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quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A SOLIDÃO VERSUS O PODER AQUISITIVO – PARTE 2

Uma amiga que mora no exterior me escreve pedindo notícias da saudosa Livraria Don Quixote - que ficava na Praia do Canto no início da Aleixo Neto – um dos principais pontos de encontro dos intelectuais locais, mas que há muito encerrou suas atividades. O Antonio Carlos, antigo proprietário, é meu amigo do Orkut e, se não me engano, tem até uma comunidade da livraria. No espaço rolava sarau, lançamento de livros e outros breguetes, mais que um estabelecimento comercial, era um ponto de divulgação de literatura, cultura e arte.

Na Grande Vitória somos mais de um milhão de habitantes, e não temos uma só Livraria de grande porte, uma megastore nos moldes que vemos no Rio e São Paulo. Tempos atrás tentei achar um exemplar de A Tempestade de Shakespeare pra comprar e não consegui, acabei baixando da net e imprimindo. Vivo procurando livros antigos sem sucesso, acabo fazendo uma listinha e comprando em viagens a outras cidades, ou pedindo pela internet mesmo.

A Infovia tem influência nesse processo de enfraquecimento nas vendas, sobretudo de discos e na locação de filmes, mas os comerciantes locais têm lá sua parcela de culpa, porque as coisas acabam chegando às prateleiras com preço mais que salgado. Só pra dar um exemplo: uns meses atrás eu estava procurando um cabo midi/usb pra ligar meu teclado (instrumento musical) no computador e achei alguns por aqui que custavam mais de R$200,00. Procurei no Mercado Livre e acabei comprando por R$60,00 (!) com frete incluso e tudo mais.

Outro comentário que recebi sobre o último texto me lembrou de uma experiência recente. Um amigo me convidou para assistir ao show de sua banda numa conceituada casa noturna local, seriam três apresentações de grupos semi-novos lá dos brumosos anos oitenta. Como a pendenga começava pelas dez, dez e meia, fui jantar com a patroa, tomar uns birinights (Eita Edízio Tatu!) e chegamos na cena do crime por volta de onze e meia.

Pra começar acho constrangedoramente cafona essas baias por onde temos que passar que nem gado para entrar em casas noturnas que se consideram modernas e bacanas, depois tem que dar o nome, não entendo pra quê – hãn? É pra colocar na comanda! Ah tá... Mas que saco hein? – Bom aí vem um cara me revistar, vestindo um terno de oxford tão mal enjambrado que parecia um travesti de segurança. Será que alguém pode realmente estar armado aí dentro? Um lugar seguro mesmo não precisa desses expedientes.

E lá dentro rolava um festival de semi-novos em exposição, todos muito animados e sacolejantes ao som de uma banda que – a bem da verdade - não fazia muita justiça aos clássicos jurássicos da década perdida. Enquanto isso, o tempo – esse menino sacana - foi passando arrastado e nada das atrações principais darem o ar de suas panças protuberantes. Quando o relógio bateu uma e meia começou a me incomodar a idéia de que em pouco tempo eu teria que estar de pé pra trabalhar, resolvi ir embora sem ver nem metade da programação, afinal, esse negócio de “pro dia nascer feliz” é coisa de quando eu podia me dar ao luxo de... E você?

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