Páginas

sexta-feira, 2 de abril de 2010

RODA, RODA, RODA E ANVISA! DOIS MINUTOS PARA O COMERCIAL ELEITORAL


Porque, se em lenho verde fazem isto, que será no lenho seco?

Lucas 31


O sonho de menina dela era comprar um carro pra chamar de seu, o chamado carro zero. Juntou dinheiro, trabalhou duro, mas ainda faltava um bocado de bufunfa pra chegar onde queria. Fuçando daqui e de lá foi aconselhada pelos economistas de plantão a fazer um consórcio e com aquela grana amealhada dar o lance. Eis aí a ponte entre o sonho e a realidade. Na primeira assembléia um maluco deu um lance maior que o seu, na segunda empatou com outro cara e perdeu no sorteio, coisas da vida.


Aquela semana começou infernal, o calor inclusive: era novamente deadline de entrega de projetos, mais o trabalho regular como professor, fora os bicos que me obrigavam a trajar terno o dia inteiro. Não fora a estufa, nada de mais: peguei um trampo que ia de segunda a quarta o dia inteiro e tinha ainda as aulas de noite. Na segunda-feira o negócio demorou, era para ter acabado 18 horas. Quando já era sete da noite fui conversar com meu contratante, não podia ficar nem mais um minuto sequer. Saí de lá que nem um doido. Precisava pegar o carro e vazar para começar a queimar o óleo da meia-noite, veio a notícia pelo celular:


- O carro quebrou! Eu pelejei com ele o dia inteiro e agora ele nem liga. – O fato dela dizer que havia “pelejado com o carro” me deixou preocupado, mas não quis entrar no mérito da discussão sem constatar a real situação do infeliz... Bateria arriada, mistério configurado: fazer o quê àquela hora da noite? Saí que nem um doido de terno e gravata mesmo atrás de um buzão, quando cheguei na universidade faltavam dez minutos para minha aula começar, peguei o finalzinho da festa de recepção aos calouros...


No dia seguinte a maratona seguia impávida, procurei a garantia da bateria e o telefone do cara que me vendeu e consegui usar a hora do almoço para levar o carro ao conserto, passei a sobreviver às custas de coffe-break. A ventoinha tinha dado um tilt e o cebolão não era sopa. De antemão falei que precisaria sair no horário previamente combinado, felizmente a oficina mecânica ficava três quadras de onde estávamos. O mistério continuava, nada de solução para a ventoinha desembestada. Seis da tarde vazo para a universidade com minha mulher de carona e orientações para retirar um fusível e voltar com o carro no dia seguinte: toca o celular dela:


- Como assim advogado? O que é que está acontecendo? – A Agência Nacional da Vigilância Sanitária - Anvisa tinha baixado com a Polícia Federal e a imprensa à tiracolo na lojinha de produtos naturais do cunhadão e estava apreendendo todas as mercadorias, todo o trabalho suado dos últimos anos, mas o pior ainda estava por vir: levaram todo mundo preso! Demoramos um tempo a entender a real dimensão dessa confusão, mesmo porquê parecia que tínhamos entrado num filme de Felini com roteiro de Kafka.


No dia seguinte vimos incrédulos a confa toda na televisão, uma cobertura até respeitosa feita logo cedo pela Rede Gazeta. Só que o delegado - somente a titulo de curiosidade Feliniana e não mórbida: um anão - havia decretado a prisão de marido, esposa e um colega, sem direito a fiança, crime hediondo. Hô yeah! Boris ... E o carro ainda estava com a ventoinha disparada. Não conseguíamos acreditar em tamanho absurdo. De todos meus cunhados, aquele é o mais careta, evangélico, não bebe, não fuma e nem come carne. Como é que pode estar preso no DPJ de Vila Velha, onde cabem trinta pessoas e tem cento e cinqüenta?


Mas o delegado decretou a prisão em flagrante, passaram aquela noite algemados, humilhados e foram por fim encarcerados sem direito a fiança com todo o tipo de bandidos. Pessoas de bem que dedicaram a vida inteira à religião e não ofereciam risco nenhuma à sociedade, acusados de crime hediondo por conta de alguns produtos naturais que eram vendidos com aqueles dizeres: bom pra isso, bom pra aquilo. Gente eu não estou mentindo não, isso aconteceu. E sabe o que é pior? A maior parte da mídia embarcou sem nem ouvir o outro lado, aquele dentuço mesmo do programa Balanço Geral ficou lá gritando: cadeia neles! Bom, cada sociedade tem seus Ratinhos e Datenas que merecem.


O deadline do projeto era na sexta e a quinta-feira foi de total correria para tentar libertar aquela família, sabe-se lá o que poderia acontecer com eles dentro da cadeia. Some-se a isso que seus filhinhos, uma menina de seis anos e um menino de dois vieram ficar conosco. As crianças estavam apavoradas com o súbito desaparecimento dos pais, vigiavam uma a outra como se tivessem medo de mais alguém desaparecer do nada. E procure-se advogados para o caso, teve um que pediu setenta mil, outros ponderaram que um mais efetivo custaria por volta de vinte e cinco. Era como um seqüestro, resgate estipulado para a liberdade!


Não sei exatamente em que dia da confusão veio a notícia: o sujeito do lance empatado tinha furado. Ela havia sido contemplada! O carro zero era um sonho que se materializava no meio daquele furacão e foi enfiado no décimo oitavo escaninho até segunda ordem. Eu tinha duas palestras para apresentar naquela quinta-feira, sendo que uma eu nem havia ainda organizado nada. Passei a manhã inteira escrevendo e montando um data show, enquanto os amigos e familiares corriam entre cartórios e fóruns de cinco cidades atrás de certidões que comprovam a idoneidade do que para nós era o óbvio ululante.


E a Anvisa? Ficou bem na fita não é? Defendeu os frascos e os comprimidos com sua operação “Erva Daninha”. Apareceram na televisão, deram entrevistas, mostraram serviço. Nas costas sabem de quem? Sim, do cidadão idôneo, daquele trabalhador indefeso que não oferece perigo nem resistência, que está ali pagando impostos e lutando pelo pão de cada dia. Esses são bons de se achacar! Cadeia neles! O que será que os vizinhos e amigos não tão chegados estariam pensado de toda essa confusão? Ora, pensamos o pior porque tememos o pior também. Julgamos mal para nos sentirmos melhor.


O projeto foi entregue no apagar das luzes, sabe-se-lá como, mas foi. Meus cunhados só ganharam a liberdade na terça de noite, exatamente uma semana depois da confusão começar. E a Anvisa? Continuou sua turnê por aqui fechando farmácias, drogarias e laboratórios como se fossem bocas-de-fumo. Baixou até na Vila Rubim, curiosamente ali não prendeu ninguém e olha que tem erva por lá que até Deus duvida.


No final me deu uma puta revolta e até medo de ser brasileiro, de constatar assustado que a hipocrisia de meia dúzia pode solapar impunemente a liberdade e a dignidade de gente do bem como eu e como você. Se queriam fazer demagogia em ano de eleição - O QUE SUSPEITAMOS - deram um tiro de canhão no pé. Nesta situação que está aí eu não voto nem para síndico da Casa do Chapéu. Aliás, eles é que deveriam ir presos. Cadeia neles! Cadeia Neles!!!


Amigos se alguém por aí tiver o email do presidente Lula, da Dilma, do Ministro da Saúde e do rapaz do Balanço Geral, façam o favor de reenviar essa mensagem para eles. Ou melhor ainda: reenviem para todo mundo do mundo. Não é nada, não é nada, mas uma hora a gente vai sanar essa injustiça!

3 comentários:

Anônimo disse...

É professor, meu saudoso pai dizia: " O cavaco não cai longe do pau". Ainda bem que hoje podemos
expressar "quase" tudo que pensamos ou sentimos. Vamos repassando sua bronca.

Boa Páscoa!
Luzia

Anônimo disse...

Mais um criativo, ainda que triste, dos seus brilhantes causos.
Fazer barulho é com a gente mesmo, afinal de contas, somos da geração do psicodelismo, do balão mágico, do rock´n roll, antes e depois da ditadura... e por causa disso, aprendi que fazer barulho, além de nos satisfazer, satisfaz a "eles" também, portanto não funciona muito bem.
O negócio é continuar acreditando em Deus e esperar o fim deste BBB, para ver quando estes vilões irão para o paredão.
Da próxima vez, ao invés de esperar a história acabar para escrever sobre ela, consulte os amigos, a gente sempre tem um amigo delegado, advogado, pistoleiro... enfim, amigo é pra essas coisas mesmo.

Happy Easter my friend!

BB

Anônimo disse...

Ei juca..tenho lido alguns textos que você envia, e queria lhe dizer que gosto muito do seu estilo de escrever..bom mesmo!! Bjs e parabéns!! Reenvio para amigos tb...

Patrícia. B.