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sexta-feira, 7 de maio de 2010

OS SUPER-HERÓIS MORRERAM DE OVERDOSE!


Sempre adorei revistas em quadrinhos, até hoje gosto, é por causa de caras como eu que o universo de quadrinhos para adultos, as chamadas graphic novels, floresceu. Faz tempo que não paro para ler uma destas revistas, mas sempre fico antenado em lançamentos e nas novidades que aparecem pelo mundo. Curiosamente duas produções foram feitas num curto espaço de tempo tendo o universo dos heróis dos quadrinhos como fio condutor de ação no mundo dos trouxas, se liga então no que está rolando por aí: Defendor (2009) e Kick Ass – Quebrando Tudo (2010).

Essa coisa de super-heróis é invenção dos gringos americanos, porém, vale lembrar que muito antes, lá na Grécia, já havia heróis e semideuses tão poderosos, invencíveis e valentes que entrariam facinho pra escola do professor Xavier. Com os gringos veio a estética dos super poderes e das cuecas por cima das roupas, encantando e influenciando várias gerações de super-frustrados, heróis do cotidiano. Ali perto do Suvaco da Perua mesmo tinha um senhorzinho que – nunca vi, só ouvi dizer – tinha o costume de vestir uma fantasia de super-homem e correr que nem doido pela rua, constrangendo familiares e amigos e, na mesma proporção, divertindo o resto da incrédula vizinhança.


Como fã do gênero, obviamente, eu também sonhava em me tornar o verdadeiro Super-Juca, infelizmente meus misteriosos poderes nunca se manifestaram completamente deixando como marcas em minha infância buracos em telhados de zinco e escoriações leves nas inúmeras tentativas de vencer as forças da teimosa Lei da Gravidade que acabavam me atraindo para o chão, nem sempre de maneira delicada. Pena que os políticos não conseguiram revogar a referida Lei, embora a hipótese fosse até cogitada em sessão ordinária da Câmara Municipal de Colatina, o maestro Adolfo que me corrija se estiver errado, por ocasião da construção de uma ponte sobre o Rio Doce ou o raio que o parta.


Bom, no mundo real, super-heróis não temos: mas vilão e bandido tem saindo pelo ladrão, com o perdão do trocadilho; daí germinaram os argumentos das duas produções mencionadas acima. Defendor – um filme canadense do ano passado – tem sido considerado comédia, porém, é um drama com muita ação e situações engraçadas. Foi difícil arrumar quem bancasse a parada justamente por ser uma história que transcende os gêneros e que poderia causar mais estranheza do que bilheteria - o que de fato aconteceu, mas é muito melhor do que a maioria da safra do ano passado.



Em Defendor temos um homem atormentado pelo passado e por uma incerta “condição especial” – Woody Harrelson, muito bem como sempre – que inventa ser um super-herói e vive inúmeras aventuras tentando combater um suposto arqui-inimigo. É uma história singela e doce, contada de maneira bem-humorada e talvez por isso venha ganhando o rótulo de comédia, mas a saga de Defendor é muito mais e a maior prova disso é o surgimento agora do blockbuster chamado Kick Ass que vem liderando as bilheterias na terra gringa, a previsão de lançamento por acá é 11 de junho, mesmo dia da abertura da copa do mundo 2010.



Kick Ass é baseado em uma graphic novel, mas parece um Defendor voltado para o grande público, especialmente as crianças e adolescentes modernos, mas não pensem que isso o diminui, muito pelo contrário. A produção escancara com gosto o cotidiano dos teens atuais, é de arrepiar os cabelos de quem ainda cultiva aquela visão careta do que seria uma obra “própria para jovens” no século passado, tem cenas de sexo, caminhões de palavrões e toneladas de violência em diversos formatos. A história empolga e convence mesmo tendo como protagonista um improvável adolescente nerd que entra numa de ser um herói de verdade, sem voar, ser invencível nas artes marciais e muito menos comer a Mulher Maravilha.


Fico pensando nas razões dos gringos teimarem em desejar ser e seguirem criando novos heróis, desde o Superman, acho que o mais antigo deles, até o Kick Ass, talvez o mais humano que surgiu até agora. Da mesma maneira percebo que este fenômeno não se repetiu pelo mundo, pelo menos não com o sucesso dos americanos, basta olharmos para o nosso próprio território. O mais próximo que chegamos de um herói nacional foi o Macunaíma – Herói de Nossa Gente – de trajetória crítica, que logo descamba em paródia e gozação de si mesmo e de nós todos. Talvez isso aconteça porque tentamos proteger nossas tristes identidades secretas com uma “máscara de alegria” ou talvez porque desejamos simplesmente não nos levar tão a sério como os americanos, ciosos de suas riquezas acumuladas e belicosos na hora de resguardar a propriedade privada.


Diferente dos ricos americanos é possível que em sua penúria o povo brasileiro tenha optado em se abstrair da dura realidade pela via do ridículo e não do patriotismo bélico. Ao invés de se imaginar quebrando vilões na porrada o povo brasileiro prefere troçar deles, sambar na cara do adversário e desfilar cantando em uma avenida iluminada enquanto o resto do mundo desaba. O problema é que tem hora em que é preciso dar uma de herói e se virar, nesse momento é que “cai a ficha” de nossos dilemas: quem somos nós e o que queremos como povo? Quem são os nossos heróis verdadeiros e em quem podemos confiar? E, mais importante de tudo: como vamos derrotar os nossos vilões? Vamos pensando amigos, temos até as próximas eleições para manifestarmos nosso “super” poder do voto, mas não custa nada lembrar a frase aracnídea: “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”.


Ainda sobre a expressão “cai a ficha”, estava assistindo ontem ao segundo DVD da Terça Insana e a Grace Gianoukas, mentora da idéia, em uma de suas aparições lembrou que os orelhões antigamente funcionavam com fichinhas de metal, parecidas, aliás, com as dos também obsoletos fliperamas. Curioso ter que explicar isso hoje em dia, porque o pessoal na faixa dos vinte anos não viveu essa época e de repente fala a frase sem saber de onde vem o significado, então, supondo que algum jovem se deu ao trabalho de ler até aqui, explico: antigamente os telefones públicos funcionavam com umas fichinhas de metal, que caiam fazendo “tlin!” quando o bicho completava a ligação, bom, isso quando você conseguia encontrar um orelhão que funcionasse ou uma cabine telefônica em que o Superman não estivesse trocando de figurino. Caiu a ficha, hein? Bunita!


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