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sábado, 6 de fevereiro de 2016

DESAGRAVO AOS ANIMAIS

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas. Mateus 23:23

Como até a Tia Naná já sabe, o carnaval tem o significado de “adeus à carne”. É o período que antecede a quaresma, a partir do qual – segundo a tradição cristã - deveríamos jejuar e nos abster de comer a carne dos animais, sem falar em outros prazeres “da carne”. É a hora adequada para pensar na vida, inclusive a dos outros e até dos bichinhos, mas num estilo “despedida de solteiro”, o feriado virou sinônimo de festa, alegria e ... muita porralouquice. Portanto, curtamos nossa farra, mas tomemos cuidado. Pois já dizia sei-lá-quem: depois de todo oba-oba vem sempre um epa-epa!

Na quarta-passada o Prefeito de Vitória prestou contas aos vereadores capixabas na Câmara do município e - talvez pela proximidade com o carnaval - alguns dos “nobres edis” prepararam-se para uma carnificina, mas acabaram colhendo resultado bastante diferente. Porém, não há nada de estranho nessa intenção de embate, tanto politicamente falando – e estamos no ano eleitoral – quanto pelo próprio papel que desempenham os representantes do povo, a prestação de contas é um momento que os vereadores fazem suas reivindicações, críticas e cobranças ao Prefeito.

Falou-se bastante na mídia sobre o evento porque foi um pouco mais acalorado, digamos assim, do que os anteriores. No dia seguinte, o ponto comum entre os comentaristas políticos foi a maneira firme com que o atual prefeito da capital respondeu os questionamentos, mesmo porque alguns foram equivocados e um, em especial, ainda não vi ser mencionado por ninguém.


O vereador Wanderson Marinho, na contramão de um movimento bastante premente em defesa dos direitos dos animais, criticou a criação de uma praça para cães em Jardim Camburi, enquanto em sua região - a Grande São Pedro - existem reivindicações não atendidas. Se tivesse um pouco mais de cultura inútil aventaria a velha máxima “salvem as baleias e os humanos que se danem”, mas seguiu no raciocínio de que “as gentes” devem ter precedência em relação aos bichos.

Para amplificar o inusitado havia um pequeno grupo que, para incentivar o vereador, danou a latir, uivar e mugir, emprestando um tom de deboche a um assunto que é sério. Fato: a Praça Nilze Mendes em Jardim Camburi foi adaptada para o uso de cães, dando qualidade de vida para os bichinhos. Fato também: a comunidade da Grande São Pedro merece toda atenção da Prefeitura. Mas será que uma coisa é mais importante ou excluiu a outra?


Existe um sentimento de respeito e compaixão pela vida dos animais que vem crescendo e se difundindo através de adoções e ações como o vegetarianismo, veganismo e outras folhas e legumes. Há séculos a humanidade abusa cruelmente da bicharada, transformamos sangue e carne em indústria e sequer percebemos que as vidas consumidas, as dores que causamos, o ódio que digerimos podem ser causa dos tormentos que nos adoecem.

É preciso olhar para a sociedade com a perspectiva do tempo, porque os costumes mudam. Por exemplo, hoje é absurdo pensar que um dia já foi comum escravizar legalmente pessoas - ilegalmente ainda rola. Quem sabe um dia o massacre diário de milhões de animais para consumo humano não seja visto como absurdo também? Algo próximo do nojo bíblico que temos pelo canibalismo. Quem sabe?


Ao tampar a cabeça não podemos descobrir os pés: devemos cuidar de nossos irmãos, dos animais e de todo o resto que for possível. Porque, no fundo, as pessoas que não têm respeito pelos “bichos” muito comumente estão pouco se lixando para o resto da humanidade. O Vereador Wanderson Marinho é um bom rapaz, eu o conheço pessoalmente, tenho certeza que seus argumentos tiveram boas intenções, o problema é que destas o inferno está cheio.

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