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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

DOIS NOVOS LIVROS EM PAUTA

Amanhã, dia 29 de novembro e no dia primeiro de dezembro serão lançados dois livros de autores brasileiros nascidos no Espírito Santo. O primeiro é uma obra jurídica publicada pela Editora Revista dos Tribunais de autoria de Marcos Dessaune, aquele mesmo do livro "Histórias de um Superconsumidor".

Marcos iniciou a carreira na praia da produção de música clássica e jazz, trabalhou com artistas como Tom Jobim, Oscar Peterson e Paul Badura Skoda, entre outros. Posteriormente graduado em direito o autor vem desenvolvendo um importante trabalho na área de defesa do consumidor que é tema novamente de sua atenção no livro "Desvio Produtivo do Consumidor: O prejuízo do Tempo desperdiçado.

O livro, que tem prefácio de Claudia Lima Marques e apresentação de João Batista Herkenhoff, será lançado a partir de 19 horas no restaurante Spetin na Rua João da Cruz, Praia do Canto, ao lado do Banestes. Segue um trecho do conteúdo e uma reprodução da capa:

“Em um mundo em que imperam a especialização profissional, a interdependência das pessoas e as necessárias relações de consumo, a missão implícita de qualquer fornecedor é “liberar os recursos produtivos” do consumidor. Ou seja, é dar ao consumidor, por meio de produtos e serviços de qualidade, condições para que ele possa empregar seu tempo nas atividades de sua preferência.

Contudo, incontáveis profissionais, empresas e o próprio Estado, em vez de atender ao cidadão-consumidor em observância à sua missão, acabam fornecendo produtos e serviços defeituosos ou exercendo práticas abusivas no mercado, contrariando a lei.


Para evitar maiores prejuízos, o consumidor se vê então forçado a desperdiçar o seu valioso tempo – desviando-se de atividades como o trabalho, o estudo, o descanso, o lazer – para tentar resolver esses problemas de consumo, que o fornecedor tem o dever de não causar.”


 Quem lança livro novo também é o premiado autor Pedro Nunes, muito conhecido, entre outras, em função de sua obra "Vilarejo e Outras Histórias", adotada nos vestibulares de 1995 e 1996. Pedro também milita na divulgação da literatura feita no Espírito Santo pela Internet no site Tertúlia http://www.tertuliacapixaba.com.br/ um dos poucos que hoje servem para mitigar a nossa dificuldade de acesso às informações do gênero, segue abaixo o convite para o lançamento que será na Biblioteca Estadual:



 O ARREMATE QUE NOS É POSSÍVEL:

Acho que já ficou meio rastaquera e boicoió perguntar isso, mas por que será que tantos livros importantes veem à público praticamente ignorados pela mídia do Espírito Santo, enquanto reportagens de página inteira são oferecidas aos novos livros de Jô Soares e Danuza Leão? Se a idéia é deliberadamente ignorar os fatos do Espírito Santo, a mídia local deveria abordar apenas os crimes escabrosos e a política dos grandes centros culturais do Brasil, deixando de lado as "menores" atrocidades locais. Então, não custa perguntar: se é interessante expor e transformar em showbizz o sofrimento do povo capixaba, por que não é interessante divulgar o que é bacana e se produz aqui?

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

CÍRCULO DE TÂNTALO OU SURPRESA: SUBSTANTIVO FEMININO


- Pô, que velha otária! – É Mané, quem mandou folgar pra cima da garota? Mas o cara era assim, tirado a maluco. E quem é doido periga levar bofete na cara. As velhas caretas esbofeteiam quem elas acham que deveria estar de careta também. A galera se reunia do lado de fora da escola, era uma enrolação só. Conhecia o porteiro pelo nome, mas nem por decreto e reza braba que eu conseguiria lembrar agora.

E a garota morena que sentava na minha frente? Essa eu lembro o nome. E olha que era bastante esquisito, mas como esquecer? Não é da conta de ninguém, mas tomei um baita “toco” dela uma vez. Gostava de provocar, seduzir e deixar o cara na mão. Era como uma peculiar variante sádica que se especializara em infligir o Suplício de Tântalo em suas paqueras: gozava com o desejo frustrado do alheio.

Eu detestava qualquer tipo de matéria exata, para mim não tinha nada de exato no mundo e mesmo que tivesse eu não queria tomar conhecimento. Era prova de química, então sentei na última carteira da classe para poder desenhar tranqüilo e talvez escrever, sou bom em passar o tempo e também muito educado: não queria entregar a prova sem fazer de conta que tinha tentado resolver alguns dos exercícios.

Apesar da matéria enjoada até que eu gostava daquele professor: era pançudo e gozado, bigodudo e histriônico. A peste morena estava sentada bem na minha frente, provavelmente enrolando também, quando levantou para entregar a prova deixou cair todas suas coisas no chão e se abaixou inclinando o corpo para onde eu chafurdava em tédio.

Baita surpresa naquela manhã profundamente chata: a garota vestia uma camisetinha de malha folgada sem nada por baixo. Foi quando eu descobri que ela tinha acordado endemoniada e estava pagando peitinho desde cedo, por isso o professor fanfarrão já tinha vindo verificar “as coisas” pro nosso lado várias e várias vezes. E eu muito besta achando que ele estava de perseguição preu não colar...

Ainda abismado, do lado de fora da escola, contei a história pro Zueira que fumava um cigarro, vestia uma calça rasgada e uma camiseta do Black Sabath. Nisso passou uma garota bonitinha, Zueira puxou a cabeleira dela, cheirou e resmungou alguma sacanagem. Alguns passos firmes depois vinha uma megera magrinha com cara de xerife de campo de concentração nazista e sentou uma bofetada na cara do metaleiro!

Até Zueira reagir do tabefe a velha e a gatinha já tinham desaparecido na multidão, enquanto isso eu e o resto da galera estrebuchávamos de rir. Sua única reação foi comentar massageando o rosto:

- Pô, que velha otária! – E pensar que Zueira hoje é Doutor em Comunicação...

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

RAPIDINHAS CULTURAIS - URGENTE!

Bem amigos da Letra Elektrônica, hoje a noite (23/11) as 19 horas, em homenagem à Santa Cecília, eu entro em campo para falar da nossa música no Segundo Painel sobre a História do Espírito Santo, evento bacana que acontece na Biblioteca Estadual e que teve abertura na segunda passada com a presença de vários historiadores importantes, escritores e autoridades como a deputada Luzia Toledo e o Secretario de Estado da Cultura Frei Paulão. 

A mesa desse painel intitulado "Identidade e Expressão Popular" será coordenada pelo Sub-Secretário de Cultura do Estado, Erlom Paschoal e contará ainda com José Eugênio Vieira, Francisco Aurélio Ribeiro e Eliomar Mazoco. Eu vou abordar um tema que é muito discutido na comunidade capixaba: a valorização do músico e da música local, tendo por base a trajetória da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo. Garanto que quem for não vai se arrepender.

E quem vai subir ao palco pela última vez nessa temporada de 2011 é a Orquestra Camerata do SESI. O repertório é barroco/romântico que, aliás, do ponto de vista estético tem tudo a ver. Os períodos da música se intercalam entre o exagero e a simplicidade, portanto nada mais adequado para a ocasião. A inteira é só quatro reais e a meia mais barato que uma passagem de ônibus. Dê uma chance ao bom gosto musical e vá prestigiar essa Orquestra que é hoje a segunda mais importante do Estado. Segue o convite:


E por falar em convites imperdíveis: você já foi ver a exposição do Modigliani que está no Palácio Anchieta? Então meu amigo, pare de reclamar que Vitória não tem nada pra se fazer culturalmente e reserve um tempinho em sua concorrida agenda de programas bacanas como assistir shows no Parque de Exposições de Carapina, churrasco com a galera dos jogos do Brasileirão e passeios enriquecedores no Shopping Center. Vou escrever mais detidamente sobre essa exposição fantástica, mas você trate de correr lá antes que acabe. No link abaixo tem tudo a respeito:

http://www.iuuk.com.br/?x=agenda-interna/palacio-anchieta-museu/exposicao---modigliani-imagens-de-uma-vida/7932



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O SUPER PODER DA DISTRAÇÃO


Muita gente consegue desenhar bem várias coisas: animais, pessoas, paisagens. Na infância eu me considerava um bom desenhista, uma das minhas ambições era tentar replicar os meus super-heróis prediletos. Muita gente sabia do meu entusiasmo pelas histórias dos super-caras que usam cuecas por cima da roupa. Alguns amigos de papai até me apelidaram de “Super Juca”, eu que era um garoto magrelo não achava que era por ironia, tentei sair voando dos telhados, mas o chão gostava de mim.


Fizeram uma pesquisa nos EUA para ver quais os super poderes as pessoas mais gostariam de ter: voar ganhou disparado. Curiosamente, falar com os peixes – super poderes do Aquaman – não ficou bem ranqueado. “Que pena, dizem que os peixes falam coisas muito interessantes.” Quem nunca se imaginou tendo poderes telecinéticos para pegar coisas distantes sem levantar da cama, atravessar paredes para fugir de uma encrenca, ler pensamentos durante uma paquera ou ter visão de raios-x? Uma vez eu nem precisei desse último super poder para realizar um desejo.

Em minha escola da adolescência estudava uma garota apelidada de “a perfeita”. Naturalmente, além de ter tudo generosamente no lugar exato, a beldade não dava pelota pra ninguém, era um sonho de consumo inexpugnável. Faço aniversário perto do natal e justamente naquele dia, um final de tarde ensolarado, dobrei uma esquina na Praia do Canto e me deparei com “a perfeita” caminhando bem à minha frente.

Fazer parte da categoria das perfeitas requer um trabalho danado, tem, por exemplo, que usar vestidos provocativos que privilegiem curvas e retas de um corpo jovem e desejado por mais marmanjos que a torcida pelo fim do sertanejo universitário. Não fora assim, que graça teria em ser estonteantemente bela? E a garota caminhava carregando um monte de pacotes de presentes. Pensei que Deus tinha me dado a chance de ser cavalheiro e a conhecer, mas antes disso bateu a ventania e o vestidinho da perfeita ficou que nem biruta de campo de pouso em dias de atividade.

Tive que improvisar uma tipóia pra me segurar o queixo ante aquela cena que qualquer marmanjo pagaria várias vezes o valor da mesada para poder assistir. Enquanto tentava equilibrar os presentes que perigavam despencar no chão, “a perfeita” lutava em vão contra o vento que revelava impune e fartamente seu corpo escultural da cintura pra baixo. Foram umas três quadras daquele jeito até que a alcancei e me ofereci a ajudar. Descobrimos que morávamos perto, tivemos um pequeno romance e lá pelas tantas constatei que ela não era tão perfeita assim...

Por essas e por outras que ao invés de desenhar eu acabei me dedicando a escrever.

RAPIDINHAS CULTURAIS - HISTÓRICAS

Faz tempo que não rola uma edição das tradicionais Rapidinhas Culturais aqui na Letra Elektrônica, mas é que amanhã é dia da Música (!) e mais abaixo eu quero compartilhar com os amigos algumas paradinhas imperdíveis que vão rolar aqui na "pacatolândia" de Vitória. Antes deixa postar uma imagem (porque a oralidade está no DNA de minha escrita - Pandini sic) de Santa Cecília, padroeira da música, pra gente começar a semana no acorde certo e na harmonia perfeita.


Hoje a noite (21/11 - 19h) acontecerá a solenidade de abertura do seminário "Espírito Santo um Painel da Nossa História II". Uma promoção da Biblioteca Pública do Estado do Espírito Santo. Na quarta-feira (23/11) estarei (Juca Magalhães) participando do painel "Identidade e Expressão Cultural", falando sobre - e divulgando - o tema de meu último livro: a história de fundação da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo. Segue abaixo a programação, a entrada é franca.


Nesse mesmo dia, infelizmente para mim - porque não vou poder estar lá - sobe ao palco do Carlos Gomes a Orquestra de Câmara de Frankfurt. Último evento da temporada 2011 da Série de Concertos Internacionais que tantas boas atrações nos trouxe ao longo do ano. A entrada é franca, segue o flyer:


Até o final da semana a Lektra volta com mais rapidinhas culturais: tem o último concerto da OFES da temporada 2011 apresentando o Requiem de Brahms, o projeto Canto Solidário - capitaneado por Elaine Rowena - que vai homenagear a Tropicália e tem muito mais... 

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A CULTURA NOS TORNA IMORTAIS

O capixaba lê pouco, não tem costume de comprar livros e acredita pouco no investimento em seu próprio repertório cultural. Falo por mim mesmo que sou um tarado devorador de livros e extremamente pão duro na hora de os comprar. Acabei me deparando com vários estudos sobre o mercado editorial brasileiro no período – um ano e pouco atrás - em que dei aula no curso de biblioteconomia da Ufes e vi os números: o Espírito Santo representa apenas três por cento do bolo nacional. (!)

Um fato comprovado é que a maioria patropi só compra livros ou os lê por obrigação: porque vai fazer uma prova ou concurso, porque o livro consta obrigatoriamente do currículo de um curso e “xerocar” ou imprimir fica mais caro, porque é um profissional que precisa se atualizar com relação a um assunto; é basicamente assim. Traduzindo livremente: as pessoas compram livros e os leem quando acreditam estar fazendo um bom investimento. É por aí também que o mercado de auto-ajuda bomba.

Compare com o investimento feito na imagem pessoal: roupas, tratamentos disso e daquilo, academia, cosméticos, enfim, a lista é enorme e nem quero entrar nos itens mais caros como carro, moradia e viagens internacionais (que não deveria ser bem imagem pessoal, mas “Ô!” como é). A valorização da fachada e o descaso com o conteúdo é uma das principais características de uma sociedade subdesenvolvida, assim o é também com relação ao indivíduo.

Já ouviu aquela frase “político não gosta de fazer obra de infra-estrutura porque fica enterrada e o povo não vê”? Em nossa sociedade é assim que percebo o investimento no enriquecimento interior - na cultura se você preferir - que diferença faz ter vasta cultura se teu amigo demente tem um carrão e você não? É exatamente nessa mesma praia que as pessoas pagam trezentos paus num “abada” e não dão dez para ver um show de artista local. Investem tudo o que têm numa imagem que imaginam passar para aqueles que conhecem ou querem conhecer.

Li uma frase, não lembro mais onde, talvez num livro de Cocteau, que “ficar rico é fácil, basta se dedicar a isso”. E se pensarmos que a maioria dos “ricos e famosos” são pessoas que não ostentam cultura - muito pelo contrário - e sim corpões e fachadas deslumbrantes, fica fácil entender porque a ignorância grassa. Inteligência e cultura são coisas muito diferentes, para ficar rico basta ter a primeira e às vezes nem isso - tem golpe, herança, loteria - para o quê serve a segunda então?

No último Festival de Inverno de Domingos Martins alguém atribuiu ao Prefeito local a seguinte frase: “Cultura não enche a barriga de ninguém!” Quero não acreditar que o indivíduo em questão tenha dito isso, mas é o que pensa a maioria das pessoas. Agora te pergunto: E se na Grécia tivesse sido assim? Não teríamos a filosofia. No Rio não teríamos o samba. Não quero nem pensar em quantas barrigas a cultura já encheu, inclusive de políticos. Basta dizer que – nem sei se é verdade, mas vá lá – a maior indústria americana hoje é a do entretenimento, especialmente o cinema.Um ator de cinema foi eleito presidente lá...

A sociedade se constrói a partir da cultura e não o contrário. Transferindo essa afirmação contundente para o campo pessoal: uma bela mulher pode ser só uma bela mulher, case com ela e você vai descobrir. O que nos diferencia dos macacos é que eles aprendem coisas, mas não conseguem ensinar e para estes dão-se bananas. Enquanto investirmos tudo o que temos em belas fachadas em detrimento do conteúdo seremos mais um na multidão devorada pelas areias do tempo. Pergunte a Hermes, Sócrates e Platão, eles estão por aí até hoje...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

NOVO LIVRO DA ORQUESTRA BOMBANDO PELA MÍDIA


Claudio Thompson e Juca Magalhães participaram hoje de manhã do Bom Dia Espírito Santo da TV Gazeta, matutino afiliado à Rede Globo. Hoje a noite acontece o lançamento de dois importantes livros sobre a história da música clássica no Espírito Santo.  Veja a reportagem no link abaixo:

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1692497-7823-FACULDADE+DE+MUSICA+DO+ESPIRITO+SANTO+FAMES+LANCA+DOIS+LIVROS,00.html

O mais antigo e prestigiado site de notícias do Espírito Santo, O Século Diário, traz também uma reportagem muito bacana feita pela jornalista Lívia Corbellari, segue o link:

http://www.seculodiario.com/exibir_not_atracao.asp?id=6919

E amanhã tem uma reportagem sobre o novo livro da Orquestra no Pensar, o caderno de cultura do jornal A Gazeta, capitaneado pelo escritor José Roberto Santos Neves. Aliás, o Zé está finalizando uma obra sobre o movimento do metal em terras capixabas. Vi algumas fotos e fiquei doido para ler as histórias. Sem falar que tem a  idéia de com o livro rolar um som com a galera jurássica do nosso Heavy. Vai voar morcego pra tudo quanto é lado.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Convite

Lançamento do livro "Da Capo - de volta às origens da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo. Faculdade de Música do Espírito Santo, dia 11/11 (sexta-feira 20h). Os cinquenta primeiros a chegar ganharão um exemplar autografado pelo autor. 

O livro também poderá ser adquirido durante as récitas da Nona Sinfonia de Beethoven apresentada pela Orquestra Filarmônica do Espírito Santo nos dias 12/11 (sábado - 20h) e 13/11 (domingo - 18h) no Theatro Carlos Gomes. Centro. Vitória-ES






segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A HISTÓRIA DA MÚSICA CLÁSSICA NO ESPÍRITO SANTO EM DOIS NOVOS LIVROS


No próximo dia 11 de novembro o pesquisador de história da música, Juca Magalhães, lança a segunda edição do livro “Da Capo”, única obra existente sobre a Orquestra Filarmônica do Espírito Santo - OFES. Na verdade o que vem a público agora é um livro sobre uma despretensiosa pesquisa publicada em 2003. Na Mesma ocasião será lançado também um livro inédito sobre a obra para piano do professor Alceu Camargo.

O texto original de “Da Capo” surgiu da necessidade de formatar a apresentação de um projeto para a Associação de Amigos da Orquestra, era bastante sucinto e pragmático, porém, cumpriu na época uma importante função. Hoje parece difícil acreditar, mas em 2002 não era possível encontrar documentos nem depoimentos que demonstrassem com clareza e segurança como e quando fora fundado o principal grupamento sinfônico do Estado.

Com a realização da pesquisa e o lançamento daquela primeira edição vieram palestras divulgando essa parte da história, abordando o universo da música clássica e sua trajetória no Espírito Santo. A prática das palestras levou o autor recentemente a integrar uma turnê nacional por cinco Estados do centro oeste e norte do País dentro do projeto “Música Barroca na Estrada”, mas nessa altura o “Da Capo” já se esgotara.

A iniciativa da segunda edição do Livro da Orquestra foi aprovada pela Lei Rubem Braga, obteve patrocínio da empresa ArcelorMittal Tubarão e ainda contaria com a adesão da Faculdade de Música do Espírito Santo e do Departamento de Imprensa Oficial – DIO. A FAMES tem tudo a ver com essa história, afinal, através do trabalho desenvolvido por seus professores, especialmente o casal Vera e Alceu Camargo, houve o início e o florescimento do trabalho com música sinfônica no Espírito Santo.

O pianista Claudio Thompson pesquisou a vida e a obra completa para piano do professor Alceu Camargo, até hoje inédita, e trará a público na mesma ocasião o resultado de sua dissertação de mestrado em práticas interpretativas – sub área piano - na Universidade de Santa Catarina. O nome do livro é Alceu Camargo, um homem a seu tempo. É um resgate importante da vinda desse paranaense para o Espírito Santo, que seria fundamental para a criação da Orquestra local.

Para essa nova investida na história da OFES foi realizada uma pesquisa bem mais abrangente fornecendo um panorama da situação social e política que fez da música sinfônica uma demanda cultural do capixaba e também uma investigação mais profunda com relação à atuação de algumas personalidades dentro desse processo. Ajuda muito importante nessa nova abordagem do tema veio através do maestro Vítor Marques Diniz, que não fora possível contatar na primeira edição da pesquisa.

O regente lusitano veio para Vitória através de convite de Beatriz Abaurre, então diretora da Fundação Cultural do Espírito Santo, sua chegada teve o efeito de um catalisador que reuniu potenciais musicais dispersos e proporcionou a criação, a partir de 1977, do Coro e Orquestra de Câmara da Fundação Cultural do Espírito Santo. Hoje aposentado o maestro Diniz reside em Campo Grande-MS, mas guarda vívidas lembranças de nossas terras o que valeu um tocante prefácio para a segunda edição do “Da Capo”.

O novo Da Capo contou ainda com a colaboração dos atuais maestros da OFES, Helder Trefzger e Leonardo Davi, na correção de algumas informações, do ex-regente Leonardo Bruno - que aproveitou para enviar uma mensagem aos capixabas - e do maestro Adolfo Alves autor do texto da orelha. Você vai se emocionar com a saga de criação do mais importante grupo sinfônico do Espírito Santo que, após vinte e cinco anos, comprova que o acesso à música clássica nasce de um claro desejo de inserção cultural e é uma conquista de todo povo capixaba.

Recuperando tempo: Da Capo (do italiano “da cabeça) ou D.C. é uma expressão musical que quando surge na partitura remete o intérprete ao início da obra, ou seja: tem o sentido literal da expressão: do início. E é essa a intenção dessas duas obras importantes que agora surgem e dialogam entre si: uma mais abrangente, outra mais específica, porém, ambas fundamentais para o resgate de nossa história musical. 

Reportagem anunciando a estréia da Orquestra e Coro de Câmara da Fames em maio de 1976

“Da Capo” De Volta às Origens da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo
Alceu Camargo, Um Homem A Seu Tempo
Lançamento no dia 11 de novembro de 2011. Horário: 20:30 h
Local: Sala de Concertos Alceu Camargo
Faculdade de Música Maurício de Oliveira – FAMES
Entrada Franca – A Sala de Concertos tem capacidade para 160 pessoas.
Endereço: Avenida Princesa Isabel, 610. Centro – Vitória.

domingo, 6 de novembro de 2011

CERVEJAS, LEMBRANÇAS E REFLEXÕES

Encontro de velhos roqueiros é a boa vontade, já dizia o Coalhada. Uma suruba de lembranças, máximas, ditos, acordes adormecidos e velhas expressões. De vez em quando me pego encafifado com alguma coisa assim, tipo a frase: “a noite é uma criança”. Quem será que inventa essas paradas? Outra logo aventada foi a da cerveja “estupidamente gelada”. Ninguém soube dizer de onde viera a estupidez, mas lembrei a primeira vez que a ouvi:

Eu estudava no Martim Lutero, uma escola famosa por agregar as crianças problemas da classe média de Vitória. Quem não se adaptava às rotinas escolásticas de colégios católicos como o Sacre-Coeur ou o Salesiano partia para a opção protestante que nada tinha a ver com a febre evangélica que tomaria conta do país. Naquela época os evangélicos eram uma pequena minoria que todos chamavam com certo preconceito de “os crentes”.

Não quero discutir religião, muito menos o racismo: porém, quase não havia negros em nossa escola. O único que me lembro, aliás, lembrei por causa da expressão, fora trivialmente apelidado de “Negativo”, hoje isso ia dar uma confusão... Foi ele que veio dizendo orgulhoso que gostava de tomar sua cerveja “estupidamente gelada”. Ora, eu nem fazia idéia do que era beber naquela época, para mim era estranho alguém de nossa idade enfiar o pé na jaca. Achei que Negativo estava apenas querendo tirar uma onda de adulto.

Daí lembramos de um barzinho que tinha em Santa Lúcia, cuja (cuja?) principal atração era passar vídeos de rock. Era um videobar, novidade bacana à época. Era inverno, a moda era tomar Kaiser Bock que eu adorava. Ficamos tentando lembrar o nome do bar, era rock alguma coisa. Video rock? Não, acho que tinha house no nome. Putz grila! É isso mesmo, House Rock Video Bar!! Tomei umas biritas lá com a princesa Jasmyne, fizemos até algumas letras de música.

A cerveja Bock era meio avermelhada, não sei por que sumiu, nunca mais nem ouvi falar disso. Também fiquei muitos anos sem beber, mais ou menos doze, quando voltei não existia mais. Fui no Rock House algumas vezes, mas nunca dei conta de assistir os filmes que passavam por lá: The Rocky Horror Picture Show, o gigantesco documentário do Woodstock, Sem Destino, coisas assim. A urgência daquela época era muito grande e a noite uma perseguição interminável de sonhos irrealizáveis que invariavelmente terminavam em um apagão.

Numa dessas era feriado sei-lá-de-quê e depois de tomar todas eu como sempre apaguei. Coisa Gorda e Ricardão tentaram me acordar dizendo que “a noite era uma criança”. Muito doidos tiveram a brilhante idéia de me “desovar” no cemitério: “imagina a cara dele acordando no buraco do caixão, huahuahuhuha!” Só que chegando lá bateu a onda do ácido e os caras piraram geral, começaram a correr pelas sepulturas, era alta madrugada, viram vampiros, ouviram gemidos e fugiram correndo. O seguro morreu de velho e é por isso que naquela época vivíamos atrás de emoção, hoje perto dos cinqüenta me pergunto como foi possível, mas o Keith Richards não está por aí? Então, uma hora eu também vou estar...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

DO NOVO DICIONÁRIO POPULAR BRASILEIRO: “É POBREMA OU PROBLEMA?”


Essa eu ouvi em Cuiabá: a amiga Valéria contou que um amigo ouviu duas mulheres conversando num ponto de ônibus do Rio de Janeiro. O tema era a complicada gramática portuguesa e a misteriosa diferença de significado das palavras “pobrema” e “problema”. Depois de bastante argumentar e levantar hipóteses chegaram à conclusão de que:

Problema: seria uma questão de caráter civil público, ou seja, não privado e comum a todos os cidadãos. Por exemplo: as enchentes e os deslizamentos de encostas são um problema, a violência urbana, o tráfico de drogas, o mau atendimento na saúde pública e por aí...

Pobrema: seriam questões de foro íntimo e particular, pendengas do dia a dia dentro do ambiente familiar: falta de grana, conflitos com a sogra, marido bebum contumaz, indiscrições verbais relativas à vida dos outros (fofocas), gravidez indesejada, avistamento de disco voador etc...

Valéria foi uma companhia de viagem e tanto. Descobrimos em Cuiabá um folclore muito rico e variado, é possível, por exemplo, fazer relações entre a maneira característica de se cantar o “rasqueado” com aquele jeito latino a La odalisca de Ney Matogrosso, cuja (cuja?) relação explícita com o sobrenome eu nunca havia feito.

Outra coisa típica do Mato Grosso são as danças do Cururú e do Siriri. A primeira tradicionalmente é exclusividade dos homens (embora a relação com os sapos não tenha sido aventada em nenhum momento), a segunda cabendo as mulheres valeu logo uma observação picante: se colocar mais um “ca” no final a ligação com o universo feminino fica totalmente explícita.  

Em Cuiabá ainda pintou o Habel Santos, mestre da viola de cocho, instrumento típico da região como aqui é a casaca e a corrupção. Falando nisso, em quase todos os lugares que fui vi reco-recos com nomes diferentes, até agora me pergunto sobre essa falta de identidade para com um instrumento de percussão tão comum e sem graça: para mim o reco-reco é o chuchu da percussão.

Descobri um país muito parecido com o resto, só que com muitas frutas diferentes: pequi, buriti, açaí. Me perguntaram se vi muita pobreza lá pelo norte. Pelo contrário: vi carrões e gente com grana em colunas sociais com as mesmas expressões idiotas chiquérrimas e pessoas sorridentes que não faço a menor idéia de quem sejam aniversariando e viajando para a Europa...