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terça-feira, 16 de setembro de 2008

A SOLIDÃO VERSUS O PODER AQUISITIVO

Uma amiga sugere falar sobre a falta de opção de lazer e diversão na Grande Vitória para as pessoas de idade intermediária - aquela turma pra lá dos trinta e tantos e abaixo dos cinqüenta e pouco. O mercado para os “adultos jovens” é realmente muito restrito: estamos fora do circuito dos grandes shows (sobretudo internacionais), peças de teatro, lançamentos literários, filmes (Cadê “Linha de Passe”, o novo de Walter Salles e Daniela Thomas, lançado no último 05 de setembro?) etc. Sem falar que não temos aqui nenhuma casa de shows em que se pague um preço razoável para assistir a uma apresentação com conforto e tranqüilidade.

Vivemos hoje uma situação injusta: temos os principais problemas das grandes cidades com mais de um milhão de habitantes: engarrafamentos constantes, violência urbana, muita poluição; sem a contrapartida cultural que vemos nos grandes centros que nos circundam. Até quando o principal palco local (Ginásio Álvares Cabral) vai ter aquela acústica embolada? Não existe por aqui um teatro que acomode mais duas mil pessoas, o que inviabiliza as grandes produções, falando nisso: quem foi que classificou aquele auditório da UFES como Teatro?
Mas uma das principais queixas dos adultos jovens é que na noite local não se tem lugares de referência, bares de happy hour e coisas do gênero. Sair pros “Embalos de Sábado a Noite” é cair no domínio dessa linda juventude que classifica como “Tio” qualquer um acima de trinta e poucos anos. Se o cara for gastador e boa companhia, será tachado de “coroa gente boa”, mas se resolver “paquerar” as menininhas achando (e como tem cara que acredita) que elas adoram os homens mais velhos ganha logo a alcunha de “Tio Sukita”, “Velho Babão”, ou coisa pior. Os adultos que vemos pela noite geralmente estão trabalhando.
Outro dia ouvi uma definição engraçada pro pessoal da “meia idade”: eles (nós?) seriam os “semi-novos”... Tem coisa pior que um eufemismo? Ser comparado com um cacareco enferrujado que fica mais caro consertar do que mandar pro desmonte? Se é assim com os adultos jovens, imagina o que passa a galera que já desceu a ladeira mesmo. Mas é aí que eu quero entrar no assunto:
Como os ditos “idosos do agito” - esses delinqüentes senis - os semi-novos descasados que se aventuram à caça nas noitadas não representam uma parte significativa da sociedade. Mas, diferente dos primeiros, estes ainda não conseguiram se organizar em associações e clubes de seresta dançante para alavancar suas paqueras. Talvez pela falta do tempo para se articular que a aposentadoria proporciona à coroada, o jovem adulto tem que amargar a desorientação das noitadas em meio à gurizada e com razão reclama. Mas ai é que retorno ao ponto inicial da questão:
Os semi-novos são os principais representantes da força de trabalho em nossa comunidade, eles é que pegam no batente logo cedo, arcam com as responsabilidades no trabalho e no lar e não podem - e se puderem não agüentam -, ficar virando noite atrás de ilusões que se dissiparam quinze anos atrás. Como é o mercado que regula suas prosopopéias de oferta e procura, os grupos restritos têm que agüentar o preconceito, a indiferença e, o que é pior, gastam lá a sua grana sem ter o retorno desejado. E esse é um detalhe interessante:
O nosso país é injusto com a espremida classe trabalhadora, tanto que nem preciso ficar falando aqui. Então uma pessoa destas, que sabe muito bem o quanto é difícil ganhar dinheiro, sai pra noite e se depara com ingressos caros, filas para entrar, para comprar uma bebida, para ir ao banheiro e, especialmente, para conseguir sair. E se reclamar a culpa vai ser de sua dureza e incompetência pra se freqüentar. Afinal, a diversão dos esnobes e endinheirados é pagar mil dólares numa garrafa de vinho que em muito pouco tempo vai virar xixi! E pensar que são essas as pessoas que sabem ganhar e investir dinheiro...
Mas isso é o mercado de consumo obrigando as pessoas a comprar coisas que elas não precisam, para aparentar ser algo que não são e no final ficarem sem poder ter o que realmente querem (citação livre do filme “Clube da Luta”). Sim, porque no final quase tudo passa pela solidão versus poder aquisitivo. Não tem clima romântico que resista a um programa a bordo de Transcol lotado e cineminha em Laranjeiras. Pior é o caso das mulheres que tem a manutenção alta e gastam horrores com roupas, maquiagens, perfumes, cremes, salão de beleza, o diabo a quatro, se endividam, se enrolam e no final caem nas mãos de um cara que pensou que estava pegando uma grãnfina e dá no pé assim que descobre que ali tem muito mais problema do que solução.
Fico então me perguntando se toda essa situação acontece porque, apesar de todo o desenvolvimento aparente, a sociedade capixaba ainda não tem um conjunto de pessoas com poder aquisitivo significativo o suficiente para fomentar investimentos nas principais áreas culturais ou se os anos de estagnação local ainda não proporcionaram surgir uma nova mentalidade entre os promotores de evento para que apareçam opções alternativas de diversão e entretenimento. Porque do jeito que está vale repetir a pergunta do escritor Aldous Huxley: quem é que realmente se diverte hoje em dia nos lugares de diversão?

2 comentários:

Pedro Simão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Simão disse...

Eh, meu caro, a "meia-idade" é, na verdade, a idade média. Escuridão. Fique aí com um bom conselho bíblico, que fará frente às suas aflições, conduzindo à verdadeira paz o seu espírito de semi-novo: "Eu disse a mim mesmo: venha. Experimente a alegria. Descubra as coisas boas da vida! Mas isso também se revelou inútil" – Eclesiastes 2.1. (pra dizer a verdade, eu prefiro a tradução livre adotada pela Rita Lee: "...Tudo vira bosta...".)
hehehe

Pedro Simão