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sexta-feira, 24 de abril de 2009

Escreveu Não Leu, Antes Ele do Que Eu...

Ontem – 23 de abril - foi a data escolhida pela UNESCO, para as comemorações do dia internacional do livro e dos direitos do autor. Como Mestre de Cerimônias e Bibliotecário, participei do Primeiro Fórum em Defesa das Bibliotecas Escolares, realizado pelo Conselho Regional de Biblioteconomia do Espírito Santo, onde foi lançado um manifesto relativo ao assunto do fórum e discutiu-se, entre outras coisas, a necessidade do incentivo à leitura.


Eu gosto de escrever. Na verdade a afirmação mais correta seria: eu sofro de uma certa necessidade de escrever, mas confesso que nunca gostei do termo “válvula de escape” pra definir essa minha onda escrivinhatória. “Válvula de escape” dá idéia de coisa que a gente tem que colocar pra fora pra se aliviar... Isso mesmo que vocês estão pensando aí com suas mentes poluídas como a Praia de Camburi. E escrever é para mim o contrário: é como desenhar mapas de terras desconhecidas dentro da minha cabeça, dentro desse meu pequeno mundo.


Naturalmente, ler é uma coisa que também faço com frequencia e tenho até dificuldade em entender esse bloqueio que algumas pessoas têm para se abstrair através da leitura. Sempre que vou ao dentista, ao banco, ou algum lugar que existe a possibilidade de ficar tomando “chá de cadeira”, carrego comigo dois ou três livros que leio ao mesmo tempo como muitos tem o costume de fazer.


Minha necessidade de escrever vem da tentativa de entender coisas, racionalizar, como diriam os mais técnicos. É impossível dizer o quanto escrever, por exemplo, o Livro do Pó me ajudou a entender meu rito de passagem para a idade adulta, colocar meus erros e acontecimentos do passado em uma balança e medir seu peso real e o que os ecos desses fatos ainda ribombam de importante no presente. Escrever é um exercício de auto conhecimento e é sempre uma surpresa agradável descobrir que muitas pessoas convivem com problemas e encucações semelhantes.


O fórum me fez pensar em maneiras (estratégias?) de tentar despertar as pessoas para a importância da leitura e, sei lá por que, lembrei de uma expressão muito usada antigamente que era: escreveu, não leu, o pau comeu! Minha mãe nos falava muito isso em tom de ameaça, sem que a gente entendesse direito o que ela queria dizer, mas quem gosta de música sabe que o tom é o mais importante. Acabei associando a frase com os deveres de casa feitos de maneira desleixada, cheios de erros, e o desprazer de entrar na chinelada. Resolvi fuçar a Net atrás de explicações para esse dito popular:


“Cleópatra não queria mais saber de Marco Antônio que, apaixonado, escrevia cartas que ela não lia. Um dia o romano se encheu foi até seu palácio e deu um pau nela (no sentido de surra e sexual). Dizem que a imperatriz egípcia gostou tanto do expediente que nunca mais leu nada que seu amante escrevia, só para ele ter que ir sentar o pau nela oura vez!”


Simpatizei com essa explicação sabe? É uma forma interessante de apimentar a relação, mas certamente não incentiva a leitura, pelo contrário! O blog Entrevero surgiu com uma versão bem menos picante (nos dois sentidos), segundo o autor, saída de um livro antigo chamado Pelos Píncaros de Santa Rosa: Eita!


“Há muitos anos atrás (ops!) a única padaria da cidade era a do Léo (isso remonta o ano de 38). Como o movimento era grande, a freguesia tinha que deixar o pão reservado. Por isso a expressão certa é: Escreveu no Léo, pão comeu.”


Muito caretinha essa explicação, né não? E inverossímil também, não ajuda a divulgar a leitura, a não ser que a padaria do Léo distribuísse livros para as pessoas da fila. Falando nisso, gostaria de saber como foi o resultado daquele projeto de livros nos pontos de ônibus do Transcol. Não sei como as coisas funcionam nessas bibliotecas dentro dos terminais, mas a caixinha com livros que ficava no ponto aqui em frente de casa não durou uma semana. Ora, os vândalos também merecem ter acesso à informação, nem que seja para destruí-la. Mas não acho que esse tipo de iniciativa seja em vão: uma hora dessas os porcos podem muito bem descobrir o valor e o que fazer com as pérolas...

Um comentário:

Lucia disse...

Olá! Sou estudante de Biblioteconomia e gostei muito do seu blog.
Precisamos divulgar mais a leitura e todas as formas de divulgação são válidas, como o projeto de livros nos pontos de ônibus do Transcol. Projeto este, que deveria ser incentivado por toda a comunidade. Não se deve desistir do propósito de divulgação e de educação dos vândalos para a preservação do acervo, pois daqui a pouco, eles próprios poderão ser os defensores da leitura.