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sábado, 12 de maio de 2012

TEORIA DA CONTRADIÇÃO - PARTE II: O ESPÍRITO SANTO NO REAHAB!


Vós tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira.

João 8:44

Vários matadores de aluguel fizeram fama e fortuna no Espírito Santo, por essas e por outras o capixaba ganhou status de cabra perigoso em determinadas regiões do país. Curiosamente, alguns desses bandidos gozavam de certo respeito social como fossem aqui um “Zeca Diabo”. Eram temidos, claro que eram, mas, estranhamente bem considerados por muita gente boa. Talvez destes o mais famoso seja o famigerado Zé Scardua, mas depois deles muitos outros fizeram “sucesso”, como outro Zé, o Sasso; assassino acusado da maioria dos crimes escabrosos dos anos oitenta. Morreu envenenado na cadeia em Linhares no dia 17 de setembro de 1992.

Zé Scárdua - Zeca Diabo numa versão capixaba? 


A demanda por trabalho da pistolagem vingou entre pessoas poderosas do Espírito Santo que não seriam automaticamente consideradas criminosas por ninguém, nem por eles mesmos. Porém, vez por outra rolava a necessidade de abandonar “de leve” o “fair play” e mostrar “aos pacatos o rumo do cemitério”. Uma hora era preciso desarticular um grupo opositor, ou vingar de pronto alguma questão que a justiça levaria anos para resolver, ou simplesmente silenciar e ocupar o espaço de algum concorrente. Porém, a logística dessas operações era coisa complicada e oportunizou o surgimento de especialistas em ações armadas, sedição, corrupção e algo mais.

Nesse inacreditável, porque pavoroso, cenário mercenário de faroeste caboclo despontou o delegado Claudio Guerra, cara que tinha um Grupo de Operações Especiais só pra chamar de seu. Posava de poderoso entre os poderosos e morava em um sonoro apartamento “de um por andar” no ponto mais valorizado do bairro nobre da cidade de Vitória. Curiosamente, não há notícia de alguém ter se perguntado como é que um delegado que – até onde era seguro saber - vivia com o salário da Policia Civil, morava nas mesmas condições que os cidadãos mais ricos do Espírito Santo. Esse assunto não era da conta de ninguém.

Os homens de bem não costumam se meter na vida dos outros: fazem vista grossa e até censuram opositores que ameaçam abalar a paz dos poderosos. Basta lembrar o culto, a pompa e a circunstância em torno do bicheiro José Carlos Gratz, cujas ligações com contravenções piores dificilmente poderiam ser ignoradas pelas autoridades civis e militares da cidade. Foi eleito deputado e alçado à presidência da Assembléia, cultuado a ponto de comemorar o aniversário na boate Zoom em Camburi numa espécie de beija-mão escandaloso no qual se ajoelhou a seus pés boa parte do Pib capixaba; mais de cinco mil pessoas era o número que se comentava na ocasião.

Gratz, na época que era "locomotiva" do volúvel Jet Set  dos capixabas

O material sobre os feitos do delegado Claudio Guerra e de José Carlos Gratz é farto, não estou falando nenhuma novidade escabrosa aqui, basta uma pesquisa rasteira pela Internet e jornais antigos para acessar um variado perfil barra-pesada dessas pessoas e de outras da dita “alta sociedade capixaba”. Foi só quando a situação se tornou insustentável e o estado francamente ingovernável é que foi pedido socorro a uma força tarefa federal para resolver a questão. O Espírito Santo é assim: de vez em quando parece que sua máquina precisa ser internada numa clínica de reabilitação para se desintoxicar. 

Guerra em foto publicada no site da CBN sobre desvios de dízimo na Assembléia de Deus (!)
Apesar do passado sangrento e covarde, porque se especializou em atuar armado contra pessoas indefesas, o delegado Claudio Guerra, hoje está por aí: livre, leve e solto; posando circunspecto e risonho de bíblia debaixo do braço. Como se não bastasse ainda resolveu contar suas estripulias mais famosas num livro de memórias do tempo em que matava a mando da ditadura e sempre que tem oportunidade, menciona (orgulhoso?) que atuou para a elite capixaba também. Uma destas suas afirmações mais polêmicas recentes envolve o conhecido empresário e deputado federal Camilo Cola. Segue detalhe da reportagem publicada no IG:

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É nesse ponto que voltamos à triste história da menina Araceli, porque como foi dito, uma das mais funestas características do crime de mando no Espírito Santo é a criminalização da vítima. A prática é útil para bagunçar a investigação, ouriçar a mídia e manipular a opinião pública contra o morto. Isso intimida os familiares que, por vergonha da própria impotência – quando percebem que o estado está jogando contra - se afastam com medo, se omitem. E ainda são criticados por isso, como fez o jornalista Zé Maria Batista. Poucos são os que têm a iniciativa de ir para a rua com um cartaz na mão e “dar barraco”, porque imaginam que o máximo que conseguirão é exposição na mídia que sabe que a baixaria é o que mais capta a atenção do público e descaradamente transforma tragédia e sofrimento em show na hora do almoço.

Esse público, aliás, parece ter necessidade de se convencer que um crime bárbaro atinge apenas aos que de alguma forma mereceram ou procuraram. E isso não é assim! Existe gente ruim em nosso meio e elas têm que ser punidas!! Ou será que uma menina de menos de dez anos merecia ser estuprada e morta por um bando de malucos porque não tinha dinheiro para bancar uma passagem de ônibus para casa? Mesmo que sua mãe fosse traficante e envolvesse a menina no leva e trás, será que é certo dizer que foi pouco o que aconteceu? Não vou nem comentar a acusação contra Camilo Cola, acho bom Claudio Guerra conseguir provar o que disse, mas e a grave acusação de extorsão contra o jornalista Jeveaux? Quem vai o defender?

A mesma acusação de desonestidade é sempre feita contra vítimas de crimes do gênero. A jornalista Maria Nilce, que nada tinha a ver com o assunto, foi denegrida – de passagem - em uma medíocre carta anônima que divulgava fofocas e graves acusações contra o judiciário capixaba. A mesma coisa já foi dita com relação ao arquiteto Bebeto Viváqua, executado ao meio dia numa rua movimentada de Jardim da Penha, durante um suposto assalto cujo caso foi “solucionado” pela equipe de Claudio Guerra na época em que tudo ainda estava sob seu controle. Matavam, “investigavam” e prosperavam a olhos vistos. Hoje parece que Guerra se arrependeu dos crimes cometidos, encontrou Jesus e, como vimos acima, está levando seu know how para a Assembléia de Deus.  


Trecho da "infame" carta anônima

E só para arrematar: o julgamento dos dois últimos acusados no crime que vitimou a jornalista Maria Nilce Magalhães em 05 de julho de 1989 (!), estava marcado para essa semana, mas foi adiado para o início de junho deste ano. Um dos réus trocou de advogado e este pediu um tempo para preparar sua defesa. Agradecemos todo apoio manifestado até agora, hoje mesmo fomos surpreendidos pelo telefonema do prefeito Ronaldo Resende, de Oliveira em Minas Gerais. 

Vamos sempre lutar e denunciar essas calúnias rasteiras, para que toda a verdade desses crimes venha à tona; para que um dia se faça justiça às famílias - como a minha - que sofrem com essas mentiras que maculam a dignidade de nossos entes queridos; para que, finalmente, possam descansar, eles sim, na santa paz de Deus.  

Um comentário:

Anônimo disse...

Quem poderá nos defender? Nosso estado é uma coisa....
Fico torcendo para que a justiça seja feita.

Abraço,
Ângela.