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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

VOX POPULI VOX MERDEM


Texto é bom quando cria polêmica não é não? Imagina fazer um texto insosso, limpinho, com o qual ninguém vai se indignar ou, pelo menos, ser sacudido da cadeira. Recebo tantas coisas escritas assim, certinhas, prontas para serem publicadas em alguma dessas colunas de leitor dos jornais locais. Não acho perda de tempo de quem o faz, nem de quem o lê. Só acho que o esforço poderia ser melhor aproveitado, parece que o capixaba não gosta, ou tem medo de rir de si mesmo, dessas babaquices que todo povo tem, e acho que enquanto não começarmos a o fazer não vamos evoluir enquanto cultura e sociedade. Vou nos dar um exemplo:


Nas minhas andanças por São Paulo agora nos feriados de fim de ano, rodei os sebos de praxe e voltei com mais de quatzentos (sic) livros na bagagem. Falando nisso o avião pegou muita turbulência na volta, nos jogou e sacolejou a ponto de lembrar uma montanha russa. As senhoras começaram a gritar e os homens a rir. Conhece aquela musiquinha? A festa da Dona Aurora começa a zero hora/ piroca dentro piroca fora/ os velhos jogam baralho as velhas chupam o tapete. Enfim, nem sei porque fui lembrar disso. Quando o bicho finalmente pousou em nosso mal afamado aeroporto as pessoas aplaudiram... Foi patético.


Dentre a caralhada de livros que comprei teve um que li ainda lá em Sampa mesmo, o título é “Suíte Gargalhadas – Contos e histórias engraçadas sobre música e músicos”. Obra nada séria, aliás, escrita pelo também músico Henrique Cazes.


Lembrei desse livro porque a Carlinha deixou um post meio que defendendo o “Rei” Roberto Carlos, lembrou o perigo dessa onda de impor vontades musicais em detrimento do gosto da maioria, sapecou até a seguinte frase: “Muitos totalitarismos sociais são reflexos de totalitarismos privados.” Na hora eu lembrei duma história que li no livro que falei acima e aqui a reproduzo:


MÚSICOS POLITIZADOS


Radamés Gnattali foi um ativo simpatizante do Partido Comunista Brasileiro. Nos períodos em que o partidos esteve na clandestinidade, chegou a oferecer sua casa para a realização de reuniões do comitê central. Mesmo tendo sido amigo de Prestes até o final, Radamés tinha uma queixa dos comunistas. Lá pelo oitavo chope ele lembrava:


- Toda vez que eu queria ajudar, eles diziam: “Radamés, faz tua música e deixa que nós fazemos a revolução.” Eu fiz um monte de música e os caras não fizeram droga nenhuma.


Outro músico politizado era o cantor e compositor Tayguara. No início dos anos 1980, quando vivia o auge do seu esquerdismo, só queria gravar compactos pois, estes sendo mais baratos, fariam com que a música chegasse até o povo. E foi para um compacto, na (gravadora) Continental, que Tayguara requisitou arranjos de Radamés.

O maestro caprichou e, quando as cordas acabaram de gravar, o resultado foi de fato impressionante. Tayguara estava tão feliz ao ouvir a música Sol de Tanganica, que não se conteve:


- Radamés, esse arranjo é uma vitória do povo brasileiro! Rada olhou pra ele por cima dos óculos e retificou:


- Esse arranjo é meu! O povo não entende merda nenhuma de música.


Então meninos e meninas: tenho que concordar com o maestro Radamés, por sinal um grande músico de nossa terra brasilis hoje relegado a um mais do que injusto esquecimento. Se deixar o povo arbitrar o que a gente vai ouvir, fudeu! Por outro lado, eu também concordo com vocês, digo com a Carlinha, em parte e quero até desejar uma vida longa ao “Rei RC”, afinal, se esse cara morre ninguém ia agüentar a encheção de saco né honey! Perahê que eu vou ali ouvir Amada Amante cantada em espanhol. Bejas!


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