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sábado, 21 de maio de 2016

CARTA ABERTA À MILITÂNCIA ESQUERDISTA

Eu nunca tive nada contra a pessoa Dilma Rousseff não, sabe? Fora seu catastrófico governo, coisa que até alguns de seus defensores passaram a admitir depois dela ser afastada, vide declarações de Gregório Duviver e Tico Santa Cruz. Mas pra mim a gota d’água foi ver o Gabeira detonando Lula, Dilma e companhia. Disse, entre outras, que os intelectuais têm culpa no que aconteceu, porque quando o Lula dizia uma das suas besteiras iam lá defender e deu no que deu.

Como militante bissexto do preconceito contra a mulher - bandeira que abracei por causa do assassinato de minha mãe - é para mim inadmissível chamarem uma mulher de vaca ou mandarem-na em coro tomar naquele lugar. Então, me pareceu haver um bocado de misoginia nos ataques à primeira mulher a ocupar o cargo de presidente do Brasil. O preconceito de gênero, especialmente de radicais de direita machos pra caceta, grassou na certeza de fazer Dilma a primeira e também a última.

Fora essa questão de gênero, há que se entender a revolta de boa parcela do povo brasileiro. Quem mora no Brasil não tem como achar que a economia estava indo bem - a não ser na propaganda do governo - e torceu para ver esse inferno acabar mesmo que na mão do Temer ou do Tiririca que fosse... Ainda assim, muitos defensores da presidente evocaram teorias de conspiração, de empresários que propositadamente faliram o Brasil para tomar o poder. Enquanto isso o Gabeira afirmava: “repare que naqueles cartazes eles nunca disseram: nós não roubamos”.

Ora, ou a presidente cometeu crime e por isso foi afastada ou é uma pessoa séria, inocente coração valente, deposta por um golpe de estado da direita esperta. Os dois não dá...

Ainda assim, no auge da bagunça eu nunca bati panela, não fui pra rua, nem demonizei os integrantes do Petê. Portanto, fiquei ofendido quando fui chamado de coxinha - agora estou começando a achar que é elogio - por gente que não faz trabalho social, não conhece a realidade da própria cidade que vive e que, pior de tudo, não enxerga o quanto de pretensão tem em querer discutir a política do país. Repetem afirmações que ouviram e se identificaram, como é o caso da teoria golpista à qual tenho reservas, embora alguns bons advogados que conheço apontem indícios consistentes.


Agora as pessoas estão pelo Facebook agindo como fanáticos religiosos. Absortos por uma paixão que não precisa de razão, sentido ou explicação. Provocam embates em que buscam uma vitória mesmo que imaginária. Não percebem que nessa história todos saímos derrotados como povo e como nação. Deveríamos nos unir e não destratar todo mundo a torto e a direita como estão fazendo - especialmente no meu caso que nem falo de política - os “militantes da esquerda”. Com isso, a única coisa que estão conseguindo fazer é aumentar a sensação de que o que aconteceu foi o melhor para o país e levando a ser contra até quem estava quieto no seu canto.

sábado, 7 de maio de 2016

MARIA NILCE MAGALHÃES POR MARCOS TAVARES

Para lembrar o Dia das Mães, com carinho e saudades.
Texto publicado em “capítulos” no Facebook no início de maio de 2016.

“A vida se perpetua
mesmo nos putrefatos restos
quando o ser se anula.
Entre odores e microorganismos,
noutra forma de existir,
a vida se reorganiza”.

(in Gemagem, pg.52. Datado de 17-01-1978)

Nona filha de Tertuliano Tauribio dos Santos e Ana Cleta dos Santos, nasce na fazenda Fundão dos Índios, no Distrito de Timbuí (Fundão, ES), em 23 de Julho de 1941.

Então moça simples, mas bela sempre, aí a conhece o já renomado jornalista [ Djalma Juarez Magalhães ], com quem casa em 1961, logo indo para Vitória(ES), berço dos filhos Fernanda, Milla, “Juca” e Paloma.

Nomeia-se apenas “Maria”. Em 1967, precursora, no jornal A Tribuna passa a redigir coluna social intitulada MSM.

Sua forte personalidade exerce magnetismo, fascínio, admiração, até em ícones da então vigente inteligentsia: Amylton de Almeida, Rogério Medeiros, Glecy Coutinho, Carmélia M. de Souza, Xerxes Gusmão, Mariângela Pellerano, Fernando Tatagiba, Marien Calixte, Marcos Alencar, Milson Henriques.

Muitos desses são revistos na peça teatral Inven7ário – o fim de uma época, que, realizada por alunos do Curso de Teatro (FAFI, 2014), traz à cena a efervescente década de 70. Maria Nilce é, assim, com justeza, encarnada pela atriz Lilian Casotti.

Mesmo avessa a churrasco e cerveja, é bem sucedida em filantropia: festas beneficentes quebram marasmo da então pacata Ilha, fosse almoço para guardas de trânsito, fosse para arrecadar fundos a asilo ou orfanato.

Também detestando futebol, vai a estádios, a ginásios esportivos, ocasiões de festival de música, plateia de pé a gritar o seu nome, empunhando faixas, a jogar confetes.

Promove desfile de modas e deles participa como jurada (até de concurso de Miss Espírito Santo). Em evento no Ginásio do SESC (Parque Moscoso), multidão entoou-lhe o clássico “Ave Maria”. Apoteose já em vida.

Versátil, na TV Vitória produz e apresenta o programa “Coisas e Gente Muito Importantes”. Primeira jornalista a surgir, em nível nacional, na “telinha”, integra júri do “Hora da Buzina” (TV Globo) apresentado por “Chacrinha”.

Feminista em boa dose, Dia Internacional da Mulher jamais lhe passa em branco: para mulheres pobres promove suculento almoço.

Rebelando-se contra um colunismo só bajulador das elites, em sua coluna inicia Maria Nilce uma espécie de vertente “informativa”, propositiva até, na qual a seguem outros notáveis quais Jorginho Santos, Nirlan Coelho, Tao Mendes, Carlos Vaccari, Geraldo Bulau, Cesar Viola.

Espírito irônico, irreverente, é endeusada e, também, satanizada. Atrai leitores ávidos em saber vícios, virtudes e vicissitudes das personalidades capixabas de maior relevância.

Em 1986, crianças de Dores do Rio Preto (ES) remetem-lhe um abaixo-assinado contra matança de cães e gatos, por misterioso envenenador, e sua coluna [ no Jornal da Cidade ], com nota solidária, brada indignação.

Com predicativos para ser mais uma “dondoca” colunável, renuncia às facilidades e futilidades cotidianas e, por crença quase cega, idealista, opta pelo mais difícil trajeto, em que tanto espinhos quanto rosas colhe.

Assim encerra sua vida terrena: tomba atingida por cinco projéteis plúmbeos. Pistoleiros cumprem empreitada de gente poderosa e influente, alvo de sérias denúncias: de escusos negócios, de contrabando até.

Fato deu-se na manhã de 5 de Julho de 1989. Reafirma relatório da Polícia Federal a CPI do Narcotráfico, que aponta autores e mandantes.

No Newseum, memorial nova-iorquino a jornalistas que, mortos por retaliação ao ofício de noticiar, acabaram por virar triste notícia, nome de Maria Nilce consta.

Marcos Tavares é um capixaba da gema do ovo. Teimoso como muitos destes ilhéus, insiste (felizmente) em escrever contos e poemas que vêm sendo publicados desde 1987. Segundo “justificativa” de seu livro Gemagem “a preocupação com a linguagem formal é uma de suas características, é considerado um dos mais representativos poetas capixabas a despontar nos anos 1980”.´

Marcos Tavares (na ponta esquerda) com Elpídio Sant'anna e Juca Magalhães

quarta-feira, 4 de maio de 2016

XII ANIVERSÁRIO DO PARQUE BOTÂNICO VALE RECEBE O ESPETÁCULO RUSSO POÉTICO

ADVERTÊNCIA: Este texto nasceu de cócoras. Então, no final tudo (quase tudo) vai se explicar...

Foi há tanto tempo que nem me lembro mais... que a Elisa apareceu, estreou, sei-lá, na minha vida. Veio indicada pelo José Benedito, flautista de ouro e ébano, diamante no pano da noite. Indicação do amigo “Bené” porque, como a Legião Urbana, eram todos de Brasília; terra do nunca e do lago Paranoá. Fui lembrado por causa de meu trabalho com o Manuel Bandeira que nunca me dei ao trabalho de apresentar. Um dia, quem sabe? No meu caso tinha o piano e a poesia, o Bené lembrou de mim e a Elisa apareceu... Isso faz uns dez anos, ou mais.

Nem lembro a primeira vez que apresentamos o Russo Poético, talvez 2004. A Odara, filha da Elisa, era pequenininha e hoje é já mocinha. Logo eu que hoje vivo pesquisando e reconstruindo trajetórias, santo de casa e do pau oco. O primeiro a ocupar o posto de violonista foi Cello Alves, depois vieram outros como o Léo Carvalho, João Paulo, o violão virou coringa. Cada um com uma pegada diferente, mais rock, mais MPB e até clássica. Mas o importante sempre foi a voz de Elisa Alves, sua emoção, seu timbre, seu tempo. Agora chegou a vez do mestre Fabio Calazans, professor da Faculdade de Música, trazer sua pegada jazzística que era o que faltava.

O show é assim: um trio formado por uma base de teclado e violão dando suporte a voz da cantora Elisa Alvez que declama poemas e interpreta canções da Legião Urbana e de momentos solo de Renato Russo. O clima é intimista e despojado, é uma abordagem bastante alternativa - e talvez por isso mesmo - sedutora dessa música. O detalhe dos poemas catalisa de forma inusitada uma poética que geralmente é dissociada do musical, sobretudo pela maneira como Elisa Alves declama. Só depois de muito tempo fui ver Elisa solo num encontro de poetas e quase cai para trás.    

Ficamos muito tempo sem apresentar o Russo Poético, vários anos. - Não estou dizendo? A Odara cresceu e eu nem vi. - Agora você que ficou curioso e está a fim de um programa Classe A, convido formalmente a curtir a programação comemorativa do XII aniversário do Parque Botânico Vale. Vai ter o espetáculo Russo Poético com Elisa Alves, acompanhada por Juca Magalhães e Fabio Calazans, interpretando canções da Legião e do Renato Russo e declamando poemas de Cecília Meireles, Mario Quintana, Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa.

Além do deleite para alma, olhos e ouvidos; vai ter também um encontro de FoodTrucks com algumas opções gastronômicas para atender ao nosso paladar. Porque, honey, ninguém é de ferro e ainda ocorre que "todo descuido pode ser fatal"...

Russo Poético
Elisa Alves – Voz
Juca Magalhães – Piano
Fábio Calazans – Violão

Parque Botânico Vale
Sexta-feira, 6/5/2016
20:00 Horas
Entrada Franca!!!