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terça-feira, 13 de outubro de 2009

FORPLAY


Tava lembrando outro dia com um colega sobre os carrinhos de autorama. Ganhei um no natal, ou no aniversário – são datas muito próximas para mim – e frustrado, não conseguia fazer o brinquedo funcionar direito. Meu primo Paulinho Camburão que já tinha o dele é que me ensinou que era preciso esquentar o motor do carrinho antes de o colocar pra rodar. Ora meu pai intelectual de primeira não dava conta de me ajudar nesses pequenos detalhes.


Com o tempo descobri que muitas outras coisas precisavam desse aquecimento pra funcionar direito, muitas mesmo, até o tão marqueteado “sexo de qualidade” era então atrelado a um pacote de preliminares hiper valorizadas pelas garotas em plena década da liberação sexual. Práticas comuns como caminhar (especialmente depois de certa idade) ou mesmo fazer música – sobretudo profissionalmente – requerem também um certo warm up.


Hoje ando as voltas com o tempo e com a mente, curioso como alguns dos maiores volumes de literatura tratam o assunto. Lembro especialmente de “Em Busca do Tempo Perdido” de Proust, sete volumes de uma prosa muito peculiar e pessoal, não bastasse ser tão extensa é ainda densa como caminhar em uma mata fechada. Outro é a “Montanha Mágica” de Thomas Mann, mais de oitocentas páginas sobre o tempo, a velocidade relativa das coisas e outros bichos assim.


Quanto maior e mais intrincada a obra, mais do tempo desfrutamos em sua elucidação. Mas as pessoas sempre se queixam de não ter esse tempo, especialmente para ler. Lembro também que o edital de literatura da Secretaria de Estado não aceitava obras com mais de 250 páginas, regra que, aliás, estava para ser mudada. Será que era para poupar o tempo da banca? Ora, mas que bobagem, quantos clássicos da literatura ficariam de fora dessa?


Ando estudando bem mais do que o meu normal e tenho constatado que até o meu cérebro - que eu pensava já conhecer bem - precisa se aquecer pra começar a processar informações realmente. Quando submeto “a cabeça” a um grande esforço intelectual fico dias meio “fora do ar”, reagindo lentamente, esmiuçando coisas que não precisam de racionalização. Meu amigo Fabiano Mayer que é concertista de violão me disse que quando ele se prepara para uma apresentação depois fica assim também, meio pateta por uns dias.


Fez tanto calor hoje, parece que a “velha Gaiata” está se aquecendo para alguma coisa também, pensando nisso, no próximo sábado começa o infeliz do horário de verão e seguimos assim que nem cabeça de palito de fósforo: ora tá frio, ora tá pegando fogo. Não gosto de me submeter docilmente a esse fuso horário estatal, me dá uma preguiça pós-anos 2000, faço greve de existência.


Lá fora tem um monte de cigarras cantando, sei que é o calor que está se achegando da gente outra vez, todo ano tem isso, é que nem carnaval e vestibular...


... Ou o Natal e a data de meu aniversário... Esse ano não vai ter autorama, então sigo esquentando a cabeça, isso, entre outras coisas...


2 comentários:

SILVANA PEDRINI disse...

Tão bom seria se só tivessémos que esquentar o motor do carrinho do autorama...
Sexo é bom quando quente!
Engraçado que neste dia das crianças muitos postaram algo relativo à infânica. Eu não consegui. Nesses ultimos 5 anos eu só tenho tido olhos para a infância do meu peralta filho.
Bjs e obrigada pela deliciosa leitura.

Gabriela Galvão disse...

Q bom q ñ soh (um)a cabeça, Juca!