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domingo, 22 de junho de 2014

O BRASIL NÃO É PARA PRINCIPIANTAS



E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus. Marcos 10:18

Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus. Lucas 18:19

E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Mateus 19:17

Não quero “dar a doida” de comentar um texto da tradição religiosa, mas essas frases dão o que pensar: se ninguém é bom - e a ideia se repete nos três evangelhos sinópticos - obviamente todos somos “maus”, ou ao menos passíveis de cometer algum ato “baixo astral”. É, portanto, uma ilusão meio besta um cara se achar melhor que outro, afinal, ser “mais ou menos” gente boa não nos difere muito de quem é “mais ou menos” Zé Mané. Pensando assim, podemos concluir que não existem pessoas que sejam totalmente boas ou inteiramente perversas.

Se levarmos em consideração aquela afirmação atribuída a Jesus - mesmo não sendo muito “espiritualizados” - e de antemão aceitarmos que ninguém é bom, por que será que algumas pessoas precisam eleger e destacar aqueles que são ruins, até mesmo demonizando outras? Para um monte de mentes racionais e modernas parece existir mesmo um ser, diferente deles, totalmente ruim que está solto pelo mundo fazendo todo o tipo de estripulias contra os “frascos e os comprimidos”. Pois (ora, pois, pois), a “brazuca” da vez é uma mulher que ousou ser chamada “Presidenta”...


O fenômeno de rejeição da madame Dilma Rousseff parece ter começado pelo fato de ser mulher e insistir em frisar isso na forma de tratamento. A discussão começou logo nos primeiros pronunciamentos oficiais. Pipocaram comentários indignados em defesa do bom português dizendo que o termo “Presidenta” seria tão absurdo como “estudanta”. A confusão em torno disso foi tão grande e vazia (O termo não é errado e, afinal, que diferença faz?) que deu origem ao apelido de “Presidanta”.

Não tenho a menor razão para defender a atual Presidente do país ou o seu partido, mas suspeito que muitas das críticas que lhe são endereçadas têm um pezinho no machismo, na idéia antiga de que mulher quando dirige só faz merda, que só serve para esquentar a barriga no fogão e esfriar no tanque. É evidente que o atual Governo Federal atravessa um momento ruim, com a volta da inflação e outras, mas será que foi só a atual equipe a responsável por tudo? Algumas acusações parecem ingênuas, afinal, “o Brasil não é para principiantes” já dizia Tom Jobim.

 
É no mínimo engraçado pensar também que a maioria desses contumazes destruidores de reputações políticas nunca tenha sequer participado de uma reunião de condomínio no prédio onde moram, mas estão convencidos que sabem a maneira ideal de governar o Brasil. Duvido que algum destes já tenha ido a Brasília conhecer o congresso e os ministérios, que tenha visto a velharia de deputados e senadores responsáveis por muitas “jogadas” importantes, os carpetes gastos, as paredes com bolor de infiltração e os aparelhos de ar-condicionado dos tempos da ditadura.

Existem problemas de ordem burocrática tão profundos no país que talvez não sejam passíveis de solução democrática. Quando uma equipe de governo mais competente toma posse a máquina velha reclama, geme, resfolega e funciona um pouco melhor; outro mais relaxado e corrupto deixa o pau quebrar, mas a bagunça no total é tão continental que, para a população, a diferença acaba sendo pequena. O Governo não depende de uma só pessoa e propagandear isso é jogar contra o próprio patrimônio, é dar força à continuidade dessa máquina infernal.

Demonizar uma pessoa, além de ser uma injustiça pessoal (aceitando que ninguém é bom), é conceder um poder que ninguém merece ter, mas que muitos vão reconhecer como... Poder. Talvez a estratégia de combate mais inteligente no momento seria propagandear a proposta oposta à da Presidente, mas, curiosamente, os detratores da “Presidanta” também não fazem isso, o que confere a esse grupo o caráter do “contra tudo e contra todos”; sendo a atual presidente derrotada, muito provavelmente, na próxima eleição estarão falando mal de seu sucessor.

 
Agora circula um texto pela Internet do professor Higinio Polo da Universidade de Barcelona afirmando que o Brasil está sofrendo ataque de países como Estados Unidos, Inglaterra e França para desestabilizar os governos de esquerda da América Latina. Traça um cenário semelhante ao do golpe militar e agora, como aconteceu naquela ocasião, inúmeras pessoas da classe média esclarecida estão embarcando fácil nessa nova onda conservadora.

Segue o link do texto (está em espanhol) para apreciação dos mais politizados:
http://www.rebelion.org/noticias/2014/6/185452.pdf

O que irá acontecer após as próximas eleições ainda é difícil saber, porém podemos ter uma certeza: enquanto alguém não tiver coragem ou o poder de mexer no time todo e nos esqueminhas desse jogo sujo seremos todos vítimas inocentes da “Síndrome do Tiririca”, fazendo papel de palhaço e achando graça em crer que “Pior que tá não fica!”

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