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sábado, 14 de abril de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO - NÓS OS ESCRITORES

"Todos os homens estão convencidos de que têm talento para duas coisas que não implicam nem em preparo nem em estudo: escrever um livro e comandar um exército. E há motivos para isso, em vista do número surpreendente de idiotas que fazem ambas as coisas"
                                              Howard Fast - Spartaco

Na semana passada rolou aquele feriadão desse verão distraído que resolveu fazer hora extra, mas foi aí que me deu a doida de assistir à primeira temporada da minissérie Spartacus – Sangue e Areia. Treze episódios de muito sangue, suor e sacanagem; areia mesmo pouco se viu. Doses cavalares do que hoje se imagina que tenha sido a verdadeira baixaria romanesca: home com home, mulé com mulé, gato, cachorro, periquito, papagaio etc (aliás, o Veío Gagá sempre diz que o etc é que é o bom). Devem ter esbanjado, entre outras coisas, o estoque de sangue falsificado de toda Hollywood pra dar conta de filmar a história.

Inicialmente não era minha intenção fazer um texto longo e assim tão informal, cheio de comentários pessoais; afinal, por que deveria me passar pela cabeça de pensar que algo que acontece comigo poderia ser do interesse de mais alguém do que um punhado de amigos próximos e alguns parentes distantes? Não sei, mas ainda assim eu escrevo. Ora, ninguém é obrigado a ler e, talvez, por isso mesmo tanta gente ande escrevendo desde a época do império romano, vide a epígrafe deste texto (muito embora originalmente publicado em 1952).

Aliás, se pudéssemos transportar - e acho que podemos - algo dessa discussão para os tempos atuais, haveríamos de dizer a mesma coisa das pessoas que escrevem blogs (dentre as quais me incluo) ou das que, todo domingo, comandam equipes de futebol (dentre as quais não passo nem longe). Seríamos realmente cada vez mais literatos e idiotas? Isso me lembra o Délio, dono de um famoso botequim em Santo Antônio, tio de meu cunhado Claudio. Uma vez deu-lhe a paixão por uma sem-teto, digamos assim. Comentava que a mulher era analfabeta, mas não era burra e nem tinha esse direito: Analfabeta sim, burra não!

Seguindo essa linha de raciocínio eu estaria então qualificado como um idiota pela via da crônica. Menos mal, talvez, menos mal. Afinal, não me sinto nem um pouco só: somos tantos, nós os metidos a escrivinhadores, comentaristas do cotidiano. Hoje mesmo resolvi folhear um livro que me caiu nas mãos fazem alguns meses, cheinho de coisas assim: pessoais, intencionalmente bacanas; não fosse a preocupação em ser lido, facilmente se tomaria pelo diário de alguém cuja (cuja?) vida não nos diz porcaria nenhuma. É, aliás, o erro de muitos que escrevem: confundir o público com a privada. De vez em quando eu fico contando que, de tantos, esse erro não seja o meu...

Um comentário:

Maria Paula disse...

Juca, Juca... Você, como sempre, parece falar com a gente quando escrivinha suas crônicas.
Muito bom ler você!
Vou aproveitar o ensejo e pedir o meu livro.
Me diz onde pegà-lo e como faço para pagá-lo!
Beijos mill