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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

MEU AGRIDOCE ADEUS À JULIA ROBERTS


Não sei porque cargas d’água estava eu vendo um pedacinho do programa da Xuxa em que Luana Piovani era entrevistada, muito bonitona e cada vez mais com cara de mulher madura. Ficaram as duas (apresentadora e convidada) naquela tradicional rasgação de seda, daí um participante da platéia perguntou pra “atriz” se em alguma ocasião ela teria ficado nervosa na hora de contracenar com um grande ator. La Piovanesca vem então e me cita o cada vez mais canastrão José Wilker. Disse que na novela em que trabalharam juntos, fazia o papel de filha do cara e que havia um texto de várias páginas para decorar. Contou que Wilker sentou, leu o texto, foi lá e fez a cena...


Tem ator da Globo que pensa que é Jack Nicholson e que já está tão inserido naquele feijão com arroz que nem se dá mais ao trabalho de criar um papel. Por essas e por outras, entra novela sai novela, as atuações são quase sempre insossas e sem graça. Dessa turma são muito poucos os que se salvam. Vide, num exemplo contrário, o show que deu a atriz Dira Paes no papel de Norminha. No meio televisivo parece que a coisa vai ficando automática e a maioria responde com interpretações negligentes, somente quem é mesmo do ramo trabalha para construir uma persona e naturalmente se sobressai, “rouba a cena” como eles mesmos dizem.


A atuação amadoresca e decorativa de Luana Piovani no filme “A Mulher Invisível” é outro exemplo grosseiro. Já que o roteiro requeria uma loira gostosa que ficasse de lingerie erótica o filme inteiro, pra quê dar falas para ela também? É pedir demais né seu diretor? A “interpretação” de Luana é tão recitadinha que me lembrou os tempos de teatro amador no segundo grau, não faz uma pausa para respirar, o diálogo não tem vida, coisa mais sem graça para uma mulher linda como a Vênus de Boticelli. O que salva o filme - não inteiramente - é a interpretação de Selton Mello e o fato de Paulo Betti ter ficado quietinho na dele, sé é que vocês me entendem.



Durante a entrevista com a Xuxa, Luana contou de um mico em que estava desfilando com um cachorro e o bicho fez cocô na passarela, daí lembrei de minhas crises de riso, coisa também conhecida por aí como ataque de bobeira. Tive algumas muito chatas, como a que narro a seguir:


Num domingo eu estava voltando da praia e lavava a velha Brasília na garagem de casa, coisa que devo ter feito duas vezes a vida inteira, quando tocou o telefone avisando do falecimento de um amigo num daqueles acidentes de carro das madrugadas alcoólicas hoje tão combatidas. No dia seguinte foi o enterro e toda aquela comoção que marca o dramático desaparecimento das pessoas jovens.


Meu amigo Berry, o ligeirinho, estava de caso com o acaso em cartas de Tarot, mais precisamente com a irmã desse amigo nosso falecido e, logo depois do enterro, me chamou para dar uma passada no hospital e pagar uma visita pra moça que estava, obviamente, ferida e muito abalada. O sacana do Ligeirinho - ou Speedy Gonzáles se preferirem - era um dos caras mais certinhos e neuras que já conheci, levava a vida pelo manual, sabe como é? Eu sempre fui a esculhambação em pessoa e de vez em quando nossas criações muito diferentes faziam soltar faíscas estremecendo nossa amizade, mas o atrito é bom, do atrito vem o fogo, Nero queimou Roma e jogou a culpa nos cristãos...


Fazia um calor do cacete naquele final de manhã e Berry estava em jejum, eu sabia lá desses detalhes! Fumava um cigarro atrás do outro e parava pra tomar café em toda birosca que encontrava. Na hora que chegamos não conseguimos visitar a irmã de nosso amigo, para não perder a viagem fomos ver como estava a melhor amiga dela, uma linda menina que eu mesmo, com minhas doideiras capixabescas, tinha apelidado de Julia Roberts. No início da noite de sábado eu havia encontrado as duas amigas na Cachaçaria do Tremendão, arrumadíssimas para a tal da festa, o acidente aconteceu na volta. Foi um choque ver a moça ferida com hematomas no rosto e escoriações, um puta contraste com aquela noite em que estavam as duas lindas, alegres e exuberantes.


Nos colocamos ao lado de seu leito hospitalar, Julia Roberts parecia contente de nos ver e a fim de conversar, contou detalhes do que lembrava do acidente, falou da desorientação e do tempo levou para entender o que tinha acontecido. Estávamos os dois de pé ao seu lado, nesse meio tempo notei que Berry estava adernando que nem nau à deriva. Sem dar tempo de pensar, nem chance de reação, o cara afundou de cara na barriga da menina. Fiquei espantado e continuei sem ação, nos entreolhamos e ela falou: o que está acontecendo? Peguei meu amigo pelos cabelos e levantando sua cabeça falei: Berry, você pirou cara? Ele nem me respondeu, seus olhos estavam fora de órbita, virados lá pra trás, o Ligeirinho tinha sofrido um apagão!


Com dificuldade arrastei seu corpo mariamolente até uma poltroninha de visitas, Julia Roberts estava catatônica em cima da cama, a perna imobilizada por uma daquelas amarrações ortopédicas. Estávamos num hospital, mas o gênio aqui ao invés de pedir ajuda, disparou bofetadas na cara desmaiada do Ligeirinho: Plaft! Nesse meio tempo começou a juntar gente, a porta do quarto estava aberta, ou talvez a paciente tenha pedido socorro a alguém, não me lembro mais. Plaft!! O dia virou noite, o sol foi pro além, eu preciso de alguém! Plaft!!! O terceiro bofete finalmente fez efeito. Berry piscou os olhos e me fitou surpreso: Ué cara o quê foi que aconteceu?


Você desmaiou Berry! – Imediatamente me veio a crise de riso, do nada, inexplicável - e o que é pior - imparável (sic). Surgiram aquelas senhoras expeditas (íça!) oferecendo água gelada e suco de laranja. “Tadinho, ele desmaiou”. Tem horas em que esse tipo de solidariedade acaba soando mais como curiosidade mórbida e aumenta o embaraço. Era como se as pessoas esperassem alguma declaração bombástica que finalmente alterasse o tédio de suas existências, como se meu amigo dissesse dramaticamente olhando para as câmeras: estou grávido! Berry piscava os olhos entre surpreso e assustado, aquela auto-rebelião não estava no manual!


Eu seguia rindo que nem um doido, as gargalhadas jorravam estrepitosas, era preciso abandonar o local, antes que fosse mal interpretado, afinal, um grande amigo tinha morrido, as meninas estavam hospitalizadas, Berry tinha “passado mal” e eu estava rindo do quê porra?! Acenei um vergonhoso e risonho adeus à Julia Roberts e saí quase correndo pelo corredor, o Ligeirinho vinha logo atrás tentando me cobrir de porrada: para de rir porra! Para de rir seu mané!! - Não sei dizer o que me fez rir daquele jeito, foi só o “nervoso” me explicaram depois, ou talvez a cena do Ligeirinho caindo por cima da menina tenha me lembrado o filme “Corra que a Polícia vem aí”, sei lá. Foi uma armadilha de minha psique como diriam os “psis” ou simplesmente uma prova de que sou humano, e como estes: às vezes muito doido.


4 comentários:

Anônimo disse...

Não sou o Freud, mas arriscaria dizer que esse seu ataque de risos não tem nada a ver com "armadilha de sua psique" ou "prova que vc é humano" ou "nervosismo". Isso pra mim é puro e simplesmente flashback de "docinho"...

Abs,

Bb...

Anônimo disse...

Muito boa, Juca!! Parabéns!!!!

Mary Bachour

Anônimo disse...

hahahahaha
Pô, Juca... essa história é realmente sensacional!!!
Mas contada por você, como fez aqui, ficou ainda melhor!

Muito bem escrito. Parabéns.
E você se lembrou de todos os detalhes daquele dia!

Eu, por motivos óbvios, não me lembro de tudo...
...mas lembro da última "porrada" na cara que me trouxe de volta do apagão e do seu acesso de riso no corredor.

coisas da vida.

grande abraço,

ass: barry

Anônimo disse...

Juca,

Mesmo depois de 17 anos posso me lembrar como se fosse ontem do episódio narrado por você. Foi tudo muito engraçado mesmo, tirando o susto que me lembro de ter levado qdo o Berry praticamente fez a minha barriga de travesseiro. No mínimo, inusitado!

Parabéns pelo blog.

Abraços, Julia Roberts.