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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A MÚSICA É A MINHA PÁTRIA

Não basta ser bem intencionado: ser e tornar-se um pianista é um trabalho solitário, que deve ser trilhado sozinho. Só você mesmo poderá medir com sinceridade se tem talento e o quanto ficaria infeliz se não praticasse sua arte; (...) Muitas carreiras fracassam. A minha própria tem tido altos e baixos, então, se o destino não leva você para o palco, você pode fazer outras coisas – lecionar, por exemplo. (...) E a profissão não permite recuos. Na verdade, essa profissão precisa de todo bom professor e intérprete, porque as melhores cabeças foram para o mundo do dinheiro.  
João Carlos Martins

Desde que eu, Juca Magalhães, e a professora Alice Nascimento tivemos a ideia de criar um blog para divulgar as ações do projeto Canto na Escola, nunca tive ou, na verdade, não me reservei a oportunidade de falar sobre a experiência musical de meu próprio ponto de vista. Adotei no automático o papel de “blogueiro” com um indefectível cacoete de jornalista e me excluí no automático de emitir opiniões pessoais, com raras exceções, bem raras mesmo. Peço licença, portanto, aos nossos parceiros e colaboradores pra entabular uma conversa, assim, mais informal.

No trabalho do blog fiz entrevistas com a maioria dos professores do projeto, algumas destas nos proporcionaram retorno e visibilidade, convite para eventos e apresentações, possibilidade de novas parcerias, afinal, tudo dentro do objetivo maior de nossa empreitada cibernética. Nossos entrevistados se descobriram “quase famosos” ao verem divulgada sua história, outros sentiram aquele curioso estranhamento perante a vida, como quem sonha que está nu e longe de casa ou quando ouvimos nossa voz em uma gravação pela primeira vez. “Esse sou eu?”

Gosto muito de presenciar essa sensação, gosto mais ainda de conversar sobre ela. Muita gente pensa que sua vida é comum, trivial, eu ainda acho - e devagarzinho venho provando - que cada um tem uma vida muito singular e coisas bonitas pra contar para todos. No caso de nosso público alvo histórias de superação, de amor incondicional à música, essa arte tão admirada e presente na vida de todos e tão contrastantemente vista com preconceito quando levada a sério. Tudo isso repassamos em nossas entrevistas.

Pois ontem, ou anteontem, foi dia da música, mais ou menos exatamente (um oximoro para os leigos) quando o sol entra na casa de sagitário. Dia que é dedicado à Santa Cecília, uma mocinha de nome para mim adorável e que pouca gente fala ou sabe da história, comparado, por exemplo, com São Jorge da Capadócia. Santa Cecília é bairro aqui em Vitória e foi também nome de um cinema que ficava num prédio bonito e antigo ali na esquina do Parque Moscoso, local posteriormente mal afamado e dedicado à exibição de películas retratando casais de maneira não muito decente.  

A Santa mesmo, aquela que foi escolhida como a padroeira dos músicos, conta-se que quando estava morrendo, cantou a Deus. Segundo a Wikipédia “não se tem muitas informações sobre a sua vida. É provável que tenha sido martirizada entre 176 e 180, sob o império de Marco Aurélio.” O texto continua dizendo que Cecília era filha de um senador romano que a obrigou a casar com um rapaz chamado Valeriano. Cristã fervorosa – o que na época era proibido pelo império – a moça converteu o marido e, resumindo muito o drama, os dois foram condenados à morte e decapitados por se negarem a renegar a religião.

Ponto bastante interessante para fazermos um paralelo.

Como já dito, nas várias entrevistas que fiz com jovens músicos profissionais, todos relatam que os pais queriam que eles estudassem outra coisa. Monalisa Toledo os pais queriam estudando petroquímica, Eduardo Lucas trocou o direito pelo trompete e Elias Salvador deixou a mecânica para ser maestro de coros. Talvez seja pertinente então nos perguntar: quantos outros bons músicos não poderiam estar se dedicando à arte e “casaram obrigado” com uma profissão “normal” para satisfazer a família? E quantos outros, em casos mais extremos, não foram condenados a mortes simbólicas por não poderem exercer plenamente sua capacidade cultural?

A vida dos músicos envolve essas escolhas difíceis que, curiosamente, se harmonizam na tocante história de fidelidade da menina Cecília e o seu amor pela fé cristã. Amigos, ser músico não é um trabalho ou um emprego qualquer, é mesmo um sacerdócio. O fato de alguns posarem de astros e debutarem doidarássos para deleite da mídia em nada empalidece a seriedade dessa vocação. O dia em que se comemora a música é talvez o momento mais propício para refletirmos sobre a fidelidade e o amor. A música é uma pátria à qual temos grande honra em servir, não porque a escolhemos, mas porque por ela fomos escolhidos... Ou como diria Milton Nascimento:

Com a roupa encharcada e a alma repleta de chão
todo artista tem que ir a onde o povo está
Se for assim, assim será!
Cantando me disfarço e não me canso
de viver, nem de cantar


Imagem de Santa Cecília, óleo sobre tela, por Guido Reni em 1606

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Cec%C3%ADlia

DUBAL, David. Conversas com João Carlos Martins. São Paulo. Editora Green Forest do Brasil, 1999. 

Milton Nascimento, in "Nos Bailes da Vida".

sábado, 17 de novembro de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO: MARIA NILCE PELO TELEFONE



O chefe da polícia
Pelo telefone manda me avisar
Que com alegria
Não se questione para se brincar

Daí que hoje se discute em Brasília o fim da assinatura de telefone. Realmente – ou “di fatis” como diria Muçum - uma das inúmeras cobranças sem sentido que nos enfiam de goela abaixo desde o tempo em que na saudosa e bucólica Vitória do Espírito Santo só havia a Telest e ter linha de telefone era uma espécie de investimento. Reza a lenda que alguns teriam enriquecido aplicando direitinho (dinheirinho?) na área como é o caso do empresário Otinho. Causa então estranheza na pauta da Câmara existir para ser votado um projeto que vai beneficiar o consumidor! Sabe por que isso aconteceu? Por causa de um monte de gente reclamando insistentemente, como explica trecho da reportagem abaixo do site: http://www.maisumonline.com.br

O fim da assinatura básica de telefonia está na pauta do plenário da Câmara dos Deputados nesta primeira semana de novembro. O Projeto de Lei 5476/01, do ex-deputado Marcelo Teixeira, lidera o ranking de participação popular entre as propostas que os cidadãos esperam ser votadas. No ano passado, foram 553.937 chamadas e 18 e-mails – 99,94% deles para pedir a aprovação da proposta –, o que representa 79,73% das participações. O fim da assinatura básica de telefone lidera atendimentos pelo 10º ano seguido.

Existem ainda outros projetos para acabar, por exemplo, com o “roaming” dos telefones celulares que encarece “bagarai” as ligações interurbanas. Aliás, se as empresas de telefonia celular não fossem tão teimosas em oferecer um serviço escandalosamente caro, a telefonia fixa estaria com os dias contados. Então, A Letra Elektrônica que não é mão boba nem nada resolveu dar um basta nessa putcharia e promoveu uma enfezada disputa entre o “OI Fixo” (telefone aqui da redação desde os tempos da Telest), a NET (que já nos conectava à Internet) e a GVT, empresa que vem açambarcando o merrecado com propostas sedutoras, mas atendimento nem tanto.

Depois de uma saraivada de telefonemas marcados por pedidos e explicações curiosos (senhor, qual é o seu CPF? Senhor, isso é política da empresa) e diálogos cheios de gerúndios, travados de maneira a nos despertar um mau humor inconsciente e, portanto, muito estranho, cheguei à conclusão que as três principais empresas locais praticavam, praticamente (a redundância é intencional), os mesmo preços. Era uma porra de um oligopólio! (Cadê o delegado Fabirato Contarano?) Fiquei bravo que nem quando preso em engarrafamento na Avenida Leitão da Silva por causa das obras em Maruípe que não acabam nunca mais; mas também, fiquei um pouco aliviado da sensação de estar pagando caro por um serviço ofertado pela concorrência em melhores condições, então não fiz nada e segui a vida. 

Uma semana e pouco depois me liga o pessoal da NET, dando uma pernada na concorrência e oferecendo um pacote bem mais em conta do que o inicialmente proposto. Apesar do cara insistir em se dirigir à minha pessoa com aquele “senhor” de tom tão, sei lá, irritante, caquético e hospitalar; vocês acreditam que eu fiquei meio besta por ter conseguido impor alguma coisa do que queria em meio à selvageria explícita do merrecado capitalista? Fiquei sim e fechei um acordo com eles todo prosa e satisfeito: assinei Internet de 10 megas com modem WiFi, telefone com “negócio de coisa” e carência de três meses na primeira conta. Exclamei uma exclamação (de novo) como os jovens de hoje: Chupa OI e GVT!

Bom, linha nova instalada tinha que ligar pra OI pra cancelar a antiga. Mas, não é que me bateu uma nostalgia? Lembrei de tanta coisa. Aquela linha era antiquíssima, e não sei por que me bateu a lembrança do 145 ou 147 era o Fiat de caixinha, não lembro mais. Foi, que eu me lembre, o primeiro “chat” de Vitória. Você ligava e caia ao acaso numa conexão de cinco ou seis linhas diferentes com pessoas conversando anonimamente. Durante um tempo aquilo foi uma febre! Eu detestava falar ao telefone, até hoje não me gusta mutcho, como era bem adolescente costuma ligar pra lá só para dizer todos os palavrões que conhecia e morria de rir, achando que tinha aprontado uma grande traquinagem.

Como nós, as crianças, estávamos muito curiosos e empolgados com a novidade, o alvoroço não passou despercebido de mamãe: a conhecida jornalista Maria Nilce, figura pública das mais badaladas. Um dia ela ligou sem dizer obviamente quem era e fez voz de mulher fatal - termo que ela usava muito - e a homarada, vocês podem bem imaginar, se ouriçava nessas ocasiões. Foi conversando – e eu ouvindo tudo na extensão – até que jogou o próprio nome como assunto na conversa. Vaidade? Talvez; Curiosidade? Com certeza. Algumas pessoas foram bastante agressivas e maledicentes com o tópico sugerido, mas uma mulher passou a defender Maria Nilce como fora pelo menos muito amiga da própria.

Depois de um tempo, a tal mulher meio que ganhou a discussão, provando que Maria era uma mulher “ducaralho” e rechaçando as críticas lugar comum que eram feitas pelos “invejosos de plantão”. E eu me lembro como se fosse hoje a emoção na voz de mamãe quando ela abriu o jogo para sua valente interlocutora, usando, aliás, aquela mesma linha que passado uns trinta anos eu estava para cancelar:

- Fulana, eu sou Maria Nilce!

Maria Nilce pelo telefone
Que saco é a memória! Ora, não sou o Rubem Braga, que escrevia crônicas melhores do que merecemos ler hoje, mas sou um dos bons amigos do sobrinho neto dele. Ainda assim, nada sei de Cachoeiro e isso não tem nada a ver também com minha implicância com o Roberto Carlos, nem com o tão infame calor que faz naquela cidade. Tinha é que cancelar a linha e sabia que ia ser um “cú de boi”...

Fui atendido por um rapaz que começou com aquela coisa de me chamar de “senhor”. Não que eu não goste de ser tratado assim, o que irrita é a entonação que a pessoa usa. Parece que dá a entender outra coisa, como aquela pessoa que te chama de “meu amigo” quando vai te aprontar alguma sacanagem. Lembro que a primeira vez que me irritei com o tom desse tratamento foi numa confusão em Manaus por causa de um voo cancelado. A irritação das pessoas, sobretudo as mais jovens, quando não conseguem resolver um problema que não tem solução - e eles estão ali justamente para isso, são bucha de canhão - transforma o tal do “senhor” em algo muito próximo do “ô seu filho de uma puta!”.

O cara da OI deve ter sido treinado em algum campo de concentração para convencer os trouxas (clientes?) a não cancelarem o serviço e parecia ser uma pessoa muito orgulhosa de seu poder de convencimento, porque foi se irritando à medida em que não conseguia “virar o jogo” e, consequentemente, o “senhor” que ele usava ia ficando mais e mais cerrado entre os dentes. 

- Mas o “senhor” vai cancelar e ficar sem linha de telefone?

- Eu não, já tô com outra instalada aqui. Vocês é que vão ficar sem cliente. – Nessa hora o rapaz se indignou todo e despejou um monte de “mimimis”, como se aquilo fosse uma discussão de futebol, ou se a empresa fosse dele e eu estivesse chamando sua mãe de “boa senhoura”.

- Nós não vamos ficar sem cliente e mimimi!

- Tudo bem meu filho, mas vocês vão ficar sem esse cliente aqui. Olha só, eu não estou ligando pra discutir com você se eu vou cancelar a linha ou não, certo? Estou solicitando o cancelamento e ponto.

- Senhor(grrrr), eu estou seguindo o “protocolo da empresa”, posso continuar? – Aqui eu percebi que o rapaz estava mesmo puto da vida. Ah! Se ele soubesse o quanto o seu destempero me soou como uma retumbante vitória sobre as forças do passado e do capitalismo telefônico (Eita!). Ganhei o dia, conquistei a telefonia e ainda transformei minha vitória numa crônica que vai rodar os mares cibernéticos. Vai fazer minha irmã se acabar de rir lá no Texas, o LP na Europa, o Muralha# em Santos e até mamãe, que onde bem estiver, além de em nossa memória, me deixou o DNA pra aprontar dessas traquinagens literárias... Bom domingo galera!

Juca e Maria Nilce Magalhães no início dos anos oitenta

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

UM POUCO DE ENGENHARIA MUSICAL

Recentemente a imprensa de Vitória-ES deu destaque à história de Rony Chagas, o chamado “pedreiro pianista”; um jovem trabalhador braçal que “despontou” para o mundo porque aproveitava suas horas de folga para dedilhar as 88 teclas na residência em reforma de uma advogada no centro da cidade. O fato foi tratado pela mídia como algo assombroso e peculiar, mas curioso mesmo foi o interesse da população em torno do assunto - afinal, inusitado “ma non troppo” - enquanto os tópicos mais acessados são geralmente sobre fofocas de famosos e sangrentos casos policiais.  
 
Pois o blog do ITC tem para contar uma história de transformação social mais profunda e contundente: a trajetória do maestro e professor do projeto Canto na Escola, Elias Salvador, que começou a vida trabalhando como mecânico e abandonou as “repimbelas e parafusetas” para se dedicar profissionalmente à regência em canto coral. O professor Elias termina no final do ano o curso superior de licenciatura em música pela Faculdade de Música Maurício de Oliveira - FAMES, com um trabalho escrito sobre suas descobertas musicais e o resultado alcançado em seu trabalho com as crianças da EMEF Governador Lindenberg, em Barro Branco na Serra.

Elias Salvador em meio aos alunos e outros músicos em concerto recente.
 
Blog do ITC: Vamos começar por onde?

Elias Salvador: (Tímido) Não sei... (Risos).

Blog do ITC: Você tem quantos anos Elias?

Elias Salvador: Faço trinta em março do ano que vem.

Blog do ITC: Você começou a estudar música onde, quando e por quê?

Elias Salvador: A influência da música na minha vida foi dentro da igreja Assembleia de Deus. Meus pais são evangélicos e eu comecei a aprender lá, cantando, tocando bateria, depois violão.

Blog do ITC: Quantos anos você tinha quando começou a tocar violão?

Elias Salvador: Foi aos doze anos de idade.

Blog do ITC: E quem te ensinou?

Elias Salvador: Eu tenho um irmão músico autodidata que toca muito bem, mas ele não tem conhecimento teórico como eu tenho hoje. Não lê música, mas é um grande profissional, o nome dele é Daniel. Ele tanto compõe quanto toca, faz letra, toca bossa nova, ele é muito bom mesmo pra música, mas de ouvido. E hoje ele é empresário em São Paulo, a música é só um hobby pra ele.

Blog do ITC: Mas pra você não...


Elias Salvador: Eu, aos dezenove anos, quis realizar meu sonho que era aprender a ler partitura. Porém, todos que eu procurava para aprender não me ensinavam. Na realidade eu sempre tive vontade de mexer com música então a minha irmã Eliane entrou no coral da CST (Hoje ArcelorMittal Tubarão)...

Blog do ITC: A família é grande então?

Elias Salvador: É grande, somos oito filhos e eu sou o caçula. E minha irmã me levou para cantar no coral com ela. E quando eu entrei no coral da ArcelorMittal Tubarão foi uma mudança na minha história, eu já sabia ler música, tinha feito um ano de teoria musical na minha igreja. Então fiquei cinco anos no coral, tive essa vivência musical e foi lá que eu me encantei pela música profissional mesmo, de querer fazer coral. Então passei a ensaiar o coral da igreja, comecei a tocar o saxofone lendo partitura...

Blog do ITC: E isso só olhando o trabalho do maestro Adolfo Alves e de Alice Nascimento?

Elias Salvador: Foi a minha referência e inspiração, eu, praticamente, ia aos ensaios pra cantar, mas também para aprender. Observava tudo, os detalhes da regência a condução do ensaio e foi isso que me deu esse “feedback” para fazer igual na minha igreja e depois o desejo de cursar também uma faculdade de música... Eu trabalhei como mecânico na ArcelorMittal Tubarão e lá todo mundo me falava pra fazer uma faculdade de engenharia mecânica, porém eu sabia que se um dia fosse fazer uma faculdade seria de música, porque é o que está no meu sangue. Eu gosto muito de música. 

Elias (1° à direita) com parte da equipe do projeto Canto na Escola, tendo ao centro a maestrina Alice Nascimento

Blog do ITC: E sua família achava o quê disso?

Elias Salvador: É... Tive pouco apoio... Meus pais queriam que eu fosse mecânico mesmo (Risos)... Mas eu sabia o que eu queria pra mim e no dia que passei na Faculdade de Música do Espírito Santo – Fames, falei para o meu encarregado na ArcelorMittal Tubarão: “Eu quero que me mande embora pois quero estudar...” Mas ainda fiquei lá por mais um ano.

Blog do ITC: Você era mecânico de quê, o que você fazia lá exatamente?

Elias Salvador: Mecânico a diesel; consertava caminhão, máquinas...

Blog do ITC: Era uma coisa que te deixava frustrado?

Elias Salvador: Eu não tenho nada contra. Quem está na área de mecânico e não tem curso superior se sente realizado, porque ganha um salário razoavelmente bom e às vezes se acomoda, acha que está “bombando” em ser mecânico. Quando eu fiz o vestibular e passei, eu vi que o meu sonho ia muito além daquilo. Eu hoje me sinto realizado três vezes mais, porque eu fui muito criticado quando larguei a mecânica para trabalhar com música, foi um período muito difícil, mas eu venci aquele preconceito todo e hoje sou realizado. Já até recebi propostas para voltar a trabalhar de mecânico, mas não penso em voltar.

Blog do ITC: Mas como é que você entrou na Fames?

Elias Salvador: Na igreja que eu frequentava tinha uma amiga “Eunice Del Fin” que estava se formando na Fames. Ela foi a pessoa que me informou de quando ia ser o vestibular, então me preparei, estudei muito, me dediquei e passei em décimo segundo lugar no curso superior de licenciatura em música.

Blog do ITC: Como veio então a regência de coral?

Elias Salvador: Quando comecei a cantar no coral ArcelorMittal Tubarão, passei a observar a regência, vendo como eram conduzidos os ensaios, a dinâmica. Da mesma forma como o Adolfo levava os ensaios eu fazia com o meu coral na igreja e a partir de então isso foi me dando a prática da vivência musical, tive muitos erros e alguns acertos e hoje estamos aí.

Sequência de fotos do maestro em ação regendo o Coro Canto na Escola
 
Blog do ITC: No Canto na Escola você é hoje o professor de coral que está a mais tempo, como é essa experiência com a molecada, você já tinha trabalhado com projeto social antes?

Elias Salvador: Eu fui monitor da banda experimentalna Fames, que é hoje a banda jovem. Tudo bem que eram crianças musicalizadas, mas foi uma experiência muito boa. Quando eu comecei a trabalhar no Canto na Escola foi uma experiência fantástica, porque as crianças vão por livre e espontânea vontadepara estudar música. Logo no início eu tive um embate, porque elas estavam muito bagunceiras, iam lá pra fazer bagunça, queriam brincar e cantar uma música só, não queriam aprender música.

Blog do ITC: Como é que você fez pra controlar essa turminha que era mais “barra pesada”?

Elias Salvador: É difícil, você tem que realmente ter “cartas na manga” pra você conseguir dominar...

Blog do ITC: O que você fazia?

Elias Salvador: Eu conversei com nossa assistente de coordenação, que era a Ana Claudia, perguntei se podia tomar minhas decisões e tive todo apoio. Então comecei a enviar bilhete para os pais falando do comportamento ruim dos filhos, outros eu levei para a coordenadora e aos poucos eles foram entendendo que o que eu queria fazer era uma coisa muito séria, um coral de fato. Daí uns começaram a cobrar dos outros e hoje eu já tenho esse retorno deles. Se algum faz bagunça os próprios colegas chamam a atenção, dizem que estão ali para aprender. O meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) está sendo feito com os meninos de Barro Branco.

Coro formado pelos alunos do projeto Canto na Escola em Barro Branco na Serra, posando para a posteridade.
 
Blog do ITC: Qual é o tema?

Elias Salvador: Canto Coral no Ensino Fundamental: percepções desta prática sob a ótica dos alunos coristas.

Blog do ITC: E como você fez, com entrevistas?

Elias Salvador: Sim, primeiro foi feita uma redação onde eles falaram do que fazem, o que gostam, como é a vida deles. Falam da relação da família deles com a música, a relação deles com a música também. Muitos escreveram que o professor tem que cobrar mesmo, porque se ele não cobrar os ensaios viram uma bagunça só. Então eles mesmos já sabem, já reconhecem, que é preciso ter alguém para colocar limite.  

Blog do ITC: Quem é que está te orientando nessa pesquisa?

Elias Salvador: É o professor e doutor Alessandro da Silva Guimarães. 

Blog do ITC: E quando é que termina e você se forma?

Elias Salvador: Agora no final do ano (Dezembro 2012).

Blog do ITC: Boa sorte então Elias e muito obrigado pela entrevista.

domingo, 4 de novembro de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO NO RITMO DA MUDANÇA



Eu não ia falar (escrever), 
mas agora vou dizer...
Todo mundo quer ir pro céu
Mas ninguém quer morrer...

Blitz in O Romance da Univesitária Otária

A eleição acabou e, pela primeira vez, ficou bastante perceptível a importância da Internet no processo, especialmente no Facebook. Muita gente partiu para a defesa de seus candidatos com veemência assaz (cujo?) escalafobética, no segundo turno em Vitória era mais aguda a situação porque eu tinha amigos dos dois lados e comprando a briga com a mesma empolgação. O curioso é que alguns bastante comprometidos deveriam jogar no ataque e recuaram; outros que não tinham nada a perder com o peixe, soltaram o verbo.

Parecia discussão de futebol, daquelas que a gente não entende bulufas, não gosta e preferia estar fazendo outra coisa, mas ainda assim acompanha só pra ver quem vai ganhar no final, embora no fundo desconfiemos que isso não vá fazer muita diferença no varejo. No atacado faria, mas política é uma caixinha de surpresas. Quem diria o que o PT Farias? Ou que o partido comunista ainda existiria? Alguém aí viu o novo filme de Woody Allen? O casal viaja dos EUA para Roma, o marido tem medo de avião:

- Calma, vamos apenas conhecer o noivo de nossa filha!
- Você sabia que ele é comunista?
- Não existem mais partidos comunistas. Ele é só de extrema esquerda.
- Eu também era de esquerda quando tinha a idade dele, mas nunca fui comunista. Eu não suportava a ideia de ter que compartilhar o banheiro...

Obviamente que ainda existem partidos comunistas, mas eles são bem diferentes do que eram antes, simplesmente porque muito de sua “ideologia” não se presta mais aos tempos atuais. Talvez o problema seja aquela forma de apresentação “a la Che Guevara” que é ainda utilizada a ponto de muita gente achar engraçado e transformar em piada. Outros vão mais fundo e são contundentes, como é o caso do historiador Carlos Fico, quando versa sobre as controvérsias da ditadura militar afirma:

“Depoimentos como os de Fernando Gabeira e Alfredo Sirkis – que foram grandes sucessos editoriais – contribuíram para a mitificação da figura do ex-guerrilheiro, por vezes tido como um ingênuo, romântico ou tresloucado, diluído no contexto cultural de rebeldia dos anos 60, algo que não condiz com as efetivas motivações da assim chamada “luta armada” (...) transmutada em “resistência democrática”. 

A conclusão que a maioria chegou depois das eleições é que “os tempos mudaram” em direção ao “novo” ou à mudança e eu suspeito que tudo não passou, mais uma vez, de um caso clássico do “eterno retorno da diferença”. A maior vedete da eleição foi o jingle de Luciano Resende, teve um marqueteiro que se empolgou tanto que até achou que o tinha composto. Aliás, depois desse páreo eletivo temos apenas duas certezas: todo mundo compôs o “jingle da mudança” e ninguém bateu no câmera da Gazeta por causa do Neucimar que, aliás, dizem que foi um patrão bastante generoso, ora, o dinheiro não era dele mesmo. O que, por sinal, explica (MAS NÃO JUSTIFICA) a revolta da turba enfurecida.    

 
E por falar nisso, enquanto se inicia a dança das cadeiras, um bocado de gente parece estar gozando com a expectativa de ver outras perdendo o emprego. Não parece lugar comum e até cansativa essa coisa de tachar todo mundo (mas todo mundo?) que trabalha em cargo público de “vagabundo mamando nas tetas do povo”? Trabalhei como e com vários “cargos comissionados” e sei que muitas vezes – até pela ilusão de tornarem-se insubstituíveis, o que merece um texto mais aprofundado – são eles que carregam algumas administrações nas costas.

Em última análise (cujo?), são pessoas que têm família, têm contas a pagar, venha o governo que vier o certo é que ninguém escapa de ir ao supermercado, portanto ou não sacolas de plástico biodegradáveis a título de preservação do meio ambiente, o que é bom que sobra mais dinheiro pra gente.

Pensamento final para o feriado do dia de finados: Na sociedade brasileira de hoje, que mantém a todos – da classe média (alta?) pra baixo - no limite de seus recursos financeiros, perder o emprego é como uma pequena morte; portanto, achar graça na atribulação alheia é, no mínimo, coisa de babaca. E sabe o que mais? Daqui a dois anos tem tudo de novo... Um amigo meu, o Pepê, já até anunciou que vai ser candidato do PC do B. Tá pensando que só Paris que é uma festa? Não. Paris é uma ótica que tem propaganda na televisão...