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terça-feira, 22 de maio de 2012

DE ENFANT TERRIBLE A PIRATA DE MEIA IDADE


Minha relação com os quadrinhos e os caras que vestem cuecas por cima da roupa começou cedo, antes de aprender a ler já manuseava revistas em preto e branco do Homem Aranha. Todo lançamento cinematográfico super poderoso me deixava – e ainda deixa - ouriçado. Quando o famoso Superman - talvez a primeira grande e decente produção do gênero - foi lançado eu arrumei um barraco em casa. Queria porque queria assistir à estréia. Naquela época nem havia isso, mas eu precisava estar presente à primeira sessão do dia em que o filme entrava em cartaz. Tinha só um problema: era às duas da tarde, mesmo horário da escola que sem muitas razões eu já detestava.

Chorei! Nem procurei esconder, todos viram. Esporro comeram, pena de mim não precisava. Conseguir me fazer ir à escola naquele dia: nem o próprio Super-homem seria capaz. Na segunda sessão do dia da estréia estava eu sentadão no Cine Paz, feliz da vida, escoltado pelo Nilson Barata, eterno braço direito de meu pai o “seu Djalma”. Até hoje me pergunto o quanto essas rebeldias de minha parte infantil repercurtiram negativamente ao longo de minha vida ou se as concessões de meus pais agravaram meus futuros problemas de comportamento e desassociação com certas obrigações e costumes da sociedade.

Até hoje quando os heróis entram em cena fico meio preguiçoso com relação ao mundo real. Foi assim agora com o mega sucesso de bilheteria Os Vingadores. Não fui ao cinema assistir - de enfant terrible a pirata de meia idade - arrumei um lançamento R6 – pelo que entendi são cópias que circulam na Ásia – de ótima qualidade e – apesar de inúmeros outros compromissos com “a escola da vida” - entrei numa de traduzir as mais de duas horas do filme. Quando isso acontece é ruim, mas é ótimo. Mergulhei naquela aventura durante todo fim de semana e pude - ou tive que - escarafunchar à vontade os detalhes de seu especialmente tão elogiado roteiro.

 
O grande lance é que o texto foi montado em um esquema auto-referente, é como um jogo de vôlei: bolas são levantadas para cortadas que acontecem no momento certo. Desde o início da história são fornecidas informações que vão sendo reforçadas e confirmadas, geralmente com humor e picardia. Isso conduz o fluxo narrativo – que poderia ser cansativo ou tedioso - com inteligência e astúcia (do Chapolim, exclusive). Pode parecer exagero de minha parte, porém, pela Internet - e fora dela - encontram-se inúmeros escritores e roteiristas destacando as qualidades do trabalho liderado por Josh Whedon com colaboração de Zack Penn e, certamente, pitacos de muitos produtores.


O resto é pirotecnia e deleite visual, com destaque para a beleza novata da modelo canadense Cobie Smulders (aí em cima), a atuação engraçadinha de Robert Downey Jr. e Tom Hiddleston, o Loki, que rouba e domina cada centímetro da tela quando aparece. Sua cena com a Viúva Negra, quando o semi-deus decresce do salto de um monarca polido e simpático para um monstro aterrorizante, é o auge dramático do filme. É o momento em que tudo começa a clarear para os heróis, que explodiam em conflitos pessoais, e se unem para derrotar o mal para delírio da galera. Essa virada na história mostra o quanto o trabalho de escrita foi bem feito e arquitetado tendo por base antigas leis de proporção. O sucesso obtido em Os Vingadores não vem por acaso é a junção entre escolhas certas e trabalho bem feito. 

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