Páginas

terça-feira, 29 de maio de 2012

NÃO SEI SE EU ESTOU PIRANDO OU SE AS COISAS ESTÃO MELHORANDO


Quando os doidões menos esperavam é que não aconteceu nada mesmo. Agora começou a circular a notícia que usar drogas pode deixar de ser crime. Um “liberou geral” que chega, se chegar, pelo menos uns trinta anos defasados da realidade dos malucos. Vamos combinar que agora não vai fazer mais muita diferença? Os próprios membros da comunidade doidarássa não conseguem mais recuperar a proibição de seus "agadês" e culpam os neurônios que foram destruídos por algum vírus sacana. Somente os mais teimosos ainda guardam a lembrança de que usar droga é ilegal, é imoral e engorda porque enganar a polícia e desafiar a sogra ainda lhes confere alguma forma de emoção... 

Mas a notícia está assim no site da Folha:

“A descriminalização vai permitir o uso, compra, porte ou depósito de qualquer droga, desde que para consumo próprio. Ou seja: a descriminalização deixa de classificar como crime.”

Já segundo o site da Globo, até mesmo o plantio de bagulho, a erva maldita, para consumo pessoal vai deixar de ser crime. Você, cidadão responsável que nem dirige por aí depois de tomar uma cervejinha pode pensar que isso é algum absurdo, mas lá nos anos oitenta tinha o pai de um amigo nosso que cultivava impunemente – até onde eu sei - um sonoro pé de maconha no “jardim interno” de sua residência. Era o ponto de visitação da casa. Todo mundo que passava por lá tinha que conhecer e reverenciar a simpática plantinha.

Tá todo mundo doido. Oba!
 
Não sei como é hoje, a molecada me parece mais comportada, bieberzinha, mas lá nos anos oitenta a ideologia da porralouquice imperava que nem aquele cara que desistiu de se candidatar a prefeito agora, bom, deixa pra lá. Tinha, por exemplo, o pai de um maluco que tomava muito café e, meio mórbido, costumava dizer que após sua morte ia nascer um pé do ouro negro capixaba em sua sepultura. Divertido o doidão comentava com os demais: e em cima da minha vai nascer um pé de maconha...

Honestamente – ou descriminalizadamente – não sei qual impacto ou que diferença isso vai fazer na cabeça dos inúmeros malucos que não passam sem um baseadinho. Sei lá por que, fumar maconha era e ainda é para muitos doidões antigos um modo criativo de viver, coisa de Magaiver, encontrar um lugar impossível pra malocar o produto. Por isso Keith Richards, Rita Lee e Ozzy Osbourne são referência de resistência, embora não falem mais muita coisa com coisa, curiosamente, eles já ficaram pra lá de velhos e estão cada vez mais doido varridos...

A descriminalização de certas drogas é uma discussão importante e antiga, mas eu gostaria de ver a comunidade pensante, pelo menos, tentando encontrar a razão de tantas pessoas precisarem usar drogas, legais e ilegais. Ou você conhece alguém que não toma um remedinho, uma cervejinha, ou até freqüenta um culto, digamos assim, mais emocionante? Precisamos nos conhecer melhor, sob o risco de continuarmos proibindo e liberando coisas que nem sabemos bem para o que servem em nossas vidas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Penso que o caminho sempre foi e será nos conhecermos melhor....assim, poderemos fazer melhores escolhas e um melhor uso das coisas.

Bj querido e obrigada por suscitar reflexões!

Patricia B.

Anônimo disse...

Meu caro Juca:
Sua crônica me fez voltar aos tempos de seminarista e refletir sobre a prática religiosa como a canabis do povo . Minha razão para tal experiência é que naquela época, anos cinquenta, o filho primogênito no patriarcado italiano tinha que ser padre. Hoje vejo filho meu filosofando a necessidade de curtir um baseado de vez em sempre... Bem, acho que é assim mesmo que a humanidade caminha: os estóicos na Grécia antiga, os parnasianos da nossa literatura romântica, os beatnicks do Greenwich Village, os hyppies e yupies de hoje. Deve ser l'eterno ritorno della historia que Vicco descreve...
Forte abraço.

M.

Juca disse...

Pra te falar a verdade M. eu não gosto de maconha não, me deixava preguiçoso e pateta. Abandonei completamente naquela época em que se eu bobeasse virava tapete, mas, como disse, entendo a necessidade que temos de drogas, afinal, não dispenso uma cervejinha de duas a três vezes por semana. O que não aceito mesmo é o discurso moralista de gente que acha que o mundo tem que ser igual pra todo mundo, não é? Talvez a incompreensão e a imposição da caretice tenham feito o uso de drogas se tornar tão popular, uma espécie de protesto nada criativo, uma reação como outra qualquer...