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quinta-feira, 26 de julho de 2012

GABRIELA MOREIRA: PAIXÃO PELA DANÇA

Entrevista com a bailarina Gabriela Moreira, 19 anos, em 26 de julho de 2012. Professora da turma de Balé do projeto Canto na Escola no bairro Barro Branco, Serra-ES. O projeto tem apoio da empresa ArcelorMittal Tubarão e é coordenado pela maestrina Alice Nascimento. 

O depoimento de Gabriela demonstra, de maneira tocante, vívida e emocionante, a importância das ações desenvolvidas pelo Instituto Todos Os Cantos e outras instituições voltadas para os projetos culturais.

ITC: Gabriela você começou a participar de projetos sociais desde pequena não é?

Gabriela: Sim, desde os nove anos que foi no Arco Íris (atual Instituto João XXIII), aqui no Itararé mesmo (Vitória-ES).

ITC: E como é que isso começou? Sua mãe que ficou sabendo, você nem lembra não é?

Gabriela: Não, eu lembro! Eu é que fiquei sabendo na escola, mas não me interessei; não dei meu nome, nem nada. Aí de tarde eu fui na casa de uma amiga que falou que ia e me chamou pra ir junto e eu fui. Inclusive eu fui de intrusa, meu nome nem tava lá. Minha primeira aula foi com Alice (Nascimento), eu lembro até hoje. E nisso eu fiquei lá até tarde, quando voltei levei o maior esbregue da minha mãe porque não tinha avisado. Depois eu pedi pra ela ir lá, que eu tinha gostado e tal, aí sim ela foi.

ITC: Quando você soube do projeto na escola, por que você não se interessou em participar?

Gabriela: Porque eu nunca tinha feito, não tinha conhecimento de nada, para mim aquilo era alguma brincadeira. Quando fui no primeiro dia e vi que era aula mesmo de coral, aula de flauta e de violão é que eu me interessei.

ITC: Você já tinha vontade de aprender música ou algo assim?

Gabriela: Não, nunca tive vontade.

ITC: Mas aí, quando conheceu você quis...

Gabriela: Sim, aí eu falei que queria. E entrei pras três oficinas oferecidas na época, isso foi em 2003.

ITC: E a dança?

Gabriela: Meu primeiro contato com a dança também foi lá dentro do Instituto (Arco-Íris). No ano de 2004 anunciaram que ia ter uma oficina nova, de balé, com a professora Liviane Pimenta e eu me inscrevi. Eu sempre achei bonita a dança, mas nunca tinha tido nenhuma convivência, então comecei as aulas de balé e gostei. Não era aquele balé assim tão rígido e cobrado como as aulas que tenho hoje, mas era balé, a gente ensaiava e fazia apresentações. E eu me interessei mais do que as outras oficinas, mesmo gostando, porque depois vieram de percussão, teatro, e eu entrava em todas, mas a que eu mais gostei foi a dança mesmo, o balé. E aí eu fui ganhando destaque, fui descobrindo que tinha jeito praquilo. Eu me destacava porque queria fazer aquilo, eu sempre me empenhava, não estava ali porque não queria ficar em casa, eu queria mesmo dançar e continuei. 

Gabriela e sua turma de dança.
ITC: Você disse que “naquela época o balé não era tão rígido quanto o que eu faço hoje”. O que você faz hoje?

Gabriela: A história toda foi assim: teve um ano em que eles cortaram o balé do projeto Arco-Íris e eu senti muita falta, mas então entrou a oficina de vivências corporais que também era dança, só que popular e contemporânea (Com a professora Danubia Aires). E eu gostei também, conheci esse outro lado, descobri que gosto da dança no geral, mas falei pra Danubia que gostaria de continuar estudando balé e ela me falou das aulas que tinham na Fafi (Escola FAFI da Prefeitura, fica no centro de Vitória), mas que tinha prova, audição pra entrar e que era muito difícil. E minha mãe não ligava muito pra esse tipo de coisa não, tanto que minha inscrição na Fafi foi a primeira vez que eu andei de ônibus, sozinha, na minha vida - eu tinha doze pra treze anos – porque era uma coisa que eu queria muito. Liguei pra Fafi pra descobrir quando abriam as inscrições, fiquei ligando durante o final do ano, e a Danubia também estava me ajudando, descobriu o dia e me avisou. Fui eu e mais duas amigas lá na Fafi e ficamos meio perdidas, aí a Bianca (Corteletti, na época a coordenadora da Fafi) veio e me perguntou: “Tá, mas você quer fazer balé pra quê? Porque aqui a gente tem o balé pra quem quer fazer por hobby e temos o que é de formação mesmo”. Aí falei com a maior determinação que queria o de formação, que eu queria ser bailarina.

ITC: Quantos anos você tinha mesmo?

Gabriela: Doze! Aí ela falou “Então tá Gabriela” e me deu uma ficha de inscrição e foi a maior confusão nesse dia porque eu não tinha levado foto nem nada, a minha sorte é que meu pai trabalha perto da Fafi e peguei dinheiro com ele, rodei o centro, tirei foto e foi essa correria. Aí fiz minha inscrição, marcaram o dia do teste, eu fui e quando voltei pra pegar o resultado tinha passado. Foi uma pena que minhas amigas não conseguiram, mas eu fiquei muito feliz que passei.

ITC: Suas amigas estudavam também com você no Arco-Íris?

Gabriela: Sim, eram a Denise e a Ana Carolina. Só eu passei. E eu também continuei no Arco-Íris, ia pra lá quando não tinha aula de balé e nos espetáculos, nas apresentações eu sempre estava presente porque era um lugar que eu gostava muito de estar. E foi assim até 2009, tive aula de música, história da dança, balé contemporâneo, ponta, tudo, mas não cheguei a me formar pela Fafi. Eu recebi uma proposta, ganhei uma bolsa do Balé da Ilha e resolvi ir porque é uma escola muito boa, vamos dizer que os melhores bailarinos do Estado estão ali e eu não poderia deixar passar uma oportunidade dessas, fui graças a professora Patrícia Miranda que me dá aula até hoje.

Gabriela em ação com a turma do Balé da Ilha
ITC: E você nunca pagou por nada disso?

Gabriela: Não, nunca paguei para ter aulas.

ITC: E se você tivesse que pagar você acha que sua família teria condição?

Gabriela: Não, não teria não. Imagina se eu tivesse que pagar por figurinos, viagem. Porque eu sempre tenho que estar comprando meia calça, sapatilha, collant que é uniforme, coisas que gastam muito fácil para quem faz aulas todos os dias. Se, além disso tudo, eu ainda tivesse que pagar pelas aulas eu já teria desistido há muito tempo.  

ITC: Alice Nascimento te convidou no início do ano para dar aulas de balé no projeto Canto na Escola e como é isso pra você, a Gabriela agora estar ensinando para crianças que não têm condições como foi a sua própria história?

Gabriela: Eu nunca imaginei de estar dando aulas, o meu objetivo era dançar e daqui a pouco estar fora... Mas a gente vai vendo que essas coisas não são bem assim. Dar aula é para mim uma experiência nova, mas muito boa, estou gostando muito de passar o que eu aprendi e da forma como eu aprendi. Uma forma boa sabe? Não foi uma coisa mais ou menos. Eu ensino da mesma maneira que aprendi na Fafi e no Balé da Ilha e eu vejo que as crianças do projeto se interessam muito, eu me vejo no lugar delas. Se na época que eu comecei igual elas, no projeto, eu tivesse tido um ensino de mostrar o que é certo e de mostrar a realidade... Porque o balé exige muito, aquela coisa da técnica e da seriedade; e eu fico feliz porque elas se interessam.

Turma de Balé do Canto na Escola na apresentação de encerramento do ano passado.
ITC: Você acha então que você faz um trabalho mais sério do que o que você teve quando começou?

Gabriela: Sim.

ITC: Talvez porque você tem uma experiência de vida que aquelas pessoas que te iniciaram não tiveram.

Gabriela: É verdade. E hoje, assim, em festivais, em apresentações eu sempre encontro com a professora que começou me dando aula e fico muito feliz, porque ela não imaginava onde eu ia chegar.

ITC: Como saber não é? Quantas crianças você dá aula hoje no Canto na Escola?

Gabriela: Em torno de sessenta. É isso, são quatro turmas de quinze. Quem sabe no futuro eu também não me surpreenda e possa estar esbarrando com alguma destas minhas alunas. O que vai ser muito gratificante pra mim, por ter conseguido passar à frente o que eu aprendi.   

ITC: Se você não tivesse essa oportunidade o que você acha que teria sido da sua vida?

Gabriela: Sinceramente não sei, porque não me vejo fazendo outra coisa. Hoje em dia eu quero muito começar uma faculdade, quero dar continuidade ao estudo, mas não sei o que fazer (no Espírito Santo ainda não há ensino superior de dança). Eu não me vejo fazendo outra coisa, eu quero continuar dançando. Não adiante escolher um curso qualquer e empurrar com a barriga...

ITC: Quando você olha para sua comunidade, o lugar de onde você veio, aquelas suas amigas, por exemplo, que tentaram a prova junto com você e não passaram: o que aconteceu com elas? Elas se tornaram dançarinas?

Gabriela: Não, não... Hoje eu não convivo muito mais com elas, eu sei que trabalham no projeto Menor Aprendiz e estudam, eu acho, uma delas ainda estuda. Seguiram um caminho totalmente diferente do que eu faço.

ITC: A gente vê então que a oportunidade é dada, mas ela não é tudo. Tem que fazer igual você falou “Eu estou aqui porque eu quero e não porque cansei de ficar em casa olhando pra televisão. Eu quero dançar e vou perseguir o sonho.”

Gabriela: Sim.

ITC: E essa é a qualidade do verdadeiro artista, o artista tem que saber o que quer. Não dá pra ser mais ou menos artista, ou você é ou você não é.

Gabriela: É verdade.

ITC: Obrigado pela entrevista Gabriela.

terça-feira, 24 de julho de 2012

RAPIDINHAS CULTURAIS IMPERDÍVEIS!


Na próxima quinta feira, dia 26 de julho às 19:30h a Cia Capixaba de Ópera e Musicais estará apresentando mais um concerto da série " Concertos na Vila". O evento, de arte integrada, apresenta ao grande público, além de obras dos grandes compositores eruditos e sacros, peças dos mais belos musicais da Broadway.

A participação especial do mês de julho é dos corais da Ufes e o Recordar é Viver, e do talentoso grupo de teatro Geta.

O competente coral da Ufes, um dos mais tradicionais do Espírito Santo, apresentará vasto repertório recheado de peças que vão do erudito ao popular internacional.

O coral Recordar é Viver é uma atração à parte: formado por coralistas essencialmente da terceira idade, tem suas apresentações marcadas pela alegria e descontração, com um repertório leve e marcado pela cênica.

Esta edição especial também trará a cantora lírica Elaine Rowena e o Maestro e contratenor Cláudio Modesto interpretando pérolas do cancioneiro lírico, em diversas concepções estilísticas, de Bach à Puccini. O piano é de Angela Volpato, o violino de  Evandro Marendaz, as coreografias de Lígia Araújo, a apresentação de Maryza Barbosa, a direção musical de Cláudio Modesto, a direção geral de Elaine Rowena e a produção executiva de Hudson Lyra.

 
E continua a Série Concertos Internacionais 2012, no dia 27 de julho às 20:00 horas no Theatro Carlos Gomes; com a apresentação do grupo Vokalzeit, criado por quatro membros do Coro da Rádio de Berlim: Hans-Christian Braun, Joachim Vogt (tenores), Michael Timm e Oliver Gawlik (baixos).

Além do repertório tradicional, como o lied alemão e obras de compositores clássicos – Schumann, Brahms, Mendelssohn e Mozart –, o grupo canta canções folclóricas alemãs e divertidas paródias de músicas clássicas, com arranjos feitos especialmente para o quarteto de vozes masculinas. Assim, o Vokalzeit cruza fronteiras entre o erudito e o popular, passeando por diversos gêneros e épocas.

O grupo tem se apresentado em vários festivais de música na Europa e gravou, em 2006, um CD pelo selo Coviello Classics. Nesta temporada, os quatro são acompanhados pelo pianista Philip Mayers. É a segunda vez que visitam o Brasil.


quarta-feira, 18 de julho de 2012

OMISSÃO DO ESTADO EM AÇÃO


Quando eu trabalhei na prefeitura de Vila Velha havia por lá um debate muito grande com relação à criação de uma guarda municipal ou não para o município, uma das principais razões de ponderações e reticências eram as enormes confusões que estavam acontecendo em Vitória entre cidadãos comuns e os guardas que na época sequer portavam armas. Houve um caso que parou o centro da cidade por conta de uma retreta envolvendo uma placa de sinalização. Era desgaste em cima de desgaste.

No final do ano passado (2011) fui à Igreja Santa Rita na Praia do Canto para devolver um equipamento que pegara emprestado com o pessoal do SECRI e sem conseguir vaga estacionei na parada do ônibus. Fui correndo e voltei voando. Pois não é que, passado um minuto no máximo, já havia uma viatura da Guarda Municipal pronta a me canetar? Cheguei sorridente e esbaforido, pedindo desculpas e dizendo solícito que já estava retirando o carro. De dentro da viatura um rapaz de boné e óculos escuro trovejou enfezado:

- Aí é proibido parar senhor, trate de retirar o seu carro! – Eu quase voltei pra perguntar se ele falava assim com a bandidagem solta pela rua também, mas achei melhor entrar no carro e ir embora. Fiquei só me perguntando indignado da razão de um servidor público tratar um cidadão de bem – pelo menos eu assim me considero – com tanta grosseria gratuita e desnecessária.

Infelizmente, histórias deste tipo todo mundo tem para contar, meu amigo Luiz Giordano Bianchi Lopes mesmo acaba de me enviar a sua. Mais conhecido como Dodas ou Dodão, Giordano é um músico conhecido no Espírito Santo e possuiu um estúdio de gravações encravado no Parque da Gruta da Onça, no centro de Vitória. A casa onde fica seu lugar de trabalho está bem distante da rua e dá acesso – e enfarte também – por uma grande escadaria que leva lá para cima do Forte São João. O pedaço é bacana, mas não é moleza não. Tanto que tem lá na entrada uma guarita com guardas contratados pela Prefeitura para dar segurança aos moradores do entorno, o que nem sempre acontece como vemos a seguir no relato de Dodas que foi enviado para a ouvidoria da prefeitura e para a administradora do parque da gruta da onça:

“Ontem, dia 19 de junho de 2012, por volta de 12:20 horas da manhã, o vigilante da empresa CJF que trabalha na guarita  da entrada do parque, tentou impedir meu amigo de entrar com o carro na rua que da acesso ao meu local de trabalho. Expliquei que precisava carregar o carro com vários equipamentos e ele, mesmo não sendo sua função, teimou em nos impedir. Mandei meu amigo entrar com o carro mesmo assim. Depois de ser ofendido, ainda ouvi ameaças de morte, tendo como testemunha meu amigo Andre. Comuniquei o fato à empresa CJF que me orientou procurar a administração do parque. Por isso estou lhes enviando este e-mail. Falei com meu primo que trabalha na Polícia Civil e fui orientado, por precaução, a pegar o nome deste vigilante para que fosse levantada a ficha do mesmo. Não quero que ele seja demitido, pois todos tem o direito de errar, mas gostaria que ele fosse transferido e que tomassem as devidas providências, pois temo pela minha vida e de meus familiares.”

Resumindo a ópera, como diria meu amigo Marcelo sei-lá-das-quantas, passado já um mês deste lamentável episódio, o tal “segurança” continua trabalhando na mesma guarita, fazendo das suas ameaças objetivas e subjetivas, e a administração do parque sequer deu retorno ou alguma justificativa ao nosso amigo que é cidadão de bem, paga seus impostos e acaba tendo a vida desnecessariamente posta em risco por pura ingerência e irresponsabilidade do poder público. Amigos queridos e isso tudo num ano de eleição hein? Imagina se fora em galho seco. Parece que o PT não quer mesmo eleger sua candidata...

terça-feira, 17 de julho de 2012

RAPIDINHA CULTURAL DA BOA

Voltando à nossa cidade a sensacional orquestra Capella Bydgostiensis, tive o prazer de os apresentar o ano passado durante o Festival de Inverno de Domingos Martins e fiquei de queixo caído com a qualidade musical. O repertório apresentado foi moderno e instigante, ficou na memória especialmente uma peça chamada Orawa do compositor polonês Wojciech Kilar que eu nem conhecia e virei fã.

Lembro que o grupo chegou muito apreensivo com relação à sonorização, afinal iam se apresentar no palco principal de frente para a praça e, geralmente, nessas ocasiões o som fica uma tristeza. Só ficaram mais tranquilos quando eu disse que era a equipe do Loudness e o maestro descobriu que o engenheiro de som era Maurício Trindade, o mesmo da virada cultural de São Paulo onde onde a Orquestra já havia se apresentado. Quem perdeu essa apresentação fantástica no ano passado vai se programando, segue abaixo o convite...


O Capela Bydgostiensis chega de novo na época do Festival de Inverno de Domingos Martins, mais especialmente na noite de abertura. Portanto, não poderei os ver, porque estarei fazendo curso intensivo para picolé elektrônico lá em Campinho, emprestando minha voz pelo segundo ano consecutivo neste evento que é o mais chique e badalado da música de concerto em terras capixabas. 

Vale a pena conferir toda a programação do Festival no link abaixo
http://www.festivaldomingosmartins.com.br/?secao=programacao

sábado, 14 de julho de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO: A HORA DE CALAR E A HORA DA VERDADE


Entrevista concedida por Juca Magalhães a Elis Carvalho do jornal A Tribuna.

Achou que a pena de dezenove anos foi justa?

Acho que a pena aplicada ao Narcizo foi justa. Injusto é o tempo que ela levou para ser decretada. O réu tem amplo direito à defesa e todo tipo de recursos para demonstrar sua inocência. Porém, o que teve a vítima Maria Nilce e sua família por parte do Estado Brasileiro e da justiça nesses 23 anos? Qual foi a resposta que tivemos? E a sociedade, o conjunto de pessoas que forma o Estado do Espírito Santo, o que teve? Como será que esse tipo de crime e sua flagrante impunidade repercute para as pessoas de bem e para os criminosos? São questões a se ponderar, não é? Todo esse processo envia mensagens para o povo: noção de ação e reação, crime e castigo. Qual o recado que a justiça tem nos dado desde então? Vendo por esse lado é uma situação socialmente lamentável e pode seguramente ajudar a explicar o atual crescimento da violência.

Durante seu julgamento o acusado Cezar Narciso disse que o crime de Maria Nilce estigmatizou sua vida, que ele passou a ser conhecido em São Mateus – cidade onde reside - como "o matador de Maria Nilce". Pois cabe perguntar, qual foi o estigma da família de Maria Nilce desde então? Quando um crime fica em aberto, sem solução, sem resposta concreta e imediata abre-se campo para todo o tipo de especulações e comentários maldosos que sempre querem desclassificar, curiosamente, a vítima. Por que será que em Vitória Maria Nilce só é lembrada pela mídia como uma pessoa "polêmica", para dizer o mínimo? Ora, ela era mãe, empresária, uma mulher à frente de seu tempo. Era jornalista conhecida nacionalmente por sua beleza e competência, tinha cinco livros publicados e escrevia diariamente a coluna social mais lida do estado no momento em que morreu (5 de julho de 1989). Então ela era só uma pessoa polêmica?

Como avalia a atuação da promotoria?

A Dra. Carla Mendonça que atuou na promotoria do caso demonstrou ser uma profissional firme, determinada e muito aplicada aos estudos. Basta levarmos em consideração que ela teve apenas quinze dias para se inteirar de todo o processo que é, para dizer o mínimo, quilométrico e bastante intrincado. Sua atuação foi clara, direta e sem apelos emotivos ou grandiloquentes. Muito diferente do advogado da defesa que por duas ocasiões disse que não ia “denegrir” a vítima, mas o tempo todo olhava para nosso lado como se pensasse em o fazer, parecia lamentar inibido nossa presença. No pior destes momentos chegou a bater em cima do processo e dizer algo como: se eu for falar o que tem sobre Maria Nilce aqui... Deveria ter se concentrado mais em conseguir provar a inocência de seu cliente que, por essas e outras, acabou condenado. Fico pensando quantas vezes esses advogados “de porta de cadeia”, para encher lingüiça em suas preleções de hora e meia, não ficaram falando bobagens e inventando fofocas sobre Maria Nilce para desviar a atenção do júri e emprestar um verniz de lógica aos crimes injustificáveis de seus clientes.

Narcizo vai continuar solto até a decisão final, pois respondeu todo o processo em liberdade. Você teme uma fuga como ocorreu com Adreatta?

Não entendo como pessoas que já foram claramente tipificadas como "ameaças à sociedade" possam estar soltas livremente por aí. É o caso do mandante condenado José Alayr Andreata e agora do Narcizo. Se formos pensar bem a justiça põe a vida em risco dos jurados do processo, dos familiares da vítima, da promotora. Ou será que não existe o perigo de sofrermos algum tipo de coação, vingança ou represália? É assim que a justiça protege os inocentes? Por outro lado essa condenação é importante, porque ela esclarece e determina uma situação. Mesmo com o recurso, a partir daquele momento a pessoa passa a ser não mais um acusado, mas um condenado. E se empreender a fuga terá que viver uma vida na clandestinidade sem os mesmos direitos de um cidadão de bem.

Hoje temos livre um homem perigoso como o Ex-Delegado Claudio Guerra, que tanto contribuiu para o tumulto das investigações desse caso. A promotora Carla Mendonça relatou que várias peças e páginas do processo do caso Maria Nilce simplesmente desapareceram ao longo desse tempo, inclusive uma fita contendo a gravação e sua respectiva transcrição feita com o pistoleiro José Sasso - morto em 1992 como “queima de arquivo” - na qual ele confessava o crime e a participação de outros acusados como o Andreatta. Essa gravação teria sido feita por um policial civil conhecido como Pêjota que resolvera atuar como informante da polícia Federal e que posteriormente foi também assassinado. Esse é um crime “de repercussão nacional” que deixou um rastro enorme de outros crimes, com um custo muito alto em vidas e reputações. O advogado de defesa afirmou ter feito um cálculo, baseado em declarações de época, de que o montante operacional do assassinato de Maria Nilce teria sido orçado em mais de oito milhões e duzentos mil reais, atualizados os respectivos valores.

Qual a expectativa pelo julgamento do Japonês em novembro?

Ontem durante o julgamento do caso Maria Nilce, o acusado Romualdo Eustáquio, o "Japonês", após conseguir adiar pela enésima vez a sua chance de provar que é inocente, saiu jogando as mãos para o alto e clamando por justiça divina. Eu digo Amém, só que nós da família de Maria Nilce queremos a justiça terrena também! Não posso emitir juízo, quem tem que fazer isso é a justiça no dia 06 de novembro, mas, esse tal "Japonês" parece ser uma daquelas pessoas, que vez por outra vemos até em filmes, que quando jovem se meteu com a "bandidagem" e fez um bocado de coisas erradas; depois deu sorte de sobreviver ao passar dos anos - muitos de sua época não conseguiram - constituiu família, empreendeu um negócio e se estabeleceu como "pessoa de bem" e agora parece pensar não ter mais que responder pelos erros que cometeu no passado. É uma situação triste, sua família estava presente no júri prestando apoio. Agora, o grande culpado de toda essa situação é o sistema judiciário brasileiro - e o próprio acusado com as protelações que conseguiu - porque o tal Japonês deveria ter sido julgado há mais de 20 anos e até hoje isso não aconteceu. Inocente ou culpado? Quem vai determinar é a justiça.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

JULGAMENTO DO CASO MARIA NILCE


O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) informa que o ex-policial civil Romualdo Eustáquio da Luz Faria, o Japonês, e o ex-policial militar Cezar Narciso da Silva serão julgados na terça-feira (10/07). Ambos são acusados do assassinato da colunista Maria Nilce dos Santos Magalhães, morta com quatro tiros na Praia do Canto, em Vitória, em 5 de julho de 1989. O julgamento será realizado no auditório da 1ª Vara Criminal de Vitória, às 8h30.

Nós da família de Maria Nilce Magalhães estaremos presentes em apoio ao trabalho sério da promotoria, contando com o apoio de todos para que esses bandidos recebam uma punição exemplar e o rigor da Lei. O julgamento acontecerá no Fórum Criminal de Vitória, primeira vara criminal, quarto andar. Rua Pedro Palácios (Aquela que vem do palácio Anchieta e vai dar na Catedral), 105. Cidade Alta, Centro, Vitória-ES.

Até quando veremos perecer impunemente tantas Marias? Tantos lares devastados pela violência? Tantos filhos órfãos e vidas simplesmente destruídas? Que venha a justiça e que ela seja exemplar!