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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

HÁ TEMPOS NÃO ERA TANTO AGOSTO ASSIM



Ontem, de manhã eu vinha caminhado para o trabalho, estava um dia bonito com o céu bem azul e o sol aquecendo minhas costas, tive a impressão que algo estava brilhando e reluzindo que nem ouro à minha volta. As árvores, suas copas verdes um pouco enegrecidas pela poluição, carros passando, pessoas se exercitando; os flanelinhas muito falantes, fumantes e marrentos carregando baldes e ouvindo forró.

Quando alcancei a reta onde as castanheiras se emparelham na calçada e formam um longo corredor pensei que um dia bonito desses dá uma sensação danada de estar vivo. Pensei assim mesmo: a sensação de estar vivo é essa que estou sentindo agora, com o sol batendo em minhas costas e o vento lançando faíscas douradas no céu. Então lembrei que o ator Robin Williams morreu.

Como pode eu, um cara no cafundó de um país altamente banana, nessa linda manhã de sol estar matutando o suicídio de um ator de Hollywood? Lugar tão distante e mitológico quanto Shangrilá ou Avalon? É que Robin fez um dos filmes que eu mais amo. Ademais, escrevi sobre suicídio semana passada e, para comprovar o que eu disse, o cara não precisou do vão central da Terceira Ponte para abandonar o barco.

 
A minha atuação favorita de Robin Williams foi o mendigo Parry no filme O Pescador de Ilusões, obra prima de Terry Gilliam se quiserem saber minha opinião. O filme é uma adaptação da lenda do Rei Pescador, um Parsifal para os nossos tempos. Li em algum lugar que as interpretações loucas e engajadas de Williams eram regadas à birita e cocaína, mas para mim não faz a menor diferença. A arte não pode ter limitações, emburramentações, mas não ter limites no day by day é um problema na vida. Não podemos confundir uma coisa com a outra. Por outro lado, nunca fui ator, muito menos um ator famoso, nem sei se Hollywood é um lugar que existe de verdade.

Tem cimento áspero que nem lixa embaixo dos meus pés no agradável corredor de castanheiras... Alguém pichou TEG no muro do campo do Vitória...

O sol lambe minhas costas e pessoas estranhas me cumprimentam como se me conhecessem, cheguei onde devia e usei a voz mais bacana e calorosa que consegui. Eu sei que Robin não era o Parry, mas acho que deve ter agora um monte daqueles little people à sua volta cheios de razões para celebrar sua chegada sei-lá-aonde e sei também que nem sempre esse sol vai continuar a brilhar, mas...

Enquanto eu escrevia essas impressões rarefeitas o avião de Eduardo Campos caia na cidade de Santos, só fiquei sabendo quando saí para almoçar, logo seríamos tsunamizados pelos detalhes da notícia escabrosa. Descobri meio perplexo que nascemos no mesmo ano, não-sei-por-que sempre acho que as pessoas importantes são mais velhas que eu.

 
Terminei essa história ensolarada e viva com a chegada de uma frente fria e com a impressão de que há tempos não era tão agosto assim...

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