Páginas

domingo, 20 de dezembro de 2015

DUVIDAR É FUNDAMENTAL

Os velhos é que devem fazer a revolução dos jovens, pelos jovens, porque eles, velhos, não têm nada a perder, exceto a vida.

José Carlos Oliveira in Diário Selvagem – página 203

Hoje tive meu momento Yehudi Menuhin. O grande violinista contou que uma vez estava ouvindo rádio em casa e tocou um concerto para violino, talvez de Beethoven, numa interpretação brilhante, faiscante... E pensou: gostaria de tocar esse concerto desse jeito... Então, esperou até o apresentador dizer quem era aquele violinista e, para sua surpresa, não era outro que não ele mesmo, uns trinta anos antes.

Quando contei essa história alguns amigos acharam blasé, extravagância de gente deslumbrada. A princípio concordei, a afirmação também me incomodou. Achei meio ridículo o cara contar essa história, mesmo que realmente tenha acontecido... Mas, a vida vai indo e dá umas voltas na gente... “E a vida o quê é? Diga lá meu irmão...”.

Hoje de manhã peguei um texto nas mãos, uma publicação recente e de cara gostei da forma como o assunto introdutório foi abordado; sem rodeios, estabelecendo aquela ligação direta com o leitor cujo contrário (cujo?) me incomoda. No segundo parágrafo me caiu a ficha: ora, eu mesmo tinha escrito! Uma querida amiga me pedira para organizar seu perfil e depois o publicou; fazia vários meses, eu nem lembrava mais.

Acho que depois dos cinquenta – e o Yehudi devia ter pra lá de setenta quando contou aquela história – a gente se dá o direito de assumir certas vaidades. E alguém poderia perguntar com surpresa: ora Juca, mas você já chegou aos cinquenta? Pois é. Vai ser amanhã! Entendo e até espero - outra vaidade boboca - o possível estranhamento das pessoas, porque nunca perdi uma incerta atitude jovem – mas isso, de uns temos para cá, de vez em quando me incomoda.


Como foi que deixei passar cinquenta anos assim? Que diabo fiz EU da vida durante meio século? Faz pouco tempo eu andava de bicicleta Monark pelas ruas de paralelepípedo, dava voltas na quadra onde morava puxando pelo barbante uma Lotus preta de plástico, catava mamona nos terrenos baldios para municiar o estilingue. Lembro meu pai e minha mãe, já há muito falecidos, mas que tem hora parece que ainda estão aqui e vão me aparecer para me cantar o parabéns...

Detestava quando me diziam que o tempo ia passar rápido, e agora é muito difícil concordar que aqueles otários – sei-lá-quem – tinham alguma razão. Porém, se pudesse escolher, os jovens ficariam sem saber dessas coisas, porque é um dado que não acrescenta em nada e uma hora cada um vai descobrir qual é... Como eu, agora. Porque dizer para um jovem que ele vai ficar velho é apenas outra forma de dizer: eu sou melhor que você, eu venho de antes, eu sei mais. E isso não é bem verdade.

Mesmo adulto responsável a gente sofre iludido com historinhas que aprendeu sem nunca perguntar: será? O “será?” é fundamental, a música da Legião Urbana not so much. Buscar respostas dá um trabalho danado, mas vale a pena, porque a verdade nos faz capaz de discernir o bom do ruim, mesmo quando o ruim é bom pra cacete. Talvez essa seja a parada do amadurecer, a gente consegue fazer escolhas. Por essas e por outras desconfio que os caras regulam a vida dos jovens por “recalk”, porque acostumaram com a rédea do juízo e sabem que, as vezes, errar é bom bagarai...


Vai ser feliz meu povo! Que eu vou ali acender um cigarro na lua...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

CONCERTO DE NATAL DA GRANDE MARUÍPE!



Nesta quinta-feira, dia 17 de dezembro, o Instituto Todos os Cantos realiza na Praça do Itararé uma singela celebração pela paz. Acreditamos que a mudança tem que vir da voz e do talento, da força e do empoderamento da juventude capixaba. Com respeito e responsabilidade o Algazarra Arte Coral, regido pela maestrina Alice Nascimento, recebe convidados e um time de artistas da cena capixaba no seio da Grande Maruípe.

O Algazarra Arte Coral é hoje um ícone do bem no Itararé 

O Instituto Todos os Cantos​ agradece o apoio dos padrinhos do Algazarra Arte Coral​, do Prefeito Luciano Rezende​, do Instituto Unimed Vitória, do vereador (hoje na suplência) Luiz Paulo Amorim​, da secretaria de saúde de Vitória na pessoa da diretora da Unidade de Saúde do Itararé, Mary, e toda equipe da saúde. E muito especialmente agradecemos à empresa Prime na figura de Paulo Simão​, amigo de todas as horas.

O Concerto começa sete e meia da noite, venha celebrar com alegria e amor o nascimento de Jesus e traga toda sua família!


CONCERTO DE NATAL
Algazarra Arte Coral e Convidados
Regência Alice Nascimento
Realização Instituto Todos os Cantos
Dia 17 de dezembro de 2015, 19:30hs
Na Praça do Itararé
ENTRADA FRANCA

Se você apoia essa iniciativa, por favor, ajude-nos a divulgar!

Reencaminhe esse convite para seus contatos eletrônicos, mande pelo zapzap, Facebook, Instagram, para os jornalistas, radialistas, assessores de comunicação que você conhece e até para os desconhecidos também. O importante é fazer esta mensagem circular... 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

DEMÔNIO ENTRE OS DEMÔNIOS


Na primavera de 1978 o escritor José Carlos Oliveira (1934-1986) veio se esconder em Vitória para tentar dar um tempo das esbórnias no Rio de Janeiro. Ficou hospedado na residência oficial do Governador do Estado, seu dileto amigo Élcio Álvares, por quem tinha grande respeito. Vide o que diz na página 103 de seu Diário Selvagem:

“Élcio se deitou na cama ao lado da minha às 21h e percebi sua ansiedade. (...) ele morre de medo de voar. (...) Decidido: se for só, irei com ele para lhe dar apoio moral. É o mínimo que posso fazer por esse amigo que desde os 15 anos se mostra psicologicamente cristalino. O bom e honrado rapaz (...) ele guarda as virtudes da adolescência (...) cego e surdo à malícia, à perfídia, à natureza maligna do outro. Desconheço de que maneira se esgueirou entre os demônios em Brasília e alcançou o Palácio Anchieta contra toda expectativa.

Carlinhos diz não saber, mas – pág. 122 - acabou fornecendo uma pista para responder esta questão:

“Atenção: D.J.M., marido de M.N. e preterido pelo Élcio quando desejava ser vice-governador, é agente do SNI ou DOPS ou DOI-Codi, ou tudo ao mesmo tempo.”

Segundo o casal dono do Jornal da Cidade (matutino extinto após o assassinato de Maria Nilce em 1989), Élcio se “esgueirou entre os demônios de Brasília” através da influência de Djalma Juarez Magalhães (O tal D.J.M.), com a promessa de apontá-lo como vice (Segundo artigo de Ueber José de Oliveira: o Presidente da República concedia a prerrogativa ao governador para pessoalmente escolher o seu Vice). Sabe-se-lá-porque Élcio Álvares "preteriu" o jornalista e acabou apontando Carlos Alberto Lindenberg "Carlito" Von Schilgen (1927-1992). 

http://www.periodicos.ufes.br/dimensoes/article/viewFile/6160/4501

Maria Nilce deixou um texto em que diz que nesse período Élcio “tinha tanta liberdade em sua casa que até a porta da geladeira abria.” Entretanto, imediatamente após garantida a nomeação, o novo “Governador Biônico” deu as costas ao casal do Jornal da Cidade. Numa jogada clássica: seduziu, prometeu e depois: “bananas”. Ao contar a história vindo "do lado de lá" e mencionar o eufemismo “preterido” Carlinhos trivialmente confirma esse fato. Mas será que Djalma Juarez Magalhães tinha mesmo toda essa influência em Brasília?

D. J. M. E OS REVOLUCIONÁRIOS DE 1964


Autor de dois bons romances - “Lama no Ventilador” (1973) e “O Anti-cristo” (1975), disponíveis em sebos de várias partes do país - Djalma demonstrava admiração pelos militares “revolucionários”, mas ele não era o único. Nascido em 1930, filho de Fernando Haeckel de Magalhães - gráfico de alguns jornais do Rio de Janeiro e da Revista Manchete – o escritor e os jovens daquela geração acompanharam aflitos as notícias da 2º Grande Guerra, os feitos da Força Expedicionária Brasileira, a tomada do Monte Castello, a vitória dos aliados. Nos “anos dourados” que se seguiram aqueles Marechais e Generais patropis seriam vistos como heróis nacionais, homens que encarnavam de fato o ideal de “morrer pela pátria e viver sem razão”. Os longos anos de chumbo mudariam isso tudo...

Segundo o jornalista Rogério Medeiros, o Jornal A Tribuna - do qual Djalma foi diretor até o final da década de 1960 - foi o único de Vitória a apoiar o que o exército chamava de “Revolução”, mas que até a Igreja Católica era favorável ao golpe. Veja um trecho do que o jornalista do Século Diário diz sobre o assunto:

“Em que pese a contribuição da Igreja em favor do golpe no Estado, o destaque maior era o jornalista Djalma Juarez Magalhães, que dirigia, na época, o jornal "A Tribuna.”
           

Ao apoiar a “revolução” Djalma mostrara idealismo, mas - como dizia Rogério Medeiros - sua participação fora panfletária, o escritor e jornalista não era membro do Exército; apenas acreditou que naquele momento o golpe era o melhor caminho para o país. Rogério lembra que no dia seguinte toda a imprensa capixaba se transformara: “A Gazeta virou golpista no dia dois de abril, tirou a direção (o diretor era Eloy Nogueira da Silva), botou o General (Darcy Pacheco de Queiroz, cunhado de Carlos Lindenberg) e tirou o Cariê”. Em Brasília, o alto comando militar confiava em Djalma, portanto, sua opinião quanto ao futuro governador de seu Estado, em alguma instância, deveria ser realmente relevante. 

Maria Nilce lembra, porém, que a maior desavença do casal com o governador não fora por conta daquela jogada clichê de prometer mundos e fundos para depois fechar a porta. Em seu quarto livro, intitulado Postais de Minha Vida, a colunista conta que Djalma - nascido em Vitória, mas criado no Rio de Janeiro desde os cinco anos – acreditara realmente nas promessas do “amigo” e ficara tão decepcionado que até pensava em voltar para a “Cidade Maravilhosa”. Maria foi procurar Élcio Álvares, tentava também entender o que acontecera e pedir sua ajuda. Descobriu, porém, que o governador nada tinha a oferecer além do mesmo jogo de sedução barata em troca de promessas vazias:

- Élcio, o Djalma está muito decepcionado com você, que lhe prometeu mundos e fundos e agora passa todo o tempo a evitá-lo. Pede a ele Élcio para não ir embora.
Abismada, vi Élcio colocar a mão em cima de minha coxa esquerda e me dizer carinhosamente: - Deixa ele ir embora. Deixa ele ir que a partir do dia quinze de março vou tomar conta de você, vou fazer de você a dona deste Estado, vou fazer do Jornal da Cidade o maior jornal deste estado.
Fiquei lívida. Primeiro, porque tinha Élcio Álvares como um irmão e aquele procedimento não era de um irmão. Segundo, eu fiquei decepcionadíssima, pois tinha uma enorme admiração por ele e constatei naquele instante estar diante de um canalha.

EXÉRCITO DO BEM - EXÉRCITO DO MAL

Voltemos à afirmação de Carlinhos Oliveira, hospedado na casa de um Governador Biônico do regime militar, de que um declarado opositor do governo seria um agente secreto do SNI ou coisa que o valha. Como pode ser isso? Os fatos históricos mostram que havia forças conflitantes dentro do exército, resta descobrir com clareza quem era do bem e quem era do mal aqui no Espírito Santo. Os arquivos do Dops – hoje disponíveis para consulta - mostram que o casal do Jornal da Cidade fora constantemente monitorado pelos milicos capixabas. Rogério Medeiros conta que Djalma, mais de uma vez, sofreu com a perseguição do exército:

Tinha uma briga de grupo. O Djalma tinha criado uma situação adversa para ele no 38º BI. Atuava como fosse uma liderança do movimento militar e se ligava em cima. E os caras daqui ficavam putos porque ele não dava confiança. Djalma jogava lá em cima, então os caras armaram para prender Djalma. Ditadura meu amigo...

Ungido pelos militares, após "preterir" Djalma e ser empossado, Maria Nilce conta que Élcio Álvares usou de sua influência para secar as fontes de renda do Jornal da Cidade e depois radicalizou ao tentar sem sucesso enquadrar o casal desafeto na Lei de Segurança Nacional, o que poderia gerar prisão de até seis anos (!) Não satisfeito, "aquele bom e honrado rapaz", em duas ocasiões mandou apreender a edição inteira do periódico causando-lhes grande prejuízo. O fato foi arrolado no inquérito dos “investigadores” do Dops sobre Maria Nilce Magalhães:

  
É digno de nota o fato dos infames “Arquivos Confidenciais do Dops” não trazerem realmente uma investigação. São alguns tópicos reunindo os mesmos comentários maliciosos que circulavam pelos botequins e salões de beleza de Vitória, no melhor (ou pior) estilo “onde tem fumaça tem fogo”. O “espião” não apresenta um documento contundente sequer, a não ser as notas debochadas publicadas pela colunista. Uma inclusive que mostra o quanto o “medo mortal de voar” que atormentava o governador - mencionado por Carlinhos - já fazia parte do folclore capixaba. Ho... Ho... Ho...

  
Talvez, por conta dessas “investigações” mal enjambradas o governador nunca tenha conseguido meter Maria Nilce e Djalma Juarez Magalhães na cadeia. E olha que ele tentou. Na pior (ou melhor) das hipóteses os militares ajudaram do ponto de vista histórico na elaboração deste texto, porque, após atentados a bomba e outros atos terroristas, muito pouca coisa do acervo do Jornal da Cidade chegou aos nossos dias. Foi uma agradável surpresa encontrar aquelas notinhas irreverentes colecionadas a título de “alta espionagem” e, ainda por cima, com a chancela de "confidencial". Para maiores informações com relação ao desaparecimento do acervo do Jornal da Cidade acesse o link abaixo:


A LENDA DA MULHER CORAJOSA E GUERREIRA

Pesa ainda contra o governo Élcio Álvares o fato de que os donos do Jornal da Cidade não seriam os únicos perseguidos durante seu mandato. Em sua coluna de O Globo do dia nove de agosto de 2014, a jornalista Míriam Leitão afirma o seguinte: “o início da minha vida profissional foi tumultuado pela perseguição da ditadura. No Espírito Santo, fui demitida de um jornal por ordem do governador Élcio Álvares”. O jornalista Rubinho Gomes escreveu um excelente artigo para o site Século Diário, rememorando este fato em detalhes:

Élcio passou a interferir diretamente na redação de A Tribuna. Foi quando ele exigiu da direção do jornal a demissão da jornalista Miriam Leitão (que havia sido presa em 1972) e outros que ele considerava "subversivos", como o estudante de Medicina Gustavo do Vale, o jornalista Jô Amado, o catarinense Nei Duclós, dentre outros. É bom lembrar que Miriam e Gustavo haviam sido presos naquele grupo acusado de integrar uma célula do PCdoB e que foi vítima de bárbaras torturas no quartel de Vila Velha do 38º Batalhão de Infantaria, fato que acaba de ganhar repercussão nacional, após anos de silêncio.  


Com esse panorama fornecido por Rubinho é possível perceber que os responsáveis pela repressão militar no Espírito Santo pertenciam ao 38º BI e seguiam ordens, fora o alto comando, do próprio governador. É possível, portanto, inferir que a “atenção” que Carlinhos dá ao fato de Djalma ser “agente do SNI ou DOPS ou DOI-Codi, ou tudo ao mesmo tempo”, pudesse ser fruto de “contrainformação” (fofoca em nível militar). Essa "informação" foi difundida pelos inimigos dos donos do Jornal da Cidade com o propósito de enfraquecer a influência e a credibilidade alcançada, especialmente por Maria Nilce, após ridicularizar impunemente o mandato inteiro daquele governador biônico do Espírito Santo. Vide a conclusão do texto “Quatro anos dentro de um túnel”:

Dos quatro anos do governo Élcio Álvares eu obtive uma enorme lição de vida, ganhei o respeito e a admiração de uma cidade inteira que não me viu dobrar os joelhos em momento algum. Saí desse túnel escuro muito mais forte, com uma enorme experiência e no dia seguinte em que Eurico Rezende assumiu o governo eu corri para a praia e como uma gaivota feliz levantei voo gritando aos quatro ventos um enorme bom dia para minha aurora que finalmente surgia. 

Maria Nilce e Djalma Juarez Magalhães 
NA PRÓXIMA POSTAGEM

Ainda com base nas memórias de Carlinhos Oliveira aprofundaremos este assunto investigando as “ligações perigosas” que podem ter contribuído para o surgimento do crime organizado no Espírito Santo. Movimento brutal e sangrento – de estilo plata o plomo - que virou mainstream na terra dos capixabas durante a década de 1990. 

sábado, 28 de novembro de 2015

O MAL DOS CRONISTAS


“Rubem (Braga) adorava dar em cima de mulher de amigo. Tinha uma boa saída para a sua falta de vergonha na cara:

– E você quer o quê? Que eu dê em cima da mulher dos inimigos?” 

Comentário atribuído a Raquel de Queiroz.


Na primavera de 1978 quando veio espairecer nas terras capixabas, José Carlos Oliveira estava muito mais preocupado com a repercussão do lançamento de seu livro Terror e Êxtase (particularmente o autor o chamava de 1001) do que com a badalação que poderia haver em torno de sua atormentada figura. Na página 114 de seu Diário Selvagem, por exemplo, Carlinhos se ressente da forma como foi retratado pelo colunista Hélio Dórea.

“27 de setembro – Fim das férias. Mesquinharias capixabas: nos dias de Maciel, Alaíde pediu uma nota sobre 1001 ao colunista Hélio Dórea. Não saiu nada. Hoje saiu. Ela se mostrou vitoriosa. Mulher ingênua! Saiu ontem uma nota no Ibrahim e o seu copiador daqui incluiu que sou chique, colunável em nível nacional. Só por isso. Gentinha de merda! Depois eu conto mais”.

Com esse desabafo furibundo Carlinhos demonstra ter algum entrevero em particular com o colunista – ou então a implicância era com os que se dedicavam ao, sorry periferia, assaz provinciano colunismo capixaba - e não propriamente com o gênero de coluna social. Afinal, valoriza a nota dada por Ibrahim Sued (1924-1995, considerado o inventor do colunismo social brasileiro) e ainda termina fazendo graça, mencionando um bordão que seria muito repetido pelos deslumbrados escarafunchadores da high society.

Desde o início da passagem de Carlinhos pelo Espírito Santo, confesso, estava com medo que sua fúria se voltasse na direção de meus pais. Afinal, os jornalistas Maria Nilce e Djalma Juarez Magalhães eram inimigos ferrenhos de seu prezado amigo e anfitrião - o então Governador do Espírito Santo, Élcio Álvares - e imaginava que críticas, inevitavelmente, apareceriam... E apareceram. Porém, ao invés de puramente ofensivos, os comentários forneceram um panorama bastante rico, único e real daquele período. 

Carlinhos, eventualmente, menciona frases popularizadas pela colunista Nina Chaves, famosa por introduzir moda e estilo na imprensa nacional, como na Página 105 ele fala: “Como dizia a Nina Chaves – qualquer descuido pode ser fatal”. Com isso esclareceu a origem de um jargão muito usado por Maria Nilce: “Todo descuido pode ser fatal”, provando que, como na televisão, também em sociedade “nada se cria tudo se copia”.

No início das férias Carlinhos ficou alternando estadias entre a Residência Oficial do Governador, em Vila Velha; visitas ao hotel Porto do Sol de seu amigo João Dalmácio, em Guarapari e a casa de Victor Martins em Manguinhos, onde, por sinal, botou olho gordo na beleza deslumbrante da namorada do amigo, a Judith. Naquela época, Vitória, Praia da Costa e Manguinhos eram núcleos distintos e distantes, não havia a sensação que hoje temos de estarmos na mesma cidade, separados por engarrafamentos.

Quando finalmente resolve visitar Vitória, ou mais precisamente o famigerado restaurante do Ferrinho, é que Maria Nilce e Djalma Juarez Magalhães (Páginas 121 e 122) são finalmente mencionados.

“Almocei com ferrinho. Apareceu M.N., a fofoqueira do Jornal da Cidade. Ferrinho me transforma o metabolismo; há algo ansioso nele e algo mais que ansioso: maligno. M.N. também. (...) A proximidade de pessoas doentes da alma – Ferrinho, Maria Nilce – provoca a perturbação psicossomática que me faz sofrer o estômago (...) Atenção: D.J.M., marido de M.N. e preterido pelo Élcio quando desejava ser vice-governador, é agente do SNI ou DOPS ou DOI-Codi, ou tudo ao mesmo tempo."

Maria Nilce autografando seu terceiro livro "Como o Diabo Gosta" que foi lançado justamente no Restaurante do Ferrinho
Diferente do episódio com o antigo colunista de A Gazeta é preciso levar em consideração que o desprezo que Carlinhos demonstra pela “fofoqueira do Jornal da Cidade” revela também uma subjetiva influência da amizade e de solidariedade com o Governador e sua esposa; ambos, sistemática e ingenuamente – na maioria das vezes - ridicularizados por Maria Nilce em sua coluna diária. A razão dessa birra seria uma mal explicada “traição” – mal explicada na minha memória – que levou os donos do Jornal da Cidade a fazer oposição ao Governo de Élcio Álvares de forma bastante aberta e folclórica. Como era época da ditadura, em que os companheiros da imprensa geralmente tocavam pianinho, com suas loucuras Maria Nilce consolidaria neste período a imagem de mulher guerreira e corajosa...


Capa do terceiro livro de Maria Nilce, lançado em 1979.
É interessante observar que Carlinhos fala de Maria Nilce como se já a conhecesse “de outros carnavais” e menciona que algo nela o perturba tanto física quanto emocionalmente. Ora, a colunista do Jornal da Cidade estava no auge de sua beleza exuberante e quem ler o diário vai perceber logo de início que o escritor era – para dizer o mínimo - um tarado pervertido contumaz. O fato de sequer mencionar os atributos físicos da “fofoqueira”, revela que Carlinhos, parecido com Rubem Braga - aliás, dizem que era mal dos cronistas – só tinha tesão mesmo pelas mulheres dos amigos. Vide a epígrafe. E para saber mais, no link abaixo, acesse o excelente texto abaixo de autoria de Juremir Machado, intitulado: O Canalha do Rubem Braga.



       NA PRÓXIMA EDIÇÃO

    O diário de José Carlos Oliveira ajuda a Letra Elektrônica a desvendar um episódio mal explicado da década de 1970. Para tanto vamos abrir os arquivos do Dops e revelar o que o Exército pensava sobre o casal dono do Jornal da Cidade...



sábado, 21 de novembro de 2015

O VENTO SOPRA NO MICROFONE

Saio de casa faltando dez minutos. Na porta de casa o gato Simba me olha todo dia com a mesma questão: “aonde você vai?” Boa pergunta. Coloco os óculos de sol na cabeça e às vezes esqueço onde estão. Enquanto espero o elevador desembolo o fio e plugo o fone no celular. Abro a tela e clico num ícone laranja no formato de um daqueles grandes fones de ouvido. Tenho um desses, mas não dessa cor, obviamente.

Obviamente por quê?

Porque sim. Vá encher o saco de outro. - O player de música (podia ser de outra coisa) oferece algumas opções de reprodução, inclusive a aleatória que conheci recentemente. Gostei desse negócio. É como uma rádio que só toca músicas que eu escolhi e não tem propagandas, mas também não tem surpresas. Atirem no pianista!

Outro dia coloquei uma gravação recente da Sinfonia Fantástica de Berlioz, música na qual não pensava fazia tempo. Muitas vezes essa operação demora um pouco, ao sair na claridade da rua quase não enxergo mais o visor. Cumprimento vizinhos, gente voltando da “acadimia”, passeando com o cachorrinho, conde falando aos passarinhos.

Ganho a rua ouvindo a Killer Queen, aquela que guarda Moet Chandon num armário bacaninha (onde foi parar o trema nesse teclado?); ao dobrar a esquina aperto o passo, sinto um calo no pé esquerdo e tenho aquela sensação chata da distância: falta sei-lá-quanto para chegar. Logo estou submerso em pensamentos, olhos grudados no chão converso comigo sem fazer agora a menor ideia do assunto...

Depois de uns três minutos passava pela calçada do Senac e o dispositivo aleatório escolheu um noturno de Chopin com Guiomar Novaes, peça que andei batucando uns tempos atrás. De novo tenho a sensação de distância, espaço/tempo. Respiro e sinto que ao pensar existo. Alguém pichou que a TEG é foda, que diabos é a TEG? Maldita seção central, difícil fazer aquela sequência de oitavas! Cadê tempo para estudar?


O vento sopra no microfone - como será que faz para desligar essa bustrenga? (saudade dessa palavra) - depois lembro que ouvir música com aqueles pequenos dispositivos enfiados no ouvido não é a coisa mais saudável. Ao contrário de agradecer o aviso do fabricante - a música alta pode ocasionar perda de audição - fico é puto da vida. Dá vontade de ouvir no toco, mais alto até do que o volume máximo oferece...

... Reconheço que sou um pouco infantil, autoestragativo e buscador de limites. Como nessa relação com os carros, os tais “chatomóveis”. Se não é seguro correr por aí que nem um doido, por que os fabricam tão velozes e competitivos?

Agora vem o João com seus para-pa-pá... Alguém dá um berro na plateia. “Ái meu Deus!”


Sete minutos e cinquenta e pouco: Cheguei!


sábado, 14 de novembro de 2015

SUICÍDIO LITERÁRIO - TUTORIAL

Estou lendo o “Diário Selvagem” de Carlinhos Oliveira (José Carlos Oliveira 1934-1986), escritor que saiu de Vitória ainda adolescente e fez carreira como cronista do Jornal do Brasil. Já ouvira falar muito de Carlinhos, mas nunca tivera em mãos alguma obra sua. Venho lendo devagar, porque são memórias pessoais e não uma história propriamente organizada: esbórnias intermináveis, muitos problemas de saúde, episódios amorosos frustrados perpetrados por um sujeito sexualmente inseguro, nanico (1,59m) e magrelo.
Os comentários iniciais são muito centrados na vida sexual e são também, muitas vezes, surpreendentes. Como quando Carlinhos confessa, por exemplo, suas recorrentes fantasias homossexuais, Página 21:

“20 de setembro, domingo – No Degrau [1]um rapaz me tascou um beijo na boca – beijo de amante. Ainda estou deveras perturbado. Qualquer hora dessas, as circunstancias ajudando, enfrento o problema homossexual.”

Vais saber a quais circunstancias Carlinhos se referia e também não fica claro se a questão homossexual era realmente “problema” ou solução, vide página 39.

  “Espero que X. me chupe o pau daqui a pouco. Relaxa. Ela me disse que o Z. só pensa em sacanagem (não bebe, não fuma, adora uma suruba e sonha com um garotinho que o enrabe. Eu também, de vez em quando...)”.



DE VOLTA ÀS TERRAS CAPIXABAS

O diário fica mais interessante para nós “os capixabas” quando Carlinhos vem para o Espírito Santo passar alguns dias de férias (Página 93 em diante).
No dia 10 de setembro de 1978 escreve de Vila Velha, estava hospedado na residência oficial do Governador Élcio Álvares (nascido em 1932), seu amigo de folguedos juvenis. O escritor estava em plena loucura do lançamento daquela que seria sua obra mais célebre Terror e Êxtase, particularmente chamada de 1001. Carlinhos demonstra carinho e admiração pelo atual presidente da “Banestes Seguros” e sua família, o que não o impede de acalentar fantasias sexuais com relação à noiva de Elcinho. Fala também com respeito do encontro com jornalistas como Amylton de Almeida, Maura Fraga e Sérgio Egito. Demonstra, porém, pouca condescendência com outras figuras da sociedade local.
Seus comentários jogam um facho de luz sobre certa “elite intelectual capixaba” formada por professores universitários e autores ligados às instituições governamentais, mais respeitados pela posição social que ocupam do que pelas obras que publicam. Acadêmicos interessados em legitimar e institucionalizar o valor de seu próprio trabalho e de alguns autores escolhidos entre seus pares. Não haveria problema nenhum nisso se esse grupo não se comportasse como se os outros escritores não tivessem a mesma capacidade ou qualidade e, pior ainda, esse fato ser largamente aceito como “oficial”. Aliás, não me recordo sequer dessa “convenção” ser questionada por outros autores, talvez por temer um suicídio literário. A tendência é fazer como os mais inteligentes: aceitam a situação, elogiam e adulam essa “elite” para tentar obter reconhecimento de seus escritos. Porque, obviamente, só os integrantes desse grupo são convidados a participar (ou indicar autores) de eventos literários, somente seus livros são selecionados para distribuição em escolas, indicados para o vestibular e por aí vai.
Carlinhos pergunta: “Não é uma sacanagem”?
Sim, porque aquele “rebelde precoce”[2] criado em Jucutuquara dificilmente teria alcançado o reconhecimento desses intelectuais como escritor se tivesse ficado em Vitória.

LITERATURA DE RICO

Segue a reprodução do referido comentário de José Carlos Oliveira, página 101:

“14 de setembro, quinta-feira, 16h – Victor (Martins) me mandou o romance de um capixaba que admira, A Crônica de Malemort, de Reinaldo Santos Neves (Nascido em 1946, Vitória). É filho de Guilherme Santos Neves, um dos professores de português (o outro é Clóvis Rabelo) que me humilharam no Colégio Estadual – no 1º ano ou talvez no 2º - porque eu andava lendo Machado de Assis. ‘Você não tem idade para compreender Machado, rapaz’, disseram eles, expondo-me à zombaria da classe. ‘Leia José de Alencar’, sugeriram. O jovem Reinaldo porém tem garantida a circulação de sua literatura nos colégios capixabas. Isso significa dinheiro no bolso e uma certa estabilidade profissional. Pois está relatado na orelha. Elogiando o Malemort, ‘outro importante ficcionista moderno e professor universitário’, José Augusto Carvalho, prometeu ao artista: publique logo que vou adotá-lo no Colégio Estadual e na Faculdade. Assim ele começa com um público compelido a lê-lo. Não é uma sacanagem? Mas isso acontece em todo o Brasil e só espero que Reinaldo seja mesmo um escritor talentoso. (página 102) Apontamentos fúteis e nada mais, merda. Vou ao ‘Réveillon’[3] – ou ler o tal Malemort, literatura de rico, circulação de estilo oligárquico”.

Que Reinaldo Santos Neves é um escritor talentoso, disso ninguém duvida. Parece, inclusive, ter tentado se descolar ao longo do tempo do peso dessa imagem reverente que lhe impingiram seus admiradores e outros literatos aspirantes. Talvez por isso ainda não integre a vetusta Academia Espírito Santense de Letras; atitude que, por outro lado, dá margens ao raciocínio lógico de ser esse um título que em nada acrescentaria à sua posição como autor.

POUCO ANTES DE MORRER

É curioso pensar que menos de uma década depois Carlinhos voltaria ao Espírito Santo para participar de um projeto como “Escritor Residente” do qual sairia o livro “Bravos Companheiros e Fantasmas” e coube ao autor de Malemort a redação de uma “Nota Final” e a involuntária descrição dos últimos momentos daquele confrade em letras de fama nacional:

“Dez dias antes de sua morte (Carlinhos) concluiu a revisão definitiva das provas paginadas e preparou o texto das orelhas e o conto para a contracapa, que leu com emoção na última oficina literária que estava coordenando, também como parte do projeto Escritor Residente. No hospital ainda houve oportunidade, entre um cigarro proibido e outro, para aprovar o layout final da capa e contracapa, já com o desenho (sugestão sua) do pássaro enigmático. Fez por seu livro, portanto, tudo que lhe cabia fazer”.

RETOMANDO ÀS CONCLUSÕES

Ao perceber a valorização de uma obra com base numa ligação “oligárquica” (termo contundente e perspicaz, porque se remete a um: “regime político em que o poder é exercido por um pequeno grupo de pessoas, pertencentes ao mesmo partido, classe ou família”), José Carlos Oliveira conclui conformado: “isso acontece em todo Brasil”. Pois, é possível ir-se ainda mais longe: esse episódio retrata acomodações sociais triviais que sequer parecem condenáveis; como, infelizmente, muitas vezes acontece com o nepotismo ou a corrupção. Antigamente escancarado, como revela o comentário do autor, esse “jogo” com o tempo ganhou ares democráticos: formou-se um grupo com as pessoas de sempre que continuaram a realizar escolhas a partir de gostos e interesses de sua casta, privilegiando familiares e amigos, ao mesmo tempo prejudicando, desmerecendo e relegando ao esquecimento o trabalho de desafetos e outsiders: a popular panela. 

Estaríamos romanceando a realidade? Parece que sim, dado o absurdo; mas é provável que não, dado a própria realidade.

E por aqui ficamos, meditando sobre a razão de certas coisas serem como são...



No próximo texto Carlinhos vai tecer seus comentários de soda cáustica sobre o colunismo social botocudo: “Depois eu conto”...



[1] Tradicional restaurante do Leblon. Existe até hoje.
[2] Título da biografia de Carlinhos escrita por Jason Tércio.
[3] Carlinhos se comprometera a escrever um conto com esse título para a Revista Homem/Playboy.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

A SAGA DO GATO SIMBA

Depois que parti para a carreira solo da vida jamais pensei ter em casa algum animal de estimação. Não tinha sequer opinião negativa ou positiva a respeito e Alice – em nossos quase dez anos de relacionamento - de vez em quando dizia querer um gatinho. Eu até aceitava a ideia enquanto coisa, mas soava distante como uma viagem a Europa ou voar de parapente. O Rodrigo, colega de trabalho, tem dois gatos e dizia que o legal é que, diferente do cachorro, o felídeo (Eita!) não dá trabalho nenhum.

Ouvi aquilo desconfiado como um fedelho diante de um prato de buchada...

Breve eu descobriria mais umas e outras coisas sobre os “pets”. Senão, vejamos: é importante, por exemplo, a maneira como o bicho entra em cena. Nunca me passara pela cabeça, mas tem gente que condena o comércio de animais de estimação, afinal, se trata de uma vida e não de uma mercadoria. Então, quando esse personagem estreou no final de nossa oitava temporada, uma das primeiras perguntas era se o gato fora comprado ou adotado e rolava uma satisfa quando contávamos sua peluda saga...

Era uma vez uma família que morava em Alvorada. Uma noite, em sua porta, apareceu um gatinho maltratado, faminto e bastante machucado. O bicho parecia ter se metido em alguns arranca rabos e passado maus bocados. Foi acolhido com um carinho danado, mas não podia ser adotado, afinal, na casa moravam já outros dois gatos e perigava começar a terceira guerra territorial. Começaram então uma campanha de adoção e as fotogênicas imagens do bichano inundaram o telefone de Alice... Até que um dia veio a decisão, dita com um pouco de receio: vamos pegar esse gato pra gente?


Primeiro registro do gato Simba em sua nova casa
Confesso que não tinha nada contra, mas, veja bem: muito menos tinha algo a favor...   

Na hora do encontro fomos recebidos por uma solene comitiva familiar, uma senhora e duas mocinhas, era início da noite, dia 3 de agosto naquele ano em que a Dilma, o PT, o PMDB e sei-lá-mais-o-quê quebraram o Brasil. O gato vinha no colo da matriarca e tive impressão de que o bicho me olhou com desconfiança recíproca, se voltando bem para o outro lado. A mais jovem comentou que o felino parecia um leão, na mesma hora veio o nome na minha cabeça “Simba”! Mas não falei nada, afinal a adoção do gato era iniciativa de Alice que a essa altura já acarinhava o bicho no colo...

Valente como os grandes felinos de sua espécie, ao chegar em nosso apartamento o diabo do gato imediatamente elegeu o fundo da máquina de lavar como trincheira e esconderijo e de lá se limitou a vigiar nossos movimentos. Dava para ver apenas a pontinha do focinho e os olhinhos amedrontados, do esconderijo só saía para comer a ração. Mais tarde tomou coragem de explorar a casa, descobriu um buraco embaixo do sofá na sala e ali passou a se encarapitar.




Foi com uma dificuldade danada que o arrancamos do novo esconderijo para levar ao veterinário no dia seguinte e lá, coitado, tomou vacina, teve as garras aparadas e – last but not least – temperatura medida. Na volta para casa o bicho estava amuado, pasmado e ligeiramente estuprado. Demonstrando raciocínio inteligente, nem dentro do sofá se enfiou mais, construindo, aliás, uma curiosa relação de causa e efeito.

Após conviver pela primeira vez com um bicho dentro de casa, confesso, foi passando o estranhamento e gostei muito, mas muito mais do que esperava. Quando dei por mim já estávamos assistindo televisão juntos, fazendo videocassetadas e tirando altos cochilos no sofá. Descobrimos depois, da pior maneira possível, que os gatos dormem pra caramba de dia porque têm hábitos notúrnicos. Mas minha maior surpresa foi constatar que o bicho se utiliza de uma forma de comunicação bastante clara e eficaz.

Simba desfrutando a parte externa de seu esconderijo predileto
Quando da adoção uma das meninas falou que aquele era um bichinho muito obediente, gostava de brincar e que se pedisse comida era só a gente dar. Pensei que fosse viagem. Imagina, vai pedir comida como? Pois não é que pede? O gato mia e olha pra gente, vai até a vasilha de comida, mia de novo e fica olhando pidão. Só falta falar: “ô cara pega esse saco vermelho de ração e bota uma comidinha aí pra mim”. Depois de alimentado fica numa satisfa doida e passa a realizar tocaias e caçadas imaginárias da sala pro quarto, da cozinha pro banheiro, correndo e derrapando pela casa.

Depois de umas semanas senti o felino adaptado ao novo habitat como fora mesmo a sua selva, ao invés de correr apavorado para se esconder passou a receber gente estranha com sua curiosidade olfáctica característica. Demonstrou, inclusive, certa predileção pelas visitas femininas... E essa é outra das coisas que aprendemos sobre os animais de estimação: a onda de castrar. Honestamente, ainda não tivemos coragem de mandar as bolas do nosso gatinho maluquinho pro cadafalso.   

O dia em que Simba encontrou o seu lugar ao sol
 Alice ainda não conseguia decidir como chamar o filho adotivo e o apelidou de Zebulom, filho de Jacó, mas não sabe explicar por que, era uma espécie de piada pessoal. Como quem não quer nada dei ideia de chamar o gato de Simba e uma hora pegou. Sinto agora que sua denominação poderia ser outra, mais adulta. Do canto de seus olhos saem traços que parecem maquiagem de egípcios, um treco sobrenatural. Hoje eu o chamaria de Mister Crowley, Bubastis ou Bastet. No fim, o nome nem é tão importante, o bacana foi a surpresa dessa nova alegria em nossas vidas.


Escrevi esse texto como uma forma de registrar a adoção que realizamos com um receio danado e que depois nos trouxe tantos momentos especiais. Escrevo agora mesmo com o Simba correndo pra lá e pra cá. As pessoas que confiaram essa vida em nossas mãos tiveram medo também, afinal, não nos conheciam, e o bicho homem – esse sim - é um danado ardiloso. As feiras de adoções de cães e gatos acontecem regularmente, então, se você quer adotar um animal e está na dúvida, eu digo: não perca mais nenhum segundo.

Simba posando para uma selfie com sua nova família
A receita para sermos felizes e começarmos a pensar em termos um mundo melhor e menos violento é cuidar que outros possam ser felizes também...

segunda-feira, 20 de julho de 2015

II CONCERTO BENEFICENTE DO ALGAZARRA ARTE CORAL




Com o objetivo de levantar recursos para adquirir uniformes de novos coristas e custear viagens para encontros de corais, o Algazarra realiza seu segundo concerto beneficente. É a primeira vez que o coro recebe o público de Vitória em sua casa, a comunidade do Itararé. Graças ao apoio da Faculdade de Direito de Vitória o grupo vai mostrar no Espaço Vitória um repertório variado com ingressos a preços acessíveis.

O Algazarra Arte Coral é muito mais do que um grupo de 40 jovens cantores. É um projeto independente de ensino de música e performance musical surgido no bairro Itararé, em fevereiro de 2011 e desde então é oferecido gratuitamente para o benefício dos jovens de vários bairros de Vitória e Serra. O grupo canta músicas do repertório clássico, folclórico e popular, já realizou inúmeras apresentações importantes no Espírito Santo e outros Estados do país como Minas Gerais e São Paulo.

Alice Nascimento é regente e fundadora do Algazarra, tem larga experiência em desenvolvimento de corais no segmento infanto-juvenil e uma longa história junto à comunidade da Grande Maruípe onde leciona há doze anos em projetos sociais. Participa como pianista acompanhador, entre outras funções, o escritor (Autor do livro Da Capo que conta a história da OSES) e músico Juca Magalhães (Ex-integrante da banda Pó de Anjo).

Numa parceria com a Prefeitura de Vitória, com indicação da Associação de Moradores do Itararé, o coro ensaia no auditório da EMEF Ceciliano Abel de Almeida e conta com o apoio do Instituto Unimed Vitória. Também incentiva o grupo o vereador Luiz Paulo Amorim que é morador do Itararé a mais de cinquenta anos. O Algazarra se mantém através de trabalho voluntário e economia criativa, contando com doações em dinheiro de padrinhos e madrinhas, realização de rifas e bazares e concertos beneficentes, como o próximo que vai acontecer no dia primeiro de agosto.

 
ALGAZARRA ARTE CORAL – CONCERTO BENEFICENTE
Dia: 01 de agosto 2015
Horário: 20hs
Local: Espaço Vitória - FDV
Endereço: Rua das Palmeiras, 500. Itararé
Preço: R$5,00 (Inteira Cinco Reais)
Maiores Informações: Juca Magalhães (27) 9 9942 9087 & Alice Nascimento (27) 9 9814 9906

 P.S. Recentemente o Algazarra foi notícia no jornal A Tribuna. A jornalista Rayza Fontes foi ao Itararé e constatou no discurso das pessoas da comunidade o impacto positivo, a identificação espontânea e o orgulho que o coral tem na vida, não só desses jovens capixabas, mas daquela coletividade.