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sexta-feira, 18 de maio de 2012

ESPELHO ESPELHO MEU: QUE VONTADE DE DEDICAR ESSA CANÇÃO PRA VOCÊ


 
Como todo bom cinéfilo sem carteirinha, costumo assistir a esforços cinematográficos que sei de antemão que não vou gostar. É o caso da Branca de Neve que fizeram recentemente. Faço isso buscando as gratas surpresas e também para poder avaliar melhor as razões de minha aversão, afinal assim me conheço melhor. É como diziam Glenn Goudl (pianista) e Yehudi Menuhin (Violino) discutindo o fato da expressão de uma opinião artística não poder seguir critérios subjetivos, sob pena de incorrer no erro do cidadão leigo que ama criticar aquilo que não entende tendo apenas por base o seu gosto.

Talvez uma das grandes questões do filme Branca de Neve seja a bruxa malvada – sem pleonasmo nem nada – interpretada sem muita pegada por Julia Roberts. Essa coisa da mulher puramente má me intriga, assim como os grandes vilões: pessoas que se percebem fantásticas e dignas de idolatria a troco de um poder que exercem com esmerada perversidade e nem sequer se dão conta do vazio ao redor. Cultivar inimizades é passatempo, adorar uma boa briga faz parte do pacote, viram referência de coisa ruim enquanto se cercam de puxa-sacos que as manipulam louvando suas pseudo-qualidades.

Seriam aquelas pessoas - que se aproximam de maus poderosos para se valer de seu favor - mais inteligentes do que as que divergem e os confrontam? Quando o risco de se prejudicar seriamente é real, talvez o sejam; afinal, é preciso preservar a espécie e contrariar pessoas que sofrem de distúrbios psíquicos e - sabe-se-lá como - alcançam algum poder pode não passar de suicídio altruísta ou mania de ser do contra buscando aparecer também. Não existe jogo sem parceiro e muitas vezes temos que jogar o jogo, mesmo que seja nos calando e engolindo sapos.

No fundo tenho pena dos líderes completamente auto-ignorantes, porque me lembram pessoas que aprendi a gostar do jeito que eram, mesmo não concordando com noventa por cento do que faziam ou da maneira escrota como me tratavam e às outras pessoas. Porém, os seres embriagados de si mesmos também me enchem de tristeza; porque estão no rumo de colisão com o sol, não sabem que precisam mudar e, por isso mesmo, ninguém tem o poder de convencê-los. Após várias derrotas escamoteadas e vitórias bobas contra oponentes pueris, qual o lugar na história imaginam ocupar?

No fim só nos resta a aceitação: aceitar que até pessoas boas fazem coisas ruins e depois não há muito mais o que fazer. São os acidentes, as fatalidades: são coisas da vida. Não devemos ter a petulância de nos imaginarmos bons, li em algum lugar que ninguém é. Talvez o grande desafio seja fazermos a coisa certa quando confrontados com o mal e saber que o desejo de reagir à altura nos envolve e nos envenena. Um pouco de sabedoria seria de bom uso para quem tem a pretensão de trazer verdades ao mundo, porque sua revolta apenas confere importância e volume às pirações daqueles ogros que querem derrotar.  

Um comentário:

Unknown disse...

Olá meu caro, Juca...
Muito boa essa crítica. Não poderia deixar de pontuar esse trecho: "Talvez o grande desafio seja fazermos a coisa certa quando confrontados com o mal e saber que o desejo de reagir à altura nos envolve e nos envenena. Um pouco de sabedoria seria de bom uso para quem tem a pretensão de trazer verdades ao mundo [...]"
Faz muito sentido...
Abraços,
Rico