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sábado, 2 de janeiro de 2016

NÃO PERCA A OPORTUNIDADE!

Pode ler tranquilo que este texto não contém estraga prazeres (spoilers)

Fui assistir ao sétimo Guerra nas Estrelas, o subtitulado “Despertar da Força”. É bem difícil ignorar esse “campeão de bilheterias” – eu não consigo - um pouco por causa do marketing avassalador, outro tanto porque é uma boa série mesmo e seu sucesso estrondoso ficou marcado com sabre de luz no imaginário de minha geração.

Foi no saudoso – pero no mucho – Cine Paz onde travei conhecimento com essa saga estelar, seus heróis e vilões, o lado negro da força e a implícita brancura saxônica do bem, anterior à moda, portanto, equivocada em tempos politicamente corretos. A trilha sonora espetacular, os colecionáveis coadjuvantes robóticos, o peludo Shewbacca e seus uivos dolorosos e engraçados.

Chegam os anos da adolescência madura e a trilogia deságua na televisão aberta, agora rola a onda de ignorar porque é coisa do tempo de infância; mas vem um domingo de tarde, o Guerra nas Estrelas está sendo repetido pela milésima vez e a força te captura de novo: caraca, que legal! A vontade de ter um sabre de luz é grande, mas agora a moda são as espadas ninja.


Na virada do milênio o George Lucas resolve contar o início da saga e bate a desconfiança: “évem esse gringo de novo atrás do meu dinheiro”, mas é impossível escapar ao misto de convívio social e campanha publicitária. Enquanto isso, algumas lojas “geek” vendem réplicas bacanas do Millennium Falcon e do R2D2 que custam tão caro que o mais justo e viável é guardar apenas a lembrança.
                                                                                                                  
Virado no modo cinéfilo experiente, certos momentos da nova trilogia precedente decepcionam o adulto em que me tornei. São inúmeros os clichês desgastados e as expressões de lobo mau do Anakin Skaywalker (Hayden Christensen) – muito criticadas até hoje - acusam um ator mal escolhido; mas muitas outras coisas além dos penteados da senadora Padmé (Natalie Portman) são legais. Nessa altura da vida Guerra nas Estrelas faz parte da família, com seus defeitos e qualidades.


NOVAMENTE UMA NOVA ESPERANÇA

Quase quarenta anos depois é anunciada mais uma leva da velha saga estelar. Com um bocado de gente comentando comecei a me preparar para a ida ao cinema, aproveitei o feriado de Natal e revi os seis episódios anteriores. A oferta abundante de filmes em casa me deixa preguiçoso, porém, a aventura dentro dos conformes cinéfilos proporciona contato com o público que é sempre divertido, mesmo quando aborrecido.

Na fila do MacDonalds – prefiro sanduba e fritas que pipoca – bem na minha frente há duas mocinhas com o pai, um cara mais ou menos de minha idade. Distraído vejo mensagens no WhatsApp e Facebook, penso em fazer uma selfie e postar, mas a ideia soa boboca. Nem vi quando o pai das meninas se afastou e lá pelas tantas, naquele burburinho infernal, entreouvi a que parecia mais velha - regulavam pelos quinze anos - confidenciar:

-  ... E quando eu resolvi deixar ele não fez nada.

O pai voltou, as garotas mudaram de assunto, nada mais ouvi nem me foi permitido assuntar. Fosse eu Carlinhos de Oliveira teceria uma teia enorme de comentários a partir da maneira como as meninas movimentavam inconscientemente os braços e as pernas. Contidas entre a infância e a puberdade,      entre a proteção e a liberdade, entre o tédio comportado e o desejo do prazer.

Na livraria encontro uma edição capa dura enorme da obra From Hell do Alan Moore, penso até em comprar, mas custava uma baba e a história de Jack o Estripador não me interessa tanto assim. Aparece Caê Guimarães, que agora deve estar como eu escrevinhando sua experiência intergaláctica, trocamos ideia e desejamos sorrindo que nem crianças e crianços: “a força esteja conosco”. 

Somente no cinema tive certeza de que aquele é o lugar certo para assistir esse tipo de filme, porque é como ver um jogo no estádio. A plateia era formada por muitos fãns antigos, uma torcida fervorosa que fez da exibição uma espécie de conferência Jedi. As expressões de deleite e surpresa, os aplausos no auge dramático amplificaram a minha fruição da trama, transformaram uma simples ida ao cinema num momento mágico, como fora no passado e para o qual é sempre bom retornar.

Então não me pergunte se o filme é bom, se eu gostei ou se é mais do mesmo. Aliás, não me pergunte por que certas coisas são indispensáveis nessa vida complicada da gente. Vá lá e descubra, não quero estragar a surpresa de nenhum padawan à procura de um mestre Jedi que lhe desperte força suficiente para sair do conforto de sua galáxia distante. Considere o desejo frustrado daquela bela menina moça e seu namoradinho que conheceu na pele a velha máxima de Rabelais:

“A oportunidade é um cavalo sem rabo”.

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