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sábado, 29 de janeiro de 2011

TEOREMA FUNDAMENTAL DA SEMELHANÇA ENTRE TRIÂNGULOS


“Dizemos que dois triângulos são semelhantes se, e somente se, os ângulos no mesmo posicionamento forem iguais e os lados correspondentes, proporcionais.”

As pessoas de minha geração adoram histórias de caras cabeludos e irresponsáveis. Roupas de couro, tachinhas e atitude Rock ‘n’ Roll traduzida para o dialeto botocudo. Os tais heróis que morreram de overdose, infelizmente, nem todos. Esse último comentário não é porque penso que os doidões deveriam morrer intoxicados com a própria piração e não ir para o céu como Emilly acredita, mas porque alguns morreram de outras maneiras.

Com o tempo e a “evolução” repetitiva da eterna diferença a estética do “bad boy” englobou novas drogas, piercings e tatuagens. No início dos anos oitenta não era tão comum essa decoração temática do próprio corpo, confesso nunca ter gostado, tenho certa dificuldade em lidar com idéias materiais que são para a vida inteira. Mas isso é um comentário que não tem importância para essa história, talvez no futuro...

Então a minha personagem escolhida para hoje vem daquela época. Na verdade são três, a saber, uma loira ligeiramente metaleira, um metaleiro ligeiramente loiro e um doidão daqueles que seriam capazes de virar herói do Cazuza. Um triângulo eqüilátero à sua maneira, nem me atreveria a dizer que era amoroso. Sexual talvez, um trilátero casual. 

- O cara morreu varado de pipoco dos traficantes, na porta da boca de fumo, quá quá quá! – Uma amiga me contou essa história, sem se importar com a morte de uma pessoa que eu conhecera, não muito bem, mas que era tão maluco que virara um ser mitológico. Dele diziam um tudo: que uma época se apaixonara por um dos maiores amigos e que este o surrava com freqüência para desencorajar a tara desenvolvendo assim o vício em apanhar. Testemunhas oculares dizem que viram os dois à beira de uma dessas crises e que o maluco gritava histérico e excitado:

- Você não vai me bater não! – Mas ele já desenvolvera um certo gosto pela coisa, esperava ardendo pela coisa, assim como gostava de bater nas namoradas também. Uma vez enxulapou uma com tanta violência que a garota teve que dizer em casa que tinha sido atropelada. O pior é que no dia seguinte não lembrava da surra que dera na amada e queria saber quem era o filho da puta que fizera aquilo com ela.

- Dizem que o cara chegou estarrando na boca de fumo e os traficantes meteram pipoco nele, tá em tudo quanto é jornal. Huhauhauha! – Eu não achei a menor graça naquela história baixo astral, como poderia? Ponderei, isso sim, que aquela louca trajetória tinha durado mais até do que o esperado.

A loira metaleira namorava o doidão numa época em que não era lá muito comum – e nem de bom tom - manter uma relação estável. O metaleiro quase loiro, coisa também incomum nessas terras morenas, acabou resolvendo “atender a demanda” proposta pela loira e se jogaram às práticas ancestrais de acasalamento. Como todo bom marginal, o “caso sério” da loira tinha o costume de adentrar seu quarto pela janela e foi aí que rolou o flagrante da traição.

- Sai pra lá cabeludo que o meu papo é com essa loira vagabunda! – Um cara de roupa, outro sem e uma garota enrolada no lençol. Teorema fundamental dos triângulos, qualquer semem-lhança é megera coincidência. A metaleira foi pega pelos cabelos enquanto seu amante – valente lugar tenente das hostes endiabradas - pulava a movimentada janela com as roupas catadas ao acaso. Quando se vestia em um canto escuro encontrou uma calcinha preta, guardou como recordação e prova incontestável da aventura.

- Eu te amo porra! – A frase virou bordão durante uma época, acho que foi no início dos anos noventa. Dizem que um tal de Tomate anda a cantando hoje, se eu fosse ele faria um disco intitulado “Agrotóxico”... E morreria envenenado. A loira repetiu a frase até amansar o corno, até se dar conta de que não era aquilo o que queria. Nem um, nem outro. Triângulo desfeito, mais uma “dose dupla” de qualquer coisa e a vida que segue. Por sinal nem sempre, não para todos. Até um dia...

3 comentários:

Mya disse...

ahahahah excelente texto!

E, veja bem, ES não é a praia de Minas. Pelo contrário! É a praia que os foi negada!

Mya disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Gostei do "espírito da coisa", eu acho que é por aí mesmo Mya.