Páginas

domingo, 17 de abril de 2011

CRÔNICA DE DOMINGO


Vínhamos atravessando a rua, era de noite, naquele pedaço movimentado onde agora tem um novo Habib’s. quando estávamos quase do outro lado um Santanão veio acelerando em nossa direção. Apressamos o passo, mas não corremos, o carro passou raspando e o motorista latiu ou relinchou em nossa direção: “aqui não tem faixa não!”

Ele não estava se justificando por querer nos atropelar, a intenção era dar uma lição de trânsito e civilidade. Muita gente anda pelo mundo com essas boas intenções. Falam, muito alterados que se a pessoa não teve educação em casa vai ter na rua. Por educação eles entendem isso: violência gratuita, ministrada aos berros pela rua. Educação e agressão viram a mesma coisa.

Tudo bem que naquele pedaço idiota de rua, tão próximo de onde a pobre Araceli foi morta, não tem faixa de pedestres, mas será que só por isso ficou instituido o atropelamento? Ou, ainda que não tenha nos atropelado e que esse não fosse a intenção, qual a mensagem aquele motorista queria passar? Será que por estarmos teoricamente “errados” isso dá direito de uma pessoa nos jogar o carro e soltar os bichos em cima de quem nem se conhece?

Essa é a nossa educação. Essa é a civilização que construímos para as gerações futuras. Um mundo competitivo, que valoriza as regras e não as pessoas. No mundo não existem demônios, há apenas aqueles que os dão ouvidos, os fracos de espírito.

Numa hora dessas em que somos confrontados com a violência gratuita e não reagimos, a não ser com perplexidade, uma vozinha começa a buzinar por dentro da cabeça: "você devia ter sentado o pé no carro daquele babaca!" Confesso que realmente ouvi essa sugestão bizarra, como um pensamento meu, porque me sentia realmente aviltado por dentro.

Um fraco de espírito daria ouvido àquela vozinha, existem inúmeras destas que se divertem em semear confusão, e dor, e violência. Já vi pessoas rindo perante o sofrimento alheio, abrem o jornal na página policial e ficam comentando e rindo. Para isso aprenderam a ler? Outro dia achei um trecho de Salomão que me lembrou essa ocasião:

“dos que deixam as veredas da retidão, para andarem pelos caminhos das trevas; que se alegram de fazer o mal, folgam com a perversidade dos maus, seguem veredas tortuosas e se desviam de seus caminhos;”                           Provérbios 2, 13-15.


A educação não começa em casa, começa no coração. O que será que há de bom dentro dele? Do meu, do seu e do resto do mundo?

4 comentários:

Demorô... Partiu! disse...

Nessas horas que nossa grandeza de espírito é testada. Quantas vezes já tive vontade de atirar uma pedra em motoristas tão educados quante esse que você teve o desprazer de encontrar. Estamos tão cercados pelo mal, que a tentação de combatê-lo também com o mal, é grande.
Por isso, agradeço pela citação de Salomão. Voltarei a ler Provérbios =)

E tou pra te falar que cavalos e cães estão muito acima de certos seres que se consideram humanos. Tá tenso!
Bom domingo!

Anônimo disse...

Beleza Juca, mesmo que não consigamos uma solução imediata, um bom questionamento já sinaliza o inicio de um novo tempo.....Bom final de domingo....Abs Mario.

Unknown disse...

Bom dia...
Muito boa sua crônica de domingo se não fosse tão trágica, meu caro Juca. Ler sobre essas questões chega a causar um mal-estar, uma inquietação. Que ponto chegamos. Que sociedade é essa? Seres humanos?
Realmente, quantas vezes essa vozinha se faz presente em nós... ainda bem que temos um superego estruturado para não fazer besteira nestas horas (superego construído principalmente pelos valores herdados de nossos pais)... devemos acreditar na bondade e "semear esperança"!!!

Um abraço e boa semana,

Rico

Anônimo disse...

Juca!

Muito boa suas afirmativas! Bravíssimo!

Concordo em tudo, já passei por tudo isso!


Grande abraço!

Leonardo