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domingo, 11 de março de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO: INCLUSÃO X PIRATARIA

Um dos assuntos que motivou o surgimento do blog da Letra Elektrônica foi, há coisa de três anos, o debate entre locadoras de vídeo e camelôs. Os primeiros exigiam ações para coibir a concorrência desleal, os segundos se defendiam afirmando que tinham família e precisavam fazer alguma coisa pra sobreviver. Alguns representantes da Associação de videolocadoras, nem lembro se era isso, ficaram danados comigo porque fiz um texto em que dizia que o foco era equivocado e que o maior perigo para o mercado deles era a Internet e nos últimos anos a tendência se consolidou.

Para colocar mais lenha na fogueira, há poucos dias um juiz do Rio Grande do Sul considerou improcedente uma ação do Ministério Público contra um homem flagrado vendendo DVDs piratas. Segundo o site www.jusbrasil.com.br o magistrado ponderou que “a conduta perpetrada pelo agente é flagrantemente aceita pela sociedade e, por tal motivo, impassível de coerção pela gravosa imposição de reprimenda criminal.”    

Tenho amigos cinéfilos que ainda utilizam os serviços das videolocadoras ou quando querem assistir um filme preferem, correta e politicamente, comprar pela Internet. Não concordam com o que entendem ser pirataria enquanto, ao mesmo tempo, reclamam da dificuldade de encontrar alguns filmes, especialmente os ditos “de arte”, o cinemão alternativo que cresceu a ponto de hoje ter o evento Sundance Film Festival como referência até para Hollywood.  
Baixar filmes da internet se tornou uma coisa tão trivial - embora a maioria das pessoas que conheço ainda não saibam como fazer com relação a legendas e outras mumunhas – que na última cerimônia do Oscar o comentarista de óculos coloridos que ainda pensa que é o Jack Nicholson ao sul do Equador, José Wilker, afirmou trivialmente com relação a um dos concorrentes que não conhecia ainda porque tinha tentado baixar e não conseguiu. Ora se com o Wilker é assim...

Alguns filmes que só agora estão entrando em cartaz, já estavam disponíveis para download gratuito na Internet em meados do ano passado. É o caso do ótimo Drive, considerado o maior injustiçado por não ter nenhuma indicação às concorridas estatuetas. Mas alguns outros jamais serão vistos nas locadoras, muito menos nos cinemas locais, pródigos em exibir somente o supra-sumo do que se convencionou chamar de “cinema pipoca” - Com as devidas ressalvas para os cines Jardins e Metrópolis. Fora isso...

A questão ainda passa pelo delicado processo de inclusão cultural. Em 2010 os franceses fizeram um filme sobre a irmã de Mozart da qual pouca gente ouviu falar, aliás, tanto de uma coisa quanto de outra. Maria Anna Mozart, conhecida pelo apelido de Nannerl, foi uma criança prodígio como o irmão e a história contada na película dos franceses defende a idéia de que a menina não conquistou alguma fama porque o pai a proibiu de compor. 


 O filme tem sido criticado por falta de cuidado justamente com a caracterização de período da trilha sonora, os figurinos são deslumbrantes, mas o roteiro se concentra no preconceito contra as mulheres da época. Com todas as ressalvas, a “A Irmã de Mozart” é uma história bastante interessante – obrigatória? - para exibição em escolas de música, por exemplo. Porém, vai saber quando - e se - será lançado no Brasil. Até agora não encontrei nenhuma referência ao assunto na Internet...

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