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sexta-feira, 16 de março de 2012

OS POMERANOS QUE VIERAM DE AVIÃO...

“Alguns anos atrás uma pomerana capixaba, loira de olhos azuis como todos de sua raça, conheceu um negro de cabelos pixaim, lábios grossos, pele e olhos negros. Meses depois ela entrou em pânico porque estava grávida. O menino nasceu mulato de olhos pretos e cabelo pixaim. Quando o marido chegou para conhecer o filho ela contou essa história: estava andando pela mata de repente encontrou um toco de árvore queimada, com o susto ficou grávida.”

Com apresentação de Maura Miranda e texto de Amylton de Almeida, assim começa o documentário que colocou em evidência para o Brasil os Pomeranos de Santa Maria de Jetibá, então um distrito do município de Santa Leopoldina. Parece estranho começar com uma piada, mas encontrar brasileiros que mal falam o português vivendo há mais de um século dentro do Espírito Santo, desperta espanto, uma óbvia curiosidade e alguma gozação. Uma história parecida já circulou pela Internet: um soldado Americano que passara um ano no Iraque reencontrou a esposa com um barrigão de seis meses. A moça explicou que engravidara ao assistir um filme pornô em 3D...

A então recém criada TV Gazeta empreendeu o documentário de 42 minutos que venceria o primeiro lugar no 1° Festival de Verão da Rede Globo. Filmado em 1977 e veiculado para todo Brasil no dia 2 de janeiro de 1978, Os Pomeranos é um raro registro de Santa Maria de Jetibá, cidade que se desenvolveu velozmente após terem chegado estradas asfaltadas, energia elétrica, e telefone. É até difícil acreditar, mas quando o documentário foi feito nada disso ainda havia por lá.

A equipe vencedora, que desbancou todas as outras retransmissoras da Rede Globo, recebeu um prêmio de 100 mil cruzeiros e quatro passagens para Nova Iorque. A direção geral ficou a cargo de Vladimir Godoy e a coordenação de Marcos Alencar, entre outros profissionais da época bastante conhecidos até hoje.

A Equipe realizadora de Os Pomeranos, né por nada não, mas o Marcos Alencar ficou a cara da Marly.
 O documentário abordou - e provavelmente - catalisou alguns ícones da cultura Pomerana como a cerimônia de casamento, a música de concertina e bandas de metais, a questão da língua, o aspecto religioso luterano e a dedicação do povo às lavouras que ainda fazem da região o principal fornecedor de hortigranjeiros para a Grande Vitória. Alguns registros valiosos estão eternizados como os depoimentos de figuras chave da região como Francisco Schwarz e Dalmácio Espíndula e até momentos pitorescos quando da entrevista de um colono com o seguinte diálogo:

- Ô Argeu você se lembra quando a sua família veio da Pomerânia pra cá?

- Não me alembro não.

- Mas nem de longe assim, você não tem recordação?

- De longe um pouco de recordação eu tenho, mas não muita. É pouca coisa.

- Você não sabe, ninguém nunca te informou nada quando é que eles vieram, alguma coisa?

- É... Isso eu sêo, de reformação como que eles vinham e tudo isso eu sêo sim.

- Como é que eles vieram pra cá?

- Eles vieram pra cá de avião.

- De avião é? – Nesse momento dá pra ver que o repórter (provavelmente Vladimir Godoy) está segurando o riso.

- De avião. – O pior é que o tal Argeo respondeu com toda segurança e peculiar simplicidade. Nesse momento não fica claro se a intenção era mostrar o isolamento do indivíduo ou, de novo, fazer piada com a ignorância do pomerano. Porém, esse tom desafinado com nossos tempos politicamente corretos, deve ter sido um gancho interessante para captar a audiência da época. Os Pomeranos é um documentário, por tudo isso, que deveria ser reapresentado nos dias atuais e até revisitado, comparando lugares e a trajetória das pessoas mostradas. Afinal, por mais que a região tenha mudado, as pessoas ainda estão por lá e, senão elas, estão seus filhos e netos que ficariam muito felizes de conhecer essas preciosas imagens.

Um comentário:

Anônimo disse...

Show Juca, muito legal....como já disse adoro história, principalmente de nossa terra....rrsrs....
Abs e bom fim de semana.

Gallerani