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domingo, 16 de novembro de 2008

SUPER HOMEM, EIS A QUESTÃO - Carta Aberta ao Grilo Falante Nº2

Originalmente publicado no Blog “A Vingança de Prometeu” em 21/03/2005

... por causa da mulher

Meu caro amigo Grilo Falante. Resolvi voltar a escrever-lho ainda dentro do assunto abordado em minha anterior missiva, pra ver se a gente consegue chegar a alguma conclusão sobre as histórias de Manuel. Pois você sabia que a maioria dos caras que comem viados pensam que não são homossexuais? E que tem bibas tão birutas que pensam que são mulher e que os "homens" delas o seriam realmente? Talvez por causa disso muitos transem viados numa boa, como se fosse uma espécie de brincadeira, uma traquinagem sexual. O problema é quando as coisas saem do controle e quem menos espera paga a conta e rifa a esfera... Desculpe o inevitável trocadilho meu velho amigo: eu perco o fio da meada, mas não posso perder a piada.

Tudo começou por causa de uma bela mulher. Que bela o quê?! Linda! Gostosona, altona, curvas generosas e perigosas. Manuel estava ficando doido... Agora estabelecido na pequena cidade de Princesinha do Norte, todo dia ele a via passar na porta de seu modesto comércio de tecidos e aviamentos. A beldade sorria em sua direção, às vezes aparentava indecisão, voltava, demorava-se na frente da loja até que finalmente ia embora. Era difícil de acreditar, mas depois de um tempo Manuel teve certeza que aquele mulherão estava mesmo paquerando com ele, aliás, flertando como diriam os antigos, ou dando mole como diriam os mais jovens.

Com o passar dos dias começou a apresentar sinais de estar ficando apaixonadão de verdade: arrumava-se com mais esmero, andava até perdendo o sono por conta da expectativa. No dia em que a mulher demorava a aparecer, era um cú de boi. Brigava com os funcionários da loja, atendia os clientes com displicência e má vontade. A tempestade só passava quando ela surgia, linda, leve e solta. Manuel suspirava...

Quase deu vexame quando um dia deu de cara com a mulher dentro de sua loja, era bem cedinho e lá estava ela olhando uns tecidos. Teve que se amarrar de corda pra não se intrometer, afinal, sua amada já era atendida por um empregado e ele não queria fomentar mexericos. A mulher rodou, rodou, perguntou preço de um monte de coisas até que tiveram que consultar o patrão.

- Pode deixar que eu atendo a senhorita... – Era a primeira vez que se acercava de seu luminoso objeto do desejo, contrariado ficou quando notou a grossa aliança de ouro que a mulher ostentava na mão esquerda.

- É senhora... – Sua voz era tão doce e inebriante quanto sensual e insinuante. Era como se dissesse que o fato de ser casada não significasse muita coisa, que a fruta estava em oferta da mesma maneira, só faltava aparecer um macho de verdade que ousasse "trepar" na árvore.

- A senhora né daqui não, é? Cidade pequena... A gente conhece todo mundo.

- Eu e meu marido nos mudamos pra cá faz só uns dois meses. Ele veio pra dar aulas na faculdade nova...

- Sei, sei... – A misteriosa mulher foi embora sem comprar nada, apenas deixou generosos sorrisos que prometiam céus e infernos praquele modesto comerciante.

Daí pra frente os encontros aconteceram mais amiúde, Manuel cada vez mais louco. Apesar de estar francamente o seduzindo a mulher era escorregadia e etérea, ficavam num jogo de gato e rato que não chegava a lugar nenhum. Logo o homem tornou-se temerário, começou a cantar o seu amor abertamente, enquanto ela respondia com sorrisos enigmáticos e incertos, depois escapulia sem dar explicações.

Um dia estava distraído na fila do banco quando uma voz soou grave em seus ouvidos.

- E ahê, tudo bem? – A saudação era simpática e familiar, mas Manuel ficou fazendo aquela cara de quem sabe que é, mas não lembra o quê. Daí o cara emendou com intimidade. - A gente precisa conversar...

- Conversar o quê, eu te conheço amigo? – O cara era bem apessoado, estava todo arrumado - o que não era comum naquela hora do dia - tinha jeito de gente de cidade grande. Pegou Manuel pelo braço e falou com seriedade:

- Eu tô sabendo que você anda querendo comer a minha mulher. – E o susto? Manuel se enrolou todo fazendo o que todo mundo faria: negou com veemência.

- Não, não, quê que é isso amigo? O senhor deve estar me confundindo com outra pessoa. Eu sou um homem sério e nem o conheço, muito menos sei lá quem é essa sua mulher aí que você está falando! – O cara apertou seu braço e mandou Manuel se acalmar, quando o viu quietar o facho prosseguiu:

- Tudo bem rapaz, calma! Tá tudo bem... – O comerciante estava lívido, começou a se abanar, de repente a chapa tinha esquentado. – Eu deixo você comer ela. – Sem conter a surpresa elevou outra vez a voz.

- Cuméquié!?!

- Fala baixo homem, ôrra meu, mas que diabo! – Recuperando-se da surpresa olhou à sua volta e, sentindo-se mais seguro, retomou interessado, ainda que desconfiado na mesma proporção:

- Deixa como assim?

- Deixo sim ué, mas só que tem o seguinte: – Se encostando sussurrou em seu ouvido. - Pra chegar lá, antes você vai ter que passar por aqui.

- Cuméquié?!?

No fim de semana, na roda de amigos que, por sinal, já vinham acompanhando à distância a novela, Manuel finalmente resolveu contar todo o drama que foi pra finalmente poder consumar o ato com aquela linda mulher há tanto tempo desejada. Quando chegou na parte do ultimato do marido dentro do banco ficaram todos pasmos do mesmo jeito que o rapaz já tinha ficado.

- Tá doido homem! E aí, tu enfiou a porrada nele? O que foi que você fez?

- Cumi ué.

- Como assim? Deixa eu entender: você tá me dizendo que foi pra cama com os dois e que comeu os dois? Marido e mulher?

- Cumi. – Falou encabulado.

As gargalhadas explodiram na mesa do bar, ainda mais por conta da evidente satisfação que Manuel ostentava. Era como um garoto traquinas que tinha conseguido ver a calcinha da Madre Superiora Diretora do Colégio. Entrementes, seu enigmático sorriso dava muito mais o que se pensar.

- Tá bom amigo, pela sua cara dá pra ver que o negócio foi bom mesmo hein? Agora, fala sério, cá entre nós: com qual dos dois você gostou mais de transar?

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