Páginas

quarta-feira, 30 de março de 2011

SAUDADES DO AUTOR DO HINO DE VITÓRIA


É com grande tristeza que repasso a notícia do falecimento do compositor capixaba Carlos Cruz, falecido hoje cedo no Rio de Janeiro vítima de câncer.

Carlinhos, como os amigos gostavam de chamar, apostando em seu próprio talento foi para o Rio de Janeiro em busca de conhecimento e reconhecimento naquela que era então a capital do país. Lá estudou nos seminários de música da Pró-Arte onde foi aluno de Hans Fraff (piano), Esther Scliar (teoria) e Roberto Schnorrenberg (harmonia). Acabou se estabelecendo e vivendo seus grandes sucessos nas praias cariocas, razão pela qual hoje é tão pouco conhecido e reconhecido aqui nas praias capixabas.

Enquanto foi ignorado pelos próprios contemporâneos, Carlos Cruz alcançou o reconhecimento nacional compondo muitas peças eruditas e populares. Foi diretor musical, entre outras, da Rede Manchete e teve músicas gravadas por grandes nomes da música brasileira, incluindo a marchinha de carnaval “Can Can do Carnaval”, campeã do Carnaval do Rio, gravada por Emilinha Borba. É um dos poucos cidadãos do Espírito Santo cujo nome consta no tradicional Dicionário Cravo Albim.

Muito pouca gente sabe, mas a cidade de Vitória tem um hino oficial que foi composto por Carlos Cruz com letra de Almeida Rego. O hino foi escolhido em um concurso que aconteceu durante a administração de Carlinhos Von Chilgen e foi estabelecido oficialmente através da lei nº 2665/80 que entrou em vigor em 23 de janeiro de 1980. Muita gente pensa que o hino dos capixabas seria Vitória Cidade Sol, de Pedro Caetano e no próprio site da Prefeitura você encontra versões das duas canções ressalvando que a segunda seria o hino “emocional” de nossa capital, confira no link abaixo:


Faz uns cinco ou seis anos fui procurado para elaborar com Carlos Cruz um projeto de gravação definitiva do hino de sua autoria. Para resumir bem a história, procurei o então prefeito da cidade que me confessou que não gostava da letra do hino e encerrou o assunto cogitando até encaminhar uma proposta de mudança à câmara. O prefeito não me falou, mas dizem os mais entendidos do assunto que a estrofe melindrosa do texto poético seria a seguinte:

A Vitória das vitórias
A terra feliz onde eu nasci,
Tem no Penedo bravura
E doçura em Camburi.   

Parece que a turma que gosta de encontrar pelo em ovo, levantou a lebre de que o Penedo fica, na verdade, em Vila Velha e que a simples menção de sua presença seria um erro constrangedor. Realmente, apesar de ser logo ali, o Penedo está do lado de lá. O inegável é que sua majestosa presença ilumina e compõe o horizonte para onde se voltam diariamente os olhos dos capixabas, muito mais do que os dos vilavelhenses. Sua presença não conhece limites municipais, territoriais, não poderia virar uma discussão política, não deveria, aliás.  

Mas o bom disso tudo é que fiquei conhecendo pessoalmente o grande compositor Carlos Cruz, de vez em quando ouvíamos suas novas idéias musicais e tomávamos umas cervejas. Era um homem culto e muito divertido, quem não conheceu é que perdeu. Bem fez ele de ir para onde souberam reconhecer o seu valor. Quem sabe um dia ainda ouviremos os capixabas cantado com verdadeira “emoção” a primeira estrofe do verdadeiro hino de sua terra: “quero ver os capixabas vibrando e cantando esta canção!”

Carlos Vianna Cruz
11/09/1936 Vitória
30/03/2011 Rio de Janeiro

10 comentários:

Anônimo disse...

Também lamento, Juca. Conhecia e igualmente gostava muito do Carlos Cruz... Parabéns e obrigado por noticiar seu falecimento de modo tão generoso. Abs, Marcos

Marcos Dessaune

Anônimo disse...

Oi Juca

Assim é a vida, não é amigo?. Veja o José Alencar. Mas a vida continua. O hino de Vitória lembro que o Adolfo ensaiou uma vez, até sei um pouquinho. Acho todas as duas músicas, lindas de viver. Sugere ao Adolfo através da Alice para a gente cantar estas músicas, caramba, não pode passar batido, não.
Agradeço a fineza e um abração.

Odilson.

Anônimo disse...

Oi Juca,

Realmente é uma perda irreparável... Eu estou me sentindo um pouco órfã; pois é um dos poucos de fato e de direito que poderemos atestar compositor de música erudita. Você tem razão quando descreve: “Bem fez ele de ir para onde souberam reconhecer o seu valor”.

Eu não sei se você lembra que eu quem lhe indiquei para tocar o projeto que você menciona; pois ainda o tenho em meu computador.

Naquela época começava as minhas viagens para fora do Estado e do Brasil para fugir um pouco de ver as inconstantes ações do Governo em relação à cultura.

Fiz parte das duas comissões da escolha do Hino Oficial de Vitória e me sinto aliviada e feliz , pois julguei de forma sensata e honesta; mas infelizmente nunca reconheceram o Hino e não levaram à sério para uma ampla divulgação e faze-lo conhecido por todos.

Mas, assim é viver Vitória.Parabéns pelos seus textos.Abraços, Gracinha.

Anônimo disse...

Quando vi a notícia na Tv, logo imaginei que vc ia falar dele. Essa história do Penedo é demais, gente. sem comentários.bjs

Erika Sabino

Anônimo disse...

Belas palavras para um digníssimo ser humano.
Tive a honra de conviver com o Carlos Cruz nos últimos anos de forma intensa, quando aprendi a admirá-lo e respeitá-lo.
Fará muita falta a todos nós.
Paulo Figueiredo

Anônimo disse...

Obrigada pelo comentario. Carlinhos merece. E sera sempre lembrado pelos familiares e amigos com muito carinho e saudade.
Obrigada.
Cida

Anônimo disse...

Hoje tem orquestra no céu com a chegada do meu tio :)
Erika Lima

Anônimo disse...

Grande Carlos Cruz, só agora (um dia depois do seu adeus) tomei conhecimento de sua partida.

Como tenho alguns quase 40 anos de amizade com a família Cruz (Seu Carlinhos é irmão de dona Chloris, mãe de Burura e Maneco) posso entender muito bem o que vc expressou nesta bela homenagem escrita. Tive inclusive a honra, privilégio e prazer de apresentar alguns de seus eventos no Theatro Carlos (seu xará) Gomes, entre eles concerto de piano.

É isso meu amigo, para ir embora basta chegar e ele com certeza deve ter chegado bem, como protagonista de um grande evento surpresa que prepararam no céu, sob a regência de seu falecido pai e maestro, Clóvis Cruz.

Saúde amigo!

BB

Anônimo disse...

Fala Juca.

Ampliando a discussão do Penedo, entendo que a bravura que o autor comenta não é da rocha em si, mas do gargalo no canal do porto colocando embarcações hostis na mira da artilharia do Saldanha. A discussão pra mim não é política, mas sim histórica...

Abração!

Arruda...

Juca disse...

O problema dessa discussão é que ela existe, isso é que é difícil de acreditar. É como querer mudar o apelido da Avenida "Reta da Penha" porque o convento não é de Vitória.

Um abraço meu caro...