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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

QUEM NUNCA COMEU MELADO QUANDO COME SE INDIREITA

Essa semana mergulhei num puta revival de filmes de rock, se bem que alguns deles nem são tão antigões, mas me remetem às priscas eras dos anos oitenta e que se completa com outros filmes e informações que circulam por aí faz muito tempo.


Catei no Blog “Arapa Rock Motor” um filme do qual já tinha ouvido falar muito, visto algumas cenas, mas nunca parado pra debulhar: Ao Balanço das Horas (Rock Around The Clock - 1956). Uma historinha ingênua deliciosamente interpretada pelos branquelos espertos da época que resolveram enquadrar a música negra num pacotinho Hollywoodiano de danças ensaiadas e intriguinhas de mulher mal amada e engarrafar pra vender como a última Coca-cola do deserto.


O título do filme vem da mais famosa canção do arqui-dinossáurico Bill Halley e “Seus Cometas”, e tem fama de ser o causador do início da febre rock’n roll que tomaria conta do mundo nas décadas seguintes. Outros artistas aparecem na história, um cantor cubano, outras grupos dos quais não lembro o nome agora e a banda The Platters, num dos vários momentos imperdíveis, cantando a conhecidíssima Only You. Só o fato de descobrir a pronúncia correta do nome dessa banda já valeu a película, sempre falei “Dê Plêiters” e no filme se fala em alto e bom som: “Dê Pléters”.


Depois catei dois filmes dos Rolling Stones, Sympathy For The Devil (1968) que achei blasé e demasiado performático, apesar de - ou talvez por isso mesmo - feito pelo mitológico cineasta francês Jean-Luc Godard. Vi também o documentário Gimme Shelter (1970) sobre o festival de Altamont que comemora seus quarenta anos em dezembro. Foi uma confa daquelas boas de esquecer, mas o documentário é imperdível, obrigatório, animal! Pena que não se explique no filme de quem foi a idéia de jerico de contratar a mais temida e violenta gangue de motociclistas para cuidar da segurança daquela festa de malucos, mas os Hell’s Angels são apenas uma das inúmeras atrações.


A abundância de gente doidarássa de ácido e sabe-se-lá mais o quê era a tônica, não demorava muito e aparecia um maluco sem roupa. Foram quatro mortes e quatro nascimentos. O non sense é constante, os Hell’s Angels enfiam porrada até no cantor da banda Jefferson Airplane que se apresentava quando ainda era dia, depois que a noite cai o pau quebra com mais intensidade ainda. Finalmente os Stones entram no acanhado palquinho do festival e inciam uma apresentação marcada pela tragédia de um rapaz que seria morto à facadas por um dos violentos motoqueiros (não chamo de motociclistas de sacanagem mesmo) bem na frente das câmeras, no meio de todo mundo.


O clima era de hospício a céu aberto - coisa logo apelidada de contra-cultura - uma gordinha pelada tenta subir no palco, um dos próprios seguranças urra como uma fera ferida e começa a arrancar a roupa, um cão atravessa tranqüilamente o palco bem à frente de Mick Jagger que estava visivelmente chapado, como a imensa maioria dos presentes. Os médicos não davam conta de atender a quantidade de feridos e vítimas de bad trips que pipocavam aos montes. O engraçado é a hora em que o cantor dos Stones diz que sempre acontece alguma coisa entranha quando eles tocam a música Sympaty For The Devil. Queria o quê bocarudo? Que baixasse Jesus Cristo pra participar da esbórnia?


Tem uma hora nesse filme em que os Stones vão a Chicago gravar no lendário estúdio Chess Records, point musical importante que colocou no mundo as primeiras gravações de Chuck Berry, Etta James, Howlin Wolf e Muddy Waters, para quem não sabe, autor da canção Rolling Stone de onde Mick e Keith tiraram o nome da banda. Faz pouco tempo vi um filme muito bacana que aborda a trajetória desse estúdio e que se chama “Cadillac Records” (2008). Uma produção caprichada com Adrien Brody, no papel do empresário que cria o estúdio, e a cantora Beyoncé Knowles arrasando como Etta James. Imperdível também.


Outro cruzamento interessante de histórias que vem e vão é o filme “A Festa Nunca Termina” (24 Hour Party People - 2002) que aborda o florescer da cena musical de Manchester. O fio condutor são as desventuras do apresentador de TV e posteriormente empresário musical Tony Wilson, fundador da famosa casa noturna Hacienda onde praticamente se inicia a cultura Rave. Tony empresariou bandas como Joy Division, Happy Mondays e New Order, todas fundamentais no pós-punk e no surgimento da perna européia da onda New Wave.


A primeira metade do filme retrata a ascensão e queda do movimento de Manchester com o primeiro show do Sex Pistols na cidade para apenas 42 pessoas e o surgimento da banda Joy Division, cujo vocalista epilético e depressivo, Ian Curtis, cometeria suicídio em 1980, pontuando o fim daquela primeira fase. A história de Ian é retratada em outro filme obrigatório para quem se interessa por rock, chamado “Controle” (Control – 2007) onde também aparece a famosa cena do empresário assinando o contrato da banda com o próprio sangue.


Tony Wilson deve ter ficado muito feliz com esse filme, morreu de câncer em 2007 aos 57 anos, mas deixando sua história bem contada. Essas produções que falei, fora o ingênuo “Ao Balanço das Horas”, repetem direitinho a ultrapassada cartilha das drogas, sexo e roquenrou e nos mostram que, mais do que a efêmera “fame and fortune”, o preço pela busca da expressão artística é muito caro a se pagar quando o artista fica imprensado entre o mundo musical e o mundo real. Todos se divertem enquanto o artista sofre parindo suas obras, brilha muito forte, mas sua chama se extingue mais rápido do que as outras.


Logo no início dessa festa que nunca termina, Tony Wilson se compara com Ícaro e, realmente, essa pretensão mitológica do homem faz com que a história do rock se perpetue como um aviso: quem brinca com fogo pode se queimar. Fico muito feliz de hoje, graças à Internet, termos acesso democrático a tantas dessas produções artísticas importantes que influenciaram as gerações passadas. Por conta da ditadura muito da arte que se fazia no mundo simplesmente não chegou às nossas praias, mas nunca é tarde para ir lá e dar uma beiçada. Procure apenas não exagerar: pau que nasce torto quando come se lambuza. Hehehehe. Um abraço nação botocuda! Party on!

Um comentário:

Gabriela Galvão disse...

Menino, fui à desconferência na sexta, gostei da sua fala (me veio mta e mta coisa), fui procurar o seu blog e vejo q vc eh meu seguidor!

Por enquanto eh soh isso; depois volto com calma.



Valeu e abraço!