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sexta-feira, 11 de maio de 2012

TEORIA DA CONTRADIÇÃO: MATAR É CHIQUE - SER ASSASSINO NÃO...

Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo, e ele nada tem em mim; mas, assim como o Pai me ordenou, assim mesmo faço, para que o mundo saiba que eu amo o Pai. Levantai-vos, vamo-nos daqui.

João 14; 30 e 31

Uma vez meu primo - tenho mais de uns – entrou numas de me criticar por ser vegetariano, disse que não comer carne era contra “as regras da natureza”. Disse que quando via um bife acebolado fritando na chapa sua boca salivava que nem chafariz – se é que isso saliva - e que a mesma coisa não acontecia com as frutas. Rebati que seu exemplo seria válido se um dia sua boca inundasse ao ver vaquinhas pastando pelo campo e lhe desse a doida de matar uma delas: pegar um pau e quebrar seu crânio, cortar sua carne e assar no fogo. E comer...

De tempos em tempos matuto aquela conversa. Uma das certezas que tive foi que se cada um precisasse matar um animal para resolver sua fome o mundo seria bem mais estofado de vegetarianos. Presenciar uma matança não é para qualquer um, mesmo a de um animal que vai saciar algumas bocas famintas. No campo ou na cidade a carne ainda é, vide o churrasco, um indicativo de status social. Isso é fruto da organização das urbes e construção de valores subjetivos, quando certa moral bíblica é tradicionalmente ignorada, afinal, um dos dez mandamentos é “Não Matarás”.

Uma pessoa, qualquer uma, para viver de matar tem que abrir mão de alguns escrúpulos burgueses e, dentro desse processo chega a apenas duas opções: parar de matar, porque não dá mais conta do assunto; ou continuar matando por necessidade de subsistência conseguindo bloquear sentimentos como empatia e piedade. Talvez, em uma espécie de futuro essas pessoas um dia sejam vistas como psicopatas ou monstros insensíveis. Mas hoje não, são muito úteis à sociedade, certamente imprescindíveis.

Quanto mais a morte se torna um negócio, mais brutal e desvalorizado se torna o respeito pela vida e, pode ter certeza, qualquer forma de vida. Porém, mesmo sabendo disso, a sociedade humana respeita e tolera aqueles que vivem de matar, porque têm uma função específica e importante, exercem uma profissão ingrata que, apesar de ter seu resultado desejado por muitos, não é muito edificante de se executar socialmente falando. Aqueles que matam estão para a culinária como os lixeiros estão para a cozinha...

Como dito, consumir morte tem a ver com status social, é sinônimo de riqueza e, especialmente, de poder. Afinal, a todos é ensinado desde cedo que só Deus pode tirar uma vida. Ainda assim a sociedade consome morte, alguns de seus representantes mais bem sucedidos chegaram à conclusão que “Abaixo de Deus é a gente quem manda” e resolveram encurtar o prazo terreno de uns e outros. Problemas surgem dessa decisão: como já vimos não são todos que dão conta de meter a mão na massa e mesmo que o fossem: matar é trabalho sujo, coisa a se delegar. Especialmente porque é preciso sempre evitar as conseqüências. Surge assim o paradoxo: matar é chique, ser um assassino não. Para isso existem aqueles que assumem a profissão de matar.

Continua na postagem seguinte...

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom! O melhor de tudo é ver (pelo menos eu vi) que vc não está falando de vegetarianos e carnívoros...

Kika