça parte de nossa própria natureza, basta lembrar que o homem descobriu o fogo através do atrito e que crescemos através da perturbação da ordem. Você acha que não? Então explique a frase: quem não chora não mama?

A crítica sempre vem em primeiro lugar, à coisa de uma semana atrás o governo lançou o projeto do “Cais das Artes”, que propõe finalmente a construção de um Teatro decente para nossa cidade, com mais uma série de equipamentos culturais embutidos: museu, biblioteca, sei-lá-mais-o-quê. Li a notícia no Gazeta Online e não consegui evitar a tentação de postar um comentário lembrando a nossa defasagem em espaços para apresentações, afinal o Theatro Carlos Gomes é obra de 1927 (!). E nem venha me falar daquele auditório da UFES que muitos teimam em classificar como teatro.

Então enquanto eu filosofava sobre a importância desse espaço numa cidade de mais de um milhão de habitantes – falo da Grande Vitória – os demais críticos de plantão aproveitavam para reclamar dos alagamentos (deveriam escrever para São Pedro, ora) e da poluição com pó de minério, da qual eu já nem me lembrava. Este último comentário, aliás, postado por um amigo, fazia brincadeira com o fato do Cais ser branco e dizia da futura dificuldade de mantê-lo limpinho às custas do dinheiro público, visto o mesmo estar na rota do pó (digo de minério).

Mas “é que se agora pra fazer sucesso, pra vender disco de protesto, todo mundo tem que reclamar”, resolvi unir forças à uma campanha diferente: “Só quero saber do que pode dar certo!” Mesmo porque, na semana passada tive outro bom motivo para isso. Fui assistir à estréia do espetáculo “La Serva Padrona”, um intermezzo cômico de Pergolesi comandado pela soprano Katya Oliveira tendo como par o barítono João Marcos Charpinel. Aliás, não tem nada a ver, mas essa coisa de “serva patroa” pega hein? Basta recordar o sucesso da peça “Por Favor Matem Minha Empregada”.

O que muda tudo é a música como fio condutor de uma pequena ópera cômica, com acompanhamento de dois músicos profissionais, mas também pelos meninos: Denise Justino (Vilino II), Júlio Cezar (Viola) e Josué Dias nascimento (Violoncelo) segurando a onda o tempo inteiro, eu fiquei de queixo caído. Completa esse time o violinista Eliézer Batista Isidoro e tecladista Regina Nava, com quem até estudei um pouco de piano em priscas eras.

La Serva Padrona é uma ópera leve, cantada em português - o que facilita em muito a compreensão da trama – perfeita para aqueles que nunca assistiram nada do gênero por medo de boiar e morrer de tédio. É, pelo contrário, muito divertida, simplesmente imperdível. O elenco é completado pelo ator Daniel Boone, um careteiro de primeira, foragido de algum circo, sua presença confere um toque cômico inigualável à peça.

Uma obra de arte é boa mesmo quando confere a impressão de te tornar mais inteligente, mais culto e esse espetáculo é uma dessas raras ocasiões. Faz o seguinte: pega seus filhos ou as pessoas de seu relacionamento que você acha bacana entreter e leva pra assistir essa ópera. Ainda tem mais quatro apresentações, sempre com entrada franca. Uma é hoje (2 de dezembro) no auditório do Marista, às seis e meia da noite. Depois, dia sete no Teatro de Viana – cinco da tarde; Cachoeiro e Rio Novo do Sul. Não percam!