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terça-feira, 31 de agosto de 2010

DUAS APRESENTAÇÕES IMPERDÍVEIS!

Dois concertos muito bacanas vão acontecer amanhã e depois, para vocês pararem com esse mau costume de chamar nossa cidade de pacatolândia. No dia primeiro de setembro, 20 horas, tem apresentação gratuita da OFES no Theatro Carlos Gomes dentro da série "Quarta Clássica". O maestro convidado é o paulista Marcelo de Jesus, diretor adjunto do Festival Amazonas de Ópera. No programa tem a abertura "La Sacla di Seta" de Rossini, o primeiro concerto para piano e orquestra de Mendelshonn e a Sinfonia N° 1 de Rimsky-Korsakov.

A solista da noite é nossa amiga Cleida Lourenço que muito já bebeu das águas mozartianas e é dona de um pianismo que vai se encaixar feito uma luva nesse concerto do início do romantismo, quando a sombra do menino prodígio de Salzburgo ainda se projetava sobre a maioria dos jovens compositores alemães. A sinfonia do Rimsky eu não conheço, mas só a fama de bom orquestrador desse mestre Russo já é uma boa razão para ir lá conferir.


De passagem por Vitória, o francês Bruno Gousset e sua esposa Suzana vão apresentar no dia dois de setembro, 20 horas, um recital gratuito de piano a quatro mãos intitulado "De Mozart Aos Dias de Hoje". Há mais de quinze anos o casal tem esse Duo e já se apresentaram em Portugal, Tunísia, França e Brasil. Bruno é mestre em musicologia pela Sorbone e tem forte atuação como compositor, trabalha na Radio France e leciona no Conservatório de Viccenes, entre muitas outras atividades. Suzana é natural de Colatina, mas estudou música em São paulo, entre outros, com Magda Tagliaferro e hoje é pianista co-repetidora no conservatório Jean Philipe Rameau em paris.

O Concerto é também no Carlos Gomes e o programa, como o nome já diz, começa com uma sonata de Mozart, passa por Dvorák, Ravel "Ma Mère L'Oye", Kurtag e termina com um tango de Ronaldo Miranda. Já tive o privilégio de assistir o duo em um outro recital no ano passado e fiquei de queixo caído, entre outras peças, com a interpretação do Ravel que eu só conhecia na versão orquestral. É uma obra do que se pode chamar de impressionismo tão cintilante e colorida que não posso deixar de recomendar aos amigos. Não percam!


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

CENAS EXCLUÍDAS DO LIVRO DO PÓ: INTERMEZZO

Antes de prosseguir com mais um causo dos que ficaram de fora do Livro do Pó vou sapecar umas rapidinhas culturais bacanas porque elas me chegam a todo momento - e eu acho isso muito bom – de modis (saravá Muçum!) que a gente tem que fazer a nossa parte pela “cenalocal” botocuda. Então:


O Bar sinuca “Bola da Vez” está dando início a um projeto maneiro chamado “O Som da Vez”, convidando na estréia o músico Sandro Castro, velho conhecido da galera anos 80. No repertório rolam canções de várias vertentes: do rock ao pop, do blues ao folk, MPB e regionais e outros bichos. Some-se a isso a já tradicional jogatina de sinuca e o imperdível tira gosto feito pela Tia...


Resumão Elektrônico

Projeto O Som da Vez com Sandro Castro

02 de setembro (quinta) 21 hs.

Local: Bar e Sinuca Bola da Vez.

Endereço de capixaba: Av. Hugo viola em Jardim da penha, na rua do Extra Bom, moleza!!!



O companheiro Maurilen Cruz (Gallerani essa sua banda toca róqui?) repassando também um convite para o espetáculo teatral “Os Mendigos e o Pato do Imperador”, que tem texto e direção de Rodrigo Paouto. A peça será estrelada pela Trupe Teatral “Iá... Pocô!” e a parada vai rolar nos próximos dias 4 e 5 de setembro, no Theatro Carlos Gomes.


O grupo deu seus primeiros passos na cidade de Aracruz por volta de 2005, estreando em Vitória em meados do ano passado, tem o objetivo de fortalecer o Teatro em particular e a Cultura em geral, deixando arte, alegria e felicidade por onde passar. O Iá... Pocô tem um blog muito legal que pode ser acessado no seguinte link http://trupeiapoco.blogspot.com/ Visitem, apóiem e participem...



Antes de postar outra cena deletada do Livro do Pó, quero explicar que são histórias descartadas numa tentativa de descentralizar a pegação da mulherada no personagem do Zeca. Apesar de não ser uma obra tão séria assim, O Livro do Pó não era para se prestar a essas aventuras rocambolescas e perigava descambar em uma espécie de Memórias do Casanova ou Don Juan Botocudo. Outras tentativas tiveram melhor êxito e ficaram no livro como foi o caso da garota “já quero ir” de Guriri, passagem que, aliás, rendeu comentários desiludidos de uma garota do passado de um dos personagens, que não conseguiu separar fantasia de realidade... Mas, no final das contas, quem de nós é esse que consegue?



sábado, 28 de agosto de 2010

INTIMIDADE: CENA EXCLUÍDA DO LIVRO DO PÓ

Zeca era um playboyzinho, um menino de família, uma de suas vaidades era pegar alguma mulher que fosse desejada pelos caras de sua galera. Não precisava nem ser tão bonita assim, bastava chamar a atenção e ele partia para o que chamavam de azaração. Termo estranho esse, mas muito comum na época. Porque era otimista e prepotente, Zeca não gostava do termo, pensava que uma garota que caísse em sua rede era uma tremenda sortuda e não uma azarada, ele não ligava para certos detalhes...


Escandalizar os outros é uma necessidade quando se é adolescente, mais do que isso: é uma arte, praticamente uma religião. A expressão de surpresa e indignação na cara dos velhos e, por extensão, caretas, confere uma sensação de que a barca da anarquia está no caminho certo, ou seja: bem longe dos desprezíveis seres entediantes, as pessoas comuns. Os funcionários públicos, por exemplo, naquela época ninguém queria, nem no pior de seus pesadelos, ficar trancafiado todos os dias em repartições estatais.


O que aqueles jovens diriam dos concurseiros de hoje? Batalhando justamente por uma posto de trabalho que lhes pareceria tão desprezível? Os tempos mudam. Talvez ouvissem isso dos mais velhos e certamente odiariam ter que encarar o fato, porque é o salário e não o desk job que está em questão. Mas para Zeca dinheiro nenhum valeria o sacrifício, ele era um mauricinho, tinha de tudo na mão. Num filme de fantasmas do Tim Burton, os suicidas eram condenados a trabalhar como funcionários públicos no além: o rapaz entendia isso como um castigo muito lógico e merecido.


E a banda Cachorro Louco entrou com tudo para sua histórica apresentação na Danceteria New Wave, o point diabólico do Veío Gagá. Foi Muralha# quem colocou pilha no negócio, o guitar hero do Pó de Anjo fora solicitado pra auxiliar os artistas que eram muito mais mambembes do que supõe a nossa vã filosofia e não entendiam bulufas de apetrechos eletrônicos. Misturou-se com a banda que era formada por uma horda de hippies que deixava a rebeldia deles no chinelo. Enquanto o rapaz ensinava o guitarrista a usar o amplificador as meninas trocaram de roupa na frente deles.


- Tô te falando Zeca, as mulé são muito gostosa meu! Ficaram só de calcinha, eu fiquei olhando na maior cara dura e elas não tavam nem aí. Tiravam e botavam a roupa que nem dentro de casa, puta peitinho meu!


- E será que elas fumam um bagulho também? Bora lá perguntar pro Simbad... – Esse último era uma espécie de faz tudo na New Wave, contra-regra (porque não existia o termo “Roadie” na época) e, eventualmente, estafeta do tráfico local.


- Se eles são doidão!? Rapá, esse povo come maconha com farinha na cumbuca! E aquela loirinha de cabelos encaracolados? Que gata cara! Muralha# é que se deu bem, viu ela peladinha de perto. Eu até dei uma disfarçada, mas não consegui ver muita coisa não...


Como vocês devem estar aí imaginando, Zeca logo entrou numa de que tinha que passar o rodo na loirinha, tava todo mundo babando por ela, só que não seria tão fácil como ele pensava, por razões, digamos assim: culturais. Antes, porém, assistiu a apresentação do Cachorro Louco pra tentar se enturmar: visceral e nonsense, mas não com essa intenção. Era como se um grupo de pessoas juntasse as idéias mais birutas e as colocassem num palco com um fiapo de música, apenas para tentar negar que estavam tentando dizer alguma coisa.


A apresentação começava com o cortejo de um funeral que foi dar no palco, tinha até um caixão de verdade, velas e o elenco ou banda, entenda como quiser, vestidos de Ku Klux Klan. Então vieram as músicas que beiravam quadros de uma peça teatral bem doida, um consultório em que pessoas se queixavam de dor de dente, de cabeça, de tudo, até que quando a coisa chegava no pé tinha dado chulé! E todos repetiam: e no pé deu chulé, e no pé deu chulé! Inclusive a loirinha de cabelos encaracolados e falatório abundante com a qual Zeca logo travaria intimidade.


Saíram para dar um role pela noite, fumar um bagulho, eu sei lá. A loirinha tinha o nariz um pouco grande e recurvado e os dentes da frente meio separados, fora isso era nonsense como a apresentação da banda e muito mais podicrer das que Zeca estava acostumado a azarar e o garoto não tinha muito saco pra conversa de gente podicrer. Foi indo e o encanto se acabou de vez lá na Ilha do Boi: Zeca tinha costume de rodar de carro fumando um por lugares desertos, então do nada a loirinha falou sem a menor cerimônia:


- Para esse carro aí minino que eu preciso fazer xixi!


- Como assim fazer xixi? Não tem banheiro por aqui não.


- Eu hein? Encosta logo esse carro ahê cara... – Parou o carro sem o desligar e viu incrédulo a moça caminhar até ficar bem em frente ao facho de luz dos faróis, sem demonstrar muita preocupação com nada, nem olhar pros lados; levantou a grande saia rodada e estampada, deu aquela abaixadinha tradicional puxando a calcinha de lado com um firme gesto de quem não está pra muita coisa não e... Tchóooooo! Urinou, assim, no meio da rua, na frente do carro de Zeca, como se aquilo ainda fizesse parte de alguma espécie de encenação...


Quando a moça voltou sorridente e aliviada querendo saber o que o que ia rolar, pensando ter despertado a libido do mauricinho, o desejo sexual de Zeca tinha ido pras cucúias. A moça poderia ter arrotado, vomitado e falado o palavrão que quisesse, mas mijar daquele jeito na sua frente cortou o barato geral. No final a garota tinha conseguido, talvez sem querer, estampar na cara de Zeca o quanto ele era um burguesinho fútil que vivia de conquistar garotas ao acaso apenas pela vaidade de dizer que comeu. Quis escandalizar e foi escandalizado;... Zeca quis fuder e se fudeu!