Páginas

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

DE GENTE QUE FAZ CARROS QUE GOSTAM DE PESSOAS


Qual é a parte mais feia do seu corpo?
Uns dizem que é seu tornozelo
Outros que é o seu nariz
Mas Eu acho que é a sua mente.

Frank Zappa

Alguém aí já assistiu ao filme “Histórias Verdadeiras”? Foi dirigido e concebido por David Byrne da banda Talking Heads, reza a lenda que, a partir de histórias bizarras encontradas em revistas e jornais e colecionadas ao longo dos anos dentro de uma caixa de sapatos. Eu tenho costume de fazer coisa semelhante, só que guardo em uma hoje abarrotada caixa de camisa social da marca “Presidium” para ser bem capixaba.

O filme foi lançado em 1986 e trouxe a reboque uma série de canções de sucesso como Wild Wild Life e Love For Sale. É considerada uma história estranha pela maioria dos “críticos de cinema”, mas eu adoro o senso crítico e o humor ácido que permeia a produção. Do meio pro final rola um “show de talentos sob as estrelas” que começa com o mestre de cerimônias contando a seguinte historinha...

“Na época da criação do mundo Deus estava fazendo o Texas, se esforçando para que ele fosse tão bonito como os outros lugares do planeta. Então anoiteceu e Deus disse: “Amanhã eu volto e termino o trabalho colocando rios, lagos, montanhas e árvores”. Porém, no dia seguinte o chão estava duro como cimento e Deus não se animou a começar tudo de novo, em sua infinita sabedoria falou: “Já sei o que fazer: vou criar pessoas que gostem desse lugar exatamente do jeito que ele é”.

Esse é o princípio do conformismo, aquela idéia pragmática - e um tanto perversa - que surgiu para adaptar o sujeito a uma determinada realidade de maneira que possa ser produtivo e útil para seu grupo social. Ah sim: e quem sabe “ser feliz”.

Existe uma piada famosa sobre esse assunto, acho que a ouvi nas épocas da faculdade, quando estudei psicologia social:

“Um sujeito sofria de incontinência e vivia passando vexames se borrando todo em lugares públicos. Tentou várias formas de solucionar o problema: tomou remédio, fez acupuntura, hipnose, só não usou fralda. Nada adiantava. Um dia foi recomendado por um amigo a um psicólogo que resolvia qualquer parada. Passadas algumas semanas encontrou o amigo e curioso este perguntou:

- Como foi lá com o psicólogo?

- Hi rapaz foi uma maravilha! Tenho muito que te agradecer! – Daí o amigo baixou a voz e perguntou curioso, quase como em segredo:

- Quer dizer que agora você não está se cagando mais?

- Estou sim, to sim. Só que agora eu não estou nem aí...

Sabe por que lembrei dessas histórias verdadeiras? É que tem uma propaganda de carro passando na tevê, e como tem destas, que tem uma frase bem tola assim: “porque pessoas que gostam de carros vão saber que existe gente que faz carros que gostam de pessoas”. O autor da façanha deve ter assistido ao filme do Byrne também... E devia ser processado. Não por plágio, mas pelo "criativoso" uso - e abuso - do mau gosto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Juca!
Adorei a crônica. Ela me fez refletir que quem corre atrás do supérfulo contraditoriamente passa pela vida contentando-se com bem pouco, porque não tem olhos para enxergar o tesouro que "os ladrões não roubam, a traça não destroi e a ferrugem não consome".
Obrigada pela leitura!

Alzinete