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quarta-feira, 30 de março de 2011

SAUDADES DO AUTOR DO HINO DE VITÓRIA


É com grande tristeza que repasso a notícia do falecimento do compositor capixaba Carlos Cruz, falecido hoje cedo no Rio de Janeiro vítima de câncer.

Carlinhos, como os amigos gostavam de chamar, apostando em seu próprio talento foi para o Rio de Janeiro em busca de conhecimento e reconhecimento naquela que era então a capital do país. Lá estudou nos seminários de música da Pró-Arte onde foi aluno de Hans Fraff (piano), Esther Scliar (teoria) e Roberto Schnorrenberg (harmonia). Acabou se estabelecendo e vivendo seus grandes sucessos nas praias cariocas, razão pela qual hoje é tão pouco conhecido e reconhecido aqui nas praias capixabas.

Enquanto foi ignorado pelos próprios contemporâneos, Carlos Cruz alcançou o reconhecimento nacional compondo muitas peças eruditas e populares. Foi diretor musical, entre outras, da Rede Manchete e teve músicas gravadas por grandes nomes da música brasileira, incluindo a marchinha de carnaval “Can Can do Carnaval”, campeã do Carnaval do Rio, gravada por Emilinha Borba. É um dos poucos cidadãos do Espírito Santo cujo nome consta no tradicional Dicionário Cravo Albim.

Muito pouca gente sabe, mas a cidade de Vitória tem um hino oficial que foi composto por Carlos Cruz com letra de Almeida Rego. O hino foi escolhido em um concurso que aconteceu durante a administração de Carlinhos Von Chilgen e foi estabelecido oficialmente através da lei nº 2665/80 que entrou em vigor em 23 de janeiro de 1980. Muita gente pensa que o hino dos capixabas seria Vitória Cidade Sol, de Pedro Caetano e no próprio site da Prefeitura você encontra versões das duas canções ressalvando que a segunda seria o hino “emocional” de nossa capital, confira no link abaixo:


Faz uns cinco ou seis anos fui procurado para elaborar com Carlos Cruz um projeto de gravação definitiva do hino de sua autoria. Para resumir bem a história, procurei o então prefeito da cidade que me confessou que não gostava da letra do hino e encerrou o assunto cogitando até encaminhar uma proposta de mudança à câmara. O prefeito não me falou, mas dizem os mais entendidos do assunto que a estrofe melindrosa do texto poético seria a seguinte:

A Vitória das vitórias
A terra feliz onde eu nasci,
Tem no Penedo bravura
E doçura em Camburi.   

Parece que a turma que gosta de encontrar pelo em ovo, levantou a lebre de que o Penedo fica, na verdade, em Vila Velha e que a simples menção de sua presença seria um erro constrangedor. Realmente, apesar de ser logo ali, o Penedo está do lado de lá. O inegável é que sua majestosa presença ilumina e compõe o horizonte para onde se voltam diariamente os olhos dos capixabas, muito mais do que os dos vilavelhenses. Sua presença não conhece limites municipais, territoriais, não poderia virar uma discussão política, não deveria, aliás.  

Mas o bom disso tudo é que fiquei conhecendo pessoalmente o grande compositor Carlos Cruz, de vez em quando ouvíamos suas novas idéias musicais e tomávamos umas cervejas. Era um homem culto e muito divertido, quem não conheceu é que perdeu. Bem fez ele de ir para onde souberam reconhecer o seu valor. Quem sabe um dia ainda ouviremos os capixabas cantado com verdadeira “emoção” a primeira estrofe do verdadeiro hino de sua terra: “quero ver os capixabas vibrando e cantando esta canção!”

Carlos Vianna Cruz
11/09/1936 Vitória
30/03/2011 Rio de Janeiro

APRENDA A GRAVAR FILMES VOCÊ MESMO: TUTORIAL - PARTE II


Baixado o filme e a legenda, preste muita atenção (!): é preciso ter os dois arquivos guardados na mesma pasta com exatamente o mesmo nome. Copie o nome do filme e cole na legenda, se houver uma vírgula diferente entre os dois a legenda não é lida. Importante também é saber que: para os vídeoplayers de seu computador e programas de gravação como o Nero faça a decodificação da legenda é preciso ter instalado um pacote de codecs, o mais famoso, gratuito e mais baixado é o “K-Lite Mega Codec Pack”.

As versões mais modernas do K-Lite vêem já configuradas, mas você pode fazer isso manualmente também. Configurar os códigos é também importante para que as legendas apareçam naquela faixa abaixo do filme e não um pouco dentro dele. Para isso é fundamental ler também o seguinte tutorial:

http://www.forumpcs.com.br/viewtopic.php?t=189362

A partir desse tutorial você começa a fazer misérias. Eu costumo, por exemplo, colocar as legendas na cor amarela para evitar, o que é muito comum, de se tornar ilegível quando as cenas de branco tomam conta do vídeo. Agora para criar uma legenda inteira para um filme é preciso ter paciência, conhecer bem a língua que se vai traduzir e ter um programinha gerador de legendas como o que eu uso que se chama DiviXLand Midia Subtituler 2.0.7.

E finalmente quando você for gravar seu DVD, para que o K-lite funcione com gravadores como o Nero, é preciso ter uma versão completa deste ou de algum outro gravador de DVD que te permita criar um filme, que é o que acontece quando você adiciona um arquivo de legenda a um de vídeo, não é uma simples gravação qualquer. Geralmente o que as pessoas têm em seus computadores é o Nero em sua versão básica que, como a televisão, nada cria: apenas copia.

Depois de tudo instalado e pronto para funcionar: baixar, gravar e assistir filmes torna-se fácil, rápido e – cuidado, muito cuidado! – altamente viciante.

Os arquivos compartilhados na Internet vêem geralmente em formato “avi”, mas existem alguns outros circulando que eventualmente podem não ser reconhecidos pelos leitores de DVD como Matroska, MP4, etc. Se você não encontrar o filme que quer de outra maneira, nem tudo está perdido. É só converter o formato do vídeo para avi, através de programas gratuitos e leves como o Format Factory 2.60, Any Video Converter ou outros.

Uma última coisa: quando um filme em avi é colocado para gravar, primeiro o programa faz uma transcodificação e esta vai levar - dependendo da velocidade de seu computador e do tamanho do filme - duas, quatro, oito horas. Acontece também do computador ficar muito lento quando inicia o processo e se alguém ficar mexendo pode até influir negativamente na gravação. O ideal, portanto, é colocar um filme para gravar na hora de ir dormir e deixar o computador quieto.

Espero ter ajudado os amigos cinéfilos que hoje encontram-se alijados dos processos informacionais. Na mesma balada, não recomendo a reprodução ilegal e – em hipótese alguma – a venda de material sob direitos autorais. A pirataria é crime. Minha intenção é prover acesso aos bens culturais que nos foram negados ou censurados nos anos da ditadura, do atraso cultural capixaba e também aos que hoje se encontram indisponíveis para consumo em função dos novos tempos e das novas tecnologias.  

terça-feira, 29 de março de 2011

RAPIDINHAS CULTURAIS - SÓCIO/EDUCACIONAIS (URGENTES)!


Enquanto não é publicada a segunda parte do tutorial sobre como baixar, legendar e gravar filmes, para você finalmente decretar a sua independência cinematográfica ou a extinção dos camelôs, bóra dar umas rapidinhas culturais?

Primeiro que a patroa aparece logo de cara no flyer da apresentação que segue e para a qual convido-lhos. Seria caso de jogar contra o patrimônio não divulgar mais essa produção da querida Elaine Rowena... Vamos nós de novo pro Theatro Charles Gohmes, mas dessa vez vou ficar só na platéia. 

Segue então o convite:


FAMOSO QUEM?

Essa semana teve um furdúncio na rua Constante Sodré, antigamente um lugar tão tranquilinho, em épocas remotas era ideal para dar umas “boltas” pela night. Uma pessoa - a reportagem do Gazeta Online não disse quem - parou o carro na frente da garagem de um edifício – acho que é onde moram os pais do Cello – e prendeu todo mundo dentro de casa. A prefeitura não conseguiu tirar o carro e ele só foi retirado quando “o proprietário” - Mas... Quem? - apareceu... Pois é: alguém.

NÃO TÁ A FIM? REALAXA...

Pegando carona no texto sobre o bem e o mal: você pode até não saber, mas tem um simpático museu na Serra sede, onde morava a família Castelo. A Letra Elektrônica esteve visitando e fotografando as coisas por lá. Em alguns dos ambientes têm textos explicativos e num deste pincei um errinho bobo que vai de encontro (vai contra) ao nosso português. Aliás, uma vez ouvi uma banda de rock gospel cantando que queria ir “de encontro a Jesus”, de brincadeira perguntei se eles eram um grupo satânico... Quase tomei porrada, mas é o que - sem saber - estavam dizendo... Então veja essa foto:


O errinho é bobo, mas para explicar condignamente pedi ajuda aos universitários do site Mundo Educação:

A fim de (separado) é uma locução prepositiva que indica uma finalidade e equivale a “para”, “com o propósito de” e “com a intenção de”. E pode ter ainda sinônimo de “para que” quando associada com o pronome relativo “que”. Por exemplo: ela marcou um horário com o médico, a fim de verificar seus exames. Ou: treinou bastante, a fim de que conquistasse o primeiro lugar no pódio.

Afim (Junto), quando substantivo masculino que indica afinidade, parentesco, amigos íntimos, adeptos. Exemplos: Irei convidar todos os amigos de faculdade e afins. Comprarei livros e afins. Etc...

Então, vai por aí... E eu não estou mais a fins de entrar numas, falou?

segunda-feira, 28 de março de 2011

APRENDA A BAIXAR FILMES VOCÊ MESMO: TUTORIAL - PARTE I


Foi depois da resenha que escrevi sobre o filme Dzi Croquettes que germinou a idéia de escrever um tutorial para os amigos que reclamam da falta de acesso a quantidade enorme de filmes produzidos ao redor do mundo e que ficam cada vez mais difíceis de serem vistos, seja em locadoras ou nos cinemas. Você também não vai ficar comprando filme de camelô não é? Então, para começar a baixar filmes, primeiro de tudo: é fundamental ter instalado um programa que baixe torrent, como o uTorrent, e a inscrição no site Legendas TV. O link é o seguinte:

http://legendas.tv/index.php

Existem outros? Sim, mas não são tão bons, nem tão completos. No “Legendas” é exigido que a pessoa se inscreva, como em vários outros, mas não cobra nada e ter feito isso nunca me deu qualquer tipo de aborrecimento ou spams. Hoje até colaboro com o site, já postei lá dez traduções de filmes de música que sei que quase ninguém tem acesso, alguns que só foram lançados lá fora como é o caso de “Io, Don Giovanni”, sobre o libretista de Mozart e O Canto Revolucionário, que conta a linda história de como a cultura serviu de suporte para a independência da Estônia.

Inscrito no LegendasTV é a hora de fazer a busca pelo filme que se quer baixar e para isso existem dois detalhes importantes: saiba a princípio o título original do fillme que você quer,  por exemplo:  que ver a Batalha de Los Angeles, procure "Battle Los Angeles". E, o verdadeiro "pulo do gato" para quem procura filmes: faça sempre a sua busca a partir do "release" da legenda que você encontrou em português.

Também abreviado como "rls", o release (ou lançamento) é um código que casa o arquivo do filme com o da legenda. Por exemplo, eis o release para o filme Eu, Don Giovanni, que eu traduzi:

Io.Don.Giovanni.2009.iTALiAN.AC3.DVDRip.XviD-GBM

Muitas vezes acontece do filme ser dividido em dois arquivos e a legenda ser em um só ou vice versa. Também é muito comum acontecer da legenda e o filme não estarem em sincronia. Durante uma época eu costumava ressincronizar uma coisa à outra, com um programinha muito útil chamado “Time Adjuster” que é gratuito e funciona em oitenta por cento dos casos. Porém, para evitar perda de tempo o ideal é ter o release certo para o arquivo certo e isso, como já dito, você vai encontrar com um bom programa para baixar por “torrent”.

“Torrent é o nome dado a um arquivo pequeno que contém informações de um tracker, um servidor central responsável por gerenciar download upload de arquivos. O torrent contém somente as informações de onde está o arquivo que você quer e te remete ao local certo pra iniciar o download. São encontrados em grandes sites de download como o www.mininova.org, e você precisa de um programa de downloads específico para baixá-los. Recomendo o uTorrent (que é o que eu uso) ou o Azureus.”

Seguindo em frente, no Legendas TV pegue o release do filme que você quer ver, copie e cole no Google e veja o que aparece. Se você der sorte vão aparecer opções dos sites mais badalados:

www.kickasstorrents.com/ www.thepiratebay.org/  www.torrentreactor.net/ www.torrentz.eu/  www.isohunt.com/  ETC...

Muitas vezes acontece de não aparecer o release, seja porque o detentor dos direitos autorais pediu que fosse retirado, ou por outra razão qualquer. Nesse caso faça a busca ao contrário: com o nome do filme em sua língua original e a palavra torrent. Por exemplo, joque assim no Google: Die Ehe der Maria Braun Torrent. E se aparecer algum release vá atrás da legenda para ele. Alguns filmes são mais difícies de achar, alguns não têm legenda em português, por isso de  vez em quando eu traduzo, especialmente na área da música. A última tradução que fiz foi de um Marterclass em Chicago com o maestro Daniel Barenboim sobre sonatas de Beethoven.


Mas vindo as opções, é só mandar abrir uma  e colocar para baixar. o torrent A velocidade de download vai depender de quantos outros usuários estiverem compartilhando o arquivo, informação que é dada no próprio site. Mas no caso de lançamentos e filmes de sucesso, o mais comum é ter muita gente “semeando”. No próximo texto vou explicar como fazer para assistir o filme no seu computador, no DVD, em qualquer lugar...

quinta-feira, 24 de março de 2011

SÉRIE SESI DE CONCERTOS INTERNACIONAIS

Vitória tá querendo deixar de ser rastaquerinha. Outro dia li um texto no site do Século Diário - um dos poucos onde se consegue entender a política do Estado - falando mal da construção do Cais das Artes, dizendo que era obra para a elite e coisas do gênero. Deixei uma mensagem muito da mal (contrário de bem) criada, porque pensava que a "inteligenzia" local já havia superado essa "visão" antiquada de que música de concerto, ópera e balé seriam para o bico da "gente fina", coisa de bacana.

Só afirma que concerto é coisa de elite quem não vai a concerto. Hoje as apresentações da Orquestra Filarmônica estão sempre lotadas, o Theatro Carlos Gomes há muito que não comporta mais o público que é formado por amantes da música, meninos da terceira idade moradores do centro, estudantes de música e muita gente “humilde” que estudou ou tem filhos em projetos sociais que na última década ganharam força na Grande Vitória e são responsáveis pela formação de todo um novo público. A elite mesmo, os ricos e famosos, ninguém vê lá não.

Essa elite, tanto política quanto financeira, está pouco se lixando pra cultura em geral e especialmente para a nossa. Não percebe sua importância, não lê literatura, não cuida do passado e não conhece as óperas de Chopin ou as sonatas de Berlioz (quem conhece vai entender a piada). Para a elite interessa o que dá grana ou o que dá voto: simples assim. Os endinheirados entendem de vinho e também de cachaça, conhecem os bons charutos e as roupas de marca. Ponto. Duvido que em seus momentos de relax algum deles vá escutar Brahms (só se for a cerveja sendo despejada no copo).

Os leitores da Letra Elektrônica não, são pessoas de um nível cultural diferenciado, afinal ler textos grandes não é tarefa fácil e popular hoje em dia, vide a força do Twitter. Já teve quem se queixasse do tamanho dos meus textos, educadamente como uma porteira, respondi que ninguém é obrigado a ler: achou grande vai fazer o que estiver a fim. Então convido-lhos cabeçones, para assistir a próxima apresentação da Série de Concertos Internacionais da Camerata do SESI, um grupo que tem à frente o maestro Leonardo Davi e está ganhando muita força e popularidade. 

Toca o bonde e segue o flyer...  

quarta-feira, 23 de março de 2011

UMA VOLTA NA LAMA


O Grilo Falante me enviou o link de um documentário muito legal sobre a dita “Rua da Lama”. 

Produzido e dirigido por Ursula Dart, a película (película?) resgata o iniciozinho dos anos noventa, vinte anos portanto, mostrando bandas como Lordose Pra Leão, Urublues e outras, e muitas pessoas conhecidas do cenário. Alguns entrevistados são amigos de longa data como Carla Osório, Nina (que nunca mais vi), Lobo Pasolini (Que revi faz pouco tempo) Andrea Locatelli, Gloria Kerns, Marcelo Trifin e o próprio Socó  - pioneiro da parada - do qual me lembro bem.

Aparece também uma pá de gente que eu conhecia só de vista, com destaque para “Kraus Kréus”, o maluco que se intromete na entrevista de Andrea. Esse último era uma espécie de “menino de rua”, que vivia enfiado nos barzinhos, ora arrumando confusão, ora quieto no seu canto. Diziam que seu apelido vinha de um skatista chamado Carlos Cléverson, ou algo que o valha. Ouvi falar também - numa dessas conversas do tipo: lembra daquele maluco? - que o coitado acabou morrendo assassinado pelas mesmas ruas onde tinha fixado residência.

Naquele período eu estava atravessando uma barra muito pesada na vida, que foi o covarde assassinato de minha mãe. Foi uma época em que precisei me reinventar, espiritualmente inclusive, aliás, especialmente isso. Então não acompanhei devidamente o pleno desabrochar da lama. Porém, no período imediatamente anterior, metade final dos anos oitenta, eu estava por lá sim e até me considero uma espécie de membro fundador entre os frequentadores.

O filme tem o nome de “Uma Volta na Lama” e começa com a seguinte frase “Não sei se reconheço essa cidade.” É a nítida impressão que tenho de tempos em tempos, aquele estranhamento de sair na rua e não conhecer mais todo mundo e todos os lugares como era antigamente. Em uma entrevista, recentemente, o poeta Ferreira Gullar diz que só sente a idade que tem (oitenta anos) por conta das perdas que vão se acumulando ao longo dos anos. É, eu acho que é por aí...

Então o filme evocou memórias do final de minha fase roqueira, uma época amarga, os anos mais difíceis que se seguiram à morte de mamãe em que me usurparam a família e o final da juventude. Só pra dar uma idéia do contexto, uma vez no socó dois caras pararam ao meu lado, ficaram me encarando e falando em bala de revólver com uma cruz riscada e coisas do gênero. Tinham a mesma pinta dos policiais da equipe do delegado Claudio Guerra e, portanto, a mesma aparência da bandidagem, o que era - pelo que me recordo - bem comum na época.

Me sentia intimidado o tempo todo após a morte de Maria Nilce. Talvez para viver melhor com o remorso do que fizeram, talvez porque é assim que fazem as pessoas do mal, os assassinos tentaram também enxotar daqui seus descendente e tudo que remetesse à sua figura, apagar definitivamente qualquer memória de sua meteórica passagem sobre a ilha de Vitória. A minha sorte é que eu era um pastel na época, não entendi o que estava acontecendo, corria perigo e nem sabia, acho que por isso sobrevivi e para desgosto dos mandantes de seu crime estou aqui até hoje escrevendo sobre o que aconteceu.

Segue abaixo o link do vídeo, soube que ele já tem mais de trocentos acessos, o que é muito legal para a nossa memória de neurônios combalidos. Só lamento que não tenham feito, ou ainda não ter aparecido, um sobre o Adega e aqueles tempos da pracinha de Jardim da Penha que foi a época em que vivi a inocência feliz. Nunca vi sequer uma fotografia daqueles tempos, quem tiver, por favor, digitalize e compartilhe. E também, leiam o Livro do Pó, no qual pelo menos uma parte daquela história está bem preservada...

http://vimeo.com/20388665

segunda-feira, 21 de março de 2011

ATÉ QUANDO NÓS VAMOS SER A SUÍÇA?


Ontem Obama fazia seu histórico discurso e começou a falar dos cariocas, daí mencionou os paulistas, pulou pros mineiros, foi lá na ala das baianas e eu, o tempo todo com aquela sensação que ouviria o presidente americano falar: CAPIXABAS! ... Depois que não rolou pensei: bom, ele esqueceu os gaúchos também e até os nordestinos. Poderia ser pior, ele poderia ter mencionado os cachoeirenses! Ou quem sabe a Madalena lá da Barra do Jucu, eu sei lá.

VAIVADES DAS VAIDADES

A vaidade é uma coisa besta, mas é uma fraquezinha que todos nós temos. Alguns querem aparentar serem ricos, outros querem aparentar serem fortes, alguns querem aparentar uma vasta cultura, o que muitas vezes confundem com outra coisa. Por exemplo: quando o Collor se elegeu, muita gente alardeava que o cara era super inteligente porque falava cinco ou seis idiomas, daí um gaiato ponderou “qualquer prostituta do cais do porto fala umas dez línguas também.”

Isso me lembra uma piada do filme Austin Powers, uma paródia da franquia 007, em que o espião tinha sido congelado nos anos sessenta e nos noventa voltou botando pra quebrar. Daí, como parte do trabalho sujo, traiu a namorada com a secretária repelente do bandidão. Quando descobriu o chifre a moça ficou uma fera e disparou:

- Só espero que você tenha usado camisinha! – Sem saber da AIDS ele respondeu achando graça.

- Não seja ridícula babe, só quem usa camisinha são os marinheiros.

- Não nos anos noventa Austin!

- Mas eles deveriam querida, eles vivem de porto em porto...  

PELAS PERUCAS DO IVON CURY!

Dentre as características mais engraçadas da vaidade estão algumas daquelas coisas que usamos para nos sentirmos mais bonitos, ou diferente daquilo que achamos em nós que não é legal. A calvície é um bom exemplo disso, parece até que acabaram de encontrar a cura para ela. Ontem revi vídeos de 1986 e 1988, eram festas de aniversário de minha mãe e boa parte da “sociedade de Vitória” estava presente e tinha pelo menos uns três homens bem maduros usando sonoras perucas, dava para ver tão bem quanto alguns que hoje pintam os cabelos de repente.

Um cara usar peruca hoje seria totalmente bizarro, ainda mais em um evento social. Eu, que tinha bastante cabelo na época, achava aquilo tudo muito engraçado e era doido para catar uma daquelas falsas cabeleiras e sair correndo, coisa que fiz uma vez, doidarásso claro, na Smoke Island. O cara era amigão de minha mãe e ficou todo chateado, pudico e desnudo! Peguei sua peruca selvagem e corri pela boate lotada, brandindo o escalpo do inimigo, soltando grito tipo Krigh-Ha-Bandolo!

Na volta pra casa chovia fino, eu estava ruim porque tinha tomado dez cubas e uns duzentos tocos de uma loirinha sardenta. No balãozinho da Ilha do Frade dei de cara com um fusquinha a zero por hora, belisquei o freio e o carro saiu rodopiando. Fui parar do outro lado da Navegantes, por sorte era madrugada e não tinha mais ninguém pela rua. Desci do carro e chutei sua lataria, corri pra casa para pedir ajuda, quando perguntaram se eu tinha me ferido, respondi com aquele bafo de cachaça:

- Ahê, acho que quebrei a unha do pé!

sábado, 19 de março de 2011

MAS QUE "BEM" EXEMPLO HEIN?


Ferdinand Ries foi aluno de Beethoven, graças a ele ficamos sabendo de muitas histórias engraçadas e de como era o temperamento do gênio surdo alemão. Certa vez ele estava tocando, errava uma batelada de notas e o professor nada. Lá pelas tantas o mestre levantou furioso e o interrompeu no momento menos esperado.

- Mas mestre, eu já errei um monte de coisas até agora e o senhor não falou nada.

- Quando estamos tocando é comum esbarrar notas e errar alguma coisa ou outra, isso acontece. Porém, não podemos ignorar o estilo e as marcações do compositor, porque isso denota desconhecimento.

Exposto o tema, vamos fazer uma pícola pausa para um “recordar é viver”?
O pessoal do blog Moquecada abalou a Internet há tempos atrás que não voltam mais. Os autores(as) escondiam-se por trás do véu de um seguro anonimato – o que por aqui é realmente necessário – para achincalhar a dita “sociedade” capixaba. Era muito engraçado quando, por exemplo, eles pegavam fotos de sites como o da Revista Class e ficavam comentando.

Mas a especialidade do blog era vasculhar erros de digitação, português e gafes em geral que transbordavam em tudo o que é página oficial dos principais jornais do Espírito Santo. Hoje quando fui dar uma olhada no site da “Folha Vitória” lembrei muito deles, a razão está na imagem abaixo.



Não fez vestibular não meu filho? Fugiu da escola? Pediu pro cara do Balanço Geral revisar? Bom, só para refrescar a mente da galera inocente que não é jornalista nem tem obrigação de saber português, mesmo porque eu também não sei: bom é o contrário de mau – anota ahê celerado, infiliz! - e mal é o contrário do bem. Pegou?


É disso que Beethoven falava, tá ligado? Erros de digitação, pequenas falhas de acentuação e pontuação são coisas que acontecem, mas não saber a diferença entre o bem e o mal é pau, é pedra, é o fim da picada.

quarta-feira, 16 de março de 2011

VIVEMOS ÉPOCAS MAIS CARETINHAS? OU JÁ DEU O QUE TINHA QUE DAR?


O cigarro por exemplo. No passado já foi comum fumar em qualquer lugar, lembro daqueles grandes cinzeiros de metal que, a título de lixeira, existiam em todos lugares públicos. No filme “Uma Noite em 67”, Chico Buarque dá entrevista - ele e o repórter - fumando que nem caiporas na frente das câmeras. Lembro também da abertura do primeiro Planeta dos Macacos em que o mega canastrão Charlton Heston fumava charuto na cabine de uma nave espacial (!) Os cineastas erraram suas previsões do futuro, o uso do tabaco tornou-se uma atividade anti-social.

O que é mais careta então? A forma autoritária como se estabeleceu o anti-tabagismo em nossa sociedade – que prolonga e salva vidas, não estou condenando - ou a moda também obrigatória como as pessoas fumavam antigamente? Vivemos numa época mais repressora e careta ou apenas somos todos forçados a assumir outras responsabilidades e posturas para, inclusive, ascendermos socialmente? Venho pensando nessas coisas desde que vi o excelente e comovente filme sobre os “Dzi Croquettes”.


Para quem não tem obrigação de saber – eu mesmo nunca tinha ouvido falar – o “Dzi” era uma trupe teatral de treze rapazes dos quais não restava a menor dúvida - como diria Maria Nilce - que abalou o eixo Rio / São Paulo em meados dos anos 70. Liderados pelo excelente coreógrafo Lenny Dale (O Pai) e o artista Wagner Ribeiro (A Mãe), o grupo influenciou costumes e principalmente a geração que veio logo depois como Ney Matogrosso - cujo (cujo?) visual era praticamente o mesmo - Frenéticas e toda a galera do Teatro Besteirol anos 80.

Nunca fui muito de apreciar dança. Sempre achei desconcertante a obrigação de “chacoalhar o esqueleto” em festinhas, uma das coisas mais chatas do repertório de convenções sociais a que estamos submetidos, especialmente no período de acasalamento. Só pra dar uma idéia: relutei em sair com minha esposa, porque quando nos conhecemos ela disse que fazia dança de salão. Não que o Lenny tenha provado que eu estava redondamente enganado, e sei o quanto estou, mas ver o cara dançar... É como uma orgia, é de cair o queixo.

Os “Dzi” eram “homens femininos” que, em pleno auge da ditadura, “abriram suas asas e soltaram suas feras” no que se configurou, segundo depoimentos do filme, no primeiro acontecimento abertamente gay do Brasil. Depois deles veio AIDS, Internet e – corrija-me quem achar o contrário – a própria música estacionou num pop meia boca onde vem patinando desde então. Quem faz coisas “ousadas” (desculpem o termo) hoje? Não sei, essa época em que vivemos me parece caretinha, chata, certinha...

O ketchup vem em bisnaguinhas que não abrem, pagamos para estacionar em hospitais, segurança só de camisinha e no bafo da madrugada. Viver não é mais uma aventura de bandoleiros, o pirata moderno é uma atualização do Robin Hood, compartilhando de graça o que antes era consumido por quem "estava podendo". E apesar de toda nóia, vemos um mundo que afunda lentamente, montanhas que escorregam sobre a gente: muito mais gente do que antigamente. Enxames de motociclistas zunem por nossos carros, dez, doze, mil.  

As “Internacionais” Dzis pagaram um preço por sua postura de vanguarda num mundo doente e preconceituoso, dos treze apenas cinco ainda estão vivos. O filme é da atriz Tatiana Issa – hoje produtora em Nova York - em parceria com Raphael Alvarez  e é simplesmente lindo, imperdível. Deixe seus preconceitos de lado, rasgue as roupas e vai jogando uma purpurina, porque essa é uma história de machos que ousaram ser gente, com um bocado de Carmem Miranda, mas gente de verdade.

sexta-feira, 11 de março de 2011

DELIBERADAMENTE INCOMPREENSÍVEL


Um amigo fala pra outro: - Carnaval é que nem vestibular.

Mas esse outro nunca presta atenção e responde distraído - Sei. Porque todo ano tem né? Você sempre fala isso...

- Sim. – Responde agora engraçado - E também porque um monte de gente vai levar pau...

Em seus termos ele era engraçado, especialmente no que dizia respeito às mulheres. Ele achava que era importante divertir para depois abocanhar, como um cão brincando com a comida. Na verdade tinha lido isso em algum lugar, em um livro como o Kama Sutra que até pouco tempo ele pensava ser apenas fotografias de pessoas transando.

Os japoneses têm um código de ética dos samurais, o Hagakure. Nesse código descobria-se a arte de guerrear, mas tinha cosmética também. Da importância de não deixar que os outros percebam quando não se está muito bem, de ressaca, por exemplo. Sugerem passar até um pó no rosto e ter sempre a melhor aparência possível.

Os que acham importante divertir os outros têm, às vezes, que se perguntar sobre a importância do riso, a tristeza do palhaço e a diferença da alegria.

Passava o tempo, mas eu mesmo não passava, eu ainda não passei. Faço uso do passado. Um dia vi a chuva, mas a maior parte destes era o sol. Fiquei e tudo aconteceu comigo. Tudo e nada, sempre a mesma coisa diferente. Chega uma hora você cansa de procurar e passa a esperar, sem saber muito bem o quê.

O tempo passa, mas qual a diferença? Talvez que de tudo eu não me lembre mais de mim. Do que eu era, das coisas que eu queria, os pensamentos que um dia tive, os sonhos que eu já cultivei. Passou tudo, mas todo ano tem.

Esse estado de ciência imaginária - só eu sei o que estou sendo agora - não me coisa nem descoisa, é apenas uma pequena faísca numa pedrinha polida agarrada no asfalto. Por ela tudo passa, mas ela mesma não é nada.

Então não quero ser prolixo, ou deliberadamente incompreensível, é que as palavras não me ajudam... E se bobear elas até atrapalham. Às vezes eu escrevo para não ser lido com a mente, como se quisesse despertar sensações, sei lá, imaginação. Não tem coisas que nos fazem sentir assim? Então porque não podemos também? 

Deixa rolar... Todo ano tem...