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sábado, 14 de julho de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO: A HORA DE CALAR E A HORA DA VERDADE


Entrevista concedida por Juca Magalhães a Elis Carvalho do jornal A Tribuna.

Achou que a pena de dezenove anos foi justa?

Acho que a pena aplicada ao Narcizo foi justa. Injusto é o tempo que ela levou para ser decretada. O réu tem amplo direito à defesa e todo tipo de recursos para demonstrar sua inocência. Porém, o que teve a vítima Maria Nilce e sua família por parte do Estado Brasileiro e da justiça nesses 23 anos? Qual foi a resposta que tivemos? E a sociedade, o conjunto de pessoas que forma o Estado do Espírito Santo, o que teve? Como será que esse tipo de crime e sua flagrante impunidade repercute para as pessoas de bem e para os criminosos? São questões a se ponderar, não é? Todo esse processo envia mensagens para o povo: noção de ação e reação, crime e castigo. Qual o recado que a justiça tem nos dado desde então? Vendo por esse lado é uma situação socialmente lamentável e pode seguramente ajudar a explicar o atual crescimento da violência.

Durante seu julgamento o acusado Cezar Narciso disse que o crime de Maria Nilce estigmatizou sua vida, que ele passou a ser conhecido em São Mateus – cidade onde reside - como "o matador de Maria Nilce". Pois cabe perguntar, qual foi o estigma da família de Maria Nilce desde então? Quando um crime fica em aberto, sem solução, sem resposta concreta e imediata abre-se campo para todo o tipo de especulações e comentários maldosos que sempre querem desclassificar, curiosamente, a vítima. Por que será que em Vitória Maria Nilce só é lembrada pela mídia como uma pessoa "polêmica", para dizer o mínimo? Ora, ela era mãe, empresária, uma mulher à frente de seu tempo. Era jornalista conhecida nacionalmente por sua beleza e competência, tinha cinco livros publicados e escrevia diariamente a coluna social mais lida do estado no momento em que morreu (5 de julho de 1989). Então ela era só uma pessoa polêmica?

Como avalia a atuação da promotoria?

A Dra. Carla Mendonça que atuou na promotoria do caso demonstrou ser uma profissional firme, determinada e muito aplicada aos estudos. Basta levarmos em consideração que ela teve apenas quinze dias para se inteirar de todo o processo que é, para dizer o mínimo, quilométrico e bastante intrincado. Sua atuação foi clara, direta e sem apelos emotivos ou grandiloquentes. Muito diferente do advogado da defesa que por duas ocasiões disse que não ia “denegrir” a vítima, mas o tempo todo olhava para nosso lado como se pensasse em o fazer, parecia lamentar inibido nossa presença. No pior destes momentos chegou a bater em cima do processo e dizer algo como: se eu for falar o que tem sobre Maria Nilce aqui... Deveria ter se concentrado mais em conseguir provar a inocência de seu cliente que, por essas e outras, acabou condenado. Fico pensando quantas vezes esses advogados “de porta de cadeia”, para encher lingüiça em suas preleções de hora e meia, não ficaram falando bobagens e inventando fofocas sobre Maria Nilce para desviar a atenção do júri e emprestar um verniz de lógica aos crimes injustificáveis de seus clientes.

Narcizo vai continuar solto até a decisão final, pois respondeu todo o processo em liberdade. Você teme uma fuga como ocorreu com Adreatta?

Não entendo como pessoas que já foram claramente tipificadas como "ameaças à sociedade" possam estar soltas livremente por aí. É o caso do mandante condenado José Alayr Andreata e agora do Narcizo. Se formos pensar bem a justiça põe a vida em risco dos jurados do processo, dos familiares da vítima, da promotora. Ou será que não existe o perigo de sofrermos algum tipo de coação, vingança ou represália? É assim que a justiça protege os inocentes? Por outro lado essa condenação é importante, porque ela esclarece e determina uma situação. Mesmo com o recurso, a partir daquele momento a pessoa passa a ser não mais um acusado, mas um condenado. E se empreender a fuga terá que viver uma vida na clandestinidade sem os mesmos direitos de um cidadão de bem.

Hoje temos livre um homem perigoso como o Ex-Delegado Claudio Guerra, que tanto contribuiu para o tumulto das investigações desse caso. A promotora Carla Mendonça relatou que várias peças e páginas do processo do caso Maria Nilce simplesmente desapareceram ao longo desse tempo, inclusive uma fita contendo a gravação e sua respectiva transcrição feita com o pistoleiro José Sasso - morto em 1992 como “queima de arquivo” - na qual ele confessava o crime e a participação de outros acusados como o Andreatta. Essa gravação teria sido feita por um policial civil conhecido como Pêjota que resolvera atuar como informante da polícia Federal e que posteriormente foi também assassinado. Esse é um crime “de repercussão nacional” que deixou um rastro enorme de outros crimes, com um custo muito alto em vidas e reputações. O advogado de defesa afirmou ter feito um cálculo, baseado em declarações de época, de que o montante operacional do assassinato de Maria Nilce teria sido orçado em mais de oito milhões e duzentos mil reais, atualizados os respectivos valores.

Qual a expectativa pelo julgamento do Japonês em novembro?

Ontem durante o julgamento do caso Maria Nilce, o acusado Romualdo Eustáquio, o "Japonês", após conseguir adiar pela enésima vez a sua chance de provar que é inocente, saiu jogando as mãos para o alto e clamando por justiça divina. Eu digo Amém, só que nós da família de Maria Nilce queremos a justiça terrena também! Não posso emitir juízo, quem tem que fazer isso é a justiça no dia 06 de novembro, mas, esse tal "Japonês" parece ser uma daquelas pessoas, que vez por outra vemos até em filmes, que quando jovem se meteu com a "bandidagem" e fez um bocado de coisas erradas; depois deu sorte de sobreviver ao passar dos anos - muitos de sua época não conseguiram - constituiu família, empreendeu um negócio e se estabeleceu como "pessoa de bem" e agora parece pensar não ter mais que responder pelos erros que cometeu no passado. É uma situação triste, sua família estava presente no júri prestando apoio. Agora, o grande culpado de toda essa situação é o sistema judiciário brasileiro - e o próprio acusado com as protelações que conseguiu - porque o tal Japonês deveria ter sido julgado há mais de 20 anos e até hoje isso não aconteceu. Inocente ou culpado? Quem vai determinar é a justiça.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bem, Juca Magalhães ! Com esse relato V. colocou importantes questões . Para todos nós pensarmos acerca delas. Parabéns !

Marcos T.

SANDRA CASSARO disse...

Sinto muito em não poder ter ido neste julgamento tão importante, exatamente pelo fato de estar ameaçada de morte pelo fato de LUTAR POR JUSTIÇA PELO MEU PAI O PREFEITO ASSASSINADO ANASTACIO CASSARO.
O pistoleiro José Sasso, estava preso há 2 anos pelo crime do MEU PAI e foi-lhe concedido habeas corpus para matar MARIA NILCE.
Queremos pouco para quem perdeu tanto: "APENAS JUSTIÇA" !
JUSTIÇA BRASIL !!!