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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

PASSATEMPO ENTRE UMAS E OUTRAS

Eita boteco tosco! O cinzeiro é uma latinha de cerveja cortada a dois dedos da base. Brahma, desde 1888. Coisas que a gente nunca lê. Bem perto do balcão onde estou sentado tem uma estufa com salgadinhos: coxinhas, pastéis fritos e assados, um quibe gordo que sozinho já valeria uma puta refeição...


Onde estou sentado fico bem de frente para as lingüiças.


Um rapaz veio e ligou o Jukebox, pelo menos serviu para afastar a atenção da televisão. Lingüiças gordas e oleosas, quase meia dúzia delas. A música escolhida é um axé, não faço idéia de quem seja o cantor: “simbora, simbora”. Não posso, ainda é cedo, peço outra cerveja.


Uma mulher me olha fixamente, não é uma paquera, parece intrigada: “que diabos esse tipo de cara tá fazendo por aqui?”. Um senhorzinho de cabelos brancos pede uma das lingüiças para o rapaz do bar que usa um jaleco branco por cima de uma camisa do Corinthians, parece um farmacêutico. Aquelas lingüiças deveriam ser vendidas com prescrição médica.


“Vou pegar uma das mais fresquinhas!”


Que adjetivo engraçado e, sobretudo inadequado. Me ofendi por elas. Aquelas lingüiças têm o aspecto visual bastante masculino de um desses pirús de morto que vemos em filmes de terror quando na hora da dissecação de um cadáver. “Fresquinhas...” O senhorzinho come a lingüiça com uma indizível expressão de tédio, olha para a TV e toma uma cerveja Skol em lata. Me lembrou alguém, me lembrou alguma coisa...


Já matei meia hora do tempo que estipulei para meu próximo compromisso...


Chegou um apressado casal de adolescentes, o rapaz usa um pequeno canudo transparente enfiado na orelha à título de brinco, deve ser para sorver segredos de liquidificador. Comem apressados, coxinha com Coca-cola. A sobremesa é um pacote daqueles biscoitos antigos que tem goiabada no recheio, putz, não consigo lembrar o nome. Também que diferença faz?


O Jukebox ataca de Brian Adams, não acho ruim, me remete ao passado, só que sem nenhum afeto. É como rever uma paisagem antiga que não traz lembranças relevantes. Falando nisso, a tal mulher já me adicionou à paisagem do boteco, é boa de copo também, o rapaz que a acompanha veste uma camiseta do “Colatina Fest Folia” vermelha com acabamento em azul... Agora falta quinze minutos, vou pedir a saidera...


Surge uma mulher do nada pedindo cinqüenta centavos para “comprar um pão de queijo na padaria”. Enquanto eu procurava as moedas no bolso da camisa ela me pergunta por um senhor de cabelos brancos. Digo que não sei e coloco cinco moedas de dez centavos em sua mão: quatro douradas e uma prateada. O jukebox toca Nazareth “Love Hurts”. É a vida... “Deus lhe pague moço.” Do jeito que surgiu desapareceu.


A trilha sonora dos momentos finais é “hoje a chapa vai esquentar!” Eita! Vou pedir a conta, já estou atrasado mais de cinco minutos! (...) Agora lascou tudo! Na seqüência entrou Nelson Gonçalves cantando uma canção em homenagem à Maria Bethânia, que lindo! Não consigo achar isso brega, já devo estar pra lá de doidão...

2 comentários:

Érika Sabino disse...

adorei! o nome do biscoito é "goiabinha" pelo menos eu chamo ele assim, não consigo lembrar se é esse o nome escrito na embalagem! Mas posso sentir o gosto dele agora! beijos!

Juca Magalhães disse...

Acho que era isso mesmo, sei lá... Uma das poucas coisas do passado remoto que chegaram aos nossos dias. Como a cervejinha da Brahma e a salsicha com cara de pirú. Huahuha.