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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

ISSO AQUI NÃO É A ÚLTIMA COCA-COLA DO DESERTO NÃO

Eleições chegando para Prefeitos e Vereadores pelo Brasil afora, daí rola ênfase na tentativa de conscientizar o eleitor para o fato de que perigamos ficar quatro anos suportando algumas malas sem alça que pleiteiam vagas em todo o país. O problema é que existem coisas para as quais a propaganda simplesmente não funciona, vide as campanhas anti-tabagismo e, segundo me disseram outro dia, o marketing ambiental das empresas ecologicamente responsáveis.

Será que não está na hora de se debater a questão do voto obrigatório? Colocar todo mundo pra votar não seria dar margem ao voto de protesto? Quando o voto era escrito até dava pra zonear, votar no Macaco Simão, no mosquito e em outras paradas fictícias, mas hoje não, daí que o eleitor revolts resolve jogar contra o próprio patrimônio, votando de sacanagem nas figuras mais histriônicas e ridículas. Sem falar no voto de cabresto do eleitor que se vende, trazendo o desgoverno como aconteceu em nosso Estado na era Gratz.

Então você não acredita em política meu irmão? Não quer votar em ninguém não? Vota nulo. Pense nos engarrafamentos, nos impostos, considere até a própria imposição de votar; mas não ajude a eleger um desses Zé Ruelas que vai realmente tomar posse felizão da vida e danar a inventar formas de piorar ainda mais aquilo que já não é a última Coca-cola do deserto.

Bom, mas chega de lição de moral e papo cabeça por hoje. Quero compartilhar com os amigos algumas piadas verídicas, que aconteceram de verdade e eu, testemunha ocular, estava lá para conferir in loco, porém não muito louco, aliás, essas coisas me deixam de careta... E você?

MISTÉRIOS DA TAUTOLOGIA - O CORAJOSO ENCARA DE FRENTE:

Dizem que uma conhecida vereadora estava no palanque do então Prefeito de sua cidade, brindando o público com suas pérolas do non sense quando apareceu essa:

- Seu Prefeitchú! – Falava e olhava à sua volta – Eu sei que tem muita gente por aí que não gosta do meu trabalho e que vive falando mal de mim! Mas fala meu chefe é por trás! Vem por trás e mete o pau nim mim! (aplausos, muitos aplausos) Mete o pau por trás das costas... É verdade. Agora eu quero ver o dia seu Prefeitchú, que-ro-ver-o-dia, que vai aparecer um homê di verdade (ênfase, muita ênfase), mas um macho mesmo! Que vai ter coragem de meter o pau é pela frente!!!

ÁI EU ADORO GERÚNDIO GENTE, EU ACHO CHIQUE, ACHO DIGNO!*

Teve também a célebre ocasião em que um magistrado jovem e muito bonitão compareceu a uma solenidade oficial deixando a mulherada em polvorosa com sua imponente presença. Só o cargo já era razão pra ouriçar a tietagem, mas o cara, ainda por cima, era realmente boa pinta. Lá pelas tantas foi passada a palavra ao senhor juiz que, arrancando suspiros da platéia, se saiu com essa:

- ... Então blá, blá, blá... E eu queria agradecer a oportunidade de estar me dirigindo a todos nesta ocasião e aproveitar para convidar os presentes a estar conhecendo a minha vara. - as mais afoitas entreolhavam-se sem acreditar no que ouviam - É uma vara humilde, sabe? Pequena (ênfase, muita ênfase), mas ela funciona!!!
* (Fala da candidata a reeleeição Betina Botox que, logo após o pronunciamento do magistrado, cai dura pra trás no fundo do salão).

NEM TUDO O QUE BRILHA É PURPURINA

Conheço um ótimo apresentador de eventos que é uma figura muito distinta: voz grave e profunda, cabelos totalmente grisalhos cortados bem curtos, vasta barba branca, um visual acima de qualquer suspeitas. Porém – não muito secretamente – o indivíduo é um ativo (e passivo também) militante do movimento Orgulho Gay.

Em todas as grandes inaugurações é a mesma coisa: o povo fica ansioso por estar perto do Prefeito, dar aquela puxadinha de saco básica; pedir, pedir e pedir. Lá no meio da muvuca estava uma senhora não muito distinta, tentando sem sucesso se aproximar do mandatário municipal, sei lá qual era a sua verdadeira intenção.

A cerimônia começou com as autoridades se postando em um lugar de destaque e a mulher resolveu, no seu projeto de se aproximar do Prefeito, jogar seu charme pra cima do circunspeto apresentador...

- Escuta aqui. Você não está lembrando de mim não é?
- (o apresentador faz uma expressão séria e desinteressada) Não minha senhora, eu não estou lembrado.
- Poxa vida hein... Então, quer dizer que é assim é?
- (lentamente o homem desvia os olhos do roteiro da cerimônia e fita a mulher por cima dos oclinhos de leitura) – Assim como minha senhora?
- (colocando as mãos na cintura) Vai dizer que você não está me reconhecendo...
- (voltando a fitar o roteiro o apresentador responde laconicamente) – Não minha senhora, não estou te reconhecendo. Aliás, eu tenho certeza absoluta que não a conheço.
- Ah é, é? Já esqueceu daquela noitada no barzinho e depois no motel é? (o apresentador agora a olha lívido, sem acreditar) A gente já saiu e coisa e tal e agora você faz que nem me conhece é? Como assim?
- (Dessa vez a biba perde o rebolado, aquilo, afinal, era uma afronta à sua evidente feminilidade) – Não minha senhora, eu não esqueci dessa noite não. E quer saber por quê? Porque ela nunca existiu.
- Ah não é? Pois sim...
- Não minha senhora nunca existiu não e quer saber por quê? Porque eu sou viado, viado entendeu? Vê-i-Aia-dodô. Bicha! Tá legal?!!!
***

Esse mesmo apresentador comandava a festa de entrega da pavimentação de umas ruas em que fazia discurso um vereador local, super fanho, que além de ter arrancado alguns dentes naquela tarde ainda insistiu em fazer uso da palavra.

- Enfão minha fênte, éfa óba é múuto portante, mas muuuto portante mefmo. Puquê ela é toda feita no boquete, que é mil vefes milhóm que afalto. O boquete, ele fafilita a água efcoar e o afalto causa alagamento. Eu gostei mesmo defa oba, puquê enxeu tudo aí de boquete, mas colocaru uns cem mil boquete de cima embaxo!

No canto do palco o apresentador segreda aos mais próximos:

- Ái meu Deus, não precisa cem mil não: com unzinho só eu já estava satisfeita!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

VOCÊ SABIA QUE OS ENGARRAFAMENTOS SÃO CAUSADOS PELO AMOR?

(Praça de alimentação de um Shopping qualquer, hora do rush, a happy hour. Por que será que essas coisas têm nomes gringos? E quinto: como poderíamos traduzir? Hora Feliz? Não tem felicidade alguma em encarar um puta engarrafamento depois de sair esbodegado do trabalho.)

- Meu marido não conseguia me fazer feliz, então eu resolvi terminar tudo.
- Mas isso não é razão...
- Como assim?
- Você é que não gostava mais dele.
- Não. Não sei se é assim... Eu amava ele sim.
- Pedir que alguém seja responsável pela felicidade de outra pessoa é uma merda. Não acho justo.
- Você não estava lá, não sabe o que eu já tive que agüentar.
- Ué, então diga simplesmente que você não era feliz com ele, ora.
- Qual a diferença?
- Toda diferença. Quando você diz que ele não conseguiu te fazer feliz, parece que você quer dizer que a culpa foi dele.
- Mas a culpa foi dele mesmo.
- Por você não ser feliz?
- Sim.
- Não... Ninguém pode ser responsável por nossa felicidade.
- (Ela futuca a bolsa, nervosa, até encontrar a chave do carro) Essa conversa não vai chegar a nenhum lugar, eu preciso ir embora...
- (Sem dar importância à ameaça de ser abandonado, continua falando calmamente) Precisamos ser felizes por nós mesmos, entendeu? Mesmo se estivermos sozinhos. Ou melhor: Principalmente se estivermos sozinhos.
- (Voltando a colocar a bolsa em cima da mesa) A culpa foi toda dele! Ele é que falhou em seu papel de marido.
- Por quê?
- Não me levava pra dançar, queria ficar em casa vendo filme. Ah! Era um saco!
- Ué, e ele gostava de dançar?
- Claro que não? Qual o homem que gosta?
- Então por que você reclama?
- No início ele ia, né...
- Bom, talvez para tentar te agradar. A maioria dos homens faz isso.
- Pois é, depois que conseguiu o que queria virou um mala sem alça.
- É verdade.
- O quê?
- Eu acho que essa nossa conversa não vai chegar a lugar nenhum.
- (Acendendo um cigarro) Ah é? E por quê?
- Porque eu sou homem ora.
- E daí? Se você não fosse homem, essa conversa nem estaria acontecendo.
- A diferença entre eu e seu marido é que você está cansada dos defeitos dele e ainda não conhece os meus... É provável que a vontade de ter alguém possa ter feito você acreditar que eu seja o homem perfeito pra você, mas isso não existe... E quando eu mais precisar de você e te amar de verdade, você vai estar sentada na praça de alimentação de algum shopping conversando sobre os meus defeitos com outro cara qualquer... E isso não dá pra agüentar, mesmo com o passar do tempo e a distância, mesmo se agente nunca mais se ver...
- (Ela abaixou a cabeça e fitou o chão por um longo tempo) Então o que você quer fazer?
- Quero fazer o que você quiser...
- Vamos para o meu apartamento ou para o seu?
- Tanto faz...

(Pagam a conta e saem do Shopping. Ao longe vemos a avenida engarrafada, o casal se encara com embaraço e desejo. Era o frisson de amar, o combustível que mantém o mundo cheio de gente, gente que dirige carros e vão engarrafando as vias dos lugares onde moram. Gente! E eles não estavam mais sós... Pelo menos por um tempo).

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

As Crianças Índigo Previram o Fim do Mundo!

Dá pra acreditar numa coisa dessas? Na MTV tá passando um programa reunindo a banda Calypso com o Paralamas do Sucesso (!) Desse jeito eu vou ter que me juntar aos meninos da (ótima) Revista Quase e pedir eutanásia pra Herbert Viana também...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A SOLIDÃO VERSUS O PODER AQUISITIVO – PARTE 2

Uma amiga que mora no exterior me escreve pedindo notícias da saudosa Livraria Don Quixote - que ficava na Praia do Canto no início da Aleixo Neto – um dos principais pontos de encontro dos intelectuais locais, mas que há muito encerrou suas atividades. O Antonio Carlos, antigo proprietário, é meu amigo do Orkut e, se não me engano, tem até uma comunidade da livraria. No espaço rolava sarau, lançamento de livros e outros breguetes, mais que um estabelecimento comercial, era um ponto de divulgação de literatura, cultura e arte.

Na Grande Vitória somos mais de um milhão de habitantes, e não temos uma só Livraria de grande porte, uma megastore nos moldes que vemos no Rio e São Paulo. Tempos atrás tentei achar um exemplar de A Tempestade de Shakespeare pra comprar e não consegui, acabei baixando da net e imprimindo. Vivo procurando livros antigos sem sucesso, acabo fazendo uma listinha e comprando em viagens a outras cidades, ou pedindo pela internet mesmo.

A Infovia tem influência nesse processo de enfraquecimento nas vendas, sobretudo de discos e na locação de filmes, mas os comerciantes locais têm lá sua parcela de culpa, porque as coisas acabam chegando às prateleiras com preço mais que salgado. Só pra dar um exemplo: uns meses atrás eu estava procurando um cabo midi/usb pra ligar meu teclado (instrumento musical) no computador e achei alguns por aqui que custavam mais de R$200,00. Procurei no Mercado Livre e acabei comprando por R$60,00 (!) com frete incluso e tudo mais.

Outro comentário que recebi sobre o último texto me lembrou de uma experiência recente. Um amigo me convidou para assistir ao show de sua banda numa conceituada casa noturna local, seriam três apresentações de grupos semi-novos lá dos brumosos anos oitenta. Como a pendenga começava pelas dez, dez e meia, fui jantar com a patroa, tomar uns birinights (Eita Edízio Tatu!) e chegamos na cena do crime por volta de onze e meia.

Pra começar acho constrangedoramente cafona essas baias por onde temos que passar que nem gado para entrar em casas noturnas que se consideram modernas e bacanas, depois tem que dar o nome, não entendo pra quê – hãn? É pra colocar na comanda! Ah tá... Mas que saco hein? – Bom aí vem um cara me revistar, vestindo um terno de oxford tão mal enjambrado que parecia um travesti de segurança. Será que alguém pode realmente estar armado aí dentro? Um lugar seguro mesmo não precisa desses expedientes.

E lá dentro rolava um festival de semi-novos em exposição, todos muito animados e sacolejantes ao som de uma banda que – a bem da verdade - não fazia muita justiça aos clássicos jurássicos da década perdida. Enquanto isso, o tempo – esse menino sacana - foi passando arrastado e nada das atrações principais darem o ar de suas panças protuberantes. Quando o relógio bateu uma e meia começou a me incomodar a idéia de que em pouco tempo eu teria que estar de pé pra trabalhar, resolvi ir embora sem ver nem metade da programação, afinal, esse negócio de “pro dia nascer feliz” é coisa de quando eu podia me dar ao luxo de... E você?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A SOLIDÃO VERSUS O PODER AQUISITIVO

Uma amiga sugere falar sobre a falta de opção de lazer e diversão na Grande Vitória para as pessoas de idade intermediária - aquela turma pra lá dos trinta e tantos e abaixo dos cinqüenta e pouco. O mercado para os “adultos jovens” é realmente muito restrito: estamos fora do circuito dos grandes shows (sobretudo internacionais), peças de teatro, lançamentos literários, filmes (Cadê “Linha de Passe”, o novo de Walter Salles e Daniela Thomas, lançado no último 05 de setembro?) etc. Sem falar que não temos aqui nenhuma casa de shows em que se pague um preço razoável para assistir a uma apresentação com conforto e tranqüilidade.

Vivemos hoje uma situação injusta: temos os principais problemas das grandes cidades com mais de um milhão de habitantes: engarrafamentos constantes, violência urbana, muita poluição; sem a contrapartida cultural que vemos nos grandes centros que nos circundam. Até quando o principal palco local (Ginásio Álvares Cabral) vai ter aquela acústica embolada? Não existe por aqui um teatro que acomode mais duas mil pessoas, o que inviabiliza as grandes produções, falando nisso: quem foi que classificou aquele auditório da UFES como Teatro?
Mas uma das principais queixas dos adultos jovens é que na noite local não se tem lugares de referência, bares de happy hour e coisas do gênero. Sair pros “Embalos de Sábado a Noite” é cair no domínio dessa linda juventude que classifica como “Tio” qualquer um acima de trinta e poucos anos. Se o cara for gastador e boa companhia, será tachado de “coroa gente boa”, mas se resolver “paquerar” as menininhas achando (e como tem cara que acredita) que elas adoram os homens mais velhos ganha logo a alcunha de “Tio Sukita”, “Velho Babão”, ou coisa pior. Os adultos que vemos pela noite geralmente estão trabalhando.
Outro dia ouvi uma definição engraçada pro pessoal da “meia idade”: eles (nós?) seriam os “semi-novos”... Tem coisa pior que um eufemismo? Ser comparado com um cacareco enferrujado que fica mais caro consertar do que mandar pro desmonte? Se é assim com os adultos jovens, imagina o que passa a galera que já desceu a ladeira mesmo. Mas é aí que eu quero entrar no assunto:
Como os ditos “idosos do agito” - esses delinqüentes senis - os semi-novos descasados que se aventuram à caça nas noitadas não representam uma parte significativa da sociedade. Mas, diferente dos primeiros, estes ainda não conseguiram se organizar em associações e clubes de seresta dançante para alavancar suas paqueras. Talvez pela falta do tempo para se articular que a aposentadoria proporciona à coroada, o jovem adulto tem que amargar a desorientação das noitadas em meio à gurizada e com razão reclama. Mas ai é que retorno ao ponto inicial da questão:
Os semi-novos são os principais representantes da força de trabalho em nossa comunidade, eles é que pegam no batente logo cedo, arcam com as responsabilidades no trabalho e no lar e não podem - e se puderem não agüentam -, ficar virando noite atrás de ilusões que se dissiparam quinze anos atrás. Como é o mercado que regula suas prosopopéias de oferta e procura, os grupos restritos têm que agüentar o preconceito, a indiferença e, o que é pior, gastam lá a sua grana sem ter o retorno desejado. E esse é um detalhe interessante:
O nosso país é injusto com a espremida classe trabalhadora, tanto que nem preciso ficar falando aqui. Então uma pessoa destas, que sabe muito bem o quanto é difícil ganhar dinheiro, sai pra noite e se depara com ingressos caros, filas para entrar, para comprar uma bebida, para ir ao banheiro e, especialmente, para conseguir sair. E se reclamar a culpa vai ser de sua dureza e incompetência pra se freqüentar. Afinal, a diversão dos esnobes e endinheirados é pagar mil dólares numa garrafa de vinho que em muito pouco tempo vai virar xixi! E pensar que são essas as pessoas que sabem ganhar e investir dinheiro...
Mas isso é o mercado de consumo obrigando as pessoas a comprar coisas que elas não precisam, para aparentar ser algo que não são e no final ficarem sem poder ter o que realmente querem (citação livre do filme “Clube da Luta”). Sim, porque no final quase tudo passa pela solidão versus poder aquisitivo. Não tem clima romântico que resista a um programa a bordo de Transcol lotado e cineminha em Laranjeiras. Pior é o caso das mulheres que tem a manutenção alta e gastam horrores com roupas, maquiagens, perfumes, cremes, salão de beleza, o diabo a quatro, se endividam, se enrolam e no final caem nas mãos de um cara que pensou que estava pegando uma grãnfina e dá no pé assim que descobre que ali tem muito mais problema do que solução.
Fico então me perguntando se toda essa situação acontece porque, apesar de todo o desenvolvimento aparente, a sociedade capixaba ainda não tem um conjunto de pessoas com poder aquisitivo significativo o suficiente para fomentar investimentos nas principais áreas culturais ou se os anos de estagnação local ainda não proporcionaram surgir uma nova mentalidade entre os promotores de evento para que apareçam opções alternativas de diversão e entretenimento. Porque do jeito que está vale repetir a pergunta do escritor Aldous Huxley: quem é que realmente se diverte hoje em dia nos lugares de diversão?

domingo, 14 de setembro de 2008

ANÁLISE HOMOFÓBICA DA MÚSICA BREGANEJA

Têm umas mensagens eletrônicas que de vez em quando reaparecem na net, algum internauta que gostou da história resolve compartilhar com os amigos, afinal piada boa é aquela que a gente não conhece. Duas circulam faz tempo e de vez em quando me chegam de destinatários diferentes. São parecidas, esculacham (termo em alta ultimamente, sobretudo no universo Rave-n-gar) com a música brega nacional, o que é chutar cachorro morto. Pra que gastar tempo dizendo que o cabelo do Chimbinha é ridículo e que aquela mocréia da banda Calypso não canta, uiva? O jeito é transformar em piada.

A primeira mensagem era refinada, escrita pelo Veríssimo, comparando a música dita ruim com as drogas, muitos de vocês devem ter recebido esse email. A segunda é sobre os astros brazucas precocemente excluídos da face da terra: Cazuza, Os Mamonas, Renato Russo, Cássia Eller, Raul Seixas, enfim, uma galera, supostamente do bem fazer musical. E que, por outro lado, os pagodeiros, axézeiros (sic) e breganejos continuam por aí esbanjando saúde e ocupando o espaço auricular de qualquer um que se aventure a dar o beiço pelas noitadas... Com esse eu já não concordei muito, afinal:

O parceiro do Daniel morreu (não sei quem era, mas tinha) deixando a biba solta em vitoriosa - de Ivan Lins - carreira solo. O irmão do Leonardo, o Leandro, teve um câncer raríssimo (diferente da música comum e chumbrega da dupla) e empacotou. O primeiro parceiro do cumpádi Mirosmar (também conhecido como Zezé di Camargo) foi-se de acidente de carro e, essa semana que passou, o câncer carregou Waldick Soriano para o seio da lira brega desencarnada... E se você pensar bem, a perna de Roberto Carlos já está por lá esperando por ele faz tempo. Mas o resto tá ruim de chegar né?

Falando em breganejo, estava eu num happy-streng popular e ouvi uma música gozada que falava de um cara que enganava a mulher dizendo que ia pescar com os amigos, mas na verdade ia cair na bagunça! Daí pensei com meus botões: será que essa animada cançoneta popular foi inspirada no filme "O Segredo de Brokeback Mountain"? Afinal a história dos dois caubóis tinha essa coisa de pegar na vara, digo de pesca... Futuquei a moça do lado e perguntei de quem era aquela música, ela olhou para o outro lado e não me respondeu. Achei estranho e a coisei de novo, daí ela falou indignada: - Pô, pensei que cê tava fazendo hora com a minha cara... É do Bruno e Marrone, ora! Como se eu tivesse obrigação de saber essas coisas - e mesmo que soubesse jamais admitiria assim por escrito.

Mas essa música me deu o que analisar psico-deli-cológi-camente. Atentem para o refrão: Que pescar que nada vou bejar na boca / ver a muierada na madrugada ficando louca / ...
... Porra, não lembro o resto. Dexeu pesquisar no Google ...
Putz! E agora? Abri o "letras.terra.com.br/brunoemarrone" e pra meu espanto achei mais de 250 músicas! Quantos discos será que esses caras já gravaram? Pensando bem, uma das características do brega é a alta capacidade de reprodução ... Vou continuar procurando ...
Tá difícil, os títulos das músicas são todos parecidos: Doçura de Enganar, Estou Aprendendo, Estou Arrependido e por aí vai...

Olha esse: Explosão de Amor - Ficou meio apelativo né? Hahahaha!

Achei!!! Na letra "Q" - Ora que burrice a minha, o nome é: Que Pescar Que Nada.

Nada mais óbvio, eu colocaria: quando a minha vara saiu de férias!

Bom vai aí a interpretação completa, digna do Grilo Falante em pessoa, se bem que é capaz dele me dar um puxão de orelha pelo ligeiro homofobismo que tratei o assunto:

Na primeira estrofe o cara relata que tá sossegado, com o burro na sombra e resolve pegar o cunhado (!) pra passear. Enche o tanque do carro, compra pinga e cigarro - provavelmente pra embebedar o moleque - junta as "tráia" de pesca pra disfarçar e se anima com uma "festa" que vai rolar lá na lagoa... Daí fala pra mulher que a farra é comportada e reclama que ela não o deixa por a cara pra fora (soltar a franga?) nem jogar bola. Daí conclui dizendo que o jeito é ir pescar... He he he, coitado desse cunhado. Bom, também não sei, vai que o menino - supondo que seja um menino - é do ramo.

Mas é no refrão que o cara se entrega quanto às suas verdadeiras intenções: fala que vai beijar na boca, ver a mulherada ficando louca (nessa turma ele provavelmente estaria louquérrima se incluindo) e que vai ter sete pra cada homem. Amigos: foi nessa hora que o cara deu um pulo acrobático, Hipólito, pra fora do armário. Ora, todo mundo sabe que sete é conta de mentiroso e, se vocês têm boa memória, o pescador de araque diz no início que a turma estava indo para uma festa na lagoa, antes de inventar pra esposa que ia pescar. Pala gayyy!!! Mais perfeita pra trilha Brasileira do Segredo de Brokeback só aquela do Ahêee cowboy viado! Aliás, será que o tal do Daniel já gravou essas músicas?...

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

É AMIGOS: NÓIS TAMO NO (PRÉ-) SAL!


Essa semana se falou tanto do Petróleo aqui no Espírito Santo, da camada pré-sal, da visita do Presidente Lula que até eu quase fui contratado pela Petrobrás. É verdade! Bom, quase verdade... Mas os meus leitores não precisam se preocupar, o blog continua, no fundo ainda não me sinto pronto para me vender ao sistema, estou até trabalhando isso com a minha terapeuta, a Dona Bohemia ... Aqui me tens de regresso. Rárararara!

Por falar de cachaçada lembrei que essa semana o meu piloto, Seu Gercino, me falou que cachaceiro é quem fabrica cachaça: “nóis somo é consumidor!” Então tá certo. Mas falando de música sofrível, morreu o Valdick Soriano e a imprensa deu a maior importância.... Ah! Se fosse o Nelson Freire (Foto) ...

Aliás, dexeu contar uma anedota verídica que aconteceu comigo:

Uns anos atrás (Uêpa!), um dos principais “comerciantes” de instrumentos musicais aqui da Grande Vitória anunciava um piano de Cauda, constrangedoramente escrito com um sonoro “L”. Ora, o piano é um instrumento ansiforme (veja bem: em forma de ganso ou pato) e seu “u” vem da referência à cauda desses animais, todos vocês sabem que calda com “L” é simplesmente água e açúcar fervidas conjuntamente.

Mas então, liguei pro cara pra saber quanto é que custava o piano e ele ficou enfeitando a cauda de seu pavão com argumentos mais constrangedores do que seu português. Disse, por exemplo, que o piano era tão bom, mas tão bom que até a indefectível e, aliás, recentemente desfeita dupla Sandy e Junior tinha um.

Profundamente embaraçado por sua falta de melhores referências musicais retruquei:

- Poxa amigo, isso lá é argumento que se use pra vender um piano de cauda? Se pelo menos você me dissesse que Nelson Freire tinha um desses... – No que ele me respondeu intrigado:

- Nelson quem? (Espero que com essa anedota eu não soe muito elitista. Nelson Freire, para os que não têm obrigação de saber, é um dos mais aclamados pianistas do mundo. Nascido em Minas Gerais, mas criado no Rio, com seis anos Nelson já dava recitais e teve gravações suas incluídas entre as 100 mais importantes do século XX).

Mas então, essa semana eu fui o mestre de cerimônias de um encontro de jornalistas, evento super bacana que aconteceu ali no Centro de Convenções. Tinha muita gente dos principais telejornais locais e eu fiquei me coçando pra levantar a questão da abominável existência, porque misteriosa, da “Cotação do Café”. Aliás, falou-se tanto em modernização que me deu vontade de propor o “upgrade” da cotação do café pra do barril de petróleo. Não seria bem mais justo com a nossa situação atual?

Mas que nada, pelo jeito nós vamos é continuar mesmo no “pré”-sal.