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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O INFERNO SÃO OS OUTROS!

Mudança de nome e de visual no blog, já é a enésima vez que a poeira me incomoda, a cultura rocker passa por algo do gênero, vai ver a blogger também. Por essas e por outras escolhi uma fotinha semi-nova pra ilustrar a cabeça da parada, ocasião em que me reuni a alguns renomados músicos botocudos para realizar uma espécie de pelada de verão, ali na tenda da cultura, limite entre as praias de Itapoã e Itaparica.

Ofereço-lhos então, dentro dessa nova fase, uma pequena história que me foi contada inocentemente durante uma viagem... Bem, não é só o tédio o que motiva as pessoas a contar suas experiências de vida não é? É preciso um ouvinte interessado e isso eu sei ser. Mas segue a parada que tem como título: O Inferno São os Outros. Uma referência à Sartre, mas que não tem nada de existencialismo. Não tem nada de nada...

Ela sofria com aquilo, como se diz por aí, o cara tinha pulado a porra da cerca...

Meses, os meninos nasceram com poucos meses de diferença!

Mesmo pai, mães diferentes... Muito embaraçoso aquilo.

A coisa aconteceu durante a gravidez da “matriz”, quando uma antiga “filial” mandou uma saraivada de ofertas irrecusáveis e o cara não resistiu à tentação de fazer o negócio. Muitas foram as justificativas, mas a reclamação mais recorrente era que a gravidez da matriz despachara o tesão para o quinto dos infernos. A mulher vivia enjoada e incomodada, não via sentido em abrir pedido pra mercadoria já encomendada.

Mas não foi só isso, claro que não foi. Pouca gente sabia, mas o patrão já tentara firmar negócio naquela filial em tempos remotos, quando de uma despretensiosa visita a uma dessas casas noturnas da periferia. A princípio a parceria se deu com rapidez e inconseqüência, mais ainda viria a falência do empreendimento. Tomou um tremendo pé na bunda, quando a amada resolveu se desligar do compromisso anteriormente firmado para tentar a sorte sob a administração de um próspero investidor oriental.

O pior é que esse revés, ao invés de calejar e dar estofo, fez o babaca ficar choramingando derrotas e amores impossíveis pelos cantos por um tempão. Só foi se curar de vez quando montou na Aletéia, aquela que viria a constituir definitivamente a sólida matriz de seus negócios. Moça séria, determinada, trabalhadeira, um pouco conversadeira; mas a seca é o afrodisíaco dos pobres... Outra aventura empreendida no calor do negócio com uma simples conseqüência: logo pintaria a gravidez impregnante.

Novamente a recessão, mercado do sexo em retração... Ô seca miserável!

Nesse meio tempo o telefone não parava de tocar com a antiga filial derramanado todo tipo de propostas irrecusáveis. Eita! A marvada andava tentando recuperar antigos parceiros, porque, apesar de toda opulência inicial, o negócio do empresário oriental simplesmente não crescia! Obrigada a vender contrabando de produtos de terceira e pirataria de tênis importado sua equipe caiu na desmotivação, daí a abrir as pernas pra concorrência foi um pulo.

Aletéia deu a luz a um menino, estava em dúvida se o chamava de Eduardo, Wescley, ou Ravenclever, que ela achava mais chique. Esses nomes estrambóticos têm, aliás, origem na idéia peculiar que as pessoas simples fazem da criatividade e na necessidade de ter algo sofisticado em suas vidas, uma coisa que não fosse comum e que ninguém mais tivesse.

Foi um cú de boi quando toda a verdade foi revelada... Pra se dizer o mínimo. Como dói a tal da traição! Todo mundo sabia menos ela, grávida, enjoando, trabalhando e levando chifre! Ah rapaz, Aletéia ficou muito puta da vida. Mas no final, como muitas vezes acontece, perdoou. Contentou-se em jogar o episódio na cara do patrão pro resto da vida, mesmo porque a vergonha tinha nome, sobrenome e era igualzinho à puta que o pariu!

Mas sabe mesmo nisso tudo o que era pior? As pessoas. “O inferno são os outros”. De vez em quando Aletéia acabava indo pra rua com os meninos, irmãozinhos, muito parecidos. Como é comum acontecer, toda vez que encontrava algum conhecido rolavam aquelas inevitáveis perguntas: É seu filho é? Como é o nome dele? Quantos anos ele tem? Somando dois mais dois entre os pirralhos a vaca ia pro brejo desembestada... A moça, coitada, morria de vergonha da situação, mas um dia ousou se vingar...

Foi num churrasco da empresa, o maridão resolveu juntar toda equipe do trabalho e suas respectivas famílias. Lá pelas tantas, um dos funcionários mais chatos resolveu puxar conversa com o casal anfitrião perguntando: esses meninos são da mesma idade não é? Tão parecidos... São gêmeos? Aletéia, que já tinha tomado umas três tequilas arrumadas, disparou:

- É nada. Aquele só é que é nosso. O outro eu tive por fora com outro hômi! – O patrão estava lívido de vergonha, mas nem adiantava reclamar com a mulher.

- Não sei por que só eu que posso levar a fama de chifruda...

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