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segunda-feira, 30 de abril de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO - RAÍZES CANALHAS


Uma boa dose do humor, uma boa dose de amor, um copinho de cerveja que nunca esvazia. Para cada caso, um caso. Sete da manhã o despertador atacou a primeira sinfonia da aurora, não a gorda, porque Neslon falou que todo canalha é magro. O escritor que achava que mulher boa gostava de apanhar não disse especificamente que é preciso ser magro para ser canalha; tem, por exemplo, o Ghandi que era magrinho e reconhecidamente um cara gente boa. Não podemos dizer que ninguém é bom, podemos? Seria até, assim, uma heresia...

Canalha, aliás, essa é uma palavra engraçada, me lembra uma música de ... sei lá quem, Walter Franco talvez? “É uma dor canalha” ... Lembra meu amigo Max também, ele teve uma namorada meio doida, mezzo desesperada que, acusada de traição por alguém, falava aos prantos e aos berros: “você traz esse canalha aqui, traz esse patife”. Meu pai ficou bravo comigo quando percebeu que nós estávamos nos divertindo com o sofrimento da garota, puxou minha orelha.

O problema é que eu tinha arrumado um captador de contato – acho que era esse o nome – para amplificar o som de meu violão Di Giorgio. Era uma paradinha de metal redonda e prateada do tamanho de uma moeda de cinqüenta centavos. Tinha uma colinha adesiva (será que isso é redundância?) que grudava o captador ao tampo do violão e nós descobrimos que se o grudássemos no telefone conseguiríamos amplificar a conversa para todo mundo escutar e, inclusive, gravar...

O Peewee adorava gravar conversas, aliás, ele ainda adora. No ano passado, quando nos encontramos estava lá ele gravando tudo. Foi Machadinho – seu pai - quem falou: “Juca, o pior não é ele gravar: o pior é que ele realmente escuta isso tudo depois.” Para cada caso, um caso. Várias vezes ouvimos o chilique da ex-namorada do Max: de careta, doidões, sozinhos ou acompanhados. Éramos guris, você queria o quê? Alguém poderia dizer que éramos meninos bons, mas que nada, éramos garotos perversos nos divertindo com o poder até então inédito de causar sofrimento a uma garota.

Papai ouviu a confusão dentro do meu quarto, as risadas, a moça chorando. Ora, era tudo amplificado a alto e bom som numa caixa da Gianinni de 50w, queria o quê? Na hora meu velho não falou nada, o esbregue veio depois, quando eu menos esperava. E eu entendi que o que estávamos fazendo era mesmo uma idiotice, coisa de menino bobo. Ao invés de engraçado aquilo tudo era muito triste e passei a ter raiva de babacas por minha própria causa, porque eu vi o babaca em mim e não aceitava que outros existissem. Mas, sabe? O problema do mundo é que aqui tá assim...

Só pra terminar matando saudade de outras épocas dá um beiço no video do Walter Franco que achei no Youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=ClqaR1RKdNI&feature=player_embedded#! 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

SANTA INGENUIDADE DOS NOSSOS ROQUEIROS


Hoje é dia de visitar a Biblioteca Estadual que leva o nome do tio avô de meu amigo PeeWee, cujo (cujo?) aniversário passou faz uns dias e eu esqueci. Salvo algum engano, Levy Curcio da Rocha (1916-2004) era cunhado de Newton Braga (1911-1962) e nos deixou algumas obras importantes para a história do Espírito Santo como aquela sobre a viagem que Pedro II fez a esta província esquecida por Deus e desprezada pela mídia nacional, a não ser quando o assunto é tragédia ou escândalo político.

A Biblioteca Estadual vai receber hoje (25 de abril de 2012) às sete da noite, a caravana Rockrise, ocasião em que será furiosamente discutida a referida e polêmica obra do baterista “Dagoberto” que também responde pela alcunha de José Roberto Santos Neves (ou será o contrário?). A Biblioteca estadual fica na Praia do Suá, ali perto da rua da peixaria. Av. João Batista Parra, 165 - Praia do Suá. Telefones: (27) 3137-9351 / 31379349

Já escrevi sobre isso antes, mas lá vou eu outra vez de novo (here I GO again): contrariamente ao que muitos pensam: fazer um livro, ficar anos burilando histórias em um texto coeso e interessante não é coisa tão difícil assim. Também conseguir dinheiro para editorar um projeto gráfico bacana e depois imprimir com certa qualidade não é tão complicado. Difícil mesmo é fazer com que as pessoas saibam que o livro existe; que considerem mais importante comprá-lo do que a uma pizza; e que finalmente sentem as gloriosas buzanfas em algum canto e o leiam.

O livro Rockrise – história de uma geração que fez barulho no Espírito Santo - fornece um panorama amplo e variado com relação a vários estilos dentro do rock local. Não tece críticas nem toma partido, mas é bastante evidente o carinho especial pela vertente heavy metal da qual o autor fez parte como baterista das bandas Skelter, Seven e The Rain. As figuras principais da obra ostentam cabelões e fúria aleatória, ousadia e ingenuidade. Isso fica claro em várias situações e pode até ser uma explicação para quase ninguém daquela geração ter virado “artista nacional”, escapando em cima de um skate o Dead Fish que saltou de algum lugar no meio disso tudo.

É uma boa hora para se parar e Pensar; e essa obra ajuda a gente a fazer isso. Dessa grande panorâmica surgem algumas constatações que já me incomodam faz tempo, por exemplo: a incapacidade de articulação de um discurso coerente. Na maioria das vezes as letras das músicas dessas gerações não dizem nada – isso as escritas em português - ou, por serem obras adolescentes, limitam-se a críticas ingênuas e brincadeiras infantis com garotas fáceis e professores babacas.

Talvez o rock de várias das bandas retratadas em Rockrise tenha morrido adolescente porque a maturidade traz responsabilidades financeiras que aquela música não foi capaz de prover e eles não souberam transpor essas agruras num diálogo maduro com o público. Culpa de quem? Vai saber. Talvez apenas não fosse o momento, ou, como disse o grande Amylton de Almeida, porque faltou a todos a leitura dos filósofos gregos... Acho que hoje a noite temos algumas coisas para conversar...

sexta-feira, 20 de abril de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO - RADICAIS LIVRES


Uma das minhas máximas prediletas vem do escritor Gore Vidal: “Nunca perca uma oportunidade de fazer sexo e aparecer na televisão”. Infelizmente por esses dias, pela primeira vez, descobri na pele porque é que toda regra tem exceção...

Não sei por que a gente desenvolve certas implicâncias e antipatias como é essa que eu tenho com o cantor Roberto Carlos, pintou no início da adolescência e perdura até hoje. - A implicância e não a adolescência - Não gosto da voz, da cara de Mané bem sucedido, do fato dele ter defendido a censura na época da ditadura enquanto cantava Amada Amante, os lençóis da cama e os botões da blusa... E qualquer um que conhece um pouquinho de Rock Brasil sabe que a maioria dos adeptos meio-radicais, mezzo-calabreza pensa como eu.

Rolavam os preparativos para o lançamento do livro Rockrise – A História de Uma Cheração que Fumou Bagulho no Espírito Santo, do Zé Roberto, quando toca o telefone. Era uma produtora do Alive 2, quero dizer, de um TeleJornal que passa na hora do almoço perguntando se eu poderia participar de uma matéria sobre o lançamento e que haveria uma homenagem a Roberto Carlos. (?) Sim, eu também não entendi nada. Não fazia a menor idéia que estávamos no dia do aniversário do “Rei” e, por ser Dia do Índio também, resolveram configurar, digamos assim, um programa silvícola completo.

A moça falava empolgada sobre a idéia, explicava que o imitador oficial do Rei já estava sei-lá-onde para a festa – ou seja: eu estava sendo convidado para substituir um cover do cara, o que soava pior ainda. Comecei a escorregar do jeito mais educado que consegui, disse que já tinha compromisso no horário, mas a moça continuou insistindo: argumentou que Alexandre Lima participaria, tinha topado se vestir de branco (olha que legal!) e até indicado a mim e ao Fabio Boi também (!)

Nada contra meu grande amigo Alexandre vestido de branco, de rosa bebê ou até de Carmem Miranda, eu é que na ia pagar o mico! Parecia coisa do Balanço Geral. (Falando nisso, depois Alexandre me contou que a parada ia acontecer na Praça Costa Pereira e acabou rolando no Shopping Vitória por causa da chuva) Pra encurtar, resolvi abrir o jogo: falei que não gostava de Roberto Carlos e não conhecia nada dele. Nunca que ia rolar de eu ficar “dando uma de que” e ainda por cima homenagear! Nem se fosse rolar muita grana debaixo dos caracóis dos meus pentelhos!

Antes de desligar desanimada com minha desfeita teimosa, a moça pediu e eu indiquei a participação de outro amigo, o Marcelo Ribeiro, músico bem mais competente, antenado e eclético do que eu. Dei um último conselho como fora o Zé Bunitinho: Garota, você pode até ligar para o Fabio (Boi), mas eu vou logo te avisando de que com ele o buraco é mais embaixo. De madrugada, gravando entrevista na sede da Gazeta contei a história para o Zé Roberto que falou incrédulo: “Eu hein Juca? Isso só pode ser pegadinha”.

Na hora do almoço lembrei da reportagem – embora preferisse esquecer – e corri pra Tv. Lá estavam Alexandre Lima e Marcelo Ribeiro “homenageando” o Rei, ambos com aquela expressão solidária de “tô na roubada, mas tô com diniguidade”. A produção organizou uma fila de “populares” para soltar a voz nas canções do Roberto; acaba que não achei ruim, só ficou tosco e engraçado, especialmente pra mim que tinha conseguido driblar o mico. Peguei o celular e mandei um torpedo pro “Dagoberto”.

– Ah lá Zé! Liga a Tv agora pra ver a tua pegadinha no ar...

terça-feira, 17 de abril de 2012

VÁRIAS GERAÇÕES QUE FIZERAM BARULHO!


Muito temos falado pra lá e pra cá sobre o iminente lançamento de Rockrise – A História de Uma Geração que Fez Barulho no Espírito Santo, novo livro do jornalista José Roberto Santos Neves: então eu também quero falar. Mais uma vez o jovem (sic) baterista escolheu a música como tema principal para mostrar seu talento escrivinhatório e pesquisativo. José Roberto é atualmente editor do caderno Pensar, publicado aos sábados em A Gazeta, e das outras obras que já lançou a mais conhecida e lembrada pelo publico é o livro sobre a cantora Maysa.

O livro Rockrise nasceu entre lendas, mexericos e inúmeras histórias engraçadas dessa rapaziada morena que se encantou com o rock americano feito pelos ingleses e resolveu, contra tudo e contra todos, traduzir também aquele “ritmo” gringo para o bom capixabês. Desde os anos sessenta que esse curioso fenômeno atormenta vizinhos com o som estridente das guitarras “Tonante” e deixa parentes realmente preocupados com o destino de seus descendentes. Várias carreiras de diplomata e cargo comissionado foram pelo ralo após o surgimento de “Rock Around The Clock”.

“Quê exportar café o quê! A gente somos inútil! Queremos exportar é róqui!” A pretensão na botoculândia, que não dava margens à concessões, sempre foi um entrave ao pleno reconhecimento dos predicados musicais de nossos “roqueiros”. Terra quente, praia, sol, verão o ano inteiro; a coisa pede um som gingado e malemolente. Fabio Boi (banda Thor) ontem comentava que o clima de Vitória não é propício ao rock pesado, embora as comidas pesadas sejam um must, exclusive (sic) a feijoada todo sábado, exceto o de aleluia, com caipirinha e Wunderberg só na caninha.    

Mas todas as gerações cativaram lá suas legiões de fãs e são muito lembradas com saudades, como recordamos o tempo em que subíamos escadas correndo sem colocar os bofes para fora e comentar que aquilo seria “teste para cardíaco”. Essas gerações hoje formadas por sérios advogados, procuradores, encontradores e inúmeros meninos perdidos com mais de 50 anos vêem se aproximar a derradeira hora e clamam por ter seu nome na história, nem que seja de maneira lá não muito edificante do ponto de vista social: com cabelões, tachinhas e roupas zebra/tigradas.

A noite de autógrafos do Rockrise (pronuncia-se rócrise mesmo e não rócráise como alguns andam falando porraí) vai ser na Estação Porto, centro de Vitória, dia 19 de abril (quinta-feira agora) a partir de sete da noite com entrada franga (sic). Após o lançamento várias bandas serão colocadas em containers, em protesto pelo fim do Fundap, e, finalmente, exportadas do porto (sic) para o raio que as parta dando um fim (de finalidade) à grande saga do nosso roquenrou. Ou será que isso tudo é apenas o início? Yeah! e Rá! pra vocêix!

Herbert Viana (paralamas do Sucesso) antes do show na Festa da Penha, folheando o livro Rockrise, olhando atentamente as fotos da banda Pó de Anjo. Dizem até que ele comentou: "eu conheço, esses meninos são botocudos né?" Daí alguém rosnou de volta: "Se você ficar de sacanagem eu tomo o livro e te dou uma casaca, tá?"

sábado, 14 de abril de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO - NÓS OS ESCRITORES

"Todos os homens estão convencidos de que têm talento para duas coisas que não implicam nem em preparo nem em estudo: escrever um livro e comandar um exército. E há motivos para isso, em vista do número surpreendente de idiotas que fazem ambas as coisas"
                                              Howard Fast - Spartaco

Na semana passada rolou aquele feriadão desse verão distraído que resolveu fazer hora extra, mas foi aí que me deu a doida de assistir à primeira temporada da minissérie Spartacus – Sangue e Areia. Treze episódios de muito sangue, suor e sacanagem; areia mesmo pouco se viu. Doses cavalares do que hoje se imagina que tenha sido a verdadeira baixaria romanesca: home com home, mulé com mulé, gato, cachorro, periquito, papagaio etc (aliás, o Veío Gagá sempre diz que o etc é que é o bom). Devem ter esbanjado, entre outras coisas, o estoque de sangue falsificado de toda Hollywood pra dar conta de filmar a história.

Inicialmente não era minha intenção fazer um texto longo e assim tão informal, cheio de comentários pessoais; afinal, por que deveria me passar pela cabeça de pensar que algo que acontece comigo poderia ser do interesse de mais alguém do que um punhado de amigos próximos e alguns parentes distantes? Não sei, mas ainda assim eu escrevo. Ora, ninguém é obrigado a ler e, talvez, por isso mesmo tanta gente ande escrevendo desde a época do império romano, vide a epígrafe deste texto (muito embora originalmente publicado em 1952).

Aliás, se pudéssemos transportar - e acho que podemos - algo dessa discussão para os tempos atuais, haveríamos de dizer a mesma coisa das pessoas que escrevem blogs (dentre as quais me incluo) ou das que, todo domingo, comandam equipes de futebol (dentre as quais não passo nem longe). Seríamos realmente cada vez mais literatos e idiotas? Isso me lembra o Délio, dono de um famoso botequim em Santo Antônio, tio de meu cunhado Claudio. Uma vez deu-lhe a paixão por uma sem-teto, digamos assim. Comentava que a mulher era analfabeta, mas não era burra e nem tinha esse direito: Analfabeta sim, burra não!

Seguindo essa linha de raciocínio eu estaria então qualificado como um idiota pela via da crônica. Menos mal, talvez, menos mal. Afinal, não me sinto nem um pouco só: somos tantos, nós os metidos a escrivinhadores, comentaristas do cotidiano. Hoje mesmo resolvi folhear um livro que me caiu nas mãos fazem alguns meses, cheinho de coisas assim: pessoais, intencionalmente bacanas; não fosse a preocupação em ser lido, facilmente se tomaria pelo diário de alguém cuja (cuja?) vida não nos diz porcaria nenhuma. É, aliás, o erro de muitos que escrevem: confundir o público com a privada. De vez em quando eu fico contando que, de tantos, esse erro não seja o meu...