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quarta-feira, 30 de maio de 2012

RAPIDINHAS CULTURAIS ERUDITAS

Mandando duas repostagens (reportagens?) rapidinhas culturais. São apresentações muito bacanas que acontecerão amanhã (31 de maio) no apagar das luzes do mês das noivas, mas deste susto eu não morro. Destaco especialmente o Concerto em Sol de Ravel para Piano e Orquestra, uma obra que é linda do início ao fim, mas o segundo movimento ... Bom, simplesmente imperdível. Seguem as repostagens, não percam!

Ofes apresenta "Choros 10" de Villa-Lobos da Série Sinfônica

A Orquestra Filarmônica do Espírito Santo (Ofes), sob a regência do maestro convidado, Roberto Duarte, realizará na quinta-feira (31), o terceiro concerto da Série Concertos Sinfônicos, da Temporada 2012. A apresentação será realizada no Theatro Carlos Gomes, em Vitória, às 20 horas. Os ingressos custam R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia) e podem ser adquiridos a partir das 14horas do dia 25 de maio, na bilheteria do Teatro (3132-8396).

O repertório será composto por obras dos compositores franceses Debussy e Ravel e do compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos, três nomes de peso da música clássica do Século XX. Destaque para aprimeira apresentação pela Ofes da obra Choros 10, de Villa-Lobos.  Esta composição é de 1926 etraz elementos de percussão brasileiros que conferem à obra, essencialmente modernista,cadências semelhantes às do baião e do samba. É uma das obras de Villa Lobos mais reconhecidas eaplaudidas no mundo inteiro.

Além da Ofes, participarão dessa apresentação o Coro Sinfônico da Faculdade de Música do EspíritoSanto (Fames) e o Coral do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES ).

Para apresentar o concerto em Sol, de Ravel, foi convidado o pianista francês Hugues Leclère. Nascido na França em 1968, Hugues Leclère se aperfeiçoou sob a orientação de Catherine Collard antes de entrar para o renomado Conservatório Nacional Superior de Música de Paris, onde maistarde obteve três primeiros prêmios, em piano, análise musical e música de câmera.

Paralelamente à sua carreira de concertista, Hugues Leclère atua como diretor do FestivalInternacional Nancyphonies e como professor de piano no Conservatório Real de Bruxelas.

Destaque ainda para o maestro convidado, Roberto Duarte. Natural do Rio de Janeiro, Duartedesenvolve suas atividades como regente no Brasil, Europa e Estados Unidos. Seu interesse pela música brasileira o coloca em posição de destaque no cenário musical, com a apresentação de maisde uma centena de obras em primeira audição mundial e a revisão das obras para orquestra de Villa-Lobos. Teve o privilégio de ter sido discípulo e assistente de dois dos maiores mestres brasileiros: Francisco Mignone e Eleazar de Carvalho. Mais tarde aperfeiçoou-se, ainda, na Itália e na Alemanha.

É membro, entre outras, da Academia Brasileira de Música. Em novembro de 1996 recebeu doGoverno Brasileiro, através da Funarte, o mais alto prêmio da Música no Brasil: o Prêmio Nacional da Música, como regente. Foi Em 2001 recebeu o Prêmio Carlos Gomes por sua atuação no campo daópera, como regente e revisor. Em Paris, em abril de 2002, participou como membro do comitê dehonra e palestrante no I Congresso Internacional Villa-Lobos.

Roberto Duarte foi Regente Titular e Diretor Artístico da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1981-1994), da Orquestra Sinfônica do Paraná (1998-1999) da Orquestra Unisinos, no Rio Grande do Sul (2003-2005).

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Na próxima quinta feira, dia 31 de maio às 19:30h a Cia Capixaba de Ópera e Musicais estará apresentando mais um concerto da série " Concertos na Vila". O evento, de arte integrada, apresenta ao grande público, além de obras dos grandes compositores eruditos e sacros, peças dos mais belos musicais da Broadway.

A participação especial do mês de maio é do coral Arcelormittal Tubarão, e os artistas convidados são Ingrid Mendonça, que relançará seu livro " Além do Gesto", o poeta Marcos de Castro e a artista plástica Erminda Breda com sua exposição  "Ludicidades".
O grupo de teatro Geta e o Ballet Ludmila Machado completam o quadro de atrações dessa edição.
Os cantores do elenco  são Patrick du Val, Cláudio Modesto, Elaine Rowena, Symara Feitosa, Marcos Rosa, Marcos Antônio Cypreste e Julimar Amorim e os bailarinos Rebeca Freitas, Thaís Salomão, Lara Cremasco, Bruno Correa e Julia Mariano. O piano é de Angela Volpato, o violino de  Evandro Marendaz, as coreografias de Lígia Araújo, a apresentação de Maryza Barbosa, a direção musical de Cláudio Modesto e a direção geral de Elaine Rowena.

terça-feira, 29 de maio de 2012

NÃO SEI SE EU ESTOU PIRANDO OU SE AS COISAS ESTÃO MELHORANDO


Quando os doidões menos esperavam é que não aconteceu nada mesmo. Agora começou a circular a notícia que usar drogas pode deixar de ser crime. Um “liberou geral” que chega, se chegar, pelo menos uns trinta anos defasados da realidade dos malucos. Vamos combinar que agora não vai fazer mais muita diferença? Os próprios membros da comunidade doidarássa não conseguem mais recuperar a proibição de seus "agadês" e culpam os neurônios que foram destruídos por algum vírus sacana. Somente os mais teimosos ainda guardam a lembrança de que usar droga é ilegal, é imoral e engorda porque enganar a polícia e desafiar a sogra ainda lhes confere alguma forma de emoção... 

Mas a notícia está assim no site da Folha:

“A descriminalização vai permitir o uso, compra, porte ou depósito de qualquer droga, desde que para consumo próprio. Ou seja: a descriminalização deixa de classificar como crime.”

Já segundo o site da Globo, até mesmo o plantio de bagulho, a erva maldita, para consumo pessoal vai deixar de ser crime. Você, cidadão responsável que nem dirige por aí depois de tomar uma cervejinha pode pensar que isso é algum absurdo, mas lá nos anos oitenta tinha o pai de um amigo nosso que cultivava impunemente – até onde eu sei - um sonoro pé de maconha no “jardim interno” de sua residência. Era o ponto de visitação da casa. Todo mundo que passava por lá tinha que conhecer e reverenciar a simpática plantinha.

Tá todo mundo doido. Oba!
 
Não sei como é hoje, a molecada me parece mais comportada, bieberzinha, mas lá nos anos oitenta a ideologia da porralouquice imperava que nem aquele cara que desistiu de se candidatar a prefeito agora, bom, deixa pra lá. Tinha, por exemplo, o pai de um maluco que tomava muito café e, meio mórbido, costumava dizer que após sua morte ia nascer um pé do ouro negro capixaba em sua sepultura. Divertido o doidão comentava com os demais: e em cima da minha vai nascer um pé de maconha...

Honestamente – ou descriminalizadamente – não sei qual impacto ou que diferença isso vai fazer na cabeça dos inúmeros malucos que não passam sem um baseadinho. Sei lá por que, fumar maconha era e ainda é para muitos doidões antigos um modo criativo de viver, coisa de Magaiver, encontrar um lugar impossível pra malocar o produto. Por isso Keith Richards, Rita Lee e Ozzy Osbourne são referência de resistência, embora não falem mais muita coisa com coisa, curiosamente, eles já ficaram pra lá de velhos e estão cada vez mais doido varridos...

A descriminalização de certas drogas é uma discussão importante e antiga, mas eu gostaria de ver a comunidade pensante, pelo menos, tentando encontrar a razão de tantas pessoas precisarem usar drogas, legais e ilegais. Ou você conhece alguém que não toma um remedinho, uma cervejinha, ou até freqüenta um culto, digamos assim, mais emocionante? Precisamos nos conhecer melhor, sob o risco de continuarmos proibindo e liberando coisas que nem sabemos bem para o que servem em nossas vidas.

domingo, 27 de maio de 2012

FRASES DOMINGUEIRAS: PORQUE DOMINGO É O DIA DA FAMÍLIA.

As três frases que eu mais detestava ouvir antes da maturidade:

Frase 1

- Diga-me com quem andas que te direi quem você é. 

Essa minha mãe adorava, especialmente pra esculhambar meus amigos porraloucas. Como se os dela, a maioria artistas e pessoas extravagantes, fossem algum modelo de comportamento social. Uma vez eu ia chegando em casa (quer dizer, na casa dela) para “ouvir um som” no meu quarto com duas “marias palco” fantasiadas de loiras e de aspecto geral – vá lá – bastante popular, se é que vocês vão me entendendo. Mamãe estava sentada na sala tomando um café e ao nos ver entrando com aquela ginga de quem não quer nada, mas vai fazer de tudo, falou:

- Parem aí mesmo e venham cá.

- Quê foi mãe?

- Aonde você pensa que vai com essas duas barangas?

Frase 2

- Quando chegar à minha idade você vai entender e vai me dar razão.

Era a preferida de papai, também a ouvi várias vezes da boca de sujeitos nem tão encanecidos assim, mas que exerciam alguma forma de poder ou posavam explicativos de detentores de algum saber. Era uma pala necessária porque, esgotado os argumentos lógicos sem conseguir me convencer, usavam o fato de terem mais idade para legitimar e impor uma opinião ou decisão com a qual eu não concordava.

Frase 3

- Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. –

É o (di) lema do hipócrita assumido, pior que é ainda muito usada. Deveria estar escrita na entrada de todas as fábricas de fazer malucos que existem pelo mundo. Como se fosse adiantar vetar a quem quer que seja o direito de errar, aliás, é como diz no Evangelho de João: “não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade”. Citação feita, em tempo, apenas para ilustrar, passa longe de mim essa contradição de tanta gente televisiva e politiqueira cujo (cujo?) discurso “religioso” passa bem longe das ações práticas.

Obviamente, as frases que eu mais gostava eram: sabia que amanhã é feriado e não tem aula? Ou uma que era mais rara: aquela garota que você “tá a fim” disse que também tá doida pra “ficar com você”... Mas a que eu mais desejava ouvir, com uma toalha amarrada no pescoço a título de capa esvoaçante, nunca rolou:

- Meu filho: tome cuidado quando sair voando por aí...

sexta-feira, 25 de maio de 2012

MORRE UMA DAS PIONEIRAS DA MÚSICA CLÁSSICA NO ESPÍRITO SANTO


Soube agora do falecimento, aos 95 anos, da pianista Edith Bulhões, militante antiga da música de concerto no Espírito Santo. Quando pesquisei a história da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo, encontrei o programa de um recital de Dona Edith em Buenos Aires, certamente o auge de sua carreira como concertista internacional.

 
Durante a pesquisa descobri também que Edith estava envolvida numa questão relativa ao nome da Orquestra dos Capixabas criando uma situação que permanece até os dias atuais. Tudo bem que talvez fique até estranho o grupo mudar outra vez de nome agora, quase vinte anos depois, mas leiam a seguir um trecho do livro Da Capo – De Volta às Origens Da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo, para entender melhor a questão:

            Com a aprovação do quadro complementar de cargos e salários em 1986, a Orquestra que já fora de Câmara, Clássica e Filarmônica mudou de nome pela quarta vez e passou a ser definitivamente intitulada “Sinfônica”. Definitivamente? Essa era, na verdade, a denominação adequada para o grupo, porque, nem todo mundo sabe, mas o que distingue uma Sinfônica de uma Filarmônica não é o número de seus integrantes, nem o repertório que executa e sim a sua condição formal. As Sinfônicas são órgãos governamentais custeados pelo Estado (leia-se pelo povo). As Filarmônicas, o nome já diz, são em tese (porque a OFES tem o nome de Filarmônica e não se encaixa na descrição) sustentadas por doações filantrópicas, por “amigos da música”. A denominação não significa que uma Orquestra esteja em um patamar inferior com relação à outra, as Filarmônicas são órgãos privados, muitas vezes de um poderio enorme. Talvez a mais rica, tradicional e respeitada Orquestra do mundo seja a Filarmônica de Berlin.
            Mas então porque a OFES é Filarmônica e não Sinfônica se o grupo sempre teve gestão e custeio do Governo do Espírito Santo? A explicação é meio torta: muito antes da criação da OFES (na década de sessenta!) uma pianista e promotora cultural chamada Edith Bulhões fundou e registrou em seu nome uma “Orquestra Sinfônica do Espírito Santo”. Embora quase ninguém mais se recorde, Dona Edith chegou a realizar apresentações com o grupo, como atesta uma reportagem do jornal A Tribuna de 04 de setembro de 1975, cuja manchete, que por sinal destilava uma certa ironia, era: Nós temos uma “Sinfônica”. Alguém sabia? Mais abaixo vinha a explicação:

            “Quando a Orquestra Sinfônica Brasileira esteve em Vitória, apresentando o Projeto Aquarius, o maestro Isaac Karabchevsky fez um apelo ao Governador Élcio Álvares para que fosse criada uma Orquestra semelhante no Espírito santo. Depois do espetáculo de encerramento da Semana do Exército, Edith Bulhões, diretora da Sociedade Cultural Artística de Vitória, foi conversar com o maestro, explicando-lhe que já existia a Orquestra Sinfônica do Espírito Santo, mas que, por falta de verbas e de músicos ela tinha feito apenas uma apresentação, no dia 25 de setembro de 1971, como um conjunto de Câmara. Ninguém até então tinha conhecimento da Orquestra, nem mesmo a Fundação Cultural do Espírito Santo. A Orquestra Sinfônica do Espírito Santo foi registrada no Ministério de Educação e Cultura em 1964 e pelo Governo do estado. Até hoje, ela existia realmente apenas no papel, lavrado pelo órgão educacional e mantida aos solavancos por esmolas dadas por autoridades e congressistas, depois de pedidos insistentes da diretoria da SCAV.

            Publicado no jornal A Tribuna em 04 de setembro de 1975.

            Como a própria Edith Bulhões explica na reportagem acima, sua Orquestra nunca chegou a “decolar” de verdade. Portanto não vamos aqui entrar nos méritos que levaram esta mesma senhora - depois de seis anos de existência da OSES - a reivindicar em 1992 os direitos sobre o uso do nome da Sinfônica do Estado. Foi uma atitude polêmica que gerou um processo há muito engavetado no arquivo da Secretaria de Estado da Cultura. Segundo depoimento do maestro Helder Trefzger, a discussão não foi em frente para evitar uma celeuma desgastante com uma pessoa pública de méritos inegáveis para a cultura local. Foi decidido que a Orquestra simplesmente voltaria a ser denominada Filarmônica, embora não muito corretamente, e seguiu-se em frente o curso da história. 

terça-feira, 22 de maio de 2012

DE ENFANT TERRIBLE A PIRATA DE MEIA IDADE


Minha relação com os quadrinhos e os caras que vestem cuecas por cima da roupa começou cedo, antes de aprender a ler já manuseava revistas em preto e branco do Homem Aranha. Todo lançamento cinematográfico super poderoso me deixava – e ainda deixa - ouriçado. Quando o famoso Superman - talvez a primeira grande e decente produção do gênero - foi lançado eu arrumei um barraco em casa. Queria porque queria assistir à estréia. Naquela época nem havia isso, mas eu precisava estar presente à primeira sessão do dia em que o filme entrava em cartaz. Tinha só um problema: era às duas da tarde, mesmo horário da escola que sem muitas razões eu já detestava.

Chorei! Nem procurei esconder, todos viram. Esporro comeram, pena de mim não precisava. Conseguir me fazer ir à escola naquele dia: nem o próprio Super-homem seria capaz. Na segunda sessão do dia da estréia estava eu sentadão no Cine Paz, feliz da vida, escoltado pelo Nilson Barata, eterno braço direito de meu pai o “seu Djalma”. Até hoje me pergunto o quanto essas rebeldias de minha parte infantil repercurtiram negativamente ao longo de minha vida ou se as concessões de meus pais agravaram meus futuros problemas de comportamento e desassociação com certas obrigações e costumes da sociedade.

Até hoje quando os heróis entram em cena fico meio preguiçoso com relação ao mundo real. Foi assim agora com o mega sucesso de bilheteria Os Vingadores. Não fui ao cinema assistir - de enfant terrible a pirata de meia idade - arrumei um lançamento R6 – pelo que entendi são cópias que circulam na Ásia – de ótima qualidade e – apesar de inúmeros outros compromissos com “a escola da vida” - entrei numa de traduzir as mais de duas horas do filme. Quando isso acontece é ruim, mas é ótimo. Mergulhei naquela aventura durante todo fim de semana e pude - ou tive que - escarafunchar à vontade os detalhes de seu especialmente tão elogiado roteiro.

 
O grande lance é que o texto foi montado em um esquema auto-referente, é como um jogo de vôlei: bolas são levantadas para cortadas que acontecem no momento certo. Desde o início da história são fornecidas informações que vão sendo reforçadas e confirmadas, geralmente com humor e picardia. Isso conduz o fluxo narrativo – que poderia ser cansativo ou tedioso - com inteligência e astúcia (do Chapolim, exclusive). Pode parecer exagero de minha parte, porém, pela Internet - e fora dela - encontram-se inúmeros escritores e roteiristas destacando as qualidades do trabalho liderado por Josh Whedon com colaboração de Zack Penn e, certamente, pitacos de muitos produtores.


O resto é pirotecnia e deleite visual, com destaque para a beleza novata da modelo canadense Cobie Smulders (aí em cima), a atuação engraçadinha de Robert Downey Jr. e Tom Hiddleston, o Loki, que rouba e domina cada centímetro da tela quando aparece. Sua cena com a Viúva Negra, quando o semi-deus decresce do salto de um monarca polido e simpático para um monstro aterrorizante, é o auge dramático do filme. É o momento em que tudo começa a clarear para os heróis, que explodiam em conflitos pessoais, e se unem para derrotar o mal para delírio da galera. Essa virada na história mostra o quanto o trabalho de escrita foi bem feito e arquitetado tendo por base antigas leis de proporção. O sucesso obtido em Os Vingadores não vem por acaso é a junção entre escolhas certas e trabalho bem feito. 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

RAPIDINHAS CULTURAIS

Faz tempo que não rola uma Rapidinha Cultural aqui na Letra Elektrônica. Acontece que eu sou grande admirador da música de concerto francesa e os próximos dias estão fartos de opções que contemplam o gênero: Seguem os convites:

 
É um quarteto de primeira, pra você deixar de reclamar que em Vitória não acontece nada. E vai ter ainda um recital Debussy, imperdível para qualquer um que aprecia música para piano. Debussy foi um dos últimos mestres na composição para o rei dos instrumentos, criou um universo sonoro todo seu, embora teimosamente enquadrado pela mídia da época como impressionista. Ele foi bem mais do que isso...


Encerramos com um convite das artes cênicas pra variar um pouquinho o repertório:


sexta-feira, 18 de maio de 2012

ESPELHO ESPELHO MEU: QUE VONTADE DE DEDICAR ESSA CANÇÃO PRA VOCÊ


 
Como todo bom cinéfilo sem carteirinha, costumo assistir a esforços cinematográficos que sei de antemão que não vou gostar. É o caso da Branca de Neve que fizeram recentemente. Faço isso buscando as gratas surpresas e também para poder avaliar melhor as razões de minha aversão, afinal assim me conheço melhor. É como diziam Glenn Goudl (pianista) e Yehudi Menuhin (Violino) discutindo o fato da expressão de uma opinião artística não poder seguir critérios subjetivos, sob pena de incorrer no erro do cidadão leigo que ama criticar aquilo que não entende tendo apenas por base o seu gosto.

Talvez uma das grandes questões do filme Branca de Neve seja a bruxa malvada – sem pleonasmo nem nada – interpretada sem muita pegada por Julia Roberts. Essa coisa da mulher puramente má me intriga, assim como os grandes vilões: pessoas que se percebem fantásticas e dignas de idolatria a troco de um poder que exercem com esmerada perversidade e nem sequer se dão conta do vazio ao redor. Cultivar inimizades é passatempo, adorar uma boa briga faz parte do pacote, viram referência de coisa ruim enquanto se cercam de puxa-sacos que as manipulam louvando suas pseudo-qualidades.

Seriam aquelas pessoas - que se aproximam de maus poderosos para se valer de seu favor - mais inteligentes do que as que divergem e os confrontam? Quando o risco de se prejudicar seriamente é real, talvez o sejam; afinal, é preciso preservar a espécie e contrariar pessoas que sofrem de distúrbios psíquicos e - sabe-se-lá como - alcançam algum poder pode não passar de suicídio altruísta ou mania de ser do contra buscando aparecer também. Não existe jogo sem parceiro e muitas vezes temos que jogar o jogo, mesmo que seja nos calando e engolindo sapos.

No fundo tenho pena dos líderes completamente auto-ignorantes, porque me lembram pessoas que aprendi a gostar do jeito que eram, mesmo não concordando com noventa por cento do que faziam ou da maneira escrota como me tratavam e às outras pessoas. Porém, os seres embriagados de si mesmos também me enchem de tristeza; porque estão no rumo de colisão com o sol, não sabem que precisam mudar e, por isso mesmo, ninguém tem o poder de convencê-los. Após várias derrotas escamoteadas e vitórias bobas contra oponentes pueris, qual o lugar na história imaginam ocupar?

No fim só nos resta a aceitação: aceitar que até pessoas boas fazem coisas ruins e depois não há muito mais o que fazer. São os acidentes, as fatalidades: são coisas da vida. Não devemos ter a petulância de nos imaginarmos bons, li em algum lugar que ninguém é. Talvez o grande desafio seja fazermos a coisa certa quando confrontados com o mal e saber que o desejo de reagir à altura nos envolve e nos envenena. Um pouco de sabedoria seria de bom uso para quem tem a pretensão de trazer verdades ao mundo, porque sua revolta apenas confere importância e volume às pirações daqueles ogros que querem derrotar.  

terça-feira, 15 de maio de 2012

ROCK NA UFES - REPOST


Essa semana, o Rock na Ufes acontece na quarta-feira, dia 16. O jornalista e escritor José Roberto Santos Neves e o músico e também escritor Juca Magalhães estarão no auditório do IC4, às 20 horas para contar as histórias e os bastidores do rock`n roll produzido na grande Vitória nas décadas de 60, 70, 80 e 90.
 
Para o professor Julio Bentivoglio, do Departamento de História, trata-se de uma excelente oportunidade para os alunos, professores e técnicos administrativos da Universidade conhecerem mais sobre a cultura produzida aqui no estado e um incentivo à construção da memória cultural.
 
José Roberto Santos Neves lançou recentemente o livro “Rockrise – a história de uma geração que fez barulho no Espírito Santo”, que narra a cena do rock local e estará a venda durante o evento a preço promocional (R$ 30,00). Juca Magalhães lançou no final do ano passado a obra Da Capo - De Volta às Orígens da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo.
 
A realização do Rock na Ufes é fruto de uma parceria entre a Associação Nacional de História Seção Espírito Santo (ANPUH-ES), o Laboratório de Ensino de História (LAHIS) e o Centro Acadêmico Livre de História (CALHIS).

dia 16 de maio
20h, auditório do IC-4
Entrada gratuita

Promoção: ANPUH-ES / LAHIS / CALHIS

segunda-feira, 14 de maio de 2012

ASSOCIAÇÕES LIVRES NUM DIA DE CHUVA


Não me olhe
Como se a polícia
Andasse atrás de mim
Cale a bôca
E não cale na bôca
Notícia ruim...

Não sei de onde o Goscinny tirava aquelas idéias maravilhosas que o tornaram tão famoso para além da Via Apia, mas, sabe? Como os gauleses da revista Asterix, às vezes eu tenho medo que o mundo desabe sobre a minha cabeça. Tenho até a sensação de tudo ruir e da falta de chão sob meus pés.


 Num raciocínio lógico, que, aliás, não tem muito a ver com isso, começo a conjecturar um monte de coisas, que nem o meu pai, que acreditava que tudo o que o acontecia com ele e com a gente tinha a ver com encarnações passadas. Desde seu casamento com minha mãe, até o nosso nascimento, papai sempre contava (criava?) histórias sobre quem fôramos e as grandes coisas que fizéramos em locações bacanas como Paris, Viena e Berlin. Papai não era muito fã dos americanos, não como cultura.

Talvez, por essas e por outras líamos Asterix, graças a Tutatis! Enquanto o mundo treme em suas bases, as vigas que o sustentam oscilam gentilmente e o futuro sempre vai parecer incerto e indiferente. Para quê quero eu saber do futuro? Não sabemos coisa nenhuma e por isso nos surgem essas histórias, porque temos medo que o mundo desabe sobre nossas cabeças. Dizem que Baliatus (lanista de Spartaco) perdeu alguns prédios tentando os fazer maiores, para abrigar mais gente e faturar alguns sestércios a mais. Vai me dizer que hoje não é assim também?

É como essa tempestade que caiu em maio, não é bem uma época de chuvas, mas elas acontecem. Maio é um mês que tem importância simbólica para mim: da época em que era elefante à procura de uma macaca esperta. Eu grande ego sólido e desajeitado. Ela ágil e de visão longínqua que podia ver acima e além das árvores que eu derrubava. Semanas gloriosas de imensas conquistas: vãs, porém, nunca levaram a muita coisa. Para as noivas é um mês importante, para mim é pura ilusão; esse é o "dom da mulher", segundo Caetano: explicar e entender tudo bem.  

Na televisão prenderam o Emicida, estava "desacatando" a polícia. Uma vez vi uma notícia no jornal parecida, só que engraçada. Era uma briga entre flanelinhas gêmeos que acabou envolvendo também um professor de artes marciais. A polícia foi chamada pra apaziguar e o lutador xingou um guarda de “macaco” e “filho da p...”. Na delegacia, autuado, entre outras coisas por racismo, o professor tentou se safar dizendo que chamara o policial “apenas” de “filho da p...”. Como assim apenas? Para ele poderia ser pouca coisa, mas ontem foi dia das mães... 

Termino então com uma piadinha ótima do velho mestre Goscinny:

O cavalo de Lucky Luque, Jolly Jumper, era o mais inteligente do mundo. Certa vez, Lucky procurou Jolly Jumper por toda a cidade e só foi o encontrar depois de um tempão, sentado à beira de um rio pescando. O pistoleiro ficou impressionado e falou:

- Jolly, eu até entendo que você consiga tirar a sela sozinho, mas como é que você faz pra colocar a minhoca no anzol? - O cavalo respondeu esnobe:

- Como todo mundo, ué: com nojo...




sábado, 12 de maio de 2012

TEORIA DA CONTRADIÇÃO - PARTE II: O ESPÍRITO SANTO NO REAHAB!


Vós tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira.

João 8:44

Vários matadores de aluguel fizeram fama e fortuna no Espírito Santo, por essas e por outras o capixaba ganhou status de cabra perigoso em determinadas regiões do país. Curiosamente, alguns desses bandidos gozavam de certo respeito social como fossem aqui um “Zeca Diabo”. Eram temidos, claro que eram, mas, estranhamente bem considerados por muita gente boa. Talvez destes o mais famoso seja o famigerado Zé Scardua, mas depois deles muitos outros fizeram “sucesso”, como outro Zé, o Sasso; assassino acusado da maioria dos crimes escabrosos dos anos oitenta. Morreu envenenado na cadeia em Linhares no dia 17 de setembro de 1992.

Zé Scárdua - Zeca Diabo numa versão capixaba? 


A demanda por trabalho da pistolagem vingou entre pessoas poderosas do Espírito Santo que não seriam automaticamente consideradas criminosas por ninguém, nem por eles mesmos. Porém, vez por outra rolava a necessidade de abandonar “de leve” o “fair play” e mostrar “aos pacatos o rumo do cemitério”. Uma hora era preciso desarticular um grupo opositor, ou vingar de pronto alguma questão que a justiça levaria anos para resolver, ou simplesmente silenciar e ocupar o espaço de algum concorrente. Porém, a logística dessas operações era coisa complicada e oportunizou o surgimento de especialistas em ações armadas, sedição, corrupção e algo mais.

Nesse inacreditável, porque pavoroso, cenário mercenário de faroeste caboclo despontou o delegado Claudio Guerra, cara que tinha um Grupo de Operações Especiais só pra chamar de seu. Posava de poderoso entre os poderosos e morava em um sonoro apartamento “de um por andar” no ponto mais valorizado do bairro nobre da cidade de Vitória. Curiosamente, não há notícia de alguém ter se perguntado como é que um delegado que – até onde era seguro saber - vivia com o salário da Policia Civil, morava nas mesmas condições que os cidadãos mais ricos do Espírito Santo. Esse assunto não era da conta de ninguém.

Os homens de bem não costumam se meter na vida dos outros: fazem vista grossa e até censuram opositores que ameaçam abalar a paz dos poderosos. Basta lembrar o culto, a pompa e a circunstância em torno do bicheiro José Carlos Gratz, cujas ligações com contravenções piores dificilmente poderiam ser ignoradas pelas autoridades civis e militares da cidade. Foi eleito deputado e alçado à presidência da Assembléia, cultuado a ponto de comemorar o aniversário na boate Zoom em Camburi numa espécie de beija-mão escandaloso no qual se ajoelhou a seus pés boa parte do Pib capixaba; mais de cinco mil pessoas era o número que se comentava na ocasião.

Gratz, na época que era "locomotiva" do volúvel Jet Set  dos capixabas

O material sobre os feitos do delegado Claudio Guerra e de José Carlos Gratz é farto, não estou falando nenhuma novidade escabrosa aqui, basta uma pesquisa rasteira pela Internet e jornais antigos para acessar um variado perfil barra-pesada dessas pessoas e de outras da dita “alta sociedade capixaba”. Foi só quando a situação se tornou insustentável e o estado francamente ingovernável é que foi pedido socorro a uma força tarefa federal para resolver a questão. O Espírito Santo é assim: de vez em quando parece que sua máquina precisa ser internada numa clínica de reabilitação para se desintoxicar. 

Guerra em foto publicada no site da CBN sobre desvios de dízimo na Assembléia de Deus (!)
Apesar do passado sangrento e covarde, porque se especializou em atuar armado contra pessoas indefesas, o delegado Claudio Guerra, hoje está por aí: livre, leve e solto; posando circunspecto e risonho de bíblia debaixo do braço. Como se não bastasse ainda resolveu contar suas estripulias mais famosas num livro de memórias do tempo em que matava a mando da ditadura e sempre que tem oportunidade, menciona (orgulhoso?) que atuou para a elite capixaba também. Uma destas suas afirmações mais polêmicas recentes envolve o conhecido empresário e deputado federal Camilo Cola. Segue detalhe da reportagem publicada no IG:

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É nesse ponto que voltamos à triste história da menina Araceli, porque como foi dito, uma das mais funestas características do crime de mando no Espírito Santo é a criminalização da vítima. A prática é útil para bagunçar a investigação, ouriçar a mídia e manipular a opinião pública contra o morto. Isso intimida os familiares que, por vergonha da própria impotência – quando percebem que o estado está jogando contra - se afastam com medo, se omitem. E ainda são criticados por isso, como fez o jornalista Zé Maria Batista. Poucos são os que têm a iniciativa de ir para a rua com um cartaz na mão e “dar barraco”, porque imaginam que o máximo que conseguirão é exposição na mídia que sabe que a baixaria é o que mais capta a atenção do público e descaradamente transforma tragédia e sofrimento em show na hora do almoço.

Esse público, aliás, parece ter necessidade de se convencer que um crime bárbaro atinge apenas aos que de alguma forma mereceram ou procuraram. E isso não é assim! Existe gente ruim em nosso meio e elas têm que ser punidas!! Ou será que uma menina de menos de dez anos merecia ser estuprada e morta por um bando de malucos porque não tinha dinheiro para bancar uma passagem de ônibus para casa? Mesmo que sua mãe fosse traficante e envolvesse a menina no leva e trás, será que é certo dizer que foi pouco o que aconteceu? Não vou nem comentar a acusação contra Camilo Cola, acho bom Claudio Guerra conseguir provar o que disse, mas e a grave acusação de extorsão contra o jornalista Jeveaux? Quem vai o defender?

A mesma acusação de desonestidade é sempre feita contra vítimas de crimes do gênero. A jornalista Maria Nilce, que nada tinha a ver com o assunto, foi denegrida – de passagem - em uma medíocre carta anônima que divulgava fofocas e graves acusações contra o judiciário capixaba. A mesma coisa já foi dita com relação ao arquiteto Bebeto Viváqua, executado ao meio dia numa rua movimentada de Jardim da Penha, durante um suposto assalto cujo caso foi “solucionado” pela equipe de Claudio Guerra na época em que tudo ainda estava sob seu controle. Matavam, “investigavam” e prosperavam a olhos vistos. Hoje parece que Guerra se arrependeu dos crimes cometidos, encontrou Jesus e, como vimos acima, está levando seu know how para a Assembléia de Deus.  


Trecho da "infame" carta anônima

E só para arrematar: o julgamento dos dois últimos acusados no crime que vitimou a jornalista Maria Nilce Magalhães em 05 de julho de 1989 (!), estava marcado para essa semana, mas foi adiado para o início de junho deste ano. Um dos réus trocou de advogado e este pediu um tempo para preparar sua defesa. Agradecemos todo apoio manifestado até agora, hoje mesmo fomos surpreendidos pelo telefonema do prefeito Ronaldo Resende, de Oliveira em Minas Gerais. 

Vamos sempre lutar e denunciar essas calúnias rasteiras, para que toda a verdade desses crimes venha à tona; para que um dia se faça justiça às famílias - como a minha - que sofrem com essas mentiras que maculam a dignidade de nossos entes queridos; para que, finalmente, possam descansar, eles sim, na santa paz de Deus.  

sexta-feira, 11 de maio de 2012

TEORIA DA CONTRADIÇÃO: MATAR É CHIQUE - SER ASSASSINO NÃO...

Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo, e ele nada tem em mim; mas, assim como o Pai me ordenou, assim mesmo faço, para que o mundo saiba que eu amo o Pai. Levantai-vos, vamo-nos daqui.

João 14; 30 e 31

Uma vez meu primo - tenho mais de uns – entrou numas de me criticar por ser vegetariano, disse que não comer carne era contra “as regras da natureza”. Disse que quando via um bife acebolado fritando na chapa sua boca salivava que nem chafariz – se é que isso saliva - e que a mesma coisa não acontecia com as frutas. Rebati que seu exemplo seria válido se um dia sua boca inundasse ao ver vaquinhas pastando pelo campo e lhe desse a doida de matar uma delas: pegar um pau e quebrar seu crânio, cortar sua carne e assar no fogo. E comer...

De tempos em tempos matuto aquela conversa. Uma das certezas que tive foi que se cada um precisasse matar um animal para resolver sua fome o mundo seria bem mais estofado de vegetarianos. Presenciar uma matança não é para qualquer um, mesmo a de um animal que vai saciar algumas bocas famintas. No campo ou na cidade a carne ainda é, vide o churrasco, um indicativo de status social. Isso é fruto da organização das urbes e construção de valores subjetivos, quando certa moral bíblica é tradicionalmente ignorada, afinal, um dos dez mandamentos é “Não Matarás”.

Uma pessoa, qualquer uma, para viver de matar tem que abrir mão de alguns escrúpulos burgueses e, dentro desse processo chega a apenas duas opções: parar de matar, porque não dá mais conta do assunto; ou continuar matando por necessidade de subsistência conseguindo bloquear sentimentos como empatia e piedade. Talvez, em uma espécie de futuro essas pessoas um dia sejam vistas como psicopatas ou monstros insensíveis. Mas hoje não, são muito úteis à sociedade, certamente imprescindíveis.

Quanto mais a morte se torna um negócio, mais brutal e desvalorizado se torna o respeito pela vida e, pode ter certeza, qualquer forma de vida. Porém, mesmo sabendo disso, a sociedade humana respeita e tolera aqueles que vivem de matar, porque têm uma função específica e importante, exercem uma profissão ingrata que, apesar de ter seu resultado desejado por muitos, não é muito edificante de se executar socialmente falando. Aqueles que matam estão para a culinária como os lixeiros estão para a cozinha...

Como dito, consumir morte tem a ver com status social, é sinônimo de riqueza e, especialmente, de poder. Afinal, a todos é ensinado desde cedo que só Deus pode tirar uma vida. Ainda assim a sociedade consome morte, alguns de seus representantes mais bem sucedidos chegaram à conclusão que “Abaixo de Deus é a gente quem manda” e resolveram encurtar o prazo terreno de uns e outros. Problemas surgem dessa decisão: como já vimos não são todos que dão conta de meter a mão na massa e mesmo que o fossem: matar é trabalho sujo, coisa a se delegar. Especialmente porque é preciso sempre evitar as conseqüências. Surge assim o paradoxo: matar é chique, ser um assassino não. Para isso existem aqueles que assumem a profissão de matar.

Continua na postagem seguinte...

terça-feira, 8 de maio de 2012

TEORIA DA CONTRADIÇÃO - PRELÚDIO: ARACELI VÍTIMA DO PRECONCEITO CAPIXABA


Como se aproxima o julgamento de dois acusados do crime que vitimou a jornalista Maria Nilce, antes de realmente entrar no assunto - que vai ficar para o próximo texto – vou tecer algumas considerações sobre o fenômeno social de criminalização da vítima usando um caso muito emblemático acontecido em 1973. Este texto tem por base alguns trechos do documentário “O Caso Araceli - A Cobertura da Imprensa”, com direção de Tatiana Beling:

“A mãe de Araceli (Lola Cabrera Crespo) começou a ser indicada como uma das responsáveis pela morte da filha. Ela estaria participando da orgia com a rapaziada”  

Fala de Marien Calixte, jornalista que na época escrevia para O Diário. As suspeitas levantadas contra familiares da vítima ou a própria são recorrentes nos crimes que envolvem membros da elite social, neste caso, de Vitória. Servem para tumultuar as investigações, desviar a atenção da imprensa e manipular a opinião pública. Infelizmente Marien não explica como é que surgiu a acusação contra Dona Lola, parece dar a entender que a “indicação” partiu da própria polícia e os jornais simplesmente publicaram.

Logo depois vem a fala de um jornalista chamado Zé Maria Batista que cobriu o caso pelo jornal A Gazeta, a acusação à atuação da polícia é um pouco mais clara:

“Relatam que ela seria uma espécie de avião. Há informações, que também não chegaram a ser confirmadas, até porque a polícia não permitiu, atrapalhou demais as investigações - atrapalhou ela mesma - de que essa cocaína vinha de Santa Cruz de La Sierra onde Dona Lola morava.”

Como já dito de outra maneira, afirmações difusas como “relatam” ou “há informações” serviam apenas para adicionar mistério e cortina de fumaça ao caso. Nos atuais tempos politicamente corretos, até para evitar processos, dificilmente são divulgadas “informações não confirmadas” nos meios de comunicação mais sérios.

Contradizendo as graves acusações da polícia há o depoimento de Aurélio Marques um vizinho e amigo da família:

“Jamais, jamais, jamais. Dona Lola era uma pessoa hiper ..., era mãe. Mãe que não tinha ligação com nenhum ... Esse bairro aqui era um lugar ermo, isolado.”

Na seqüência do documentário vem o jornalista Zé Maria novamente, dessa vez com uma fala bem mais contundente e prenhe de opinião pessoal, botar a culpa na mãe de Araceli:

“Permitir que uma menina que morava no Bairro de Fátima e estudava na Praia do Suá andasse a pé até (!) o Bairro de Fátima? (aproximadamente quinze quilômetros) Passando aquela Praia de Camburi toda ali a pé? No mínimo uma mãe irresponsável, né? Parcela de culpa nessa história toda ela tem também, talvez por isso que ela tenha se omitido um pouco no período da investigação.”   

Zé Maria estava dizendo simples e imponderadamente o que muita gente pensava e afirmava na época: “Pobre é tudo irresponsável, deixa a filha largada por aí é isso o que acontece!” E o pior, mas o pior de tudo isso mesmo, é que a informação de Dona Lola ser traficante e Araceli “aviãozinho” tem sido publicada ou mencionada costumeiramente como fato em vários blogs e sites. Na Wikipédia está assim:

“Também foi apontada como suspeita a mãe de Aracelli, Lola, que teria usado a própria filha como "mula" (gíria conhecida para pessoa que entrega drogas) para entregar drogas a Jorge Michelini. Lola, que seria um contato na rota Brasil - Bolívia do tráfico de cocaína, desapareceu de Vitória em 1981, residindo atualmente na Bolívia, tendo o pai de Araceli, Gabriel Crespo, falecido em 2004.”

É bom saber que, uma das exigências feita aos autores da Wikipédia é a confirmação das informações publicadas através de referências, uma espécie de validação acadêmica que, infelizmente, nem sempre funciona bem; basta dizer que o artigo se utiliza do próprio documentário de Tatiana Beling para afirmar o que está dito no trecho acima sem fazer a devida ressalva da não confirmação das informações.

Assim um boato vira notícia e à vítima, ao invés de obter solidariedade e justiça, herda a reprovação da sociedade. Porém, não é só a impunidade que deixa margem para especulação. Um crime assim provoca medo paranóico nas pessoas causando diferentes reações sociais. Após o crime de Araceli as famílias capixabas passaram a se preocupar mais com o paradeiro dos seus filhos, outras aceitaram e difundiram a opinião de que a menina morreu porque estava envolvida com drogas e que aquele perigo não lhes pertencia.

Imaginemos, entretanto, que Dona Lola fosse mesmo representante de um perigoso cartel de drogas da Bolívia. Será que essa história teria terminado tão bem assim para os acusados? Rogério Medeiros conta que o máximo que a mulher conseguiu fazer – provavelmente quando entendeu para onde apontava a investigação - foi dar uma bofetada no rosto do delegado.  Dado as circunstâncias, deu sorte de não parar na cadeia.

Araceli deveria ter hoje perto de cinqüenta anos e a data de sua morte – 18 de maio – marca o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Enfim, não custa lembrar, é na semana que vem...

domingo, 6 de maio de 2012

MARIA NILCE : EM BUSCA DE JUSTIÇA


No próximo dia 16, quarta que vem, vão a julgamento dois dos últimos acusados do crime que vitimou a jornalista Maria Nilce Magalhães. Ela era chamada de Maria pelos amigos mais próximos e de Biango pela família, muito pouca gente conhece esse apelido e tampouco se sabe o que o originou. Não gostava de futebol, nem de churrasco e cerveja; seu principal link com o povo era o hábito de criticar acidamente o que não achava certo ou que desagradava seu, digamos assim, “gosto estético”. Por essas e por outras era considerada “corajosa”, inconseqüente e, principalmente, temerária. Dentro desse universo, feriu muita gente, algumas injustamente, mas também foi ferida; só que, para alguns, “dar uma surra” não era suficiente.

Maria Nilce sonhou em desmascarar aquelas pessoas que a perseguiam e que insistia em atacar abertamente, vislumbrou essa oportunidade chegando, mas não sobreviveu para comemorar, como alguns hoje o fazem e continuam felizes tocando a vida. Desde então é vista como um craque de futebol do passado que só é lembrado “pelos gols que perdeu”. Após sua morte escandalosamente pública, tudo de grandioso e belo que fez, das alegrias que nos trouxe, ficou esquecido. Seu último grande jogo, ela perdeu. Isso foi imperdoável.   

Junto com esse, que parece ser o último julgamento do caso, vem agora a público um livro de Rogério Medeiros, um dos amigos sinceros da época, com revelações do famigerado delegado Claudio Guerra sobre sua atuação como matador da ditadura. Esse assassino confesso, hoje convertido à Assembléia de Deus, menciona de passagem sua atuação no Espírito Santo a serviço das elites políticas e empresariais locais, mas esse não parece ser o foco do livro. Que pena. Afinal, os réus da próxima quarta-feira integravam ou tinham ligações com a equipe de Claudio Guerra. Continuamos na torcida de, numa dessas, toda a verdade acabar vindo à tona. 


Trecho da reportagem publicada no IG para ler mais acesse: http://ultimosegundo.ig.com.br/2012-05-02/claudio-guerra-um-matador-que-se-diz-em-busca-da-paz.html
 
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Reparem que o próprio tom da reportagem acima, publicada no GazetaOnline, é já diferente do de outras épocas. Hoje é mais seguro falar e até escrever sobre o que de negro houve no Espírito Santo e que algumas pessoas ditas “da elite” não passavam mesmo de perigosos bandidos. Maria Nilce errou ao acreditar que estava a salvo de uma ação armada, seu assassinato foi uma espécie de “declaração de intenções” do crime organizado que dominou “a cena capixaba” e que é tido como desarticulado desde o início do século. A grande questão ainda é: Será? Vamos torcer que sim, mas o bom mesmo seria ter alguns pingos em cima dos “is” que ainda nos faltam.